quinta-feira, 14 de maio de 2009

* MAIO DE 2009 - Rosa dos Ventos...

Rosa dos Ventos,
Flor da Pele,
e outras Primaveras
em pleno Outono



Escrevo

Tenho escrito muito.
Reorganizando escritos, sonhos e emoções...
Tenho andado muito na praia, adoro praia nesse friozinho.
Ontem a noite "me dei" uma garrafa de tinto seco chileno e me deliciei escutando Noel e Cartola.
A fase é de viração, de nuances, de avessos, de redescobrimentos...
De ajustes, de reajustes, de vincos, de liberdades.
Dentro de mim finalmente sorrisos e, prazeres que agora me permito...

Morena de endoidecer

Uma morena de endoidecer
feito a música de Djavan
dança na areia ao luar
um mar de sonhos e de cores

Uma morena de endoidecer
dança flamenca e Paco de Lucia
inspira minha poesia
e me faz querer

Uma morena de endoidecer
que acompanhou toda minha vida
uma história tão bem escrita
mas eu preciso escrever

Quando

Quando é um lugar onde se sonha muito
não tem cep
nem mapa
nem roteiro
Quando é uma questão de confiança
que faz o desejo crescer
que provoca a felicidade
e faz a verdade aparecer
Quando é uma data precisa
mas para isso é preciso querer

Desentendimentos

Tudo o que a mim foi dito
entendi como verdade
talvez essa prática
tenha me deixado estático

Engoli alimentos
fechando as narinas
pisei em espinhos
e jamais gritei

Escutei palavras
que me feriam demais
e absorvi cada linha
que me prendia

(Quirina sabe de toda a história e diz baixinho,
me confortando: - Já passou, já passou,já passou).

Tantas cores que nunca vi,
agora desenham minha felicidade.

Rabiscos de fim de maio

Teu corpo traduz minha felicidade
morada que escolhi para viver
e sei que um dia vou morar para sempre
e acordar feliz cada manhã

"Dia desses"

"dia desses"
média de café
pão e
manteiga

pensei que tudo
seria diferente
"dia desses"

a distância arde
faz a manhã
correr para a tarde
faz a tarde anoitecer

mas sei que agora
o calendário é meu
o relógio está em meu pulso
e dei de presente ao meu destino: asas

"dia desses"
acordei
diferente
e vi tudo mais perto

O acaso

O acaso é uma linha
que namora o que eu sonho
com o que eu sinto
que não tem duração exata
alquimia, tesão, instinto
olhos de arrepiar
taças de vinho tinto

O acaso não tem lugar marcado
para em qualquer estação
diz que vem e não chega
vem na contramão
beija e não aparece mais
diz te amo e logo diz jamais
olhos de navegar
independente de onde está o cais

Meu querer

Meu querer aponta
meu querer não se via
meu querer era uma faz de conta
no meio de uma folia

Meu querer encanta
meu querer não sorria
meu querer toma café, almoça e janta
alimento de minha alegria

Meu querer entende
tudo o que não entendia
meu querer agora sente
o que só meu coração via

Rabiscos de um livro a ser escrito

Disse-me, secamente.
- Não haverá lugar algum em que possas andar sem que me vejas em teu caminho.
E continuou, depois de olhar para o céu por alguns segundos .
- Enquanto floria, enquanto dava frutos, enquanto fui alimento e água, eu servia.
E juntou forças que até então não tinha, tomou ar e finalizou.
- Agora que devido ao cansaço não consigo andar, que não produzo alimento e água, não sou primavera, nem um outono abençoado me deixas só. E teu riso rompe meu peito, como uma nuvem escura que dilacera o bom tempo, um soneto de Florbela feito punhal. Cada palavra tua soa como uma navalha afiada... e meus sonhos são cortados sem dó.

Eu não tinha esse rosto triste - essa frase de Cecília me resume.
Preciso de minha alegria que perdeu-se.
Saiu do meu coração um dia e nem mandou avisar se foi com alguém e para onde foi.
Dolores diz que a alegria mora em mim ainda e que há, aos poucos, de despertar.
Meus olhos, nesse exato momento, quando fecham não sonham, simplesmente se escondem, fogem.

Nada mais poderia colar àquele copo de água.
Um copo que já serviu de morada para mares e rios.
Nada mais poderia colar àquele corpo.
Um corpo que já serviu demorada para um amor tanto.
Um coração trincado não possibilita nem um gole
e a água que preencheu um dia o copo e o corpo nunca mais será a mesma.
Sede também, em alguns casos, é alimento.

A lágrima não encharca somente o lenço, ela produz a água que enche copos e corpos.
Bebi tua boca num sonho ontem a noite.

Partes

Uma imensidão trinca
o coração e a alma viram partes
e não mais se encaixam
os cacos são varridos para debaixo do tapete
e cortam

uma imensidão trinca
a palavra e o pensamento viram partes
e não mais se encaixam
os cacos são varridos para debaixo do tapete
e cortam

Recado pra Bia

Saudade.
Que saudade.
Existe um violão que nunca deixou de tocar.Ele toca bem n' alma."Naquela mesa tá faltando ela, e a saudade dela tá doendo em mim"
Bia, toca Canteiros.
Bia tinha asas longas e passeava entre nuvens e acordes e olhares.
Beijo Bia. Deu uma saudade de tomar vinho contigo na Lagoa e jogar general na pizzaria.
Estou por aqui, rabiscando, desenhando, enfrentando
- "eles são muitos mas não sabem voar", Bia.
Valeu todas as lições, valeu a amizade, valeu tudo.
Um dia nos veremos, prepare os dados e o vinho Bia. Sei que não esqueceste, é tinto seco.

Prazer, meu nome é Dike

Quem eu nunca tive me deixa triste quando se doa
Rio caudaloso,
Inconstante,
Que se apaixonou pela canoa

Quem nunca me fez falta
Deixa minha tristeza,
Como uma lua cheia alta,
Luar querubim,
Inconstante,
Que se apaixonou por um tempo ruim

Nada me preenche
Se não quando
“existe” uma “presença” tua

Pois a tua rua é que eu quero ladrilhar

Quem eu nunca tive agora
Eu tive sem a cor que precisava

A confusão eterna do existir

Amor de porto

Meu coração marinheiro
Encanta-se com um amor de porto
Navega por uma ilha distante
A procura de uma alma para meu corpo

Ausência

Um frio bom de outono
Descreve minh’alma e
Uma calma que nunca tive

Embora a ausência arda
Não me vejo triste
Pois sei que a felicidade não tarda
Quando a claridade habita nossa vontade

Dos sentimentos

Absolutamente
Completamente

Confuso

Amor é u’a manhã aqui
Amor é u’a manhã no Japão

Meu coração é fuso

Absolutamente
Completamente

Amor é um rosto colado
Paixão é rosto corado

Absolutamente
Completamente

Confuso

Sentimento tem lados
O que se vê por fora
O que se imagina por dentro

O acaso

O acaso me protegeu todo esse tempo
Bem em alguns casos
Muito mal na maioria
Mas sei que ele é meu amigo
Pois escreveu lindas histórias
E sempre me contava todas
E me avisa quando o “tudo” não podia ser interpretado
O acaso me fez café na insônia,
O acaso me fez dormir na festa,
O acaso me fez dormir na insônia,
O acaso me fez café na festa

Partir

Deixarei, além de uma história sem muitos versos, luares que acreditei e que povoaram todos os meus sonhos.

Se agora “o primeiro dia do resto da minha vida” se desenha no calendário, as lembranças desse “tanto tempo” será um vento que balançará uma rede, suavemente, no futuro

Além de tudo e além de mim
Muitas partes quebrarão,
Ou por fragilidade ou por nunca terem existido

Deixo um livro pronto
Deixo também um livro não lido
Pois tenho, pela minha felicidade, reescrever a minha história

Entendimento

O silêncio é uma voz poderosa. Entendi.
Tua delicadeza me fez demorar um pouco, o entendimento.

Sei que não foi por querer todo o teu não querer.
Sei que não foi tua vontade o desejo de não ter.

O coração é assim.

O silêncio me diz.
Não precisa dizer nada.

Amy

Conjugue
O verbo amor
Não julgue
Todas as pessoas
É singular teu jeito
Mas o amor é plural

Não tem mais pele
E arrepios sem pele
É somente medo

Escuto Amy
A canção dilacera a emoção
A dor faz parte
Dessa encantadora arte
Chamada vida

Escuto Amy
E quase me basta

Não há

Não há mais tempo no teu relógio
Não há mais dias em teu calendário

Nem os recados
Respondes
Nem os pecados
Relembras

Não há mais química
É uma questão de matemática
Não há concordância verbal
Na geografia corporal
A peça de humor, agora, é dramática

Não há jeito
Não há tempo
Nem vento há

A hora é d
O dia é h

Chuvas

Pouso em olhares de chuva
lágrimas intensas que molham a boca,
que faz transbordar a mágoa,
que corre pelo rosto já sem cor
numa dança que descreve um arco,
como um barco que navega a dor
pouso em noites de frio, dessas que aproximam o mar e o frio,
que faz navegar a solidão,
que chora a chuva que cai,
numa dança que descreve o pecado,
como um recado que na correnteza vai.

Viagem

Viajo com minha caneta
porque só assim posso chegar a minha casa
meus recados em varandas que desconheço
são meus mapas de viagem

Assim escrevo meus andares...

O sonho agora é um porto perto demais
Não há como não navegar

Estações

Um silêncio que calava noites
que calava sonhos
que calava esquinas

nenhuma voz havia
nenhuma linha prendia

a resposta não vinha
o silêncio era só dela
a saudade era só minha

quem eu tanto esperava
já estava em outra estação

um beijo inverno
à procura de uma boca verão

Tantos

Nada poderia desfazer imediatamente
tantos enganos
tantas perdas
tantas frases feitas
tantos olhares sem cor

pedaços
de uma taça
colados

beijos
vazavam do canto
de uma boca

de uma boca que já não me dizia nada
e que nada me traria,
mas estava tatuada em minh'alma
como se todos os enganos, perdas, frases feitas e olhares sem cor
fossem formas de lembranças

Medo

O medo pode conviver com a conquista
o medo pode conviver com o querer
o medo pode ser um anúncio de revista
que mostra a beleza de um anoitecer
o medo faz parte da ida
o medo faz parte do céu
o medo pode ser um mar
que navega num barco de papel
o medo pode ser impulso

A rua

a cor da minha rua não era a que eu pensava que tinha
talvez por isso que agora não reconheço nem minha casa
pois tudo o que eu pensava que era tão meu não existia
nem a roupa do meu destino, que eu usei por tantos anos, era minha

recomeçar
buscar cores
entender minha rua

e assim; buscar o mundo, o meu mundo

A porta

a porta está fechada
bata
a porta continua fechada
abra
a porta continua fechada
cadabra
a porta continua fechada
exploda
a porta continua fechada
esqueça

não desista fácil de qualquer porta
mas também não perca muito tempo com portas

por isso é importante investir em janelas

(Se alguém perguntar se existe nexo nisso, bata - comenta Dolores, debruçada numa janela).

