sexta-feira, 8 de maio de 2009

* OUTUBRO DE 2008

Recadinhos para minha irmã

Estou de volta à Ilha da Magia... Continuo escrevendo em bulas,tentativa dos sonhadores em fazer da inspiração, a cura. Tem outroremédio, rsrsrsrrs.... A eleição foi uma correria, Cauê vai para aNova Zelândia, Bruno foi para Urussanga, Lucas e suas histórias semfim, ai estão meus meninos desenhando a vida de forma clara ecolorida... São sem dúvida meus melhores poemas... Quirina e Dolores dormindo demais, devem acordar em outubro... Enfim... se for para matar a sede de verdade que engarrafem o mar... mas depois de uns goles podem soltá-lo... Meus escritos, minhas viagens, minha vida... alguém um dia pesquisará cada linha, quiçá.
Beijo. Amo-te.

Cansaço

Névoas cobrem o olhar da lua
No momento que ver é luar
Lágrimas são chuvas d'alma
Que tenta molhar a terra árida

Meu coração enfrenta um mormaço
Percorre desertos em busca de água
A sede alimenta a paixão
O estio pernoita num hiato

Um dedal de mar esconde um barco

Carta aberta a Ivo Ferrari

Caro escritor e amigo,

Sinto-me orgulhoso de fazer parte desse grupo. Ele me provoca,
encanta, seduz e me faz escrever muito. E dos meus rabiscos e dos
rabiscos desses companheiros maravilhosos tiro meu alimento. Deixo o preâmbulo com a certeza que as entrelinhas acolhem minhas rimas, vontades e abraços. É gratificante estar aqui.

Pois, fui em agosto fazer um trabalho de marketing político em Rio
do Sul, no Alto Vale catarinense, perto de Blumenau, uma região
linda. Fui a trabalho. E nesses acasos da vida encontrei um escritor
maravilhoso e uma pessoa iluminada. Conversamos muito, trocamos
idéias, vimos o quanto a política é complicada e repleta de
armadilhas e disfarces e apesar disso tudo, construímos uma amizade que tenho certeza brindará minha vida sempre. Convidei-o para conhecer o Clube e ele prontamente aceitou. Que felicidade. Que conquista.

Seja bem vindo, teus ensinamentos me fizeram uma pessoa melhor, tua sabedoria me trouxe novas palavras e novas luas. Espero que gostes do nosso Clube, capitaneado por um anjo chamado Cleomar, e quem tem mar no nome não deixaria de ter a imensidão no seu coração também. Sinta-se em casa, como me senti quando da minha estada em Rio do Sul. Há braços fraternos.

Contas

conta-me
não perca as contas
histórias tantas
números e acrobacias
riscos e alquimias
conta-me
noves fora nada
esquinas e ciladas
amor que não se conta
manter nosso segredo
pois a vida quando apronta
todo mundo conta vantagem
conta-me
sem esquecer que o destino
não usa tabuada

Sem saída

Destoa a voz quando a vez da pergunta muda de tom
Um camaleão nas entrelinhas disfarça a exatidão
Amor tem cor, tem perfume, tem som
Não ver é uma opção
Não sentir é uma opção
Não ouvir é uma opção
Apaixonar-se verdadeiramente é não ter opção

A cor do céu

Permita-me uma colocação: a cor do céu não é a que vês
Esclareço a frase de pronto sem pestanejar
A cor do céu desenha-se n'alma
Então não esqueça: mantenha a calma quando o céu numa primeira leitura estiver escuro, relaxe, olhe para dentro e veja realmente a cor do céu...

Paixão

Não há sentido em invadir um coração
Não há sentido em invadir um coração
Não há sentido em invadir um coração
Não há sentido em invadir um coração
Não há sentido em invadir um coração
A repetição provoca a paixão

Quem trocou a folhinha do calendário?

