sexta-feira, 8 de maio de 2009

* AGOSTO E SETEMBRO DE 2008

Sem medidas

Plural é mais de um
O amor então é plural
Nem se pode dizer que são dois
Metade é um "tanto impreciso"
Feijão, farinha e arroz

Sob medida

Par
Plural
Conjugação
Concordância não quer dizer dominação
Quem haverá de dizer ao coração
Que ele haverá de amar um só coração?
a cada esquina
a cada olhar
a vida se ilumina de modos diferentes
Dolores, Carolina, Quirina
amá-las todas
sem magoar nenhuma delas
com fazer, como dizer, como alimentar?
a cada momento uma mulher amada
a cada caminho, uma cilada do destino
Par
Plural
Conjugação
Na primeira, segunda e terceira pessoa do singular,
que são tantas e que viram assim "plurais"

Agosto de Viés

veio de viés
sem tempo de espera
sem preparação
com a alma clara
coração na pele
corpo de resposta
na quietude da tradução
de um vento sábio

nasce esse agosto feito caleidoscópio

junto os pedaços entre lumes e espelhos

e com teu olhar de viés não vês

Línguas

que linguagem é essa?
eu não entendo tua língua
eu já nem sei se ela me quer
não entendo tua forma de conjugação
nem sei em que pessoa falas

meu pretérito não é tão perfeito
entenda, por favor, meu presente
a concordância não vem de repente
é preciso entender o jeito

conspiração é uma forma
de fazer respirar um coração

conspiração no sentido de harmonizar
pessoas e linguagens

Plurais

que linguagem é essa?
eu não entendo tua língua
eu já nem sei se ela me quer
não entendo tua forma de conjugação
nem sei em que pessoa falas

meu pretérito não é tão perfeito
entenda, por favor, meu presente
a concordância não vem de repente
é preciso entender o jeito

conspiração é uma forma
de fazer respirar um coração

conspiração no sentido de harmonizar
pessoas e linguagens

Beirais

encantos e fugas
ninhos e asas
gravetos e nuvens
cantos e casas

Notícia de Jornal

O coração ainda está cheio
Tudo o que o coração faz, diz ou sente
não é definitivo e nunca foi
A gente vai e volta, descobre e redescobre
E cala e fala, faz e desfaz mala
É tudo uma questão de tempo
Eternidade e triz são meras medidas plurais

Navegações

O coração
muitas vezes
é um navegador
errante
desavisado
incompreendido
apaixonado

O coração
muitas vezes
é o próprio barco
sem rumo
sem mapa
sem vela
apaixonado

O coração
muitas vezes
é o vento
tão forte
tão calmaria
tão norte

Dolores, Quirina, Maria

Deito meu corpo no cais
sou navegador, sou barco, sou vento
dentro desses corações plurais

Conhecer

toda a lua
se eu pudesse
conheceria primeiro
ela sem brilho
para que eu entendesse primeiro
seu pior momento

assim saberíamos
ela e eu
aproveitar melhor o luar

Mesmo assim

A rua desfaz o traço
Tanto faz eu correr
Tantos desvios neste abraço
Tantas esquinas neste querer
E mesmo assim
Eu me perco em teus braços
já nem sei o que significa perder?

Cafés Plurais

As luas da manhã mais clara moram em cafés que bebo contigo
acordar assim é luar
acordar assim é despertar
acordar assim é saciar
as escuridões mais marcantes moram em cafés que não bebo contigo
acordar assim é perder
acordar assim é sofrer
acordar assim é morrer

café ou chá de sumiço?
bolinhos de chuva ou de céu azul?

nas insônias ou nos amores
beber café é uma arte

Assim

Quando a lua disse:- fique
eu entendi: - some
eu beberia o mar de tanta sede
eu comeria o céu de tanta fome
a lua ainda gritou: - tem café na térmica
e bolinhos de chuva no forno
mas eu já estava muito longe
e o destino estava com muito sono

(Quirina me entenda, em minha opinião, quando falo de paixão,
(o que não é beijo é abandono)

Cenas

O pano caiu
a peça acabou
a fala se perdeu
no corredor
a platéia não viu
acendeu um clarão
o beijo era técnico
quem era agora o ator?
perdi o papel
reli o roteiro
chamei o diretor
veio o jardineiro
que relatou o fato
regou assim a dor
descreveu o último ato
e colocou dentro de um livro,
a flor

Outras palavras

Palavras sem tradução
o fio da meada enrosca na razão
perde-se o rumo, as referências
não se sabe mais de nada
nem se sabe o que seja tudo
estou sem jeito, me recolho, barbas de molho
introspecção, silêncio
o tempo é contido e ao mesmo tempo é perdido
o tempo é engraçado, possui grandes e longos braços
mas a hora não é de abraçar