O coração

Ele foi alimentado muitos anos com o alimento errado
Viveu só e calado
Magro e sem cor
Assim, não pode conhecer o que ela sabia ser amor

Um dia provou de verdade um alimento de gosto bom
e o amor viciou o menino
que até engordou

veio depois um estio, as plantações secaram
e voltou a perder peso
mas saiu ileso do processo emocional - alimentar

agora ela sabe amar
e provar
e comer
e "se" alimentar

(Às vezes come demais, entrega Quirina...)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

* Crônica de um amor imperfeitamente eterno

Um grande amor só se pode perder uma vez - para que ele fique na lembrança como algo infinitamente bom...
Perder um grande amor por uma segunda vez é perder o encanto e o sonho que todo um grande amor envolve.
Então, o desejo de ver de novo um grande amor esbarra no medo de perdê-lo novamente.
Como uma grande viagem em que o coração embala a vontade, que é tanta, e ao mesmo tempo afasta do pensamento, a presença, ele percorre nossos dias.
Um grande amor só se deve perder uma vez...
Um grande amor! do tempo que amor tinha verbo e o sujeito sempre era feliz, não deve se perder no tempo nem deve tentar resgatar segundos.
Os amores nunca serão antigos. Grandes amores não possuem datas, pois quem data não ama.
Assim deixe um grande amor tomar todo o espaço conquistado, pois todo o amor possui o seu canto e ele com certeza será uma saudosa música quando quiseres embalar boas recordações na varanda de casa.
Um grande amor só se deve perder uma vez... para que ele seja sempre nosso. Um grande amor deve ser guardado aonde a cor e o perfume dele sejam preservados... Um grande amor é como um bom vinho que deve ser degustado com prazer e entendimento... Os grandes amores não se perdem uma segunda vez, eles serão sempre amores a primeira e única vista...
Um grande amor sempre tem lugar em nossa cama, pode sentar sempre a nossa mesa e falar de nossas poesias, nossos encontros e desencontros... Um grande amor faz parte da nossa vida mesmo que não queiramos, mesmo que não mais o tenhamos ao nosso lado.
Ele está guardado a sete chaves em nosso coração. Um grande amor é inviolável.
Um grande amor tem nome embora muitas vezes não queiramos mais pronunciá-lo.
Um grande amor só se pode perder uma vez... para preservá-lo, encantá-lo e possuí-lo como quem bebe água... Um grande amor nasce e renasce sempre simples e assim deve viver em nossa alma.
Tudo que escrevi só muda se um grande amor for realmente o grande amor... Daí esqueça tudo e vá a luta...
Para se viver um grande amor, já dizia Vinícius, primeiro é preciso sagrar-se cavaleiro, ter a mulher por inteiro, para viver um grande amor...

* Crônica - Encontros e Desencontros

Linda. Morena. Trinta e poucos anos. Olhar quente. Boca carnuda e pernas bem torneadas, muito bem torneadas, eu diria. A mulher parecia estar a algumas horas no local, olhava o relógio, ajeitava o decote e a saia, mexia no cabelo. Em u a mão uma carta, amassada, na outra, um lenço branco. Estava ali naquela esquina, em meio a umamultidão e misteriosamente sozinha. Era uma mulher que chamava a atenção. Alguns homens que ali passavam fixavam nela o olhar e acabavam por esbarrar em que estava em direção contrária. Chegava a ser engraçado. Ela, mesmo que simpática, passava a impressão que nada chamaria a sua atenção. Nada nem ninguém. Permitia somente um leve movimento do rosto, como quem ensaiasse um sorriso, mas desistia de mostrá-lo no minuto seguinte. Nuvens escuras começavam a tomar conta do céu. Guarda-chuvas brotavam de todo o lugar, capas de chuvas eram vendidas no meio das ruas, marquises serviam de abrigos e um casal sem se importar com a chuva beijava-se no meio do calçadão. O movimento diferente que a chuva provocara fez com que os olhares fossem direcionados para vários locais e a mulher pode ter um pouco mais de privacidade. Ela continua no mesmo local, seus cabelos já encharcados não mostravam mais o belo penteado, que com certeza demorou muito para fazer. Com o lenço ela tratou de proteger a carta, envolvendo-a delicadamente. A noite já começava a dar sinais de sua presença e a chuva aumentava ainda mais. As ruas já estavam quase vazias. Muitos carros e suas buzinas faziam a trilha sonora do momento. A mulher ali, parada. Olhar cada vez mais sério.Ouve-se um chamado. Um homem gritava como quem procurasse uma pessoa. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. A mulher ouviu o grito. Olhou para todos os lados, não via ninguém. Procurou. Saiu da esquina, foi até a rua detrás, entrou em uma livraria, em um café. O chamado estava cada vez mais próximo. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. Ela nervosa. Procurava desesperadamente a voz. A carta já havia sido levada pela chuva, o lenço molhado já não guardava mais nada. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. Um policial que passava por ali. E que já acompanhava o movimento daquela linda mulher, abordou-a e perguntou: - A senhora precisa de alguma coisa? Ela respondeu: - Procuro alguém. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. O policial escutando esse chamado, pergunta a mulher. - Qual o seu nome? - Porque o senhor quer saber? Disse ela. - É Vera Regina? - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. O homem que gritava por Vera Regina entrou no café e se postou a frente daquela linda mulher. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. A mulher num gesto rápido, beijou àquele homem, beijos de longos minutos. O policial feliz pelo encontro, saiu sorrateiramente. As pessoas do café começaram a aplaudir, emocionadas por tanto amor e carinho. Ao final do beijo, a mulher olha ardentemente e fixamente o homem e pergunta: - Meu nome é Denise e o seu? Ele começa a rir, rir muito, muito e convida-a para um café e logo depois saem dali e nunca mais os vi.

* Crônica - Bergamotas

Tempo nublado, sem chuva, mas choroso. As linhas do quando lavam almas, desenham nuvens e encantadoramente rasgam os comentários com a previsão do tempo. Enfim, detrás da nuvem um sol e uma lua beijam-se. Vi uma cena linda, ontem, no centro de Floripa, perto do Terminal, quase na conselheiro Mafra. Um menino de uns dez, onze anos no máximo vendia bergamotas. Simpático, atento e envolvente. Ele chamava os fregueses assim: "Bergamotas doces, para a gente ter um dia doce, bons frutos para um dia doce".

Era isso ou quase isso, o importante é o conceito, diriam meus colegas publicitários. Vendia muito o guri. E além de vender passava alegria a quem ali passava. Eis que surge uma senhora, humilde, roupas velas, mas bem vestida, entendes isso, leitor? Claro que sim. Ela aproximou-se do vendedor de bergamotas e perguntou: "É doce essa bergamota?". Ela não tinha dinheiro, era visível isso.

O guri com olhos de bondade e gestos harmônicos, entre o sorriso e a compaixão, olhou bem nos olhos da senhora e respondeu: "Prove". Ela, já os olhos marejados, falou baixinho: "Eu não tenho dinheiro". Ele fez que não escutou. Ela descascou a fruta. Ele continua a vender as bergamotas.

Ela comprovou toda a doçura da fruta e do momento. Ele colocou mais quatro bergamotas num saquinho e deu na s mãos dela. Ela sorriu e saiu "devagarzinho, com um sorriso que encobria todo o seu rosto". Ele sorria ainda mais. E continuou a vender as bergamotas: "Bergamotas doces, para a gente ter um dia doce, bons frutos para um dia doce". É preciso olhar a vida com olhos doces. Quem viu a cena que eu vi com toda a certeza do mundo ganhou o dia e aprendeu muito com àquele guri. "Olha a
bergamota" – mas olhe de verdade.

terça-feira, 12 de maio de 2009

* MARÇO E ABRIL DE 2009 - Considerações

Considerações quase certas
de olhares quase abertos
que quase encontraram a paixão


jardins, casas, luares, e declarações de amor e suas trocas de endereços

Linhas, limites e cascas de bananas

Às vezes eu caio de quina
Ao escorregar no destino
Uma casca de banana
Entre o homem e o menino

Um crime a ser cometido
Uma arma a esconder
Um enigma a ser lido
Uma vida a entender

Os teus diálogos são contraditórios
Os meus também
Os avessos e os contrários
São imãs no coração de quem?

Quais são tuas pretensões e aonde aportarão?
Entender nossas emoções de agora, pois muitas outras virão...

E se...

Não havia vento, mas se houvesse nem folhas haveria para balançar
Não demonstrava medo, e se tivesse não teria ninguém que o acalmasse
Não havia tempo, e se houvesse não haveria razões para ganhar
Não havia sentimento, e se houvesse não haveria maneira de perdoar

Pergunta

Que lua maior é essa que deslumbra as meninas dos teus olhos,
senão àquela viagem que habitava nossas taças de vinho seco tinto no momento exato do olhar direto das nossas almas?

Para onde foi o nosso olhar, em que frase ele se perdeu, em que fase a lua se perdeu, que mar é esse que eu não conheço?

Uma caneca de café debruçada na varanda acena tristemente para a madrugada e se entrega à insônia.

Cartas

Detalhadamente separou as cartas,
as de amor para um lado de dentro do coração
as de rompimentos para outro lado de fora da razão
as de saudade colocou no fundo da gaveta, onde mora a solidão
e ficou com apenas uma carta na mão:
era uma dama de vermelho que conheceu na noite anterior

Preciso

Para encantar-te tenho que encantar a mim
se não sou inteiro do cerne que venho
como haverei de encantar quem tanto me ama
e precisa do meu bem querer?

O amor precisa de constatação
o amor precisa dizer "que orgulho tenho pelo ser amado"
o amor precisa de admiração

amor sem tudo isso é imprecisão
e não preenche

Metades e linhas e esquecimentos

Sigamos...Meio Fênix, meio Chaplin, meio Chico Buarque, meio Florbela Espanca.
A gente se agiganta quando precisa e quer.
Meio calmaria, meio furacão, meio alquimia, meio razão
A gente se encanta quando precisa e quer.
Meio copo vazio, meio copo cheio

Disfarces

luares pernoitando nas tardes
para disfarçar a solidão
minhas noites em pedaços
cacos embaixo dos tapetes
beijos esquecidos no portão
tua voz vem e faz arder minha pele
tua palavra vem e faz arder meu coração

o tempo é tão tarde
como a frase pronta que não foi dita

Preciso II

navegar é um caminho
que nasce pelas veias do coração
navega pela pele, pelas ondas do corpo

é preciso entender cartografia
é preciso entender de adivinhação
é preciso entender de alma e rotina
é preciso entender de calmaria e de inquietação

amar é um caminho
que navega por toda a emoção
quando termina , por favor, não culpe
a embarcação

é preciso entender filosofia
é preciso entender de distração
é preciso entender de humor e tragédia
é preciso entender de lágrimas e de imensidão

Rapto

tentei o rapto
esqueci de falar com a raptada
colocaram água no vinho
preparam uma cilada
ela disse que me amava
tudo por debaixo dos panos
arquitetei o sequestro
decorei todo o meu plano

dolores bem que avisou
falou de valores e resgate
falou que distância mata
eu disse: então que mate

o amor foi devolvido e nada se pagou por ele

será que era de verdade amor
ou era apenas um sonho
de um poeta sequestrador?