Pasmem, Quirina amanheceu bem.
Tomou café, com torradas, broas e suco
Leu o jornal e foi tranquilamente trabalhar

Que pena Quirina, hoje é domingo, erraste o dia.

Calma Quirina, o vaso de cristal não...

(Quem colocou os caquinhos embaixo do tapete?)

Inundação

Chove
relógios contando pingos
Nada se move
além daquilo que não ligo
A alma não é lavada
A alma não é levada
A alma espera o estio
A chuva disfarça a lágrima
A chuva dispensa o lenço
A chuva despedaça o castelo
Chove
guarda-chuvas escondidos nos cantos
canções molhando beirais
Nada se move
sem a ação da chuva

A inundação está bem próxima
E os olhos cheios de água antecipam toda a espera

Transbordar é uma forma de recriar sem mexer muito na realidade

O homem passa

O homem passa
O homem passa margarina no pão
O homem passa a roupa do dia
O homem passa açúcar no algodão

O homem passa
O homem passa chocolate no morango
O homem passa a catraca no coletivo
O homem passa cola no portão

O homem passa
O homem passa para a sala, o colchão
O homem passa mertiolate n'alma
O homem passa para a vida, a televisão

Estações

Permita-me morrer agora
e voltar na próxima primavera,
tal qual Cecília.
Embarco sem pressa
para a próxima estação
e nem ensaie o choro,
pois serei breve nessa viagem.
Permita-me deixar recados,
como se eu não desejasse mais voltar,
tal qual os poemas de Leminski.
Talvez "reflorir" dependa da mudança de terra,
talvez...não sei...
Permita-me morrer agora,
para que eu possa acreditar na volta.
O trem, as vezes, nem querer saber qual o endereço do maquinista.
(Dolores acende um cigarro e imita um trem... e parte para a cozinha
em busca de um café...)

Defesas

a chuva fecha a porta
a porta fecha a rua
a boca fecha o risco
o risco fecha o acaso
o guarda-chuva do destino
quer proteger todo o mundo
e não pode

Pequenas considerações sobre a chuva que cai

a chuva enchia copos
barcos de papel cruzavam as linhas do medo
almas encharcadas eram secadas ao vento
e o vento, todos sabem, não guarda segredos

lavar a alma numa Brastemp emprestada
com doses a mais de amaciante
não devolverá a maciez dos "vinte anos"
nem acabará com as manchas dos "quarenta"

Pequeno desabafo da vida como ela é

a chuva enchia copos
barcos de papel cruzavam as linhas do medo
almas encharcadas eram secadas ao vento
e o vento, todos sabem, não guarda segredos

lavar a alma numa Brastemp emprestada
com doses a mais de amaciante
não devolverá a maciez dos "vinte anos"
nem acabará com as manchas dos "quarenta"

Razões

Ela usa vestido vermelho
Ela usa "ele"
e qual o problema?
O problema é dele

qual a razão dessa vida?
qual a razão que se quer?
qual o sentido dessa equação?
que nome terá essa mulher?

ela usa vestido vermelho
e tem uma boca aprendiz
o beijo que vem dela é uma armadilha
que ela "me" pegue e eu seja feliz

A sede cede

Água de sede
mar de rede
sede de mar
rede de água

mágoa
alma
lagoa
calma

brincar de se molhar
calmaria
ondas
alto mar

o amor é quando
o amor quando se afoga
ainda respira o mesmo ar

sou embarcação desgarrada
a sede cede
lágrimas servem também para navegar

Nuances

Água de sede
mar de rede
sede de mar
rede de água

mágoa
alma
lagoa
calma

brincar de se molhar
calmaria
ondas
alto mar

o amor é quando
o amor quando se afoga
ainda respira o mesmo ar

sou embarcação desgarrada
a sede cede
lágrimas servem também para navegar

Origami

Dobraduras do tempo
Harmonia
Calma
Concentração
A vida é assim
Dobras com cuidado
Dobras com carinho
Dobras com cautela
Dobras com exatidão
Dobraduras do tempo
De repente a imagem, o fato, a construção
Meu coração origami reinventa-se
Meu origami não é de papel