Esconderijos

Poucas palavras escritas
num cartão que cabe um mundo
tantas entrelinhas perdidas
tantos pensamentos num segundo
pouca transparência nas palavras
tantas roupas nesse silêncio
quantas sopas requentadas
disfarçadas de sossego

poucas palavras não ditas
no sofá da nossa sala
tantas declarações sufocadas
tantos "arrumar de malas"
pouca claridade nas palavras
tantos atalhos nesse caminho
quantas armas escondidas
disfarçadas de carinho

Encaixes de Agosto

Barbas de molho
molho de chaves
chaves na porta
porta de cadeia
cadeia no corpo
corpo tão longe
longe tão perto
perto tão porto

naufrágio
tão
certo

Quadrinha simples, mas verdadeira


Todo o tempo desse mundo
é mudo quando não quero
pois para se viver um mundo
é preciso ser sincero

Solidão

Minha solidão faz festa
em ruas inteiras
muitas vezes ela
é a companhia perfeita
para um coração

Chuvas

Contaram-me, ontem choveu
não vi barulho, não vi poças
não vi ninguém lavando a alma
Contaram-me que ontem choveu
não senti as roupas molhadas
não vi os barcos de papel
não senti a lágrima disfarçada na tormenta

Ontem choveu
como pude esquecer aquela chuva,
que tanto me ensinou
que me ensinou a navegar

aos poucos me lembro de Quirina gritando:

- quem tá na chuva é para se molhar

E abrindo seu coração guarda-chuva, principal motivo
das minhas manhãs com sol

Fim de agosto

Não tem gosto nenhum o que você arquitetou
linhas sem direção
esquadros sem movimento
um desenho, um rabisco
um olhar sem comprometimento
o que era planta de casa
virou banco no vento
onde durmo sem lembrança
e esqueço que tive asas
que gosto?
que boca?
Nem lembro...

Assim, espero setembro

Uma frase de final de mês

A embarcação entrega-se aos mares e seu capitão brinca de malabares, em cada onda um recomeço.

Distância

Ao contato veio a distância
Um espaço que não se havia notado
Apenas uma linha prendendo a resposta
de uma pergunta perdida no passado

Histórias de amores sem remetente
Cartas relatando sonhos vãos
Uma dor que era eterna e vinha de repente
Como se a paixão e a saudade fossem vilãs

Fez-se a distância
e entre o amor e o cais
morava um mar

A pergunta

Existe uma resposta que vaga noites inteiras
quebrada, em cacos, peças pequenas de quebra-cabeças
onde o destino tenta, mas não junta
fica uma dor no peito, um aperto, um mau jeito
que nasceu assim tão seca
fruto de uma única pergunta:
Qual a definição de amor???

Escritos

Tua cor branca
Leva-me até minha caneta
que invade tua página
deixando recados
Nuvens inteiras num céu sem cor
que estrela é essa
feita de nanquim?
Qual será meu jardim
Se não teu corpo?

O barco

O que não vês em minha'lma
naufragou um dia em teu coração
e as águas que eram tão calmas
levou sem dó minha embarcação

e as águas seguras me levaram para o cais


Poesias de Setembro de 2008

Confuso

Perder a falta de não ter
ganhar sem querer o que já se perdeu
ocupar o espaço perdido sem tentar
disfarçar e não entender o exato
e buscar o que se tem loucamente

O reflexo

O que se pode agora é retratar a imagem contida naquele exato momento
mas não lembro o beijo
não lembro a fala
não lembro a data
nem lembro a sala
nem lembro se havia desejo
nem lembro se havia rancor

que imagem posso retratar senão àquela do espelho, um rosto cansado,
olhos vermelhos e uma flor seca guardada em páginas amarelas?

por isso, nem lembro

Campeche Lisboa

Quem vê lá?
sou tua embarcação...
o que queres?
somente teu coração
e tua canoa?
é de fibra e de lume
Como se um fado, que soa livre,
trouxesse agora todo o teu perfume
e por encanto misturasse
Campeche de novo com Lisboa

Tempos

Tantas ruas se passaram
diante de um sonho de varanda
e as mesmas vozes que cantaram
desenharam a ciranda

pus em meus sonhos teus escritos
pus em meus mares teu porto
sobraram em meu peito todos os gritos
faltou em minha rede teu corpo

busquei um resgate impossível
andei por caminhos sem querer
e tudo o que era tangível
vi em minha frente padecer

Setembro

Setembro é um grande lobo
atento, feroz
e ao mesmo tempo frágil e quieto
quem armou o caminho do destino sem curvas,
que não deu importância ao teto,
poderá agora desfazer os nós?

