terça-feira, 12 de maio de 2009

* JULHO DE 2008 - As palavras que não foram ditas no momento exato.

Ariano

Ariano torto.
Muito torto.
Jeito de alma "avoada" num "entardecer" de corpo.
Menina com olhos de águia e coração de "porto".
Menino com jeito sapeca e um destino solto.
Voz de violão e acordes de manhãs belas e claras.
Tempestade em alto mar e ao mesmo tempo calmaria na lagoa.
Ariano torto.
Anjo torto e safado.
Safado com jeito bíblico.
Tão sério de fazer soneto.
Anjo de Augusto.
Anjo de Chico.
Anjo de Drummond.
Areias claras para deixar recados.
Areias para construir castelos.
Areias para fazer deserto.
E em todas as areias tão sincero.
Ariano torto.
Muito torto.
Faz poesia na bula.
Adora Quirina e Dolores.
Morre mas também vive de amores.
Um imã aquém de qualquer distância.
Um fogo de paixão.
A eternidade exata de amor sem fim.
Querubim torto.
Muito torto.
Salve Jorge.
Lanças a defender o coração amado.
Um achado.
Bolero, clássico, can can.
Batismo de sol em noites encantadas.
Ariano torto.
Muito torto.
Minha irmã.

Janela

A nossa janela está aberta no mesmo tempo há tempos
Tudo em mim agora é ar
Ar que vem de ti
Janelas abertas em luas e jardins
O vento é meu beijo ar
és meu respirar
ares bons
mares e luares pousam em mim quando estou em ti
Pois te quero nesse exato minuto
e pediria se pudesse
que esse exato minuto
tivesse o sempre para vestir

Escolhas

eu quero a incerteza que me traz alegriado que a certeza de que não me traz nada
eu quero a língua que simplesmente me beija do que a língua que me direciona aonde não desejo ir
eu quero um céu aberto para voar e fazer amor do que um céu aberto para se fazer apenas u´a manhã passageira por isso que eu te quero muito

Quimeras

Quimeras azuis para manhãs de cores tantas
primaveras para que teu corpo aflore em mim
poemas para fazer rimas e fazer amor
como se meu corpo pudesse descansar eternamente em teu jardim

As queimas

o cigarro destino queima a vida também
meu trago na vida
um trago na vida
um trago nos leva longe
eu trago sem sentir e me perco

Canções

um samba canção uma bossa assim nova
uma rima com o cigarro no canto da boca
uma balada louca de um cantor que cantava o desenho que não fez
e queria cada vez mais canetinhas de tantas cores e sonhava com notas coloridas tal qual um arco-íris

O Fim

Não me diga mais nada
apenas pense em tudo
mesmo que teu grito "grita"dê à língua um jeito mudo
esqueça as concordâncias

Margens

às margens do teu rio eu mergulho
neste momento
não tenho frio
não tenho dúvida
não tenho medo

Copos de Mares

bebia-se águas inteiras para se fazer copos de mares
bebia-se todo os bares e para esquecer todas as mágoas nossas vidas produzem águas demais
morrer de sede,morrer de amor,naufragar,afogar,respirar lágrimas são chuvas também
desertos são fases do corpo
sou inundação nesse exato momento

Lugar

os lugares perfeitos moram em sujeitos compostos - tu e eu
a felicidade é simples
o lugar comum é o paraíso de cada ume pronto e ponto

Naturalmente

Minha poesia é veia é vertente
ela vem sem aviso
as vezes é pacientevem as vezes de roloé ardente
as vezes vem como nasce o ano novo
é latente
é minha veia
se parar, morro

Naturalmente II

a poesia as vezes é um cigarro à mão para quem não deseja fumar
a fumaça leva o querer para o espaço sem querer rimar
mesmo assim é importante provar a poesia ( não precisa tragar, relata Quirina)