Correnteza

Vi uma folha navegando
num "riozinho" de chuva
levava todo o meu sonho
sem que eu percebesse a fuga

E quando se afastava
a folha deixava uma escrita
um soneto em forma de gotas
que encharcava a moça bonita

O destino da folha
quem haverá de dizer
pois as águas que rolam agora
não haverão mais de rolar

Os planos de vôo

Eu vejo agora um menino
a arquitetar um barco de papel
ele nem sente que a chuva que cai
levará seu barco para alto mar

quem saberá das rédeas do destino
enquanto o menino arquiteta?
quantas curvas no caminho
a disfarçar tantas retas

as águas que caem do rosto
e que transformam os caminhos
são as mesmas águas que levam
os sonhos desse menino

Cantiga de uma quarta-feira com chuva e de um antigo guarda-chuva

balança a cadeira do tempo
como se quisesse o tempo embalar
e uma canção feita de vento
vem agora me acordar

as chuvas de um tempo passado
ensinaram-me a navegar
previsões do tempo não são exatas
quem saberá o que é partir ou o que é chegar?

morava num sonho antigo
um antigo guarda-chuva
ele guardava todas as águas
com cuidado, com carinho, com luvas

chora agora a quarta-feira
o que é camelo, o que é dromedário?
e todas as chuvas do mundo
são "risquinhos" no calendário

Cansaço II

vieram anunciar a minha morte
gaivotas, mares e alquimistas
disseram-me que aos poucos perdi meu norte
e que não havia deixado pistas

disseram-me também que dia após dia eu apenas passava
como se nada esperasse,ou quisesse ou desejasse
e que assim do que adiantaria minhas belas palavras

vieram anunciar minha morte
e sacudiram minha alma e sacudiram meu corpo
ainda acreditam que assim
eu pudesse relembrar que não estava morto

jogaram água em meu rosto
disseram-me da minha ida
mas logo depois por carinho
deixaram-me um sopro de vida

A vida quase agora

a vida anda meio largada
e bebe mar e bebe cerveja e bebe água
cobre-se com deserto quando está frio
e faz amor e faz castelo e faz água
a vida anda meio largada
e dorme na praia e dorme na varanda e dorme na rede
encanta-se com a lua quando a rua dorme
e tem desejo e tem carinho e tem muita sede

Perdido

tuas palavras
teus gestos
me devoram
tua sede
tua fome
me precisam

tuas cores
teus caminhos
me conduzem
teu andar
tua trilha
me confundem

não encontro mais
minhas palavras
meus gestos
minhas cores
meus caminhos

não me encontro mais

Tentativa

era diretamente proporcional ao desejo que vinha do teu olhar
discretamente natural pus a falar ao teu ouvido
literalmente podemos ver que um mar dividia nossos desejos e palavras
incessantemente tentávamos a aproximação
e não é que em um belo dia andávamos de mãos dadas pelas praia

sem aviso
sem planejamento
sem condição alguma

a vida é feita de tentativas

razão não é uma invenção da Quirina

Recado

veio assim uma gaivota com jeito poema
feito o mar inteiro e o mar tanto
mandei um recado em seu bico
e ela transformou-o num canto

Medidas

a água que vem do meu rosto
são copos cheios de destino
são chuvas que levam o barco
daquele velho menino

E escute bem minhas palavras
muita água morre a flor
tudo tem que ser na medida
Guarde essa frase, Nicanor

Saudade

Vinha àquela cor de mar
com jeito de lua nova
deixava versos no ar
e o coração todo prosa

alegria que clareava
as ranhuras do caminho
que fazia uma bola da meia
e da lata o mais belo carrinho

Um comentário:

  1. Te amo. Amo tua poesia. Amo os rasgos, as costuras, o alinhamento, o tombo, teus alicerces e todo teu céu. Te amo meu irmão.

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