Devaneio de domingo
Veja o que teu olho muitas vezes nega ver
Escutar o silêncio e o bater do teu coração
A hora do momento redescobrir
Já tive razão para chutar somente o balde
E nessas horas puder ver que havia água dentro dele
E estava com sede...
domingo, 31 de agosto de 2014
sábado, 30 de agosto de 2014
Soneto sem métrica num sábado de frio aqui no Campeche a beber um cabernet
Têm horas que eu ando tanto
Noutras somente quero parar
Entendo que beijo na boca
É importante que falte o ar
Acredito em frio na barriga
Em arrepio lá na espinha
Acredito no poder da língua
Ardentemente felina
Tenho nuances de mulher
Que cosem o homem que sou
No teu corpo vivo minha casa
Minhas asas pousam no teu calor
O que chamam de intensidade
Eu simplesmente chamo de amor
Têm horas que eu ando tanto
Noutras somente quero parar
Entendo que beijo na boca
É importante que falte o ar
Acredito em frio na barriga
Em arrepio lá na espinha
Acredito no poder da língua
Ardentemente felina
Tenho nuances de mulher
Que cosem o homem que sou
No teu corpo vivo minha casa
Minhas asas pousam no teu calor
O que chamam de intensidade
Eu simplesmente chamo de amor
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Saudade (uma poesia bem simples para enganar a noite que não passa)
O andar inteiro da noite inteira que demora em passar
Passo café, passo para a sala, passo roupa para adiantar
Que demora que cora, passo aqui dentro, passo lá fora
Passo o ponteiro das horas para frente para o dia mais rápido acordar
Só a saudade é que não passa
A saudade é que devora
Passo manteiga no pão, passo a mão no meu cabelo
Passo uma página do livro, passo um pano no banheiro
Passo a louça do escorredor para o armário
Passo a folha rapidamente do calendário
Passo a letra para o cantor
Só a saudade não passa, saudade do meu amor
O andar inteiro da noite inteira que demora em passar
Passo café, passo para a sala, passo roupa para adiantar
Que demora que cora, passo aqui dentro, passo lá fora
Passo o ponteiro das horas para frente para o dia mais rápido acordar
Só a saudade é que não passa
A saudade é que devora
Passo manteiga no pão, passo a mão no meu cabelo
Passo uma página do livro, passo um pano no banheiro
Passo a louça do escorredor para o armário
Passo a folha rapidamente do calendário
Passo a letra para o cantor
Só a saudade não passa, saudade do meu amor
A tecelã
Tem uma fada na noite
Que tece mantas para os dias frios
Cachecóis de linhas tênues
Boas casas, qualificados fios
Bordados de amor latente
Frisos finos e corações enormes
Beijos de mares, namoros de rios
Enquanto depois de tanto trabalho
A fada sonha e desperta a cor do tanto
Os sonhos da fada colorem
Todos os sonhos que dormem
Num mágico e doce encanto
Que nossos corpos tais encantadas conchas
A cozer as tais apaixonadas linhas
Eternizem almas, cochilem de conchinhas
Aquecidas pelo amor, eterno manto
Tem uma fada na noite
Que tece mantas para os dias frios
Cachecóis de linhas tênues
Boas casas, qualificados fios
Bordados de amor latente
Frisos finos e corações enormes
Beijos de mares, namoros de rios
Enquanto depois de tanto trabalho
A fada sonha e desperta a cor do tanto
Os sonhos da fada colorem
Todos os sonhos que dormem
Num mágico e doce encanto
Que nossos corpos tais encantadas conchas
A cozer as tais apaixonadas linhas
Eternizem almas, cochilem de conchinhas
Aquecidas pelo amor, eterno manto
Um conto de sarda
Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina
Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina
A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...
Fomes
Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e
dizia
Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível
ilha
Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se
escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia
A fome comia...
Desejo
Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...
O acaso brinca
de rima
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro
das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço,
andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e
transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são
armadilhas bélicas
Atento aos relatosescuto a inconstante
passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide
quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de
chocolate do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações
sejam sempre as melhores janelas
Cabe-me a leveza da escrita para
deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável
duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa
querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me
de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só,
louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e
fugidias...
Marcas,
tatuagens e silêncios
Espelhávamos na própria carne quando
pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção
ardente
propúnhamos ser o que não éramos para
resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por
nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos
mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância
das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares,
ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos
mais
ledo engano
depois de algum tempo nos
reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida
Túlio
Piva
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem
lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um
passado tão bom
e ele “nem sei em que
data"... clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me
desculpe
Minha lua de menino sempre foi
pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".
