terça-feira, 31 de março de 2020


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Nem mesmo o mar poderá te dizer por onde andei naufragando.

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Enfim, fica tatuado um beijo em teu coração, para te sentires beijada sempre...

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Lembrança é ferrugem pelo arame da saudade...

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Agora meu mundo estava mais próximo, não sei “próximo do que nem de onde”, mas, com certeza, estava mais próximo de algum lugar. Lugar é um grande pássaro que adora viajar, em bandos, em bares, em mares...

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Acordei ontem ao lado de três reticências... e não lembrei aonde as conheci...

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Não me venha falar de falta de espaço, no mesmo momento em que olhas para o céu...

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Quem inventou o frio não te conhecia...

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O que o mar tem para contar ele canta, quando sonha ele é onda...




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Nada é exato.
O resto da vida pode ser o próximo minuto ou os próximos cem anos...

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Augusto não era tão anjo assim. Não entendo até hoje seu plural.

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E um vampiro apaixonado, dá de presente um cachecol...

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Quem ama não data.

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E não se enganem quando lhe falam lento, palavras sem pressa ferem muito mais.

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Atentos olhos observam a intensa cerração.
Nas vidraças recados escritos com as mãos.
Faz frio lá fora, mas inverno igual ao da minha alma nunca vi.

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Existem horas em que a melhor maneira de aparecer é sumir...

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Sou um outono apaixonado por uma chuva de verão...




Silêncio
                                                                                                                             
O relógio está quebrado.
A carta não tem selo nem CEP.
A mensagem bebeu a garrafa.


O que é inteiro?

Inteiramente é uma palavra que inexiste...
Doar-se inteiro, decididamente, é uma forma de ser triste.
Minhas olheiras hoje são amantes dos meus cafés...

Quadrinha da paixão confusa

A intensidade apaixonou-se por um fio desencapado
Levou um choque e achou que era amor.

Da explosão

Minha poesia detona o estopim.
Não ligo para explosão. Enfim...





Para clarear

Mesmo sem estrelas no céu,
quando tenho tua boca fico claro.

Para Leminski III

A chuva bate na porta.
Assim, o náufrago aporta.

Para Leminski IV

O mar adormece num segundo.
No outro acorda o mundo.

Para Leminski e para Betty Blue

O corte que vem d’alma.
Foi tatuagem de um grande amor.
Cortar é um ato de libertação
A paixão é poda.

Para Cecília

Sou muito tarde para um amor tão cedo.

Nós

A mudança começa em nós. É preciso desatar.


A vida não é lenta.
Fecha-se os olhos, trinta.
De repente, cinquenta.
É preciso coragem para entender o tempo.



Aparências II ( Olhares)

Uma gota corajosamente rega o mundo
Uma inundação mora num chão árido
Uma lágrima delicadamente provoca um riso
Uma gargalhada se esconde num rosto triste


Não esqueça que todos os dias podes falar para teus filhos, para teu amor, para teu amigo, para tua mãe, para teu pai: "Eu te amo", "És importante para mim", "Que bom que estás comigo", "Muito obrigado"... A vida é um estalo... Gratidão, fé, sinceridade e muito amor... Toque-se, se toque, é tempo ainda. Não deixe uma palavra de luz para um amigo para amanhã...


Eu quero gente pimenta, 
gente com sal
A vida insossa faz mal.


Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...



Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra


As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do compreender e do gostar...




Contemporâneo
                      
Nosso romance começou num bar.
Eu, tomava seu tempo.
Você, vodca.

Depois fomos num teatro.
Eu assistia a peça.
Você pregava uma.

Fomos num motel.
Eu pedia uísque.
Você trazia o gelo.

(Enquanto eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)

Você caía na cama.
Eu na vida.

Alguns meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos num trem.
Eu teimava que era primavera.
Você parava em qualquer estação.

Anos depois, soube por alguém,
que enquanto eu escutava Caetano,
você saía com Chico, meu melhor amigo.




Do tempo

O amor é um inferno no céu
Um inverno sem roupas quentes.
Um terno de linho sem noiva.
Luares de noites ardentes,
São mares com ondas constantes.
Nenhuma igual como a de antes.
E tão exato que é de repente,
Alguma coisa passante



Triângulo

Um dia vieram três,
Certos que seriam dois,
Para formar um.

E quando viram que eram três,
Choraram como milhões,
Que procuram um par.

Sem saber o que fazer com um,
E sem saber quem seria o terceiro,
Resolveram procurar um quarto.