Um dia eu tive “16”

tanto faz tanto fez porque um dia eu tive 16
eu sei o que eu não sabia e hoje ainda assim muitas vezes nem sei o que dizer
pode fazer, provar, tentar
já que você já fez
eu entendo porque um dia eu também já tive 16

Dona

o tempo é esquisito
chega as vezes cedo demais
as vezes demora muito e se passa
mas o que acredito e fica
é que por algum tempo
foste àquela mulher dos sonhos
que cantava João Bosco comigo no palco
o tempo pode ser esquisito
mas naquele momento
éramos um só...
independente de como o tempo fosse descrito

Comentários

dispenso teus comentários
deixe meu coração absorver "senões"
já fiz tantas concessões
já estanquei com dor minha dor
mesmo "sentindo" muito
deixe-me viver sem pensar só em mágoana pior sede existem águas
que jamais beberemos

Medos

nunca andei de avião
eu nunca fiz poesia
eu nunca beijei verdadeiramente um boca sem amor
agora que posso eu vôo
eu beijo
eu me entrego e mesmo que eu entre em pane,
mesmo que se desvie a rota,
mesmo que a entrega não tenha resposta
eu estarei de braços com o meu querer
com que o realmente eu quero

Chás

Chá de boldo
bebe Quirina
chega de tequila
não és mais menina
chá de boldochá de sumiço
conte...até dez
engula num gole só
amargo mas cura
tanto fez,tanto faza paz é uma roleta Cazuza com nuancesde roleta "Renato Russo"em verso ou em prosa
nem sabemos o nome da rosa
mas nos apaixonamos por ela
mas antes de mais nada
beba chá de boldo, Quirina

Sentidos

destino sem tino
uma linha
um terno de linho
sentido sem sentido
o amor cego do menino
um nó cego para desconcentrar a dor do amor
aperta feita um nó
destino que haverá de nos guiar
eu sem mapa e você sem "arriscar"?
destino, agora sou eu que te levo

Legião Urbana

a coisa está tão russa ai...ai...ai...
Coloca Renato Russo
para escutar...e por favor não vá...o destino diz quase sem querer
que Eduardo ainda está com Mônica e que não foi tempo perdido, nem foi em vão
bebo rum com Coca-Cola ,
é da minha geração
Quirina roubou o limão...

A Quirina e a resposta para o Mateus

Quirina tem vários sujeitos
Tão infiel é Quirina
Não tem concordância
Adora um verbo de ligaçãoTempo insano? ela bebe sem gelo ano após ano, disfarçando a primeira pessoa
nem predicado ela tem
como terá conjugação???

O anjo torto

Veio um anjo torto, desses desbocados, que cantava alto e
sorria muito e não deixada coisa ou ser impedir qualquer movimento seu. Ele borbulha sim, espuma feito mar, nada impede sua voz, seu corpo, seu pensamento. Tem asas na língua, sua palavras pousam em luas e sóis.
Veio um anjo torto, fazendo verso torto, prosa em papel de pão e quadrinha na areia da praia. Veio porque gosta da vida e viver assim "espumando" é muito melhor, é mais saudável, tem mais cor. E o anjo torto tem amigos tortos que sabem o quanto vale a verdade dos olhos de quem vive claro.

Somos tortos sim, pois nos desviamos do mundo mecanizado, frio, calculista e reto.

Viva os anjos tortos que povoam as nossas palavras.

Citação de uma carta que demorou muito à ser entregue
ao que a chuva disse: deixe-se molhar e o que não era espaço virou mar
e águas boas levaram o barco... e vi então que eu navegava em tua boca...

