terça-feira, 12 de maio de 2009

* NOVEMBRO E DEZEMBRO de 2008 - Betty Blue...

Betty Blue
adora happy hour no Bagdad Café


Quando a lua não aparece e o mar fica a ver navios


Comentário

É fato, 2OO8 foi um ano encantadoramente perigoso. Produzi muito, encontrei achados e principalmente aprendi com “a condição alimento” de quem escreve e vê nos escritos uma forma de alimentação.

Vários filmes, vários finais, vários personagens, vários diretores, vários roteiristas e tantas e muitas platéias. Escolhi o título desse último livro de 2008 por isso. Nasceu, meio aos trancos e barrancos, não necessariamente nesta ordem, Betty Blue adora happy hour no Bagdad Café (Quando a lua não aparece e o mar fica a ver navios).

O título sugere e é exatamente isso que ele é: Uma sugestão. Quiçá, esse meu alimento que eu coloco em sua mesa, sem pretensão, possa saciar um pouco a sua fome de vida, de poesias, de pão.

E se a lua não aparecer e o mar ficar a ver navios: Navegue e leia.

(Um breve e maravilhoso e verídico momento que gostaria de compartilhar: Meu filho caçula o Lucas, cinco anos que parecem o triplo, que pai exagerado, mas enfim: dia desses cheguei em casa muito triste, problemas financeiros, quem não os passa. Resumindo, foi acordado um valor para determinado acompanhamento publicitário à distância, difícil de entender, mas isso não importa. O importante é que eu contava com um dinheiro e ele não veio. Ao chegar em casa, já sabedor do fato e por que eu estava de mau humor, o pequeno e encantador LUCAS foi até uma gaveta onde se guarda uns trocados para o pão, o leite e outras coisas do dia a dia e me trouxe um punhado de moedas e uma nota de vinte reais e me disse que ali estava o dinheiro e que não era para me preocupar mais nem ficar triste).

Enfim, como não achar 2008 MARAVILHOSO.

Este livro é dedicado aos meus poemas mais especiais, mais profundos, mais verdadeiros:

Bruno, Cauê e Lucas

Porque eles são de cinema.


Edike, o pai

Cantiga dos Três Meninos


Felicidade tem três rostos
Que clareiam meu caminho
Três rostos de felicidade
Como então ficar sozinho?

São estrelas tão brilhantes
Claridade em recital
Abraço que não termina
Como então ficar mal?

São rimas que permeiam toda a palavra
Que deixam meu coração feliz
Vejo-os e me ponho a sorrir
“Que bom que fui eu que fiz”

Braços que se fazem cais
Lumes que clareiam meu dia
Como não ter inspiração
Como não fazer poesia?


Uma mulher de Bagdá

Uma mulher de Bagdá tomava um drinque azul com frutas na decoração
Tinha um coração pulsante feito seu olhar.
Rabiscava toda a hora, rimava ruas e céus e na pele uma flor exposta.Tinha também tatuagens nas pernas "elas me levam para onde eu quero". Um destino zigue e zague.Parte destino Casablanca, parte Ilhas Gregas, parte Campeche, parte Iraque. Por isso era tão difícil encontrar essa moça de Bagdá.



Com todas as intenções

as primeiras intenções partiram cedo
o café já chamava às segundas e terceiras intenções
e dentro de um olhar já tramado costurava-se às quartas intenções
sem intenção alguma chegava o destino
que bebia lágrimas com doses de acaso
sem intenção alguma chegava o descansoque queria rede com retalhos de mar
sem intenção alguma chegava a harmonia que só queria poder abraçar a felicidade
com querer vieram as intenções e assim eu pude realmente entendê-las
querer é o caminho de todas as intenções

Presente

O medo veio embrulhado num papel de pão
o destino abriu e colocou o segredo no chão
veio a águae fez o segredo crescer e o medo sem nada entender desapareceu
o segredo tinha cor
tinha alimento e paixão
e tinha um recado escrito naquele papel de pão
quem foi à padaria foi Quirina e se quiseres é só ligar que ela traz a margarina (foi o que eu fiz - fazia tempo que eu não dançava um tango em Paris)

Pequenas considerações de novembro em meio a chuvas inesperadas


Um tocador de gaita de boca desafia a chuva com um blues
raios vermelhos acendem horizontes
enquanto barquinhos brancos de papel rompem a certeza do naufrágio e a vida vem e espreitao sono acorda, a insônia deita
tudo assim no meio de uma noite alta
um cantador em prosa
a resposta
o relógio não conta
Junta-se ciscos, a luta é tanta
que o calar da madrugada
é um badalar de espantos, mas canta
Poesia de Espanca
poesia de tão bela
nos versos de Quintana
Leminski abre a janela
Um tocador de gaita de boca desafia a chuva com um blues
assim nasceram o arco-íris e a aquarela (Dolores comenta: Chuva e sol casamento de espanhol e escuta num volume alto Paco de Lucia)