Querer

toda a distância finda quando o querer é todo tempo
mesmo que ainda a imagem desapareça, a voz não grite
a eternidade é palco de qualquer instante, qualquer momento
e todo o dia é alegre, porque tu existes, e me ensinou a não ser triste
e a entender todos os caminhos das velas e dos ventos

As conversas

Os poetas nasceram para conversar... com a solidão.
Nasceram para viver... sozinhos.
No caminho que mistura sentimento com agonia, com razão e com razão imprecisa e
com sentimento vão

E é assim que eles partem
E é assim que eles trincam
E é assim que eles amam
E é assim que eles voltam
E é assim que eles vão

Impossibilidades

Tuas posições imprevisíveis
Tornam meus beijos impossíveis
E o nexo que de nós emana
É um avesso previsível

Minhas intenções beiram o simples
Tuas segundas intenções confundem o claro
Teu álibi é confuso e nos levam ao anti horário
E nosso beijo fica com gosto de contrário

Amor tamanho

Intensidade é uma força sem precisão
Nasce sem planos, sem direção

Só depois que chega pode-se saber que caminho seguirá
E que volume terá e principalmente se será...

Sumiço e outros chás


Avento a possibilidade de sumir
No sentido de aparecer para teus olhos sumidos
Pois sei que quando trinco, parto
“Me” olhas com um olhar de preencher e de encaixar

Quem de nós não trinca
Quem de nós não parte
Quem de nós não brinca
Ao dizer que a vida é arte?

(Dolores acha a frase linda, cutuca Quirina que cochilava e se põe a cantarolar "eu sei que vou te amar").

Final de verão

Todo o calor que vem agora desse verão final de tarde
Arde em minh'alma e cora
Toda a minha claridade

No por do sol nasce uma paixão e invade a minha boca com imã
Lábios colados aos teus
Amor não deveria ser sina

Do amor enlouquecido e menino

Bebo o rum do meu destino
Enlouqueço ao te beber
Fui um amor menino
Que esqueceu de crescer

Perdas

Quando eu perder o que sinto agora
Hei de encontrar o que eu sinto agora

A concordância é bêbada
O nexo é contraditório
E o acaso vai embora
E volta e colhe e beija e começa tudo de novo
Sem hora

Viagens

Viajar quando se quer
Desejo de encontrar
Disfarçar o querer
Quando a vontade chegar

Amor é um calo antigo
Precisa de dor e história
Paixão é um momento preciso
Maria, a moça da praça, a moça da praia

Verdades que doem

Visto a roupa que eu dizia que não vestiria
Um risco absurdo e surdo que surta
Que não me escuta, que me afasta da luta
Àquele desabafo insensato e lógico vira poesia
E a menina normalista com certeza é filha da dita

A queda

a queda vem muito antes da dor
o naufragar começa longe do mar
a solidão vem antes de acabar o amor
a saudade nasce antes do silêncio chamar

A queda

a queda se dá
muitos antes
da dor
o naufragar
nasce muito longe
do mar
a solidão vem
antes de acabar
o amor
a saudade nasce
do silêncio
chamar

Primeiro de Abril

Primeiro fechou bem a gaveta
até seu amor sair
depois abriu
tirou dela uma carta amarelada
e sozinha sorriu
chamou Dolores
e disse em alto e bom som:
Primeiro de Abril

Dominó

Teria a lua a senha do luar para poder barganhar paixões
E essas paixões teriam tempo para entender todas as fases que a lua tem?O luar sem a vontade da lua saberia dizer por que vem
E teria o tempo paciência para esperar o desvendar da senha também?

Recomeços

Desperta a pétala intacta saciada pelos teus sais
Aporta na data exata sonhada pelo meu cais
e o destino recorta papéis e refaz nossos barcos

Invenção

Teu olhar sei agora que foi uma louca invenção
criada para tentar um mundo desenhado por tua boca
e as palavras disfarçavam o erro e ignoravam o coração
inventaste um amor e não avisasse ninguéma
estação primavera corre pelo outono
a solidão vem de trem
Quirina busca no dicionário o significado exato de razão e cai no chão de tanto rir depois de ler a definição)

Madrugada

Café com madrugadacilada do pensamento, grilos, corujas e relógios na varanda bebendo ventos
A insônia deita no sofá e sonha em ganhar a loto
na tela uma vida inteira
na mesa um controle remoto
A solidão é uma faca de corte que desperta o pão dormido
a esperança é uma manteiga
que passa cada página do nosso livro

Caminhos

Boquiaberto
Bebo
Partidas

Bêbado
De tantas idas
De linhas de mãos não lidas

Um mar deserto
De barcos destino
Um leme na mão de um menino

Perdão

Ninguém saberá da palavra não dita
mas ela continuará
a corroer cada linha que escreves
cada silêncio que ensaias
cada grito que se cala
talvez assim manterás tua verdade forçada
e terás por alguns momentos
a sensação da conquista, da vitória

mas o tempo passará
as marcas no corpo aparecerão
e a palavra que não foi dita
todos saberão

Provas

Quem provará o fato acontecido entre nós dois se duas versões correm pelos canteiros?
Quem provará o doce veneno da paixão ou o amargo remédio da ruptura?
Quem saberá o que é doença ou o que é cura?
Quem saberá o que é carnaval ou o que é fevereiro?


Existir

Sei que habitas o mesmo mundo que eu habito
isso já me faz viver
o dito pelo dito
a lembrança que eu mais preciso

A flor
o encanto lis
no jardim querer
nascer
abrir
povoar sonhos
o encanto por si
por si só
é sempre mais do que feliz

Seria apenas uma flor
se essa flor
não fosse um interminável jardim




saudade

isso
ou
isso
tudo

nada
disso
disse
nada

saudade
sem
juízo

saudade
sem
cep
sem
ter

saudade
sem
perguntas
sem
respostas

Ventos

destoa
vento forte
na canoa
vela acessa
vela que voa
onde está o norte da tua estrela?
solidão
destino à deriva
na imensidão
menino que sonha
menino que chora
onde está o trevo da minha sorte?
que vontade que dá
que saudade que dá
que frase é essa que aparece no mar?
(Quirina balança a cabeça,indica que entende, cita Candeia, diz que fará café e abre um pacote de sonhos velhos)


Retornos

Tu me mandas beijo
Eu te amo
Tu queres o mundo
Eu faço planos

Teu mundo habita tantas bocas
Teu calendário rasga folhinhas
O meu transforma dias em anos

O teu gostar é amplidão
O teu gosto é todo mundo
Eu te mando meu coração,
mas não sei onde anda o teu
Eu te mando horas,
mas não recebo nem um segundo

Panos quentes

Os trilhos de um trem enlouquecido
São panos quentes que colocaram em teu caminho
Que sequestraram o maquinista
Que embebedaram o equilibrista
Que santificaram o golpista
Que tiraram meu nome da lista
Os trilhos desse trem destino namoram agora uma encruzilhada
E não querem filho.

Correio

O correio devolveu a carta
A vida não leu
O destino rompeu a linha
Que nem eu

Nem o selo colou mais
E o amor esqueceu quem remeteu

E a vida devolveu

Por muito menos

Ao menos disse tudo
Quase nada eu diria
Gritos de ficar mudo
Olhares de quem não via

Por muito menos mudei de CEP
Por quase tudo mudei de cor
Por tudo isso mudei de leste
Só não consegui mudar de amor

Nós

Nós para atar
Nós atados
Nós sem par
Cegos por nós
Nós soltos
Despercebidos
Nós lidos
Esquecidos
Nós para juntar
O inconcebível
Acredito ainda
Em nós para sempre

Saberes


De mim quem saberá?
Haverá algum coração que eu poderei dizer o que exatamente quero?
Insegurança é uma dança que nos leva a aprender a dançar

Minha música terá nome?
Quem saberá?
Quem cantará?

O labirinto

Ao labirinto respondeu: - Dane-se
E se pôs a recitar versos desconexos
Que alçavam voos por entre luares intensos

Como se perder fosse o caminho procurado
Como se não houvesse na partida, lenços

Navegar ou negar

Todo o mar é bebido agora
Bêbado navegador
Que na noite alta
Busca intensamente seu amor
E é naufrago da própria paixão

Buscas

Há tanto azul.
Eu sei.
Vou buscar.
Há cantos e terei tempo para cantá-los.
A madrugada me encanta.
Há tanta lua que virá,
que o silêncio de agora
já não mais espanta.

Traduções

Prontamente bebeu num gole só o fim
A garganta desfez o nó.
E milagrosamente reinventou frase.

Depois foi até a dispensa.
Pegou uma garrafa de mar.
E bebeu num gole só.

Por fim,
Lavou a alma com a última lágrima que havia
E, depois de muito tempo, sorriu.

Faltava o beijo,
que o tempo se encarregaria de traduzir.

Amor

Há precisos segundos passou pelo meu mundo
Como se não tivesse jeito
Nem pudesse ser preciso

Recomeçou à esmo um novo tempo
E por “saber-me” bem mais do que eu
Abocanhou em si mesmo a pouca esperança que ainda possuía

E assim novamente nasceu

Procura

Eu vejo papéis amassados que seriam desabafos profundos
Paixões profanas de outros mundos
Mexem com os corações amados

Quero agora um só beijo
Um beijo de uma mulher que goste de sonetos
Independente qual seja o nome dela

Melhor assim

Não há jeito
Então
Façamos silêncio
Ou gritamos mais?

Sei lá.

Tua voz não me diz o que me dizia

Se teu nome fosse Maria, ou Berta, ou Beatriz
Eu diria: tanto faz

O que eu quero tem o teu jeito, mas será que és tu?

Melhor assim II

Eu não tenho jeito
Que jeito eu teria
Bateu sempre mais forte o meu peito
Do que a minha teoria

Jeito por quê?
Por que se deve ter jeito?

O jeito esquematizado ou o jeito desconexo?

Qualquer que seja o jeito
Que seja bem feito.