Tempos


a lágrima tarda
mas a alma arde
o acaso procura
o medo do tarde

corre-se riscos
junta-se ciscos
bebe-se prantos
de copos tantos

o tempo é uma quebra, um caco
juntar
colar
encaixar
verbos que ajudam a passar o tempo

Medidas

quando a gota vinha e transbordava o mar
reclamavam todos a insensatez dela
quando vinha a lágrima e transbordava a dor
reclamavam todos a insensatez dela
quando a farpa vinha e transbordava a carne
reclamavam todos a insensatez dela
quando vinha a hora e transbordava o tempo
reclamavam todos a insensatez dela

esqueciam todos
que o transbordar
não acontece de repente

( já vi casas ruírem num sopro e chamaram de ciclone o fato )

Encaixes 1

Amar é luar.o mar é sede.Tua boca é fonte

Encaixes 2

o tempo é asa.
Guardar é casa.
o relógio anda.
Quando o amor atrasa é parto.

Encaixes 3

Acaso é fato.
Permanente é ficção.
Certeza é mato.
Para sempre é provocação.

Encaixes 4


Lágrima é copo.
Chuva é corpo.
Sede é a relação
do deserto e do tanto.

Encaixes 5

A falta faz a fatia.
o corte aproxima o pão.
Paixão ao extremo é margarina.

Encaixes 6

o vazio preenche o espaço?
Há quem tente disfarçar a solidão.
É preciso um primeiro passo.
Felicidade não significa multidão.

Encaixes 7


os meninos velhos que escrevem o mundo novo
parecem filmes dos anos 40dirigidos pelo Tarantino

Encaixes 8

A lua alta percorre minhas veias - que pulsam luar
Acredite, meu coração protege a tua lua e teu beijo corre pelo meu
corpo - como fosse sangue que bombeia vida.

Velhas considerações de um menino de quarenta e poucos anos

velhas carruagens cruzaram o caminho do menino destino
viagens que ele não fez, mas mesmo assim mudaram seu caminho
agora sentado à beira de uma estrada vê ao longe o que era seu futuro
e atrás do muro mora um medo que o fez ficar sozinho
conceitos certos viraram pontos de discussão
cartas com perfume resumiam às terceiras intenções
o lanterninha antigamente avisava o início da sessão
e tínhamos mais tempo para degustar melhor cada lição

abríamos sempre janelas, mas o que importava realmente era o beijo roubado no portão

O tempo

"há braços" sempre
qualquer que seja o tempo
e acredite em boas sementes
e taças de vinho seco

Naufrágios

O náufrago bebia ventos com fosse vinho à luz de velas
sede de navegar à bombordo gritava Quirina
uma embarcação vazia cruzava a calmaria
ninguém ousava mais navegar com mapas tão antigos e com taças trincadas

Triângulo

lágrima
queda d'água
em pleno estio
a tristeza
encharca o rio
o lenço é um barco
e o par já é um trio

os beirais são lugares
onde o abrigo encontra o medo
solidão à três disfarça
mas não esconde o segredo

a lágrima que cai agora
um dia já foi sede

um mais um é uma conta
que precisa de prova real

quem há de provar???

Indecisão

Toda a insistência provocada pela determinação desenhada sem razão nenhuma provocara no corpo toda uma indecisão ausente desde o primeiro beijo preciso, determinante, confiável, encantadoramente real.
Avesso a tudo isso a indecisão apossava-se vorazmente das coisas incontidas, dos sentimentos mais libertos e de caminhos que já eram tidos como saídas perfeitas e lógicas. Até o tempo já bêbado pelos fatos cambaleantes corria sem destino e beijava as horas despudoradamente. Via-se ao largo da vida, tida como exemplo, ranhuras, riscos, quebras que jamais haviam sido notadas. Toda a insistência provocada pela falta de sincronicidade provocara o hiato
determinante para a sobrevivência da menina solidão e o menino destino não entendendo nada da métrica, do nexo e da verdade imposta se pôs a correr atrás do acaso. Ainda espero pelo fim dessa história e aprendi que uma boa taça de vinho seco tinto é um bom começo para essa espera
e que a medida "tanto" não sobrevive com taças trincadas.

Perguntas

Um corpo cansado não faz verso?o acaso terá nexo?Um porto sem cais poderá ter cep?Um pensamento que usa gesso corre?