Pequenas considerações de novembro em meio a chuvas inesperadas II


Um tocador de gaita de boca desafia a chuva com um blues
uma cantiga que tocava quando a vida tinha dezesseis
e agora a platéia grita:toque outra vez

Pequenas considerações de novembro em meio a chuvas inesperadas III

Um tocador de gaita desafia a chuva com um blues
fotos amarelas recriam toda uma aquarela que traduz as cores dos olhos que não vejo mais aqui; essa vida Andaluz
uma chuva inesperada provoca o sole casam-se viúvas e espanhóis

Quisera

Quisera o andar do destino ter a força da realidade
E na medida do possível transformar a dor de uma saudade
Quisera que outrora menino viajasse no acaso do tempo
E pudesse na medida do possível transformar seu sentimento
Quisera que no revoar dos pássaros se pudesse chegar ao mapa
E que todas as primaveras se encontrassem sem data
Quisera o beijo que não foi dado existisse
E na medida do possível retirasse do dicionário a palavra “triste”
Quisera que a palavra que nunca foi dita tomasse conta do ar
E que todos os ventos agora pudessem me agasalhar

Pequenas considerações sobre o tempo

Um vento forte tende a nos levar
E mesmo que nos leve
Para nos abraçar precisa do nosso consentimento

Já fui gaivota
Já fui pipa
Bebi todos os ares
Senti todos os ventos no rosto
Já fui inverno em janeiro
Já fui verão em agosto

Às vezes é preciso segurar a linha
Às vezes é preciso apenas soltá-la

Silêncios

O amor tem o silêncio mais gritante.
Muitas vezes ecoa por toda a vida,
noutras ecoa por pouco tempo,
mas tatua no corpo o grito.

Velhos filmes

Velhos filmes contam histórias contemporâneas, como se seus diretores fossem nossos vizinhos, de freqüentar a casa, de conhecer a sala, de ajudar a fazer a mala e dar comida para o cachorro.

Em Casablanca eu estava no aeroporto e fui à loja de tintas comprar material para a pintura em Betty Blue. Dormi na estação do metrô em Busca da Felicidade. E estava na platéia e chorei muito quando o campeão caiu na lona.

Vamos deixar os velhos filmes de lado e nos preocupar com os próximos capítulos da novela das nossas vidas.

A vida em tela grande dói mais.

Corta.

Particularidade de um sujeito não tão simples assim
(A normalidade não faz o sujeito)


Há tempos de sujeitos confusos
De sujeitos compostos, difusos
De sujeitos simples sem orações
De sujeitos ocultos sem corações

Há tempos de sujeitos sem tempo
Outros mais do que perfeitos
De sujeitos sem concordância verbal
De sujeitos inexistentes com a regência igual

Falo isso porque esse sujeito
que rima contradição com verdade
Tem uma particularidade
que explica o atemporal

Numa linguagem feita do seu jeito
reinventa a felicidade
e numa fresta de claridade
Jura de pé junto que não é um sujeito normal

Talvez não haja ligação específica nessa poesia de pé quebrado
Talvez a vida somente se complete com a inquietação do sujeito
Talvez o predicado venha na promoção de café ou do sucrilho
Quem haverá de me dizer qual o sujeito direito?

Pequenas considerações sobre o tempo II

Toda a inconstância do tempo
Vê-se agora que não dependia
Do pretérito mais do que perfeito
Nem do sujeito que vivia oculto
Numa frase sem sentido algum

A vendedora de flores tinha algo incomum
Quando chovia cobria as flores
Num ato apenas de proteção
E as flores sonhavam com a chuva
E só escutavam o barulho da água caindo no chão

O tempo quando menino tinha um amigo de nome destino
Os dois foram crescendo, ganhando o mundo
De vez em quando se encontram
E riem muito de suas artes

As falas que chegaram quando a chuva cansou de cair
(Quando os olhos fogem do roteiro original)


Num barquinho de papel chegaram as primeiras notícias embrulhadas em jornal
Falavam de um grande amor, que provocou toda a inundação
Falavam de chuvas e lágrimas que brincavam numa fresta de sol
Falavam de disfarces e de rostos cobertos
De um vento intenso que balançava um coração