E viveram felizes para sempre,
Os três...


Beijo
                    
Beijo-te num grito
beijo-te além do corpo como se a alma pudesse ter rosto - beijo-te
encontro-te aqui dentro como te encontrei a vez primeira - beijo-te
beijo-te onde a lua é nascente e nos faz ver a vida inteira - beijo-te
conheço-te ontem como fosse ontem a eternidade - beijo-te
beijo-te aonde os vislumbres transformam-se em encantos - beijo-te
chego a pontos aonde não chegava tão pouco sabia da existência - beijo-te
beijo-te pelo teu toque tua pele teu mar tua presença - beijo-te
agora vejo a paisagem que eu não via e docemente sonhava - beijo-te
beijo-te por te ver inteira - beijo-te
beijo-te por te ver por dentro - beijo-te
beijo-te por te ver - beijo-te
beijo-te além do corpo como se a alma pudesse ter rosto - beijo-te
beijo-te além do tempo como se o sujeito tempo fosse sempre - beijo-te
beijo-te sem vírgulas por ser nosso amor imenso - beijo-te
intenso - beijo-te
devoro-te ao mesmo tempo em que te protejo - beijo-te
encanta-me a sede que tens de bem viver - beijo-te
encanta-me a fome que tens de querer - beijo-te
amo-te enfim - beijo-te
por não ter mais medidas - beijo-te
por não ter mais palavras - beijo-te
pois mesmo no tanto me falta ar por não me faltar mais nada - beijo-te
(e veio o beijo como se o todo, o espaço, o universo fosse um grito de liberdade e prazer).

O menino

Nada agora pode causar surpresa
a não ser àquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"
o levará para qualquer lugar...


Perto (quando a ficha cai)

O amor não tem CEP.
Mas o amor é certo.
O amor pode existir.
Mas só acontece por perto.




Coisas de guri

Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater em sua porta e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...


Os medos são retalhos de uma vida.
Colchas em forma de frio.
Recados na varanda.
Correnteza de rio.



O amor

O amor deve fazer sorrir.
Arreganhar os dentes.
Dar gargalhadas.
Chorar de tanto rir.
O amor deve ser assim.

Um sorriso no rosto.
Um amor no coração.
E não venham me falar.
Que amor precisa de decoração.

O amor vive em si.
O amor é por si só.
O amor não quer dó.
O amor quer só ser.



O Quando                                                            

"Quando" era um menino sozinho...
apaixonado pela Menina dos Olhos
mas "Quando" sempre esperava o tempo exato
e o tempo exato nunca chegava.
ah... até quando, Quando, até quando...





Embarcações
          
Vislumbrava a cor daqueles olhos que a tanto não via.
E lia nas entrelinhas da noite escura uma claridade.
Olhos de dor, mas ao mesmo tempo de inundação de mar.
Provocações de bar e recados em guardanapos.
Saudade recém-chegada.
Saudade embarcada.
Saudade distraída.
Caída diante dos olhos sonhados.
Caída deliciosamente sobre o corpo.
Caída intencionalmente no colo querido.
Vislumbrava a cor daqueles olhos,
Para poder estar mais perto daqueles olhos tão amados.
Incendiados por uma solidão incontida.
Detalhada em sonhos que vivi acordado.
Vislumbro tua chegada todos os dias, todas as manhãs.
Quando da tua chegada descreverei realmente o que seja claridade.
E entenderás todo o tamanho das palavras que escrevo agora.


Espumas
                                                                                                             
Vejo a tristeza que se espelha.
Ao ver minh‘alma que parte.
Felicidade é um fogo de palha.
Que queima, que provoca, que arde.

Mora comigo um hiato que teima em querer provocar.
Um abraço de esquina que não se esquece.
Vez por outra vens feito onda de mar.
Quebra, insinua e desaparece.



Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.