Nem sei

Já não sei mais de mim o que outrora foi minha verdade
nada agora me completa, nem me fascina, nem ao menos me provoca já não sei mais se meu querer tem a ver com meu lamento
nada mais me devora, nem me ilumina, nem me faz esperar a horas
ou agora ,talvez, uma pessoa mais próxima do que eu sempre quis ser
a felicidade deverá demorar um pouco, mas virá
meu sumiço vem em saquinhos feito chálogo apareço mais inteiro e serei primeiro feliz comigo
só depois entenderei de vez às dores que o caminho me impõe

Desatinos

O destino desatina joga a embarcação em alto mar
engole o tempo
engasga com vento
muitas vezes nem quer andar
tuas linhas riscam a folha branca
minha vida quer desenhar
tuas linhas jogam as tintas sobre um manto
como se quisessem colorir o beijo
o destino desatina o mar para ser bebido
o mar para naufragar
o mar para ser servido com pitadas generosas de "tentar"
o destino desatina muitas vezes só para nos "acordar"

A música

Eu acredito numa música que sempre me acompanhou
Com acordes ritmados do coração
E quando a vida bate sem ritmo
Ela nasce do meu desejo de escutá-la

Uma música que minha mãe e pai cantarolavam
E ainda cantarolam

Isso é o que importa
Que abre a porta e deixa
A felicidade entrar

Meu coração quer cantar
E busca
E sonha
Com outro coração que ainda acredite em harmonia

Pertinente

Disse-me assim: teu amor é pertinente
Para ser pertinente precisa estar relacionado ou harmonizado com alguém e assim se for pertinente realmente, a parte relacionada deve contar com algum elo, encaixe ou razão

Se disseres que meu amor é pertinente
Escutarei, vens

Então, muito cuidado com as palavras
Muito cuidado com seus significados
Pertinente é meu desejo quando falo do meu amor
O teu sentimento é pertinente a alguém
que não sou eu... ou serei eu?

Minha confusão é pertinente

Quadrinha de um abril sonolento esperando as manhãs de maio

Quando vi que meu olhar desenhava um outono
Vi folhas mortas e poesias antigas com tanta sede
Despertei assim de um longo e preciso sono
Reguei cores, recuperei sóis, vi de novo campos verdes

Teatro

De forma alguma
Eu disse: corta
Nem ousei dizer que
“Inês é morta”
Muito menos disse: não acredito
Quando gritaram bis

No meio da peça eu já sabia
Que desse jeito não poderia ser feliz
Decorastes bem os textos
Os rabiscos e as poesias

Agora no final da peça
O destino deu um salto
Mostrou todas as máscaras
Que viviam nos teus palcos

A forma

A forma pode ser deformada por um toque, palavra, ação
O amor deforma quando não há verdade
O amor precisa também de razão
E conhecê-las é uma forma de bem amar

(Quirina ouve com atenção e comenta baixinho no ouvido de Dolores: “e eu passei a vida inteira dizendo que o amor tem razões que a própria razão desconhece”. Dolores balança a cabeça e diz: Àquele meu último amor tinha razão. Quirina responde: Com esses versos acho que perdi minha razão. E sozinhas, ligam a tv e assistem a "Grande família").

O fim

interruptores moram n’alma

* JANEIRO E FEVEREIRO DE 2009 - Diário de Casablanca

Diário de Casablanca
Entre Torres, Campeche e Canto da Lagoa
Poesias de Janeiro e Fevereiro de 2009



De uma hora para outra

De uma hora para outra o avesso virou fato
Uma outra realidade onde o destino deu na vida um trato
A realidade perdeu a hora, o tic, o tac e a confiabilidade
Numa mistura de toques perdemos também a neutralidade
Mas ao contrário do que parece o céu ficou muito mais claro
O que era difícil de encontrar de repente já não era mais o raro
Sempre fui acompanhado pelo perfume da felicidade
Apenas havia perdido o faro

Comprometimento e pluralidade

Há um silêncio na linhaque costura minha voz
uma rede de retalhos
agulhas e tantos atalhos
uma rede que balança,
que desanda
e que é feita inteiramente de "nós"

Prevalecimento

Contudo, ao ver a noite fechada
cantou por toda a madrugada.
Esperava que assim o beijo fosse a chave de tudo,
mas se esqueceu do segredo.

E partiram, copos e corpos celestes,
em uma noite que até hoje não mais abriu.

Par perfeito

O par não é preciso
Não tem um único jeito
Rotular “par perfeito”
Pensar assim não é direito

Diga-me
O que é um par perfeito?

Mas não esqueça menina
Dos momentos mais do que perfeitos
Luz de velas, vinho tinto seco, música
Carinhos intensos e sem ter fim

Tatuagens no coração descolorem
O destino usa raio laser

Mas não esqueça menina
Dos momentos mais do que perfeitos
Banho de mar na madrugada,
Lua cheia cobrindo o mar,
Sede de vida, fome de amor
Bergman, Wilander, Kurosawa

Diga-me
O que é um par perfeito?
Não faça esse jeito de triste
Sabes linda menina
Par perfeito não existe


Entendimento

Todo o entendimento necessita de tormento, de vento, de transformação todo o entendimento necessita de lamento, de tempo, de interpretação todo o entendimento necessita de perdas, de tristezas, de inquietação

Entender é um barco que parte e precisa conhecer todos os segredos do mar. Demora um pouco esse navegar, mas depois... águas claras, como se fossem espelhos da felicidade.

Sobre o amor

Ao ver o mar mergulho e sempre mergulharei.
Como ter sede de mar e não naufragar algumas vezes?

Verbos e vírgulas

O que nos prende, preenche?
o que nos entende, estende?
o que nos confunde, ilude?
o que nos permite, persiste?

A linha que separa o "sempre feliz"
do "cada dia mais triste"
é tênue... vive e morre num beijo...

Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho

quem nunca se sentiu Bentinho?

Considerações

A lua cantarola
e eu finjo que não a escuto
o luar sabe da minha tristeza
e usa luto


Considerações II

Havia um sentimento que não fazia muito sentido
um dito não dito
um verniz no beijo, no amor
e em outros bens perecíveis


Considerações III

Que lua inteira que trinca?
que taça inteira que brinda?
que lua inteira que brinda?
que taça inteira que trinca?
que lua taça é essa que nos bebe
e que nos corta?


Canto


Quando me separo vou para o Canto
quando me desgarro vou para o Canto
Meu lugar comum é um tanto sozinho

Perde-se os mapas, as bulas, ganha-se olheiras
minhas chuvas caem intensamente em tuas plantações
e não queres colher

Depois vem a seca
e tuas lágrimas não renderão frutos

Quando "me" separo
"me" junto

Anestesia

Tua cor não anda nada bem
teu senso prático "non sense" é aquém
tua companhia infalível não vem
teu não sei é sim
teu gelo esquenta
tua marcha é lenta
tua certeza nem tenta

um hiato
um espasmo
um lapso
um traço

uma anestesia na noite que arde


As linhas

as linhas desenham imensamente os detalhes dos nós
o destino aperta
a vida aperta
a verdade aperta
as linhas amarram fortemente os detalhes de um amor
o destino aperta
a verdade aperta
a vida aperta

prender é uma forma de perder as linhas
prender é uma forma de afastar as pessoas
prender é uma forma de não ter

deixe as linhas livres
dê linha
deixe-se voar e deixe voar

só assim entenderemos o que seja "nós"


Ensaios

Pensou uma vez, pensou duas, pensou três
ensaiou no jardim o beijo
decorou as palavras e o olhar
intensamente abriu um sorriso que não tinha

E a moça não veio ao seu encontro
não mandou recado, nem ligou,
nem sinais de fumaça,nem garrafas com mensagens,
nem ventos, nem gritos, nem desculpas esfarrapadas

Deixou um beijo perdido no jardim
As palavras decoradas jogou para debaixo do tapete
O sorriso que nunca teve deixou no banco da praça
(e a moça tão conhecida minha disse-me em tom de desabafo:
nenhum jardim pode ser transformado sem desejo...)

Um dia contarei o segundo capítulo dessa história de primaveras, de
estações, e de um maquinista sem trilho...)

Contra

Há um "contrasenso" entre o que é de direito e o teu beijo de lado
abstrato foi teu sentimento
avesso do que possa ser leito
ninguém age assim com o ser amado
há um "contrasenso"
há um "contragosto"
há um ano inteiro nos dias avessos de agosto
há um "contrasenso"
há uma "contra paixão"
se minh'alma balança
meu corpo fica tenso
todo o encantamento
prevê a definição exata de senso


Casa

Casa para perfumar
Casa para descansar
Casa para ter casa para ter casa para ter
Casa para desfrutar
Casa para sorrir
Casa para viver
Casa para ter casa para ter casa para ter
Casa para cantar
Casa para plantar
Casa para criar
Casa para ter casa para ter casa para ter

Sem lugar não há

Era só o que faltava não preenche o amanhã

Era só o que faltava não preenche o amanhã
Era só o que faltava faz mais perder do que ganhar
Era só o que faltava não preenche o vazio da dor
Era só o que faltava faz lembrar do porque
E faltava tão pouco
Dizes isso só agora "era só o que faltava"

Florentino Ariza

O cíclico é lírico
Empírico,
Ardente e bíblico

Preciso e casual
Luau,
Sol escaldante

Florentino Ariza,
Campeche, Moinhos de Vento
Ou Ibiza

Viver intensamente o momento,
Entender o lamento,
Gaivotagens e ventos
O lado bom é um todo bom que virá
O que será? Não sei

Florentino Ariza,
Com todo o prazer e
nuances da personagem vida...

Entre a cólera e o paraíso


Presença

Quando não se vê a alma descansa,
Quando se vê a alma cala...
Quem haverá de gritar esse silêncio que se lança?