Falavam de barcos com velas de lenços
que navegavam pela correnteza
E de uma paixão imensa
que naufragava a poucos metros da praia

Parece que foi ontem a chuva forte
Parece que o calendário secou lágrimas e segue
mas ainda se vê um corte
embora o coração negue


Por nada ou por tudo
(Pequeno trecho de um manual de primeiros-socorros e de segundas intenções)


Permita-me dizer antes de mais nada:
Tudo é uma embarcação rodeada de mar por todos os lados
E tanto haverá de ser uma boa companhia para as calmarias

Se não sentes nada, não abandones o barco na primeira oportunidade. Beba com prazer e senso crítico todos os goles que as segundas, terceiras, quartas e tantas outras intenções permitirem.

O tudo está ali. Fazê-lo existir depende dos mapas lidos, do desejo escondido, de cartas amareladas pelo tempo e do sentimento que sempre aporta nos momentos que o coração decide.

Permita-me dizer antes de tudo:
Nada é uma embarcação rodeada de mar por todos os lados
E pouco haverá de ser uma boa companhia para as tempestades

Se não sentes tudo, não abandones o barco na primeira oportunidade. Beba com prazer e senso crítico todos os goles que as segundas, terceiras, quartas e tantas outras intenções permitirem.

O nada está ali. Fazê-lo existir depende dos mapas lidos, do desejo escondido, de cartas amareladas pelo tempo e do sentimento que sempre aporta nos momentos que o coração decide.

Enfim, navegue.
Por nada ou por tudo.
Por ser tanto ou por ser pouco.
Navegue.
Acredite na embarcação.
Leia olhos e mapas.
Clareie o céu e entenda a tempestade.
Afogamentos podem resultar um boca a boca.
E beijo é sempre bom.

Vazio

Esse vazio que preenche meus momentos
É inteiro, é algoz,
É desesperadamente um fio de navalha
Vem derrubando tudo como fosse um forte vento
Trazendo cordas, instigando os nós
Provocando como uma torneira mal fechada nossas falhas

A vida que passa em nossa frente

A vida não pode ser exatamente essa vida que passa em nossa frente
E que vai nos moldando, nos colocando em caminhos que não são os nossos

Fazer o que e como fazer?
Redesenhar e colorir o que nos é mostrado
Procurar em tudo isso o nosso real achado

Fazer o que e como fazer?
Buscar a felicidade nos sorrisos e nos desejos
Entender a intensidade do verdadeiro beijo

Proponho respostas como se elas fossem meus sonhos
Talvez assim
Acreditando e não deixando de acreditar nos sonhos
Possamos dizer que a vida não é exatamente essa vida que passa em nossa frente


A estrada

Que estrada é essa que beira a porta de minha casa
e que eu por muitos anos não me atrevi a andar?
Que estrada é essa que beira a porta dos meus sonhos
e que eu por muitos anos não me atrevi a sonhar?
Que estrada é essa que beira a possibilidade dos meus risos
e que eu por muitos anos não me atrevi a tentar?
Que estrada é essa que beira a possibilidade do meu descanso
e que eu por muitos anos não me atrevi a deitar?

A estrada que eu nunca passei me chama
A estrada que eu nunca passei confunde
A estrada que eu nunca passei diz que me ama
A estrada que eu nunca passei me ilude?

Eu só não queria passar nessa vida sem conhecer a estrada que me beira sempre...

A dor

Existe uma dor que não gera gritos
Ela vem aos poucos e toma conta
Povoa nossos pensamentos
E altera nossos gestos e voz

Faz nosso passo caminhar sem rumo
Faz o nosso corpo delirante, bêbado, lunático
Altera o gosto do sumo
E o destino fica estático

Uma dor que pode virar desejo a qualquer instante
Intrigante, voraz, camaleão
Que mexe com todos os sentidos de uma forma confusa
E que alguém que amou demais deu o nome de paixão

Navegações

Em minha calmaria tu se fazias vento
um movimento intenso entre a sala e o coração
o barco destino navegava pelos teus motivos
e aportava tranqüilo num porto de nome razão

Amores Geográficos e Contemporâneos

A casa
o caso
acaso
a asa
a casa
a casca
o amor é Catalão
a paixão é basca

Amores Geográficos e Contemporâneos 2

A ponte
o longe
o amor é um monge
Aonde?
o bonde?
a estação?
o sentimento é nórdico
o beijo é bretão

Amores Geográficos e Contemporâneos 3

O hiato
o gato
o salto
o fato
o tino
o quarto
a paixão é Pelé
o amor é argentino

Amores Geográficos e Contemporâneos 4


O segredo
o medo
o dedo
é cedo
é vivo
é Meca
o amor é Eslováquia
a paixão é Tcheca