As desculpas
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente
recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus
significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o
que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam
mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o
verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...
Contemporâneo
Nosso
romance começou num bar.
Eu,
tomava seu tempo.
Você,
vodca.
Depois
fomos num teatro.
Eu
assistia a peça.
Você
pregava uma.
Fomos
num motel.
Eu
pedia uísque.
Você
trazia o gelo.
(Enquanto
eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)
Você
caía na cama.
Eu
na vida.
Alguns
meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos
num trem.
Eu
teimava que era primavera.
Você
parava em qualquer estação.
Anos
depois, soube por alguém,
que
enquanto eu escutava Caetano,
você
saía com Chico, meu melhor amigo.
As
parceiras
Bebem noites, mas adoram café da
manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do
mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras
palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos
a elas...
(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem
ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito
de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)
São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.
Invasão
Nada me invade se não o que realmente
me invade
estou farto de segundas intenções
planejadas
e nas quartas-feiras janto às
terceiras
às quartas, às quintas, às sextas...
de intenções já tenho uma semana cheia
O
amor é todo dia sempre
Eu preciso de riscos
Para fazer poesia
Eu preciso de amor
Para buscar boas rimas
Amor para mim é todo dia
Amor para mim é todo flor
Amor para mim é todo cor
Amor para mim é todo alegria
Mesmo que venha a tormenta e afaste o
dia
Mesmo que venha a tormenta e destrua a
flor
Mesmo que venha a tormenta e misture a
cor
Mesmo que venha a tormenta e leve a
alegria
Amor continua definitivamente para mim
Todo dia o dia todo
Luas
Repartiram
os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram
uma quitinete.
Compraram
fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram
olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah!
Era quarta.
Beijaram-se
muito, muito mesmo.
Perderam
o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram
amor eterno.
Ele,
vestiu seu único terno.
E
foi tentar, tentar, tentar.
Já
era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...
Capitu
Quando
conheci Capitu
capitulei
desenganei
a
confiança é um conto
um
machado afiado
uma
colcha de retalhos
com
bainhas de linho
quem
nunca se sentiu Bentinho?
Colcha de
retalhos
Meus
amores estão nas entrelinhas de minha poesia
estão
cobertos de rimas
estão
encobertos por uma poeira fina de nome paixão
juntei
tecidos tantos por tantos anos
tecidos
suaves, finos, retalhos diversos e seda e chita
costurei
uma colcha quente de lembranças
para
acalmar meus invernos
Versos
portugueses
É
meu cansaço que me ergue
no
exato momento em que me falta o ar
mesmo
que minhas pernas se neguem
meu
desejo me faz andar
Estanca
de repente também meus ais
nenhuma
palavra, nenhum gemido, nenhum gosto
minhas
dores aportam em meu cais
engulo
a seco e disfarço as lágrimas em meu rosto
Às
vezes para seguir é preciso conviver com a dor
um
espinho no pensamento, um punhal preso ao peito
uma
luta incessante da escuridão com a cor
como
se houvesse pregos em toda cama que deito
O
amor e seus fusos-horários
A lua na sacada
Cai num copo de vinho
A noite é uma cilada
E também é um ninho
O significado de prender
Depende do estado de querer
Ou não querer estar sozinho
A felicidade é uma medida inexata
Entre o amor e a pessoa sonhada
Numa linha traçada sem data
De um calendário que move o coração
E vem um amor em hora errada
E transforma a pessoa amada
Numa chuva breve de verão
A
chuva
A chuva limpa e também leva/ a chuva é
luva e lava/ minha boca encharca com o café/ minhas asas moram longe dos meus
pés/ a chuva brinca de passar a limpo/ tudo nesta hora foge dos sentidos/ o
silêncio e o querer viram nuvens carregadas/ e é preciso esperar outra chuva
para entender e aliviar a tempestade...
Bêbado
Toma
café,
toma
vergonha,
toma
ônibus,
toma
banho,
toma
jeito,
toma
cachaça...
E
quando quiseres...
Toma
meu coração.
Motivo
Quando
uma corda puxa a noite
O
dia vai e se enforca de ciúme.
Quando
uma corda puxa o dia
A
noite vai e ser enforca de ciúme.
Quando
chega a madrugada
A
noite e o dia se enforcam com a mesma corda...