Quase sem nexo

Eu não amo um só ninguém
Eu amo todo mundo
Eu amo um só alguém
Quando o sentimento é assim profundo

Paixão, águas caudalosas
Sem ar o amor vai para o fundo
Sem mar a paixão não navega
Não quero a calmaria
Zombando do meu absurdo

Ponderações

Poderia a lua agora viajar até o meu quintal
beber vinho em minha taça e deixar o luar em minha cama
Poderia também a lembrança levantar a cortina da minha sala
e deixar o sol entrar por minhas veias e amanhecer sem medo

Depois de tantos sonhos ela deixou um recado no varal
Pois depois de cinco ou seis Brahmas
Arrumou o cabelo, lavou o rosto, ajeitou a mala
E lua crescente aos poucos desvendou o seu segredo

Tem fases de alta voltagem
Tem fases de choque
Para acordar a imagem
antes que a vida a troque


Se

o tinto seco, a música, o mar
esquecemos pois o chá de sumiço
para "se" encontrar é preciso "se" perder
existem momentos que é muito melhor ruir
para "se" conhecer todas as partes
quebrar é uma forma de crescimento
o vento pode afastar ou aproximar
tão perto pode ser marte
tão distante pode ser a nossa sala
temos as tintas e os pincéis
façamos felicidade com eles
façamos arte

Ainda

há ainda tanto
que haverá o gosto do chá
todas as manhãs, quiçá...

tuas palavras ainda
se fazem canto
todas as tardes,

há ainda muito
que inunda, explode, preenche
e quando da falta, arde

tuas palavras ainda
dizem tanto
que todos os silêncios
aprenderam a declamar

Trincas

meu olhar
vê muito mais
mesmo trincado
percebe agora
toda a insensatez
do fictício toque
roteirizado
mesmo calado
meu entendimento
é escutado
vivia a sonhar
com o melhor presente
atrelado a um passado
que jamais me fez sorrir

trincar é uma forma real de contato
entre a alma e o coração

Querer

Meu querer agora é o meu querer
minha sede é minha
minha fome é minha
meu limite tem a cor da minha linha e voa

Minha vontade agora depende dos meus sonhos
minha casa é minha
minha asa é minha
meu buscar tem no amor minha trilha e voa

Rabiscos Tortos

tuas linhas tão tortas
adoro de ver assim
as pessoas viram compotas
quando desenham só retas
adoro também tuas curvas
e a tua voz flamenca
os teus nós encantam as linhas
e as tuas estradas não seguem as setas

dispensas a bússola
beijas o acaso, o vento e assim ficas
sempre na direção do teu desejo
e o teu beijo por crescer assim
é o beijo mais verdadeiro
cresce no mar, na lua, no jardim

tuas linhas tão tortas
me ensinaram a amar sem precisar de nexo

tuas linhas tão tortas
me ensinaram a navegar sem precisar de mapas

eu também adoro teu jeito torto
assim minha ilha também entorta
e eu conheço melhor o teu porto

meu coração me diz para não desistir


Vida

"há con tece"
teias que guardam
um mundo

Uma tarde ensolarada

Estou a ajeitar a vida, diria Pessoa.
E estou muito contente com isso.
Encantar-te faz parte da minha poesia.
O efeito da tua presença provoca-me sorrisos e desejos.
E amanhã sempre será um verso novo a escrever...


Um dia desses

Um dia desses
uma varanda
sem tempo
sem compromisso
sem pressa
a vida ao vento

Estás tatuada em meu coração
Nos falamos mesmo no silêncio
Existirá música melhor?

Quem sabe

Quem sabe um dia me "cure"desse amor meio sem jeito
dessa paixão "Florentino Ariza"enquanto isso
meus desejos me levam
e eu canto

As mortes

Não sei morrer inteiro
infinito é uma dor distante
mas diante do espelho
já fui agosto em janeiro
sonho constantemente contigo
de vestido vermelho
abrindo teu coração

Choramos tanto
morremos várias vezes no verão
voltamos em primaveras inesquecíveis
e nos perdemos

Não sei agora morrer inteiro
Ter a constante companhia do relógio marcando cada gesto meu

Sei que preciso de um olhar diferente
como se uma janela lateral me chamasse
como quem escutasse Beto Guedes de manhã no café

Que paisagem é essa que muda de cor ante um vento forte
senão a miragem do que inventamos como dor?

A vida é uma eterna primavera Cecília...
Podar é o ato primeiro do florescer...


Despistes

Despistou a lua nova
que já havia
num claro andar
de luas já tão antigas

juntou as provas
e toda a alquimia
pois previa
um transbordar

engoliu à seco o mar
e se pôs a chamar de felicidade
cada onda, cada olhar
que já havia
"tanto tempo"

e viu assim
seu coração navegar em águas que conhecia
(muitas vezes recriar é a forma exata do amor constante)

Simplesmente


Toda manhã perto da lua
estendo minha mão
misturo minha sede ao mar
como uma prece

Ao molhar minh'alma e meus pés
provoco por querer
uma sensação de paz e agradecimento
e vem o vento
e bate em meu rosto dizendo: - Aproveita
e docemente balança o tempo
e deixa-me de frente para a minha felicidade

Lições

Tua teoria perde-se quando se fala de vida
de que adianta tuas frases prontas
se não sabes o motivo de tuas feridas?


Embarcação

Todo o mar espera uma embarcação que provoque nele a vontade do navegar.
Às vezes passa a vida inteira esperando-a.
Talvez por isso é que me deixo naufragar, algumas vezes já estive tão perto da minha embarcação, mas por inquietação do corpo, ela foi para alto-mar.

Exato Momento

Prontamente percorreu o longo caminho que separa o beijo da indecisão.
Não tinha mais nada para perder.
Muito menos para perdoar ou ser perdoado.
Ali começava finalmente a sua vida.

Oportunidades

Esse olhar descompassado
que brinca com meu olhar
já foi um olhar apaixonado
mas eu não sabia mais amar

Hoje quando esse olhar chega
desarma toda minha defesa
minha alma exposta ao toque
meu coração aberto sobre a mesa

(Quirina chora emocionada, e abre logo uma cerveja...
vira um, dois, três copos e diz, quase aos gritos: - Ao menos tenta.).

A mulher

A mulher da minha vida é o olhar do meu amor
o verdadeiro amor quase esquecido
o que ainda lembra da flor
e daquele primeiro soneto lido

nem todas as mulheres são assim
mas muitas eu conheci
os meus versos são cantigas
porque belas mulheres eu li

Lua Inteira

Nunca vi uma lua tão inteira
igual àquela da minha varanda encantada
resisti, até acreditar que eu não sonhava
pois era de fato desenhada

Tintas que a vida me deu
Telas que eu sempre busquei
O sonho que era tão meu
e meu destino gritou: - Achei

Fico agora a buscar a imagem
e meu pensamento voa, e meu pensamento dança
Olhos abertos a decifrar o céu
e busco a lua inteira em minha lembrança

Tudo ao mesmo tempo


Cíclico e permanente
esquecido e constante
a vida inteira e de repente
silencioso e cantante
não preciso de nexo
para dizer que meu amor
é verdadeiro

Cantiga

Querer é uma palavra engraçada,
chama de cíclico o que é permanente,
é de distância o que é namorada....

palavras de jeito nenhum,
palavras de todo o jeito,
acordo pensando em ti,
e levo o pensamento quando deito.

Quem sabe


quando me tornei "quem sabe"
pude conquistar muito mais
a dúvida provoca a aproximação
a certeza dói demais

quando me tornei "quem sabe"
fui visto por quem nunca me viu
o que é muito inteiro parte
o que fica é o que partiu

O andar

tenho um andar que sei que me levará ao caminho que preparo a tantas luas
tenho um andar que sei que me levará à casa dos meus sonhos e dos meus quereres

esse andar "me" segue
esse andar "me" chama
esse andar "me" busca
esse andar "me" ama

preciso acordar
preciso entender o movimento que faz meu coração
preciso navegar
preciso encontrar nesse andar minha embarcação

Vazio

teu calar movimenta um vento
que carrega minha resposta
e nesse silêncio gritante
desperto e parto

saberei sumir
para que apareça depois

o encanto que une também quebra

talvez isso explique um amor
que termina de repente

vazio as vezes preenche
multidão as vezes é solidão

por isso teu calar
responde meu afastamento

Pequena Canção de Final de Fevereiro


Corpo cansado
Alma surrada
Olhos vermelhos
Pernas doloridas

Que março traga o corpo amado
Que março traga a alma lavada
Que março traga meus olhos inteiros
Que março traga minhas pernas descansadas

A Colombina que nunca tive me chama de Pierrô

Março é mais transparente

- Quirina venha cá.
- Feche a conta já.
- Agora, agora.
- Agora.
- Deixa eu dar o último gole.
- Que gole foi esse Quirina?
- Bebi o mar, bebi fevereiro... Tenho sede de acasos.
- É bem isso, Quirina, mas engarrafe as águas de março, por garantia.

* NOVEMBRO E DEZEMBRO de 2008 - Betty Blue...

Betty Blue
adora happy hour no Bagdad Café


Quando a lua não aparece e o mar fica a ver navios


Comentário

É fato, 2OO8 foi um ano encantadoramente perigoso. Produzi muito, encontrei achados e principalmente aprendi com “a condição alimento” de quem escreve e vê nos escritos uma forma de alimentação.

Vários filmes, vários finais, vários personagens, vários diretores, vários roteiristas e tantas e muitas platéias. Escolhi o título desse último livro de 2008 por isso. Nasceu, meio aos trancos e barrancos, não necessariamente nesta ordem, Betty Blue adora happy hour no Bagdad Café (Quando a lua não aparece e o mar fica a ver navios).

O título sugere e é exatamente isso que ele é: Uma sugestão. Quiçá, esse meu alimento que eu coloco em sua mesa, sem pretensão, possa saciar um pouco a sua fome de vida, de poesias, de pão.

E se a lua não aparecer e o mar ficar a ver navios: Navegue e leia.

(Um breve e maravilhoso e verídico momento que gostaria de compartilhar: Meu filho caçula o Lucas, cinco anos que parecem o triplo, que pai exagerado, mas enfim: dia desses cheguei em casa muito triste, problemas financeiros, quem não os passa. Resumindo, foi acordado um valor para determinado acompanhamento publicitário à distância, difícil de entender, mas isso não importa. O importante é que eu contava com um dinheiro e ele não veio. Ao chegar em casa, já sabedor do fato e por que eu estava de mau humor, o pequeno e encantador LUCAS foi até uma gaveta onde se guarda uns trocados para o pão, o leite e outras coisas do dia a dia e me trouxe um punhado de moedas e uma nota de vinte reais e me disse que ali estava o dinheiro e que não era para me preocupar mais nem ficar triste).

Enfim, como não achar 2008 MARAVILHOSO.

Este livro é dedicado aos meus poemas mais especiais, mais profundos, mais verdadeiros:

Bruno, Cauê e Lucas

Porque eles são de cinema.


Edike, o pai

Cantiga dos Três Meninos


Felicidade tem três rostos
Que clareiam meu caminho
Três rostos de felicidade
Como então ficar sozinho?

São estrelas tão brilhantes
Claridade em recital
Abraço que não termina
Como então ficar mal?

São rimas que permeiam toda a palavra
Que deixam meu coração feliz
Vejo-os e me ponho a sorrir
“Que bom que fui eu que fiz”

Braços que se fazem cais
Lumes que clareiam meu dia
Como não ter inspiração
Como não fazer poesia?


Uma mulher de Bagdá

Uma mulher de Bagdá tomava um drinque azul com frutas na decoração
Tinha um coração pulsante feito seu olhar.
Rabiscava toda a hora, rimava ruas e céus e na pele uma flor exposta.Tinha também tatuagens nas pernas "elas me levam para onde eu quero". Um destino zigue e zague.Parte destino Casablanca, parte Ilhas Gregas, parte Campeche, parte Iraque. Por isso era tão difícil encontrar essa moça de Bagdá.