Amores Geográficos e Contemporâneos 5

A lenha
a pena
o cio
é raro
é caro
é vil
a paixão é FMI
o amor é Brasil

Chuvas

Minha viagem percorre o caminho da chuva
que vem e leva
um barco de papel me socorre
faz que morre, navega, foge
ele me traz uma luva
me fala de sol e depois "neva"

correntezas em meios-fios
tal qual meu desejo
lágrimas como fossem rios
lenços acalmando o beijo

a chuva era decorrente de um dia de sol muito forte
mormaço, paixão - molhavam almas, panos quentes e canções
desarrumavam gavetas,cartas e corações

eu "chovia" por dentro
e usava óculos de sol aqui fora
tempestade é um ato seco de solidão

Adormecer

Adormeci assim
quase sem cor
quase sem dor
quase sem fim

Adormeci assim
quase sem ter
quase sem ser
quase sem ver

Adormeci assim
quase inteiro
quase nada
quase tudo
quase canteiro

Adormeci assim
quase inundação
quase descanso
quase deserto
quase paixão

adormeci quase
acordei quem sabe

Lugares

Há uma cama escondida
e uma história não lida
e uma fuga sem ida

Há um lençol dobrado
na esquina , um livro fechado
amor não pode ser ditado

Há um calar no quintal
uma notícia de jornal
e uma festa do pijama sem local

Há um nexo neste ato
uma palavra que resume o fato
... quando me alegro, eu dato

Há sempre um querer no filme
existe uma novela neste querer

Mas... "alguém tem que ceder"

Aparência

Há um descompasso eminente
quando o corpo foge d'alma
sentimento que não é latente
calmaria que não dá calma

Moradias

mora uma metade inteira
entre o tanto e um violão
uma nota que se nota
um acorde de paixão
como fosse o amor, um canto
redescobrindo o tempo, o sentimento e o sol
aquece o teu corpo agora
pelo mormaço do momento
e pela razão , que bêbada, joga futebol

Frases soltas sem nexo algum ou com todos os nexos juntos
qual a hora
da nudez da tua fala?
do grito da tua pele?
do silêncio da tua ira?
do arrepio do teu interior?
da chuva do teu deserto?
do estio do teu mormaço?
da queda do teu porto?
do navegar do teu sofá?

um relógio sem corda acorda no meio da noite e toma um chá de sumiço

Dolores, toda hora é hora - grita Quirina, para logo depois beijar o
entregador de pizza...

Breve

teu luar é breve
vem e deságua
chuva de tanta coisa
enxurrada de lágrimas

quando tudo em mim
era tão raso
viestes como inundação
embora teu luar fosse tão breve
assim mesmo
durou tanto tempo e tomou contado meu coração

Desconexo

o destino trai
eu distraio
chove em novembro
que venha maio
a tua ausência chega
na minha presença eu saio
à quem chamo de "nega"
eu provoco desmaio

que raios

Desconexo 2

O menos "desavisado" diria
eu te avisei
na rua que não tinha cep
me passei

tinha uma guria esquisita
que Quintana certamente diria:
"Nem em sonhos sonhei"
que moldava minha boca como queria
e me chamava de rei

mas na virada da noite
eu disse sem pensar: não sei

a felicidade é tão breve
melhor saboreá-la ao extremo
é bom ser luar
mas muito melhor é entender o sereno

Temperaturas

despretensiosamente
coloquei panos quentes
naquela frase gélida que ouvi
na madrugada

praticamente um choque térmico
do destino

e Dolores me avisava sempre:
é cilada

mas quem haverá de controlar as madrugadas?

Tudo mais ou Considerações preliminares sobre medidas

nada mais me parece excesso
nada mais me parece certo
nada mais me parece tanto
nada mais me parece prático
nada mais me parece nexo
nada mais me parece reto
nada mais me parece santo
nada mais me parece ético

Tudo mais II ou Considerações preliminares
sobre mudanças de planos


o que era provocativo
tornou-se essencial
o que era definitivo
tornou-se dial
o que era solução
tornou-se aposta
o que era resposta
tornou-se indagação

Olhares

quando veio o olhar
que a tanto se esperava
parece que já não mais havia
o encanto, o espaço e a poesia
virou apenas mais um olhar
no passar silencioso do dia

(Dolores espera que expliquem a ela
o que é alquimia)

Acordes

um copo no meio da rua
um corpo no meio da lua
seios em formas de paraíso
permeio alucinações entre meus sonhos quando me perco
acho meu juízo
mas meu juízo é um tanto... perdido
e àquele livro não lido
talvez tenhas às respostas que tanto... procuro
e talvez seja o palco
onde o copo transborda
onde o corpo transborda
(uma mulher sem relógio me acorda... ou me faz feliz ou tudo isso)

Paixão

o que preenche a falta?
o que deixa o amor sem data?
o que deixa o cachorro sem mata?
o que deixa o grito sem cachorro?
o que preenche a falta?
o que deixa o náufrago sem socorro?
o que deixa a noite mais alta?
o que me faz correr e eu não corro?