Temporais avessos

Foram-se as luas
ficaram os anéis de Saturno
Meu corpo no espaço
o que era raiz flutua

(faltou gasolina no Uno)

o quando é tão tarde
a falta preenche o vazio
a melhor hora é passado
na garganta um copo de água arde

(voltou o cheque que peguei emprestado do tio)

Temporais avessos II

Ao que tentasrespondo em silênciopois não mais me afetasnem sangras minh'almajá que o corte perdeu o fioque costurava a facanuma bússola sem nortemeu único escudo é minha calma

Quirina em Julho

Pula a fogueira Quirina
"que teima a tua"
és tão quente Quirina
"que dilema o meu"

teu beijo queima, Quirina
as noites de São João
tequila no quentão, Quirina?

Ah... Quirina
Pare tudo e acenda a fogueira do meu coração.

Par?

Faz de conta
um mais um
sem subtração
nem subtramina
o infinito não
tem solução imediata

um mais um
pode não ser uma soma precisa

quem conta nos dedos esquece a mão

Quadrinhas de julho à beira de uma fogueira

na hora do casamento
procuraram o noivo João
a noiva desesperada
Colocou a culpa no quentão

os convidados foram embora
a fogueira ainda ilumina
e por trás da lua nova
quem apareceu foi Quirina

Pedaços

ninguém vive uma paixão e não deixa pedaço algum depois que ela passa
o contato tira lasca, tira lanho, tira encaixe, tira razão
ninguém passa sem cobrança,
ninguém passe impune,
ninguém passa e fica inteiro,
ninguém passa sem arranhão,
palavras não cicatrizam jamais,
não queira que meu corpo não tenha marcas,
descubra com o tempo os cacos,
cacos escondidos,disfarçados,emoldurados,
lapsos, frestas, hiatos,
ninguém vive uma paixão e continua igual,
um pouco melhor, menos mau, de bem, tão bom assim,etc e tal,
quebras, corpos e copos trincados,
metades de tantas pessoas e de tantos lugares,
misturas, saladas, receitas, bulas,
não é igual que faz àquele olhar ser diferente,
paixão é um caminho sem volta, cheio de atalhos e achados,
vivê-las é essencial, independente do final ou da crença da
felicidade eterna
o acaso, a coincidência, a hora h, o ponto g, o x da questão
todas as letras são diferentes por uma razão,
e a razão é bêbada

Leve

Tu me levas lá nas alturas maiores que há tudo me leva lá
distância alguma irá nos afastar porque tu me levas lá
onde quero ir , ficar, tu me levas
há de encantar, gozar, querer, colar
tu me levas
tu me levas
independente do lugar

Com tato

olhos fechados
coração aberto

assim te vejo
assim te vejo sempre

minhas mãos te tocam
meu corpo responde

distância alguma será
distância alguma terá voz

Tinto seco

ao que seja de repente um amor contido
e que o livro misterioso continue assim mesmo já lido
ainda assim estarei presente,
pois diante de uma paixão ardente
serve-se à vida lareira e vinho tinto seco
e conter deixa de ser limite

Navegações

existe um barco em minhas águas que não conhece o mar
mas jamais deixa de sonhar com navegações
ele sente todas as marés, os ventos, as calmarias,
e tem certeza que um dia o mar chegará e saciará sua sede
de imensidão.

Cortes


o silêncio corta feito navalha
leite provoca o sono, mas se não cuidá-lo, talha
solidão não quer dizer abandono

entenderás um dia que sem paixão
milhões de andorinhas
também não conseguirão fazer verão

Inteira

Eu quero te conquistar inteira
Eu quero te ter inteira
Eu quero te amar inteira
Eu quero que hoje seja o primeiro dia de uma vida inteira

Disfarces

aventa-se a possibilidade de disfarçar o vento com palavras
ventos e palavras se misturam rapidamente
ventos e palavras em muitos momentos são lâminas afiadas que redescobrem sentimentos e abrem corações sem medo
ao disfarçar o vento
as palavras se tornam ventos
e sopram muito mais forte