Entre um café e outro
Caixinhas
Temos
o medo guardado em caixinhas no quarto.
num
quarto de hora,
num
quarto de hotel,
num
quarto de nunca mais,
num
quarto de pão...
Temos
o medo guardado em caixinhas no quarto...
Enganos
Mudou
a cor do casaco para enganar o frio.
Colocou
num copo toda a água suja do rio.
(embaixo
do tapete mora um segredo que todo mundo sabe).
De pele
Enquanto
eu era a seca, tu eras a dança da chuva.
Estio
Lá
no meio do deserto mora uma única gota d’água...
Filha
de uma chuva rara e de um poeta sereno.
É
lá que os sonhadores matam a sede.
O vendedor de
algodão doce
Lá
se vão as nuvens,
E
eu aqui embaixo, redesenho...
Passa
agora um vendedor de algodão doce e me traduz.
É...
o amor tem muito mais que claros segredos...
Frases
e rasgos
Usava alvejante na alma e ninguém via
a tristeza contida
Pequena
canção para entender a lágrima
Imagino
a lágrima vertente de um rio.
Insinuo
que existem correntezas e calmarias no curso.
Minhas
tristezas e minhas alegrias são meu leito.
Entendo
o pranto como fosse uma vertente inundando o mar...
Cochilo
Meu
abandono tem sono e acorda em teus braços quase sempre.
Quadrinha
“indecente” de saudade
A
lua versa. A lua é prosa. A lua ao ler meus pensamentos, goza.
Pequena canção
de amor passageiro
Minhas
janelas adoram tua paisagem.
Sobre o amor
Ao
ver o mar mergulho e sempre mergulharei.
Como
ter sede de mar e não naufragar algumas vezes?
Olhares
As
luas novas que prateiam o céu são bem mais lindas quando te veem.
Teu
reflexo faz a noite ser a mais linda manhã que eu já vi...
Dedal
Nada
pode ser mais fatal
Do
que um dedal no fundo do mar.
Quando
o destino costura.
Da flor da
pele
A
flor da pele
Rosa
não deve ser.
Minh
’alma eu mesmo lavo.
A
rosa não brigou comigo.
Aliás...
eu nem sou o tal cravo.
Navegação
O
que faz todo o navegar é uma boca cheia de mar.
Afogamentos
Quando
teu corpo se afoga
Minh'alma
faz respiração boca a boca.
Sedes e estios
O
deserto tem como paixão maior a lágrima. Areia nos olhos faz chorar.
Medidas
Um
mar num dedal, no lençol um luar, medidas não são exatas, nem toda água é
mar...
Volumes
Eu
rio muito contigo... Chego a ser mar...
Balcão de bar
Espaço
físico entre
o
físico, a química, e a matemática.
Tormenta
A
felicidade compreende a tormenta,
pois
será ela que lavará o nosso rosto
para
fazer o nosso mundo acordar.
Cafés de
Março
Escrevi
saudade na margarina. Bebi assim café contigo.
Hai-Kai
Todo mundo tem escolha
A felicidade pode ser um estalo
Como quem dança num papel bolha
Todo mundo tem escolha
A felicidade pode ser um estalo
Como quem dança num papel bolha
Silêncio
O
relógio está quebrado.
A
carta não tem selo nem CEP.
A
mensagem bebeu a garrafa.
O que é
inteiro?
Inteiramente
é uma palavra que inexiste...
Doar-se
inteiro, decididamente, é uma forma de ser triste.
Minhas
olheiras hoje são amantes dos meus cafés...
Quadrinha da
paixão confusa
A
intensidade apaixonou-se por um interruptor.
Levou
um choque e achou que era amor.
Da explosão
Minha
poesia detona o estopim.
Não
ligo para explosão. Enfim...
Nada
é exato.
O
resto da vida pode ser o próximo minuto ou os próximos cem anos...
...
Augusto
não era tão anjo assim. Não entendo até hoje seu plural.
...
E
um vampiro apaixonado, dá de presente um cachecol...
...
Quem
ama não data.
...
E
não se enganem quando falam lento, palavras sem pressa ferem muito mais.
...
Atentos
olhos observam a intensa cerração.
Nas
vidraças, recados escritos com as mãos.
Faz
frio lá fora, mas inverno igual ao da minha alma nunca vi.
...
Existem
horas em que a melhor maneira de aparecer é sumir...
...
Sou
um outono apaixonado por uma chuva de verão...
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