Provocação

provocação é um salto
entre a faca e o pão
geralmente vira poesia
cada frase uma fatia
alimento do meu dia
e do meu,cansado, coração

Tempos

Vou "morrer" ontem
para renascer hoje sem dor
e amanhã
por certo encontrarei um amor
que pode estar tão perto, nem sei
ao amanhecer terei retornado de uma madrugada
de olhares ilhados
onde por muitas vezes naufraguei
e hoje eu sei "me" salvar

Mandarim

tua lua mandarim
provoca a direção
quais caminhos eu percorro
sem lembrar da tua mão?
não sei se isso é certeza
nem sei se é somente indagação
tua lua mandarim
comanda assim... tão de longe...
meu coração

A Foca e a Vaca

Argumento: Lucas, meu filho... L. Eduardo, amigo do Lucas

Soltem os bichos
criança é muito bom, pacas
vou contar uma história
de uma foca e de uma vaca

vivia uma foca no mar
e brincava com o oceano
a vaca vivia num pomar
e arquitetava planos

um dia veio uma fada
e levou a vaca para o mar
e trouxe a foca tão feliz
par conhecer o pomar

e ficaram tão amigas
e voltaram a viajar
nunca o mundo foi tão perto
nunca foi tão fácil voar

Comentários para Cleomar


Caro e sempre exagerado nos elogios e amigo que é de longe e é tão perto,

Adoro receber teus comentários, mesmo que não os responda todos, deles tiro meu mais saboroso alimento. Ando escrevendo demais, sem métrica, nem cuidados, apenas desabafando luares que me cercam e luas que iluminam tão bem. Quem não tem ou não teve olhos de águia e ao mesmo tempo um coração de porto? Quando escrevi essa frase escutei um apito, que escuto quando descubro um achado. E tua sensibilidade, teu já conhecer desse velho poeta, notou a importância da frase e todo o seu desenrolar. Feito tal descrição, aproveito para te mandar um forte e saudoso abraço, saudoso no sentido mais amplo da palavra, onde não se mede distância por quilômetros e sim por afinidade.
Continuo a tentar entender as palavras, os filhos, os técnicos de futebol, os economistas e principalmente as mulheres e cheguei a uma prazerosa conclusão; Não entender, meu amigo Cleomar, é o néctar mais saboroso da paixão e o mais importante, mesmo não entendendo tudo, é ter paixão para não entender. Sigamos com olhos de águia, mas com àquele coração porto que nos carrega "há tanto".

Há braços na família, estou ensaiando uma visita a POA, o Porto dos Açores, o Porto dos Casais, que quando guri aprendi como se chamava a capital de todos os gaúchos. E com certeza tomarei um chimarrão contigo e escreverei uma poesia à beira do Guaíba.

Escreva sempre, não sabes o quanto isso é importante para um poeta já surrado, mas com a alma de guri.
Há...

Recomeço

quando me vi sem mares
- que quando abertos sorriam -
e me faziam sonhar,
confiantes pelos meus sonhos,
provoquei em mim um estalo,
ao lembrar de dores e de calos,
e só assim pude navegar

Cinema

Betty nasceu blue?
com que cor nasceu a paixão?
qual foi o primeiro filme e
qual foi a primeira encenação?

quem partiu em Casablanca?
Amélie teria realmente um amor?
Tomates verdes e um destino frito
Fui coadjuvante em Dona Flor