Cafés

O destino não dorme
toma garrafas e garrafas de café
e conversa noites inteiras
reinventando o amor

Ombros

Tua dor tomou conta da sala
em meus ombros o peso dela
a dor exposta retratada na fala
fechou o coração,
trancou todas as portas,
desistiu das janelas,
e o destino engoliu todas as chaves

No corredor

A resposta cala a pergunta que junta pedras e ataca a fala
embebido em doses de mar o navegador atraca em lágrimas de dor
e no meio da embarcação
e no meio da sala
uma mala de viagem

Quando o querer

Quando o querer se esconde
tudo o que é tão perto
vira tão longe
tudo o que é calmaria
vira tantas ondas
e todas as poesias
quebram-se na praia
quando o querer se esconde
a alma cala, o corpo não responde
tudo o que é alegria
vira entretanto
e todas as palavras
perdem a métrica, perdem o canto

Caminho

A saudade é uma linha
a solidão aperta
e faz um nó
o plural chega
viramos nós...
e vamos para que lugar ???

Desatino

Nada agora pode causar surpresa
a não ser àquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"
possa o levar para qualquer lugar...

Apoderar

Uma chuva adonava-se do deserto
uma paixão intensa despertava a solidão
um sol forte clareava o beco
um segredo escrito no tempo abria um coração

e eu que era um inverno rigoroso e frio
fui presenteado com uma tarde de verão

Tesouro

Viu-se que além da lágrima
também era ensaiado um riso
e naquele olhar triste
morava a certeza da felicidade
nada era tão escuro assim
que eu não pudesse rimar com claridade
vez por outra uma intensa lembrança
que eu procurei guardar à sete chaves
e a ela dei o nome de esperança

Cauê

Teu riso me abraça
e faz meu mundo mais feliz
toda a vez que tu chegas
eu peço bis

Toda a razão do mundo beija o acaso

Eu queria que o dia de hoje
fosse o dia que eu tanto queria
eu pediria "vem"
e você "viria"
simples,
sem endereço fixo, sem cep, sem explicação
Eu queria que o dia de hoje
fosse o primeiro dia
que daríamos todo o tempo do mundo
para os nossos corações

Eu vejo assim

Eu vejo assim
minh'alma
meio calmaria
meio temporal
misturo águas
misturo sedes
misturo risos
misturo lágrimas
e navego assim
bebendo o acaso

Hiato

Não que tenha todo o sentido
que a mão ressentida escreveu

mas em alguma entrelinha
existe um beijo
que nunca se deu

Inundações

Todas as chuvas do mundo
inundam todos os mundos das minhas lágrimas
das minhas perguntas, das minhas respostas

assim
meus textos são redigidos por minhas tantas "águas"

sou naufrago do meu próprio mar

Desertos


Deserto é um tempo
entre a chuva e o mar aberto

aprende muito quem entende o seu próprio deserto

pois quando a primeira gota de água
rola na boca seca

sabemos o que a sede realmente quis nos dizer

Infância

Navegava feliz um menino
num mar atrás da sua casa
e quando chegavam as ondas altas
ele usava suas asas

e dominava seu destino

Paz

Deixe-me assim
minhas águas produzem lágrimas
mas também produzem mares
onde navego feliz

Deixe-me assim
sei o que significa minha paz

A calmaria de meu cais
me faz navegar por onde o meu querer
é leme

Mares

Meu corpo ilha
Isolado
Em meio a lágrimas e mares que não conheço

Náufrago de tua vontade
vez por outra
um barulho de embarcação
me faz procurar teu mapa

Sempre

Minha boca em todos os sonhos ia de encontro a tua
e por linhas que nos prendiam
o beijo não acontecia

Em cada rua,
em cada lua,
nos distanciávamos

eis que a vontade veio acompanhada de um sonho

assim como quem constrói a morada aos poucos
finalmente nos encontramos

como se ali
se desenhasse
um quadro que já nos acompanhava
quase uma vida

o amor consistente se faz assim

Um lugar chamado Campeche (A casa)

A ausência arde
A falta corta

Que falta que a casa faz
Que falta faz o sofá da sala

Compreendi
que a falta que tu me faz
foi quando compreendi
a tradução da falta da falta
que tu me faz

O entardecer

Tarde
o sono vem
Café dormido
o pão também
Tarde da noite
O silêncio aos gritos
ninguém bate à porta
ninguém vem ou virá
a solidão é já
abraça, domina, se agiganta
A noite
não mais canta
A esperança tenta
e a noite a janta
Tarde
o sono domina
a manhã escurece
Café dormido
o pão também
O relógio bate
e meu destino apanha
Mas lá dentro
um menino nasce todos os dias

Interrogações

Terá nexo o olhar da paixão?
Terá receita?
Virá com bula?

Porque para se explicar o simples
o sujeito usa um discurso complexo?