Perdido

o que me traduz agora são palavras indefinidas, por pensamentos disformes e gestos sem nexo algum. Não me peça uma resposta, uma saída, um conselho, uma direção. Não tenho piloto automático. Nunca dirigi, talvez por isso não tenha culpa de beber, mares. Mas mesmo assim caçaram minha carteira e encontraram um bilhete de Quirina, que dizia mais ou menos assim: "Atingi a pontuação máxima, mas mais seca que essa lei foram as palavras que ouvi. Meu amigo, estou naquele mesmo bar, apareça".

(Espero uma tradução das horas que agora correm e não me dizem nada. Muitas vezes "se perder" é uma forma de mapear, de encontrar, de sobreviver)

Conquistar


o verbo conquistar tem a necessidade de muitos quereres
A realidade do verbo conquistar são toques sutis.
Ninguém pode sonhar com um cais seguro sem nunca ter pensado num
abraço verdadeiro.
Ninguém pode pensar num amor verdadeiro sem nunca ter passado por uma
tempestade junto dele.
Copos de água são medidas inexatas.

Instrumento

Tua canção canta
não ria
nem toda a canção canta

Ninguém pode disfarçar o beijo bom
Ninguém pode combater o desejo verdadeiro


Ao ser acordado por tua música
às minhas manhãs duram séculos

Tua canção canta
Como fosse um mar

Trecho de uma carta que não foi remetida


Ainda assim, acredito em minha varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a "me" perder, a "me" encontrar e tenham certeza que o tempo passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com muito amor, em todos os sentidos.
Ainda assim, continuo a passear na praia, a escutar as gaivotas e a todo momento resgatar o menino que mora dentro de mim. As vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápido: Com certeza, não.

Luas e Queimas

bem assim
posto que era inevitável
um beijo de mar num deserto
onde as sedes se misturavam
(o sol ilumina e queima)
não se pode chamar de cilada
o que foi avisado em carta
(o sol ilumina e queima)
não se pode chamar de morada
o que não se data
(o sol ilumina e queima)

Andanças

ando sem muito norte
nem sei aonde arrumei esse corte
não sou, como eu pensava, tão forte
verdade nada tem a ver com ter calma

abandonos são importantes para o encontro
demais é uma medida que não preenche
o caos agora acalmou e toma chá em minha sala
meu silêncio, com certeza, escuta minh'alma

Visitas

sentimentos inteiros na entrada de casa
não batem à porta
não batem às mãos
e ninguém sabe que eles estão do lado de fora

as cortinas estão fechadas
os olhos estão fechados
o som é alto

sentimentos inteiros dormindo na varanda

(Acorda, acorda - Grita Quirina, jogando um balde de água fria no amor)

Sabores

Julho à gosto
vinho tinto seco
tempo instável
sujeito a chuvas e trovoadas
e visitas inoportunas
o gosto da tua boca tem um
que de travessura
tua boca quase me mata
mas é minha única cura

Acontece?

sei lá o que acontece
acreditar é um verbo muito arriscado
o destino tece com linhas que não conheço
zigues e zagues
que costumam costurar meu coração

Cabelo

Cabelo com gel
Géo? Natural, ela me diz
Que doideira essa de disfarçar o tanto
Géo me escute...deixe aparecer o canto
Toda a forma de arrepio
Géo, diz ela
Abre a janela e o violão
Tua cor é aquarela, diz ela

Respondo ando cheio de nós
Não tem pente que dê jeito
Não tem creme que alise

Cabelo
Seja natural, diz ela
Passe, a fila anda, Géo

Incertezas

e se pôs a recitar acasos em meio a uma plantação de certezas
e os versos encantados postaram-se sobre a mesa como alimentos

assim, eu já não sabia o que era sorriso e o que era lamento
confusão de sentimentos atordoavam um coração

e a mentira corria pelos campos, impune

Andar

Meu andar não sabe aonde ir
não tem lugar o meu andar
tomar
Que direção? que coração? que vinho?
qual o motivo para se chegar e
chegar o que pode ser?
confuso, fuso horário,
meu destino Japão
como chegar lá
com um mapa de Viamão?