Música

Rastros e canções passageiras
inteiras de um longo janeiro
que perdeu-se no mar

eu vejo tua lua em busca da rua
querendo navegar

e assim passaram-se os anos
e os mesmos abandonos
singram o teu ar

deixa o velho poeta e o velho cantor
cantarem suas dores em versos na madrugada

sonhar numa canção
com um verdadeiro amor

Luas

tuas conturbadas luas cheias
explosivas
intransitivas
verbo luar em conjugações permissivas

sei da tua lua nova que se esconde
sei que teu longe não é tão distante assim
sei da paixão crescente
sei o que sentes em todas as tuas fases

minguante é quem amanhã nos invejará

Espaço

Era determinante a ausência
pois sem se ver é que se pode enxergar realmente a presença
o que posso dizer depois de ter "achado" tantas coisas
é que me encontrei

entre o que eu sinto
entre o que eu quero
entre o que eu preciso

verbos que determinam a felicidade
verbos de navegação

um espaço entre o mar inteiro e o mar de minha boca
onde meus sonhos navegam

A linha

Volta e meia apareciam
com quereres que eu não entendia
me faziam sorriam por momentos
e sumiam sem avisos

Acostumei em sonhar sonhos não meus
e lutava muito para realizá-los
e vinha um vazio e aumentava o espaço
entre meus sonhos e a minha vida

Ficava satisfeito em ver ao redor felicidade
e não via ou ao menos não importava, a minha
os cabelos brancos me avisam que a vida passava rápido
decididamente eu precisava cruzar a linha

Estou a partir de agora na busca dos meus quereres
ser feliz para compartilhar a felicidade com todos
meu potencial de vôo é imenso
e eu, até hoje, não pude voar

Aos poucos vou preparando minhas asas
Como um pássaro no seu primeiro vôo

Simples

Quem não vê a paixão num toque
não haverá de vê-la jamais
não se inventa paixão
nem se procura no dicionário seu significado
não há obrigação na paixão
nem regras previamente determinadas
Existe sim apenas uma concordância
Entre o querer e o coração
Que encantadoramente provoca no jardim felicidade
"à flor da pele"

A bússola e o vento – O Romance

A bússola vivia tonta
entre perder o rumo
e achar o norte

O vento vivia tonto
entre perder a direção
e achar a sorte

Um dia sem esperar
A bússola sentiu o vento
e começou a girar

Dançaram noites e noites
no valsar do coração

(e como diz Quirina: - As vezes um vento no rosto
pode nos mostrar a direção...).

Confusões e roteiros

E por viajar sem querer me afastar
por linhas que desafiei
fiz-me por um triz me perder
o que quis achar nem eu sei

perdi o caminho e outro eu achei
um sentido inexato da paixão
e quando disseram "fim"
eu gritei "não é bem assim"

sem medidas eu desenhei riscos e acordes
de um violão chamado destino
e o destino viu que eu tentei
com minhas cordas fazer uma canção

Confusões

ao entender que a linha se fez nó não forcei
além do destino o nó poderia também ficar cego
não nego que minhas respostas não estavam condicionadas a tua lei
por isso que a conversa sem nexo sobrepunha o fato

o desenho do beijo foi arquitetado
linhas, retas, sabores e quereres
agora eu vejo que àquela linha atada
era um nó que nascera na garganta

o tempo fez o nó desaparecer
e a linhas voltou a ser o que era
e hoje é uma pipa no céu
como seu fosse a minha primeira aquarela

Gaveta

vira e mexe
abro a gaveta do passado
carta amarelada
goiabada
beijo no portão
vira e mexe
falta ar
revendo aquela foto
e um frio de inverno
n'alma beira o grito
transborda o coração

Intensidade


meia noite e essa lua
brilha feito um sol
o teu beijo é luar
que desenha um farol
e assim eu "me" acho em "ti"

Navegação

Navego sem rumo
nem o mar eu conheço
nem mesmo os ventos me acenam
em que porto atracarei?
para que ilha irei?
O que faz realmente sentido nessa hora?
Nem eu sei, nem eu sei
Navegar sem buscar nada é uma tormenta
a morte assim é gradual e lenta
e morrer assim tão vivo é sofrer muito mais
Navego sem rumo e nem meu barco é tão meu
Nem sei

O amor resolveu partir num dia claro de verão
e eu nem vi,
choveu,

e tudo era muito intenso
e tudo era muito preciso,

e exatidão, muitas vezes,
rima com dor demais.

Os dias mais claros, hoje em dia,
sempre me faz lembrar,
e ainda chove

Embarcação

Vejo-me morto, uma embarcação no porto,
mas condenada a não ver mais o mar.
Os ventos da praia me faz abrir os olhos,
de vez em quando, e assim eu sei que ainda há esperança.
Navegar sempre foi do meu destino e o mar o melhor caminho.
Minha solidão me afastou dessa boa aragem.
O que mais quero agora é voltar a sentir o mar.
Felicidade eu sei... pode não ser miragem...