Com todas as intenções

as primeiras intenções partiram cedo
o café já chamava às segundas e terceiras intenções
e dentro de um olhar já tramado costurava-se às quartas intenções
sem intenção alguma chegava o destino
que bebia lágrimas com doses de acaso
sem intenção alguma chegava o descansoque queria rede com retalhos de mar
sem intenção alguma chegava a harmonia que só queria poder abraçar a felicidade
com querer vieram as intenções e assim eu pude realmente entendê-las
querer é o caminho de todas as intenções

Presente

O medo veio embrulhado num papel de pão
o destino abriu e colocou o segredo no chão
veio a águae fez o segredo crescer e o medo sem nada entender desapareceu
o segredo tinha cor
tinha alimento e paixão
e tinha um recado escrito naquele papel de pão
quem foi à padaria foi Quirina e se quiseres é só ligar que ela traz a margarina (foi o que eu fiz - fazia tempo que eu não dançava um tango em Paris)

Pequenas considerações de novembro em meio a chuvas inesperadas


Um tocador de gaita de boca desafia a chuva com um blues
raios vermelhos acendem horizontes
enquanto barquinhos brancos de papel rompem a certeza do naufrágio e a vida vem e espreitao sono acorda, a insônia deita
tudo assim no meio de uma noite alta
um cantador em prosa
a resposta
o relógio não conta
Junta-se ciscos, a luta é tanta
que o calar da madrugada
é um badalar de espantos, mas canta
Poesia de Espanca
poesia de tão bela
nos versos de Quintana
Leminski abre a janela
Um tocador de gaita de boca desafia a chuva com um blues
assim nasceram o arco-íris e a aquarela (Dolores comenta: Chuva e sol casamento de espanhol e escuta num volume alto Paco de Lucia)


Pequenas considerações de novembro em meio a chuvas inesperadas II


Um tocador de gaita de boca desafia a chuva com um blues
uma cantiga que tocava quando a vida tinha dezesseis
e agora a platéia grita:toque outra vez

Pequenas considerações de novembro em meio a chuvas inesperadas III

Um tocador de gaita desafia a chuva com um blues
fotos amarelas recriam toda uma aquarela que traduz as cores dos olhos que não vejo mais aqui; essa vida Andaluz
uma chuva inesperada provoca o sole casam-se viúvas e espanhóis

Quisera

Quisera o andar do destino ter a força da realidade
E na medida do possível transformar a dor de uma saudade
Quisera que outrora menino viajasse no acaso do tempo
E pudesse na medida do possível transformar seu sentimento
Quisera que no revoar dos pássaros se pudesse chegar ao mapa
E que todas as primaveras se encontrassem sem data
Quisera o beijo que não foi dado existisse
E na medida do possível retirasse do dicionário a palavra “triste”
Quisera que a palavra que nunca foi dita tomasse conta do ar
E que todos os ventos agora pudessem me agasalhar

Pequenas considerações sobre o tempo

Um vento forte tende a nos levar
E mesmo que nos leve
Para nos abraçar precisa do nosso consentimento

Já fui gaivota
Já fui pipa
Bebi todos os ares
Senti todos os ventos no rosto
Já fui inverno em janeiro
Já fui verão em agosto

Às vezes é preciso segurar a linha
Às vezes é preciso apenas soltá-la

Silêncios

O amor tem o silêncio mais gritante.
Muitas vezes ecoa por toda a vida,
noutras ecoa por pouco tempo,
mas tatua no corpo o grito.

Velhos filmes

Velhos filmes contam histórias contemporâneas, como se seus diretores fossem nossos vizinhos, de freqüentar a casa, de conhecer a sala, de ajudar a fazer a mala e dar comida para o cachorro.

Em Casablanca eu estava no aeroporto e fui à loja de tintas comprar material para a pintura em Betty Blue. Dormi na estação do metrô em Busca da Felicidade. E estava na platéia e chorei muito quando o campeão caiu na lona.

Vamos deixar os velhos filmes de lado e nos preocupar com os próximos capítulos da novela das nossas vidas.

A vida em tela grande dói mais.

Corta.

Particularidade de um sujeito não tão simples assim
(A normalidade não faz o sujeito)


Há tempos de sujeitos confusos
De sujeitos compostos, difusos
De sujeitos simples sem orações
De sujeitos ocultos sem corações

Há tempos de sujeitos sem tempo
Outros mais do que perfeitos
De sujeitos sem concordância verbal
De sujeitos inexistentes com a regência igual

Falo isso porque esse sujeito
que rima contradição com verdade
Tem uma particularidade
que explica o atemporal

Numa linguagem feita do seu jeito
reinventa a felicidade
e numa fresta de claridade
Jura de pé junto que não é um sujeito normal

Talvez não haja ligação específica nessa poesia de pé quebrado
Talvez a vida somente se complete com a inquietação do sujeito
Talvez o predicado venha na promoção de café ou do sucrilho
Quem haverá de me dizer qual o sujeito direito?

Pequenas considerações sobre o tempo II

Toda a inconstância do tempo
Vê-se agora que não dependia
Do pretérito mais do que perfeito
Nem do sujeito que vivia oculto
Numa frase sem sentido algum

A vendedora de flores tinha algo incomum
Quando chovia cobria as flores
Num ato apenas de proteção
E as flores sonhavam com a chuva
E só escutavam o barulho da água caindo no chão

O tempo quando menino tinha um amigo de nome destino
Os dois foram crescendo, ganhando o mundo
De vez em quando se encontram
E riem muito de suas artes

As falas que chegaram quando a chuva cansou de cair
(Quando os olhos fogem do roteiro original)


Num barquinho de papel chegaram as primeiras notícias embrulhadas em jornal
Falavam de um grande amor, que provocou toda a inundação
Falavam de chuvas e lágrimas que brincavam numa fresta de sol
Falavam de disfarces e de rostos cobertos
De um vento intenso que balançava um coração

Falavam de barcos com velas de lenços
que navegavam pela correnteza
E de uma paixão imensa
que naufragava a poucos metros da praia

Parece que foi ontem a chuva forte
Parece que o calendário secou lágrimas e segue
mas ainda se vê um corte
embora o coração negue


Por nada ou por tudo
(Pequeno trecho de um manual de primeiros-socorros e de segundas intenções)


Permita-me dizer antes de mais nada:
Tudo é uma embarcação rodeada de mar por todos os lados
E tanto haverá de ser uma boa companhia para as calmarias

Se não sentes nada, não abandones o barco na primeira oportunidade. Beba com prazer e senso crítico todos os goles que as segundas, terceiras, quartas e tantas outras intenções permitirem.

O tudo está ali. Fazê-lo existir depende dos mapas lidos, do desejo escondido, de cartas amareladas pelo tempo e do sentimento que sempre aporta nos momentos que o coração decide.

Permita-me dizer antes de tudo:
Nada é uma embarcação rodeada de mar por todos os lados
E pouco haverá de ser uma boa companhia para as tempestades

Se não sentes tudo, não abandones o barco na primeira oportunidade. Beba com prazer e senso crítico todos os goles que as segundas, terceiras, quartas e tantas outras intenções permitirem.

O nada está ali. Fazê-lo existir depende dos mapas lidos, do desejo escondido, de cartas amareladas pelo tempo e do sentimento que sempre aporta nos momentos que o coração decide.

Enfim, navegue.
Por nada ou por tudo.
Por ser tanto ou por ser pouco.
Navegue.
Acredite na embarcação.
Leia olhos e mapas.
Clareie o céu e entenda a tempestade.
Afogamentos podem resultar um boca a boca.
E beijo é sempre bom.

Vazio

Esse vazio que preenche meus momentos
É inteiro, é algoz,
É desesperadamente um fio de navalha
Vem derrubando tudo como fosse um forte vento
Trazendo cordas, instigando os nós
Provocando como uma torneira mal fechada nossas falhas

A vida que passa em nossa frente

A vida não pode ser exatamente essa vida que passa em nossa frente
E que vai nos moldando, nos colocando em caminhos que não são os nossos

Fazer o que e como fazer?
Redesenhar e colorir o que nos é mostrado
Procurar em tudo isso o nosso real achado

Fazer o que e como fazer?
Buscar a felicidade nos sorrisos e nos desejos
Entender a intensidade do verdadeiro beijo

Proponho respostas como se elas fossem meus sonhos
Talvez assim
Acreditando e não deixando de acreditar nos sonhos
Possamos dizer que a vida não é exatamente essa vida que passa em nossa frente


A estrada

Que estrada é essa que beira a porta de minha casa
e que eu por muitos anos não me atrevi a andar?
Que estrada é essa que beira a porta dos meus sonhos
e que eu por muitos anos não me atrevi a sonhar?
Que estrada é essa que beira a possibilidade dos meus risos
e que eu por muitos anos não me atrevi a tentar?
Que estrada é essa que beira a possibilidade do meu descanso
e que eu por muitos anos não me atrevi a deitar?

A estrada que eu nunca passei me chama
A estrada que eu nunca passei confunde
A estrada que eu nunca passei diz que me ama
A estrada que eu nunca passei me ilude?

Eu só não queria passar nessa vida sem conhecer a estrada que me beira sempre...

A dor

Existe uma dor que não gera gritos
Ela vem aos poucos e toma conta
Povoa nossos pensamentos
E altera nossos gestos e voz

Faz nosso passo caminhar sem rumo
Faz o nosso corpo delirante, bêbado, lunático
Altera o gosto do sumo
E o destino fica estático

Uma dor que pode virar desejo a qualquer instante
Intrigante, voraz, camaleão
Que mexe com todos os sentidos de uma forma confusa
E que alguém que amou demais deu o nome de paixão

Navegações

Em minha calmaria tu se fazias vento
um movimento intenso entre a sala e o coração
o barco destino navegava pelos teus motivos
e aportava tranqüilo num porto de nome razão

Amores Geográficos e Contemporâneos

A casa
o caso
acaso
a asa
a casa
a casca
o amor é Catalão
a paixão é basca

Amores Geográficos e Contemporâneos 2

A ponte
o longe
o amor é um monge
Aonde?
o bonde?
a estação?
o sentimento é nórdico
o beijo é bretão

Amores Geográficos e Contemporâneos 3

O hiato
o gato
o salto
o fato
o tino
o quarto
a paixão é Pelé
o amor é argentino

Amores Geográficos e Contemporâneos 4


O segredo
o medo
o dedo
é cedo
é vivo
é Meca
o amor é Eslováquia
a paixão é Tcheca

Amores Geográficos e Contemporâneos 5

A lenha
a pena
o cio
é raro
é caro
é vil
a paixão é FMI
o amor é Brasil

Chuvas

Minha viagem percorre o caminho da chuva
que vem e leva
um barco de papel me socorre
faz que morre, navega, foge
ele me traz uma luva
me fala de sol e depois "neva"

correntezas em meios-fios
tal qual meu desejo
lágrimas como fossem rios
lenços acalmando o beijo

a chuva era decorrente de um dia de sol muito forte
mormaço, paixão - molhavam almas, panos quentes e canções
desarrumavam gavetas,cartas e corações

eu "chovia" por dentro
e usava óculos de sol aqui fora
tempestade é um ato seco de solidão