Pequena Canção do Acontecer

O tempo é um menino descalço
levado pelo destino vento

Medidas

Dentro de um copo um mar inteiro
um gole dessa imensidão me faz feliz
o destino corre, vem ligeiro
lição maior é saber ser aprendiz

quando a lua envolve a noite
o luar beija as estrelas

dentro de um copo
água para navegar
teu beijo de cais
é lua,é o meu mar

Distância

Quis o tempo dispersar
Exatamente na hora do perdão
Levou a alma para longe
Trouxe para perto a indagação
O mundo então calado
Disfarçou qualquer pergunta
Deixou sem palavra um coração
e sem razão, o amor

Folhas


Folhas escritas
outonos e versos
palavras ditas
no silêncio

folhas secas
folhas de calendários
recados na porta
cartas sem remetente

na folha arrancada
um nome que nunca li

(Quirina disse que guardou o nome,
mas não me diz...)

Os sonhos

Todos os dias a lua em determinada hora flutua
e vem ao encontro de um sonho meu
e o envolve e o protege
e deixa-me seguro...

assim, tenho sempre em luares os sonhos meus,
sei que serão realizados
e que mesmo nas agruras do tempo,
nas mazelas dos caminhos tantos,
eles estarão nos planos
traçados pelo menino destino...

quando olho para o céu e vejo a lua
estou sonhando

Apontamentos

Todos os dias a lua em determinada hora flutua
e vem ao encontro de um sonho meu
e o envolve e o protege
e deixa-me seguro...

assim, tenho sempre em luares os sonhos meus,
sei que serão realizados
e que mesmo nas agruras do tempo,
nas mazelas dos caminhos tantos,
eles estarão nos planos
traçados pelo menino destino...

quando olho para o céu e vejo a lua
estou sonhando

Que será que diz o que não se fala?

Confunde
é tanto
é amiúde
é beijo
é canto
comprova
ajeita
ilude
ao mesmo tempo
reprova
prova
insiste
boca cheia de mar
olhos cheios de dor
lágrimas para navegar
nas lembranças de um amor

Um momento

Veio uma fala do lado de um silêncio de lápide
como se àquelas palavras fossem lâmpadas
e se o momento não fosse trágico
ensaiaria uma risada mesmo que trêmula

ao ouvir a resposta
e posta no meio da sala
Quirina grita ao taxista
traga de volta minha mala

a porta fecha de repente
como um estampido de bala
assim nasceu o beijo da volta
quando a boca se abriu para a fala

Procuras

As buscas são escritas com riscos
encontrar é um verbo aventureiro
entre palheiros e detalhes e ciscos
pode morar um mundo inteiro


Difusos

Aventa-se a possibilidade de entregar o caminho
ao talvez constante da paixão
e escrever na bula que acompanha o bilhete
o número de um telefone público de uma rua que
não conheço

perder-se é muito mais do que o engano de um endereço,
perder-se é muito mais do que um número trocado no CEP,
perder-se é muito mais do que uma informação errada,
perder-se é muito mais do que um mapa antigo,

aventa-se a paixão de entregar o talvez
o caminho constante da possibilidade

Uma palavra

Uma palavra apenas
que me devorasse no
sentido de alimento
e que ressurgisse
todas as manhãs,
qualquer que fosse
o vento

uma palavra apenas
que me devolvesse o
sentido de paixão
e que ressurgisse
todas as noites,
qualquer que fosse
a emoção

uma palavra apenas
que me esclarecesse o
sentido de par
e que ressurgisse
todas as manhãs,
qualquer que fosse
o andar

uma única palavra apenas

Colher

Ao tanto depositado e
que já havia tanto tempo
uma declaração escondida
que eternizava um momento

que ficou na flor da pele
adubando o esquecimento
meu coração era terra
que acreditava no alimento

Simples

vida anda
vida diz
vida foi feita
para ser feliz

vida ciranda
vida aprendiz
vida foi feita
para ser feliz

vida manda
vida bis
vida foi feita
para ser feliz

As horas

Já se vão tantas horas
sem que ninguém ousasse contê-las
chove lá dentro e aqui fora
lágrimas e luares entre as estrelas

Já se vão palavras tantas
sem que ninguém ousasse respondê-las
sol queimando luas quantas
mormaço e mares bebendo estrelas

Sigo não querendo ver o mundo inteiro
apenas querendo vê-la

Navegações

Os tantos que mediam forças
temiam os mares dos sábios
naufragar é um verbo de ensinamento
querer afogar pode ser sonhar com lábios

tua boca navega em tempo de estio
minha boca parte de encontro a tua
qual correnteza de rio
que beira à margem tranqüila da lua

Nota do autor:

Amor Plural foi escrito até 12 de Setembro em Florianópolis, a partir dessa data em Rio do Sul. Minha ida à Rio do Sul se deu em virtude da campanha política.

Nenhum comentário:

Postar um comentário