Luas

Quanta lua eu não via
quanta lua eu não quis
quanta lua que passou
tão nova e tão feliz

Quanta lua eu não via
quanta lua eu não quis
quanta lua que passou
tão crescente e tão feliz

Quanta lua eu não via
quanta lua que não quis
quanta lua que passou
tão cheia e tão feliz

Quando eu quis ver uma lua
que eu achei tão cativante
e quando chegou assim tão perto
pude ver, era minguante

Sede

Ao te ver fico com sede
e os meus olhos bebem os teus
sacio, pois, os teus desejos
jamais sacias os meus

Contemporâneo e Dezembros

Um homem lê o jornal
no meio de um ônibus lotado
a notícia da manchete
fala de homens calados

o único som é o da chuva
o destino é terminal
o silêncio e a rotina
passam a catraca ao natural

Contemporâneo e Dezembros II


Chove muito aqui dentro
e não vejo solução
se o sol existe lá fora
porque não ilumina meu coração?

a tua fala é lágrima
a minha fala é inundação
corpo e alma na estrada
ame com moderação

(Quirina abre a cerveja e o pranto desce redondo).

Versos simples em noites complexas

Quando alguém falou "alguém tem que ceder” deveria ter dado um prazoantes do amor morrerquando passa tanto temponão adianta a razão gritar no meio da ruaque acredita em paixão
Norte

Teus "navegares" partiramem busca de outros quereresem busca de outros poderesteus "navegares" partiramSó que minha embarcaçãotomará o rumo da sortee quando pensares na voltajá terei encontrado meu norteCantiga
Olha a lua tão clara
que aporta na janela
tantas cores nessa lua
num brincar de aquarela

escrevi teu nome n'areia
e a lua sublinhou
com uma luar encantado
de quem jura que se apaixonou

Um dia sonhei com um amor
que entendia luares
e eu beijava a noite
como quem se entrega aos mares

Amigo secreto

Sortearam todos os nomes
o copo estava repleto
mas Quirina com tanta fome
não esperou a revelação
e jantou o amigo secreto

O que é tanto?

Talvez tantos e muitos anos
seja um tempo longo demais
amor não foi feito para ser eterno
nem para traduzir o que seja paz

Ele não deve ser inocente
deve ser bem degustado
assim viverá sempre vivo
mesmo depois de ter passado

Endereço


Vivia numa rua invisível
uma mulher que eu não via
que me beijava de noite
na manhã era poesia

e a minha vida passou assim tão rápido
e nunca mais teve cor
àquela rua invisível
era o endereço do meu amor


Destina

Entenda
és tu
que me
destina
o tempo
a vida
e tudo
o que há

não terei pressa
nem agonia
pois,
és tu
que me
destina

quem me diz
é a tua voz
quem me diz
é o teu corpo
quem me diz
é a tua alma

e essa certeza
me ilumina

Camaleões

Fez-se do grito, o perdão
do nunca mais, o desejo
fez-se do tempo, o encontro
e da distância, o beijo

Jeito

Que jeito
se não temos jeito
vez por outra
explode, é beijo
vez por outra
distancia, é quebra
que jeito
se sempre tem volta

(Quirina ri debochada e dá um gole
no chá de boldo)

Quem é quem jeito nesse mundo, nesse momento?

Fica a pergunta...

Era uma vez

Era uma vez"nunca mais"sem final felizEra uma vezuma primavera sem florum inverno sem chocolate quenteum outono sem passeioum verão sem caloraté que eu te vi de novoreinventei as estaçõese recomecei a história:Era uma vez...

Motivo

Nada finda
isso é claro
lua linda
num céu raro
vem a rima
surge a cor
nada finda
só o amor

A frase – Ah...cai

Eu te amo.

Nesta frase tão curta
a palavra amor surta

Águas de Dezembro

Uma chuva
em meu peito
vira lágrimas
quando me deito
meus sonhos assim navegam
onde aportarão? - eu me pergunto

Sem pressão

Algum dia
em algum lugar
eu poderei dizer
sei lá

All Star

Eu ganhei um All Star no Natal
Papai Noel sorriu
minha calça jeans também
a felicidade é simples e anda

Ponto Final

No meio do fim do último beijo
veio um aviso ligeiro
que dizia ser passageiro
nosso último desejo

(Quirina beija a boca da noite e dorme com Lourival, o porteiro)

Inovações


Arrume a casa e tire do armário as asas

Decifre o enigma e fale ao amor: - me siga

Reinvente o passado e entenda que o presente está sempre ao seu lado

Camaleões II

Fez-se do último pedido o recomeço
como se naquele momento
nada pudesse ser feito

Buscou-se no que se havia dito o "desfeito" havido
e o que era tão pressa ficou assim tão lento