Adormecer

Adormeci assim
quase sem cor
quase sem dor
quase sem fim

Adormeci assim
quase sem ter
quase sem ser
quase sem ver

Adormeci assim
quase inteiro
quase nada
quase tudo
quase canteiro

Adormeci assim
quase inundação
quase descanso
quase deserto
quase paixão

adormeci quase
acordei quem sabe

Lugares

Há uma cama escondida
e uma história não lida
e uma fuga sem ida

Há um lençol dobrado
na esquina , um livro fechado
amor não pode ser ditado

Há um calar no quintal
uma notícia de jornal
e uma festa do pijama sem local

Há um nexo neste ato
uma palavra que resume o fato
... quando me alegro, eu dato

Há sempre um querer no filme
existe uma novela neste querer

Mas... "alguém tem que ceder"

Aparência

Há um descompasso eminente
quando o corpo foge d'alma
sentimento que não é latente
calmaria que não dá calma

Moradias

mora uma metade inteira
entre o tanto e um violão
uma nota que se nota
um acorde de paixão
como fosse o amor, um canto
redescobrindo o tempo, o sentimento e o sol
aquece o teu corpo agora
pelo mormaço do momento
e pela razão , que bêbada, joga futebol

Frases soltas sem nexo algum ou com todos os nexos juntos
qual a hora
da nudez da tua fala?
do grito da tua pele?
do silêncio da tua ira?
do arrepio do teu interior?
da chuva do teu deserto?
do estio do teu mormaço?
da queda do teu porto?
do navegar do teu sofá?

um relógio sem corda acorda no meio da noite e toma um chá de sumiço

Dolores, toda hora é hora - grita Quirina, para logo depois beijar o
entregador de pizza...

Breve

teu luar é breve
vem e deságua
chuva de tanta coisa
enxurrada de lágrimas

quando tudo em mim
era tão raso
viestes como inundação
embora teu luar fosse tão breve
assim mesmo
durou tanto tempo e tomou contado meu coração

Desconexo

o destino trai
eu distraio
chove em novembro
que venha maio
a tua ausência chega
na minha presença eu saio
à quem chamo de "nega"
eu provoco desmaio

que raios

Desconexo 2

O menos "desavisado" diria
eu te avisei
na rua que não tinha cep
me passei

tinha uma guria esquisita
que Quintana certamente diria:
"Nem em sonhos sonhei"
que moldava minha boca como queria
e me chamava de rei

mas na virada da noite
eu disse sem pensar: não sei

a felicidade é tão breve
melhor saboreá-la ao extremo
é bom ser luar
mas muito melhor é entender o sereno

Temperaturas

despretensiosamente
coloquei panos quentes
naquela frase gélida que ouvi
na madrugada

praticamente um choque térmico
do destino

e Dolores me avisava sempre:
é cilada

mas quem haverá de controlar as madrugadas?

Tudo mais ou Considerações preliminares sobre medidas

nada mais me parece excesso
nada mais me parece certo
nada mais me parece tanto
nada mais me parece prático
nada mais me parece nexo
nada mais me parece reto
nada mais me parece santo
nada mais me parece ético

Tudo mais II ou Considerações preliminares
sobre mudanças de planos


o que era provocativo
tornou-se essencial
o que era definitivo
tornou-se dial
o que era solução
tornou-se aposta
o que era resposta
tornou-se indagação

Olhares

quando veio o olhar
que a tanto se esperava
parece que já não mais havia
o encanto, o espaço e a poesia
virou apenas mais um olhar
no passar silencioso do dia

(Dolores espera que expliquem a ela
o que é alquimia)

Acordes

um copo no meio da rua
um corpo no meio da lua
seios em formas de paraíso
permeio alucinações entre meus sonhos quando me perco
acho meu juízo
mas meu juízo é um tanto... perdido
e àquele livro não lido
talvez tenhas às respostas que tanto... procuro
e talvez seja o palco
onde o copo transborda
onde o corpo transborda
(uma mulher sem relógio me acorda... ou me faz feliz ou tudo isso)

Paixão

o que preenche a falta?
o que deixa o amor sem data?
o que deixa o cachorro sem mata?
o que deixa o grito sem cachorro?
o que preenche a falta?
o que deixa o náufrago sem socorro?
o que deixa a noite mais alta?
o que me faz correr e eu não corro?

Provocação

provocação é um salto
entre a faca e o pão
geralmente vira poesia
cada frase uma fatia
alimento do meu dia
e do meu,cansado, coração

Tempos

Vou "morrer" ontem
para renascer hoje sem dor
e amanhã
por certo encontrarei um amor
que pode estar tão perto, nem sei
ao amanhecer terei retornado de uma madrugada
de olhares ilhados
onde por muitas vezes naufraguei
e hoje eu sei "me" salvar

Mandarim

tua lua mandarim
provoca a direção
quais caminhos eu percorro
sem lembrar da tua mão?
não sei se isso é certeza
nem sei se é somente indagação
tua lua mandarim
comanda assim... tão de longe...
meu coração

A Foca e a Vaca

Argumento: Lucas, meu filho... L. Eduardo, amigo do Lucas

Soltem os bichos
criança é muito bom, pacas
vou contar uma história
de uma foca e de uma vaca

vivia uma foca no mar
e brincava com o oceano
a vaca vivia num pomar
e arquitetava planos

um dia veio uma fada
e levou a vaca para o mar
e trouxe a foca tão feliz
par conhecer o pomar

e ficaram tão amigas
e voltaram a viajar
nunca o mundo foi tão perto
nunca foi tão fácil voar

Comentários para Cleomar


Caro e sempre exagerado nos elogios e amigo que é de longe e é tão perto,

Adoro receber teus comentários, mesmo que não os responda todos, deles tiro meu mais saboroso alimento. Ando escrevendo demais, sem métrica, nem cuidados, apenas desabafando luares que me cercam e luas que iluminam tão bem. Quem não tem ou não teve olhos de águia e ao mesmo tempo um coração de porto? Quando escrevi essa frase escutei um apito, que escuto quando descubro um achado. E tua sensibilidade, teu já conhecer desse velho poeta, notou a importância da frase e todo o seu desenrolar. Feito tal descrição, aproveito para te mandar um forte e saudoso abraço, saudoso no sentido mais amplo da palavra, onde não se mede distância por quilômetros e sim por afinidade.
Continuo a tentar entender as palavras, os filhos, os técnicos de futebol, os economistas e principalmente as mulheres e cheguei a uma prazerosa conclusão; Não entender, meu amigo Cleomar, é o néctar mais saboroso da paixão e o mais importante, mesmo não entendendo tudo, é ter paixão para não entender. Sigamos com olhos de águia, mas com àquele coração porto que nos carrega "há tanto".

Há braços na família, estou ensaiando uma visita a POA, o Porto dos Açores, o Porto dos Casais, que quando guri aprendi como se chamava a capital de todos os gaúchos. E com certeza tomarei um chimarrão contigo e escreverei uma poesia à beira do Guaíba.

Escreva sempre, não sabes o quanto isso é importante para um poeta já surrado, mas com a alma de guri.
Há...

Recomeço

quando me vi sem mares
- que quando abertos sorriam -
e me faziam sonhar,
confiantes pelos meus sonhos,
provoquei em mim um estalo,
ao lembrar de dores e de calos,
e só assim pude navegar

Cinema

Betty nasceu blue?
com que cor nasceu a paixão?
qual foi o primeiro filme e
qual foi a primeira encenação?

quem partiu em Casablanca?
Amélie teria realmente um amor?
Tomates verdes e um destino frito
Fui coadjuvante em Dona Flor

Música

Rastros e canções passageiras
inteiras de um longo janeiro
que perdeu-se no mar

eu vejo tua lua em busca da rua
querendo navegar

e assim passaram-se os anos
e os mesmos abandonos
singram o teu ar

deixa o velho poeta e o velho cantor
cantarem suas dores em versos na madrugada

sonhar numa canção
com um verdadeiro amor

Luas

tuas conturbadas luas cheias
explosivas
intransitivas
verbo luar em conjugações permissivas

sei da tua lua nova que se esconde
sei que teu longe não é tão distante assim
sei da paixão crescente
sei o que sentes em todas as tuas fases

minguante é quem amanhã nos invejará

Espaço

Era determinante a ausência
pois sem se ver é que se pode enxergar realmente a presença
o que posso dizer depois de ter "achado" tantas coisas
é que me encontrei

entre o que eu sinto
entre o que eu quero
entre o que eu preciso

verbos que determinam a felicidade
verbos de navegação

um espaço entre o mar inteiro e o mar de minha boca
onde meus sonhos navegam

A linha

Volta e meia apareciam
com quereres que eu não entendia
me faziam sorriam por momentos
e sumiam sem avisos

Acostumei em sonhar sonhos não meus
e lutava muito para realizá-los
e vinha um vazio e aumentava o espaço
entre meus sonhos e a minha vida

Ficava satisfeito em ver ao redor felicidade
e não via ou ao menos não importava, a minha
os cabelos brancos me avisam que a vida passava rápido
decididamente eu precisava cruzar a linha

Estou a partir de agora na busca dos meus quereres
ser feliz para compartilhar a felicidade com todos
meu potencial de vôo é imenso
e eu, até hoje, não pude voar

Aos poucos vou preparando minhas asas
Como um pássaro no seu primeiro vôo

Simples

Quem não vê a paixão num toque
não haverá de vê-la jamais
não se inventa paixão
nem se procura no dicionário seu significado
não há obrigação na paixão
nem regras previamente determinadas
Existe sim apenas uma concordância
Entre o querer e o coração
Que encantadoramente provoca no jardim felicidade
"à flor da pele"

A bússola e o vento – O Romance

A bússola vivia tonta
entre perder o rumo
e achar o norte

O vento vivia tonto
entre perder a direção
e achar a sorte

Um dia sem esperar
A bússola sentiu o vento
e começou a girar

Dançaram noites e noites
no valsar do coração

(e como diz Quirina: - As vezes um vento no rosto
pode nos mostrar a direção...).