Preservação

Cartas escondidas não devem ser a todo o momento lidas
se estão assim, escondidas
e porque precisam assentar as palavras,
identificá-las, traduzi-las, saboreá-las no momento certo
Uma carta escondida deve permanecer escondida
quem lê uma carta escondida pode provocar a queima dela

Distância

A minha casa não fica perto da tua e não afirmo nem meço isso pensando em quilômetros
nossas viagens também possuem destinos contrários
e não acredito mais quando dizem que os opostos se atraem
nossos corações que achávamos tão perto
possuem ceps diferentes
amamos os mares
segues para o Pacífico
e eu fico no Atlântico

Deixemos as águas rolarem

Pessoas

Vida fui sem concordância
um amor assim verbal
Conjugação na distância
afasta a segunda pessoa
e deixa a terceira passando mal
isso não pode ser singular
o amor definitivamente é plural

Calma

Copo de água com açúcar
o relógio beira duas da manhã
o corpo dorme na sala
a alma sonha em morder a maçã

Chega Quirina,
tira o copo de água das minhas mãos
coloca mais açúcar,
coloca limão,
coloca cachaça,

"bate assim, meu coração"
(Quirina sorri com minha declaração)

e fomos assistir o corujão,
calminhos, calminhos

Dolores, Márcia e Quirina

Olhem as meninas
Dolores, Márcia e Quirina
No meio de um fogaréu
Lua carmim ilumina
As bocas das noites inteiras
Meninas ardentes, faceiras
Que abraçam os caminhos com vontade
Eu fiz este livro somente para elas
Meninas vestidas de janelas
Cobertas com mantos de Jorge
Escuto os cantos
Sereias, cantoras
Acordes, encantos
Olhem as meninas
Brilhantes, vivas,
Fugidias, amantes,
Encontraram-se numa roda de violão,
Entre vinhos e luares
Meninas de todas os mares,
Meninas de todos os bares,

Convidei-as para um livro,
Que nasceu já escrito,
Fica o dito pelo não dito,
Ou fica o não dito pelo dito?
Enfim, deixei assim escrito
Quando decidi falar de paixão

Olhem as meninas
Passeando nas páginas brancas
Vestidas para matar ou morrer de amor

Comentário

Todos os escritos deste livro nasceram em Julho.
Resolvi homenagear minha irmã de uma forma que meu pensamento pudesse ser documentado. Escrevi de forma “corrida”, sem tempo para correções nem tempo para lapidar. Escrevi e pronto. Pronto no sentido mais amplo da frase “do fundo do meu coração”.

Uma curiosidade marcou este livro: No inicio dele estava muito feliz, com o coração alegre e com a alma leve. Quando estava para finalizá-lo o tempo virou, veio uma chuva forte, com ventos de cem quilômetros...

Depois, com calma, analisei o fato.
Tinha que ser assim,
meio calmaria,
meio paixão,
meio furacão,
meio lágrima,
meio grito,
meio verso,
inteiramente passional, eu diria.

E ele está ai.
Um pouco de câncer,
um pouco de leão
e apaixonadamente Ariano.



As palavras que não foram ditas no momento exato.
Um convite para decifrar palavras.
Um livro que nasceu livro e virou declaração.

Dedicado
à
Márcia Alves Carneiro

Concebido em Florianópolis/SC,
entre o dia primeiro e o dia trinta e um de julho de 2008.
(Algumas poesias foram escritas em Torres/RS).




decifrar é um verbo de ligação
liga o encanto e o mistério
com o coração







Fica meu abraço com o teu “há braço”


A seguir cenas dos próximos capítulos

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