Teve assim o tempo
tempo para sentir tudo o que havia sido perdido

Debruçou-se num hiato de um calendário ferido
como se a minha vida fosse um livro que nunca fora lido

Assim pude ver teus olhos
como nunca eu havia visto
vi que o amor é uma questão de se ter tempo
para vivê-lo inteiramente

Tensões

a noite entreaberta
um olho fechado
o outro de olho
a noite passa
entre a vigília
e o sono
entre a multidão
e o abandono
o querer prende
e é assim que se perde a esperança
e o destino se rende
o triz determina a fatia
e amanhece
olheiras desenhadas no espelho
não contam nada de manhã

Ventos

o tempo agora destoa da razão
um vento forte
ao mesmo tempo em que fala da volta
leva para alto mar a embarcação

a paixão é ventania
a poeira é lagrima
o deserto é perdão

Entendimentos

Eu vejo as horas debruçadas num estalo de noite
como se quisessem me falar
um despertar que tenta provocar
uma provocação que eu sei que tanto preciso
uma hora H a todo o momento
um vento forte no rosto
quase que implorando para que eu acorde
Nada adianta agora
senão a minha vontade de escutar verdadeiramente as horas
de entender realmente o que elas querem me dizer
de me entregar a elas

Jardins

A fome de pele
a pele em flor
a rosa que desperta
a pétala

Sou um jardim aberto
num mar deserto
que nem sei

A procura de uma primavera
que perdi num inverno intenso

Invasões

Que invasão é essa
que invenção que se deu
procuraram um alguém
e esse alguém não era eu

O gosto do simples me faz saborear
eu gosto do beijo sempre agora
procuraram um alguém
e o alguém, ao que parece, foi embora

Beijo na boca sem aviso
Carinho no sofá
Quero todos os acordes
Dó, ré, mi, fá e si e o tudo em nós
e o tudo numa madrugada eterna na praia

Noites do Campeche


Quando as noites do Campeche
beiram meus desejos intensos
nascem ondas onde eu quero
em luas e sóis propensos
sou feliz quando bebo o mar
e as gaivotas bebem meu tanto
e a medida que te beijo
preparo meu canto...

Quem verá?

O amor é um verão
sou andorinha
sem estação
uma cabana
uma praia
um esquina
que cruza meu destino
e se perde na rua longa,
chamada paixão

Morrer

Aos poucos vou morrer
sem olhar que não é tão tarde assim
meu coração arde
por um querer que não saiu da minha imaginação

quem disse que de amor não se morre, mentiu
escreveu o aviso de avesso
pôs no coração, gesso
e depois do beijo, sumiu

Encanto

Devo encantar quem porventura queira me encantar
assim serei feliz
a equação é simples, mas a vida não

encanto presume-se entender o que seja conjugação
tantas pessoas, tantos tempos, tantos verbos
e sujeitos buscando orações para viver

Simples

eu quero um amor diferente
um amor assim
feito de gente

Cores

Todas as cores do amor viraram filme, canções
um solo de Santana, águas de março em qualquer estação
um trem boquiaberto descarrilando sem chão
um monte de areia, ampulheta
um tanto, um deserto,
uma luneta procurando por tua constelação

Desencontros

O teu amor tem segredos tantos
O teu amor por isso alucina
O teu amor desconserta
toda a minha alquimia

enquanto eu organizo o nexo me fazes perder todo o juízo
eu me valho da emoção
e encontro assim todo o meu mundo,
pedindo uma faxina urgente
Permissão

Permita-me o nunca mais
para que eu pare
para que eu descanse
para que eu deite na cama e sonhe

Preciso querer andar
tantos verbos e eu não me deixo, não me mexo

Preciso ser feliz
por mim
sei do meu amor e que eu posso ser tanto

Tantos

Meus tantos mares percorrem agora um único canto
como se eu fosse o cantar e tu fosse o canto
como se eu buscasse a letra
e todas as letras compusessem teu nome
uma busca que mora tão perto e que se faz longe
por disfarçarmos os sentidos
e afastarmos a música dos nossos corações

A Canção

Que canção é essa tão inteira
que teima, que teima
que queima, que queima
que canção é essa que diz tanto
que tanto canto há
que tanto tanto
que me faz rir e chorar
um choro bom com encanto

Que som
que perfume
que lume
que invade e toma conta do coração

Que coisa doida e doída
que transporta toda a razão para longe
e se entrega na paixão

Um nome,
uma letra,
uma canção


Classificados

Num canto dos classificados
mora um cantor cheio de letras

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