sexta-feira, 27 de junho de 2014

Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...
Descobri que existem momentos que somente eu tenho o poder de decidir, clarear ou compreender as leituras que minha alma e meu coração produzem. Vejo isso como forma de não responsabilizar outras pessoas por uma decisão que deva ser pessoal. Entendo que meus vôos são meus, que minhas necessidades são minhas e o que eu entendo ser o correto não necessariamente atenda ao que outros entendam ser o certo; E isso não mudará sentimentos, condições, desejos, vontades e outros afins. Muitas vezes em minha vida me senti sem chão e sem ao menos ter quem eu queria por perto. Isso sim é solidão. Por certo existirão dias com noites maiores e dias curtos, dias de sonhos menores e realidades absurdas, “dias sem calor, sem beirais, sem ninhos”, mas hoje tenho certeza que dia nenhum estarás longe de mim. Talvez mares revoltos gerem insegurança no melhor dos marinheiros e talvez quem passou por mares assim leve no seu íntimo esse receio, mas meu navegar tem outra cor agora e sei que me levará aos teus braços sempre.
O chá das cinco

Filmes em preto e branco não se deve colorir
São belos assim.
Deve-se ler o romance inteiro, e não começar pelo fim...
Queijos e vinhos devem ser degustados com calma,
sem tempo, sem telefone,sem campainha.
Ao escutar uma música, abra os ouvidos,
mas não se esqueça de abrir também a alma...
(Cleomar leu com o olhar de anjo de que tem, olhou Quirina e disse:
- “O entardecer pertence aos que amam os dias e as noites”.
Quirina, encantada, sorriu e trouxe duas xícaras de chá de maçã).
o olhar é um grito muitas vezes, um que de salto, um que exato e ao mesmo tempo de soslaio... um raio colorido num céu bonito... um contar de belas histórias, um vento no rosto a andar na moto tempo... redescobrir todas as cores, reformular caminhos, entender todas as dores... a vida é uma viagem entre o cantar e a lida... sigamos, pois o tempo exato é agora, não é depois... o corpo fala... o corpo traduz...o corpo é inteiramente alma... mantenha a calma e seja feliz...
Respire fundo
Escute meu respirar
Assim como se fizéssemos
Um beijo no ar,
Um beijo assim
Em qualquer lugar
Que seja Japão, Afeganistão, Lagoa, Bom Fim
Amor tem que fazer sorrir,
Fazer voar
Sinceramente
Amor tem que fazer respirar
Qual a medida? 
O que é tanto? 
Qual o volume? 
O que é tudo? 
O que é muito? 
O que é limite?
O que sufoca? 
O que restringe? 
O que entope? 
O que entorna?

Por amor, pelo amor
Muitas vezes “se” extrapola
A gente nem vê
Guri pequeno a gazear a escola

Amo-te tudo apesar desse amor sem medidas 
que as vezes vira “enchente” 
Quem me vê tem certeza que meu corpo não se dobra
Tampouco minh’alma...
Quem me vê tem certeza que vento algum me tirará de onde não quero sair
Tampouco sabe do cansaço que não está em meu olhar...
Aqui dentro sinto meus músculos a procurar forças
Meu coração grita comigo: Não és o super-homem...
Embora saibas voar...
Queria um carinho, que alguém perguntasse “como estou”...
Que entendessem que minha precisão é poder parar um pouco
Incansavelmente tento fazer o que minha cabeça entende por certo
Decepciono quem me vê e tem certeza que meu corpo não se dobra
Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...
Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...

Marcas, tatuagens e silêncios

Espelhávamos na própria carne quando pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção ardente
propúnhamos ser o que não éramos para resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares, ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos mais
ledo engano
depois de algum tempo nos reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida

Túlio Piva  
               
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um passado tão bom
e ele “nem sei em que data"...  clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me desculpe
Minha lua de menino sempre foi pendurada no céu

“feito um pandeiro de prata". 
As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...

As parceiras

Bebem noites,mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.

Uma segunda-feira com sol e chuva    
          
O verbo conter
balança um barco em plena calmaria
o verbo conter
muitas vezes é a própria embarcação
o verbo conter
mistura águas, lágrimas e correntezas
o verbo conter
não entende nada de paixão

Cartografia

Engoliu à seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...
Luas
           
Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram um quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah ! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele , vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...

Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho

quem nunca se sentiu Bentinho?
Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.

Espumas
                                                                                                             
Vejo a tristeza que se espelha.
Ao ver minh‘alma que parte.
Felicidade é um fogo de palha.
Que queima, que provoca, que arde.

Mora um hiato que teima em provocar.
Um abraço de esquina que não se esquece.
Vez por outra vens feito onda de mar.
Quebra, insinua e desaparece.
Embarcações
          
Vislumbrava a cor daqueles olhos que há tanto não via.
E lia nas entrelinhas da noite escura uma claridade.
Olhos de dor, mas ao mesmo tempo de inundação de mar.
Provocações de bar e recados em guardanapos.
Saudade recém-chegada.
Saudade embarcada.
Saudade distraída.
Caída diante dos olhos sonhados.
Caída deliciosamente sobre o corpo.
Caída intencionalmente no colo querido.
Vislumbrava a cor daqueles olhos,
Para poder estar mais perto daqueles olhos tão amados.
Incendiados por uma solidão incontida.
Detalhada em sonhos que vivi acordado.
Vislumbro tua chegada todos os dias, todas as manhãs.
Quando da tua chegada descreverei realmente o que seja claridade.
E entenderás todo o tamanho das palavras que escrevo agora.

O Quando                                                            

"Quando" era um menino sozinho...
apaixonado pela menina dos olhos
mas "Quando" sempre esperava o tempo exato
e o tempo exato nunca chegava.
ah... até quando, Quando, até quando...
O amor

O amor deve fazer sorrir.
Arreganhar os dentes.
Dar gargalhadas.
Chorar de tanto rir.
O amor deve ser assim.

Um sorriso no rosto.
Um amor no coração.
E não venham me falar.
Que amor precisa de decoração.

O amor vive em si.
O amor é por si só.
O amor não quer dó.
O amor quer só ser.

...

Os medos são retalhos de uma vida.
Colchas em formas de frio.
Recados na varanda.

Correnteza de rio.