Confusões e roteiros

E por viajar sem querer me afastar
por linhas que desafiei
fiz-me por um triz me perder
o que quis achar nem eu sei

perdi o caminho e outro eu achei
um sentido inexato da paixão
e quando disseram "fim"
eu gritei "não é bem assim"

sem medidas eu desenhei riscos e acordes
de um violão chamado destino
e o destino viu que eu tentei
com minhas cordas fazer uma canção

Confusões

ao entender que a linha se fez nó não forcei
além do destino o nó poderia também ficar cego
não nego que minhas respostas não estavam condicionadas a tua lei
por isso que a conversa sem nexo sobrepunha o fato

o desenho do beijo foi arquitetado
linhas, retas, sabores e quereres
agora eu vejo que àquela linha atada
era um nó que nascera na garganta

o tempo fez o nó desaparecer
e a linhas voltou a ser o que era
e hoje é uma pipa no céu
como seu fosse a minha primeira aquarela

Gaveta

vira e mexe
abro a gaveta do passado
carta amarelada
goiabada
beijo no portão
vira e mexe
falta ar
revendo aquela foto
e um frio de inverno
n'alma beira o grito
transborda o coração

Intensidade


meia noite e essa lua
brilha feito um sol
o teu beijo é luar
que desenha um farol
e assim eu "me" acho em "ti"

Navegação

Navego sem rumo
nem o mar eu conheço
nem mesmo os ventos me acenam
em que porto atracarei?
para que ilha irei?
O que faz realmente sentido nessa hora?
Nem eu sei, nem eu sei
Navegar sem buscar nada é uma tormenta
a morte assim é gradual e lenta
e morrer assim tão vivo é sofrer muito mais
Navego sem rumo e nem meu barco é tão meu
Nem sei

O amor resolveu partir num dia claro de verão
e eu nem vi,
choveu,

e tudo era muito intenso
e tudo era muito preciso,

e exatidão, muitas vezes,
rima com dor demais.

Os dias mais claros, hoje em dia,
sempre me faz lembrar,
e ainda chove

Embarcação

Vejo-me morto, uma embarcação no porto,
mas condenada a não ver mais o mar.
Os ventos da praia me faz abrir os olhos,
de vez em quando, e assim eu sei que ainda há esperança.
Navegar sempre foi do meu destino e o mar o melhor caminho.
Minha solidão me afastou dessa boa aragem.
O que mais quero agora é voltar a sentir o mar.
Felicidade eu sei... pode não ser miragem...


Luas

Quanta lua eu não via
quanta lua eu não quis
quanta lua que passou
tão nova e tão feliz

Quanta lua eu não via
quanta lua eu não quis
quanta lua que passou
tão crescente e tão feliz

Quanta lua eu não via
quanta lua que não quis
quanta lua que passou
tão cheia e tão feliz

Quando eu quis ver uma lua
que eu achei tão cativante
e quando chegou assim tão perto
pude ver, era minguante

Sede

Ao te ver fico com sede
e os meus olhos bebem os teus
sacio, pois, os teus desejos
jamais sacias os meus

Contemporâneo e Dezembros

Um homem lê o jornal
no meio de um ônibus lotado
a notícia da manchete
fala de homens calados

o único som é o da chuva
o destino é terminal
o silêncio e a rotina
passam a catraca ao natural

Contemporâneo e Dezembros II


Chove muito aqui dentro
e não vejo solução
se o sol existe lá fora
porque não ilumina meu coração?

a tua fala é lágrima
a minha fala é inundação
corpo e alma na estrada
ame com moderação

(Quirina abre a cerveja e o pranto desce redondo).

Versos simples em noites complexas

Quando alguém falou "alguém tem que ceder” deveria ter dado um prazoantes do amor morrerquando passa tanto temponão adianta a razão gritar no meio da ruaque acredita em paixão
Norte

Teus "navegares" partiramem busca de outros quereresem busca de outros poderesteus "navegares" partiramSó que minha embarcaçãotomará o rumo da sortee quando pensares na voltajá terei encontrado meu norteCantiga
Olha a lua tão clara
que aporta na janela
tantas cores nessa lua
num brincar de aquarela

escrevi teu nome n'areia
e a lua sublinhou
com uma luar encantado
de quem jura que se apaixonou

Um dia sonhei com um amor
que entendia luares
e eu beijava a noite
como quem se entrega aos mares

Amigo secreto

Sortearam todos os nomes
o copo estava repleto
mas Quirina com tanta fome
não esperou a revelação
e jantou o amigo secreto

O que é tanto?

Talvez tantos e muitos anos
seja um tempo longo demais
amor não foi feito para ser eterno
nem para traduzir o que seja paz

Ele não deve ser inocente
deve ser bem degustado
assim viverá sempre vivo
mesmo depois de ter passado

Endereço


Vivia numa rua invisível
uma mulher que eu não via
que me beijava de noite
na manhã era poesia

e a minha vida passou assim tão rápido
e nunca mais teve cor
àquela rua invisível
era o endereço do meu amor


Destina

Entenda
és tu
que me
destina
o tempo
a vida
e tudo
o que há

não terei pressa
nem agonia
pois,
és tu
que me
destina

quem me diz
é a tua voz
quem me diz
é o teu corpo
quem me diz
é a tua alma

e essa certeza
me ilumina

Camaleões

Fez-se do grito, o perdão
do nunca mais, o desejo
fez-se do tempo, o encontro
e da distância, o beijo

Jeito

Que jeito
se não temos jeito
vez por outra
explode, é beijo
vez por outra
distancia, é quebra
que jeito
se sempre tem volta

(Quirina ri debochada e dá um gole
no chá de boldo)

Quem é quem jeito nesse mundo, nesse momento?

Fica a pergunta...

Era uma vez

Era uma vez"nunca mais"sem final felizEra uma vezuma primavera sem florum inverno sem chocolate quenteum outono sem passeioum verão sem caloraté que eu te vi de novoreinventei as estaçõese recomecei a história:Era uma vez...

Motivo

Nada finda
isso é claro
lua linda
num céu raro
vem a rima
surge a cor
nada finda
só o amor

A frase – Ah...cai

Eu te amo.

Nesta frase tão curta
a palavra amor surta

Águas de Dezembro

Uma chuva
em meu peito
vira lágrimas
quando me deito
meus sonhos assim navegam
onde aportarão? - eu me pergunto

Sem pressão

Algum dia
em algum lugar
eu poderei dizer
sei lá

All Star

Eu ganhei um All Star no Natal
Papai Noel sorriu
minha calça jeans também
a felicidade é simples e anda

Ponto Final

No meio do fim do último beijo
veio um aviso ligeiro
que dizia ser passageiro
nosso último desejo

(Quirina beija a boca da noite e dorme com Lourival, o porteiro)

Inovações


Arrume a casa e tire do armário as asas

Decifre o enigma e fale ao amor: - me siga

Reinvente o passado e entenda que o presente está sempre ao seu lado

Camaleões II

Fez-se do último pedido o recomeço
como se naquele momento
nada pudesse ser feito

Buscou-se no que se havia dito o "desfeito" havido
e o que era tão pressa ficou assim tão lento

Teve assim o tempo
tempo para sentir tudo o que havia sido perdido

Debruçou-se num hiato de um calendário ferido
como se a minha vida fosse um livro que nunca fora lido

Assim pude ver teus olhos
como nunca eu havia visto
vi que o amor é uma questão de se ter tempo
para vivê-lo inteiramente

Tensões

a noite entreaberta
um olho fechado
o outro de olho
a noite passa
entre a vigília
e o sono
entre a multidão
e o abandono
o querer prende
e é assim que se perde a esperança
e o destino se rende
o triz determina a fatia
e amanhece
olheiras desenhadas no espelho
não contam nada de manhã

Ventos

o tempo agora destoa da razão
um vento forte
ao mesmo tempo em que fala da volta
leva para alto mar a embarcação

a paixão é ventania
a poeira é lagrima
o deserto é perdão

Entendimentos

Eu vejo as horas debruçadas num estalo de noite
como se quisessem me falar
um despertar que tenta provocar
uma provocação que eu sei que tanto preciso
uma hora H a todo o momento
um vento forte no rosto
quase que implorando para que eu acorde
Nada adianta agora
senão a minha vontade de escutar verdadeiramente as horas
de entender realmente o que elas querem me dizer
de me entregar a elas

Jardins

A fome de pele
a pele em flor
a rosa que desperta
a pétala

Sou um jardim aberto
num mar deserto
que nem sei

A procura de uma primavera
que perdi num inverno intenso

Invasões

Que invasão é essa
que invenção que se deu
procuraram um alguém
e esse alguém não era eu

O gosto do simples me faz saborear
eu gosto do beijo sempre agora
procuraram um alguém
e o alguém, ao que parece, foi embora

Beijo na boca sem aviso
Carinho no sofá
Quero todos os acordes
Dó, ré, mi, fá e si e o tudo em nós
e o tudo numa madrugada eterna na praia

Noites do Campeche


Quando as noites do Campeche
beiram meus desejos intensos
nascem ondas onde eu quero
em luas e sóis propensos
sou feliz quando bebo o mar
e as gaivotas bebem meu tanto
e a medida que te beijo
preparo meu canto...

Quem verá?

O amor é um verão
sou andorinha
sem estação
uma cabana
uma praia
um esquina
que cruza meu destino
e se perde na rua longa,
chamada paixão

Morrer

Aos poucos vou morrer
sem olhar que não é tão tarde assim
meu coração arde
por um querer que não saiu da minha imaginação

quem disse que de amor não se morre, mentiu
escreveu o aviso de avesso
pôs no coração, gesso
e depois do beijo, sumiu

Encanto

Devo encantar quem porventura queira me encantar
assim serei feliz
a equação é simples, mas a vida não

encanto presume-se entender o que seja conjugação
tantas pessoas, tantos tempos, tantos verbos
e sujeitos buscando orações para viver

Simples

eu quero um amor diferente
um amor assim
feito de gente

Cores

Todas as cores do amor viraram filme, canções
um solo de Santana, águas de março em qualquer estação
um trem boquiaberto descarrilando sem chão
um monte de areia, ampulheta
um tanto, um deserto,
uma luneta procurando por tua constelação

Desencontros

O teu amor tem segredos tantos
O teu amor por isso alucina
O teu amor desconserta
toda a minha alquimia

enquanto eu organizo o nexo me fazes perder todo o juízo
eu me valho da emoção
e encontro assim todo o meu mundo,
pedindo uma faxina urgente
Permissão

Permita-me o nunca mais
para que eu pare
para que eu descanse
para que eu deite na cama e sonhe

Preciso querer andar
tantos verbos e eu não me deixo, não me mexo

Preciso ser feliz
por mim
sei do meu amor e que eu posso ser tanto

Tantos

Meus tantos mares percorrem agora um único canto
como se eu fosse o cantar e tu fosse o canto
como se eu buscasse a letra
e todas as letras compusessem teu nome
uma busca que mora tão perto e que se faz longe
por disfarçarmos os sentidos
e afastarmos a música dos nossos corações

A Canção

Que canção é essa tão inteira
que teima, que teima
que queima, que queima
que canção é essa que diz tanto
que tanto canto há
que tanto tanto
que me faz rir e chorar
um choro bom com encanto

Que som
que perfume
que lume
que invade e toma conta do coração

Que coisa doida e doída
que transporta toda a razão para longe
e se entrega na paixão

Um nome,
uma letra,
uma canção


Classificados

Num canto dos classificados
mora um cantor cheio de letras