Feito o ar

Medida desmedida
Contida, sentida, amada
Muitas vezes, recriada
Por faltar fazer sentido
E ao mesmo tempo precisa
Inteira feito um vento
Que abala e direciona
Medida que não se clona
Um ciclone feito do desejo
Do teu beijo
Que nunca me abandona
És um soneto que não se conta
Que se guarda e que se vive
Que jamais me deixa triste
Por que amar deve resultar sorrisos
Somente teu olhar agora me faz sentido
Por que escolher um amor
É escolher o ser querido
Independente do triz
Da medida desmedida
O importante é que nasça da escolha
E de uma alma cantante e feliz






Canção de Betty Blue

Quando tudo estava a se perder
E o caminhar acenava em não voltar
Quando o desejo mentia para o querer
E o querer queria se enganar
Quando o riso não fazia tanta falta
E o abraçar desprendia-se do corpo
Quando a febre da paixão não era mais alta
E da paixão não se sentia nem um sopro

Quando o olhar dentro dos olhos mudava os sentidos
E o mais que tanto não enchia os nossos mundos
E a cena do beijo realmente era encenação
Viu-se distante todo o amor que se havia vivido
Não havia mais palavras nem gestos, só olhos fundos
A dor veio, tal uma lança cruel e cega, e levou meu coração

...
Mora um mar em teus olhos e eu me banho...


Aparentemente o querer transparece

Quase por quase não querer que o espelho enxerga não querendo ver
Num instante presume que o amor é constante, n’outro beira o acaso
Diz que não quer, que não sente saudade e disfarça assim o querer
E quer que o tempo corra, pois, meio poço cheio de um ângulo é raso

Imensidão pode encher parcialmente um dedal
Um vazio pode preencher totalmente o tanto
O vento muitas vezes não quer falar com o varal
E bem no canto do canto mora um canto

  


Línguas

Eu já nem sei o que meu querer quer me dizer
Talvez esteja mais confuso do que eu
Talvez não entenda que para esquecer
É preciso explicar o que aconteceu

Ao passo que os quereres têm “quês”
E que eles não falam uma mesma língua
O teu querer fala por sinais
E o meu fala somente português

Preciso assim que reflitas e sintas
Que a vida precisa tanto de bem querer
E que o amor pode nascer
Na invenção de uma outra língua


Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
O que errei foi com muita convicção



Essa chuva

Acende uma chuva aqui dentro
Vindo de um lustre com uma luz fraca
Uma dor conta pingos
Uma espera que o destino crava
Um “não sei lá” que responde tudo
Uma alma que não se lava
Um grito encharcado e mudo
Um querer quase absurdo
Vontade de te ver
Um amor que me faz ser
Tudo aquilo que eu sempre quis ser
E essa chuva que não passa



Solidão

É tarde
a noite arde
é pressa
a lua cresce
é madrugada
a nuvem passa
é frio
o conhaque aquece
e um estopim encharcado de gasolina
brinca à beira de uma fogueira


Guardar         

Um terno de linho branco,
uma colcha de ternura,
um baile em noite clara,
uma lua no Campeche,
quem guarda não perde.





Confusões

Olhares beiram mares
lágrimas confundem águas
mágoas inundam praias
a solidão navega às cegas
ignorando tantos luares
a hora é quase certa
o tempo é quase fuso
minha certeza naufraga
o exato é tão confuso


Hiatos de Março  
              
A saudade é um mar
onde levo minha embarcação
e de tanto remar
em busca de algo ou de alguém
aprendi a conversar com a solidão



Frases soltas presas ao tempo        
                                              
A confusão ardia
noites quentes
ventos de calmaria
mormaços de Joanas e Marias
bêbadas madrugadas sem fatias
tempo do presente não tão perfeito
olhares sem garantias
orações sem leitos
saudade tatuada em folhas de samambaias



Versos portugueses

É meu cansaço que me ergue
no exato momento em que me falta o ar
mesmo que minhas pernas se neguem
meu desejo me faz andar

Estanca de repente também meus ais
nenhuma palavra, nenhum gemido, nenhum gosto
minhas dores aportam em meu cais
engulo a seco e disfarço as lágrimas em meu rosto

Às vezes para seguir é preciso conviver com a dor
um espinho no pensamento, um punhal preso ao peito
uma luta incessante da escuridão com a cor
como se houvesse pregos em toda cama que deito

segunda-feira, 30 de março de 2020

Colcha de retalhos  

Meus amores estão nas entrelinhas de minha poesia
estão cobertos de rimas
estão encobertos por uma poeira fina de nome paixão
juntei tecidos tantos por tantos anos
tecidos suaves, finos, retalhos diversos e seda e chita
costurei uma colcha quente de lembranças
para acalmar meus invernos

Morde, assopra e cura      

Amo sempre como nunca.
Ainda é cedo para amar tarde.
Paixão é mercúrio.
Amor é mertiolate.


Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho   

quem nunca se sentiu Bentinho?


Luas
           
Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram uma quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...








Cartografia

Engoliu a seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...