terça-feira, 12 de maio de 2009

* MARÇO E ABRIL DE 2009 - Considerações

Considerações quase certas
de olhares quase abertos
que quase encontraram a paixão


jardins, casas, luares, e declarações de amor e suas trocas de endereços

Linhas, limites e cascas de bananas

Às vezes eu caio de quina
Ao escorregar no destino
Uma casca de banana
Entre o homem e o menino

Um crime a ser cometido
Uma arma a esconder
Um enigma a ser lido
Uma vida a entender

Os teus diálogos são contraditórios
Os meus também
Os avessos e os contrários
São imãs no coração de quem?

Quais são tuas pretensões e aonde aportarão?
Entender nossas emoções de agora, pois muitas outras virão...

E se...

Não havia vento, mas se houvesse nem folhas haveria para balançar
Não demonstrava medo, e se tivesse não teria ninguém que o acalmasse
Não havia tempo, e se houvesse não haveria razões para ganhar
Não havia sentimento, e se houvesse não haveria maneira de perdoar

Pergunta

Que lua maior é essa que deslumbra as meninas dos teus olhos,
senão àquela viagem que habitava nossas taças de vinho seco tinto no momento exato do olhar direto das nossas almas?

Para onde foi o nosso olhar, em que frase ele se perdeu, em que fase a lua se perdeu, que mar é esse que eu não conheço?

Uma caneca de café debruçada na varanda acena tristemente para a madrugada e se entrega à insônia.

Cartas

Detalhadamente separou as cartas,
as de amor para um lado de dentro do coração
as de rompimentos para outro lado de fora da razão
as de saudade colocou no fundo da gaveta, onde mora a solidão
e ficou com apenas uma carta na mão:
era uma dama de vermelho que conheceu na noite anterior

Preciso

Para encantar-te tenho que encantar a mim
se não sou inteiro do cerne que venho
como haverei de encantar quem tanto me ama
e precisa do meu bem querer?

O amor precisa de constatação
o amor precisa dizer "que orgulho tenho pelo ser amado"
o amor precisa de admiração

amor sem tudo isso é imprecisão
e não preenche

Metades e linhas e esquecimentos

Sigamos...Meio Fênix, meio Chaplin, meio Chico Buarque, meio Florbela Espanca.
A gente se agiganta quando precisa e quer.
Meio calmaria, meio furacão, meio alquimia, meio razão
A gente se encanta quando precisa e quer.
Meio copo vazio, meio copo cheio

Disfarces

luares pernoitando nas tardes
para disfarçar a solidão
minhas noites em pedaços
cacos embaixo dos tapetes
beijos esquecidos no portão
tua voz vem e faz arder minha pele
tua palavra vem e faz arder meu coração

o tempo é tão tarde
como a frase pronta que não foi dita

Preciso II

navegar é um caminho
que nasce pelas veias do coração
navega pela pele, pelas ondas do corpo

é preciso entender cartografia
é preciso entender de adivinhação
é preciso entender de alma e rotina
é preciso entender de calmaria e de inquietação

amar é um caminho
que navega por toda a emoção
quando termina , por favor, não culpe
a embarcação

é preciso entender filosofia
é preciso entender de distração
é preciso entender de humor e tragédia
é preciso entender de lágrimas e de imensidão

Rapto

tentei o rapto
esqueci de falar com a raptada
colocaram água no vinho
preparam uma cilada
ela disse que me amava
tudo por debaixo dos panos
arquitetei o sequestro
decorei todo o meu plano

dolores bem que avisou
falou de valores e resgate
falou que distância mata
eu disse: então que mate

o amor foi devolvido e nada se pagou por ele

será que era de verdade amor
ou era apenas um sonho
de um poeta sequestrador?

Querer

toda a distância finda quando o querer é todo tempo
mesmo que ainda a imagem desapareça, a voz não grite
a eternidade é palco de qualquer instante, qualquer momento
e todo o dia é alegre, porque tu existes, e me ensinou a não ser triste
e a entender todos os caminhos das velas e dos ventos

As conversas

Os poetas nasceram para conversar... com a solidão.
Nasceram para viver... sozinhos.
No caminho que mistura sentimento com agonia, com razão e com razão imprecisa e
com sentimento vão

E é assim que eles partem
E é assim que eles trincam
E é assim que eles amam
E é assim que eles voltam
E é assim que eles vão

Impossibilidades

Tuas posições imprevisíveis
Tornam meus beijos impossíveis
E o nexo que de nós emana
É um avesso previsível

Minhas intenções beiram o simples
Tuas segundas intenções confundem o claro
Teu álibi é confuso e nos levam ao anti horário
E nosso beijo fica com gosto de contrário

Amor tamanho

Intensidade é uma força sem precisão
Nasce sem planos, sem direção

Só depois que chega pode-se saber que caminho seguirá
E que volume terá e principalmente se será...

Sumiço e outros chás


Avento a possibilidade de sumir
No sentido de aparecer para teus olhos sumidos
Pois sei que quando trinco, parto
“Me” olhas com um olhar de preencher e de encaixar

Quem de nós não trinca
Quem de nós não parte
Quem de nós não brinca
Ao dizer que a vida é arte?

(Dolores acha a frase linda, cutuca Quirina que cochilava e se põe a cantarolar "eu sei que vou te amar").

Final de verão

Todo o calor que vem agora desse verão final de tarde
Arde em minh'alma e cora
Toda a minha claridade

No por do sol nasce uma paixão e invade a minha boca com imã
Lábios colados aos teus
Amor não deveria ser sina

Do amor enlouquecido e menino

Bebo o rum do meu destino
Enlouqueço ao te beber
Fui um amor menino
Que esqueceu de crescer

Perdas

Quando eu perder o que sinto agora
Hei de encontrar o que eu sinto agora

A concordância é bêbada
O nexo é contraditório
E o acaso vai embora
E volta e colhe e beija e começa tudo de novo
Sem hora

Viagens

Viajar quando se quer
Desejo de encontrar
Disfarçar o querer
Quando a vontade chegar

Amor é um calo antigo
Precisa de dor e história
Paixão é um momento preciso
Maria, a moça da praça, a moça da praia

Verdades que doem

Visto a roupa que eu dizia que não vestiria
Um risco absurdo e surdo que surta
Que não me escuta, que me afasta da luta
Àquele desabafo insensato e lógico vira poesia
E a menina normalista com certeza é filha da dita

A queda

a queda vem muito antes da dor
o naufragar começa longe do mar
a solidão vem antes de acabar o amor
a saudade nasce antes do silêncio chamar

A queda

a queda se dá
muitos antes
da dor
o naufragar
nasce muito longe
do mar
a solidão vem
antes de acabar
o amor
a saudade nasce
do silêncio
chamar

Primeiro de Abril

Primeiro fechou bem a gaveta
até seu amor sair
depois abriu
tirou dela uma carta amarelada
e sozinha sorriu
chamou Dolores
e disse em alto e bom som:
Primeiro de Abril

Dominó

Teria a lua a senha do luar para poder barganhar paixões
E essas paixões teriam tempo para entender todas as fases que a lua tem?O luar sem a vontade da lua saberia dizer por que vem
E teria o tempo paciência para esperar o desvendar da senha também?

Recomeços

Desperta a pétala intacta saciada pelos teus sais
Aporta na data exata sonhada pelo meu cais
e o destino recorta papéis e refaz nossos barcos

Invenção

Teu olhar sei agora que foi uma louca invenção
criada para tentar um mundo desenhado por tua boca
e as palavras disfarçavam o erro e ignoravam o coração
inventaste um amor e não avisasse ninguéma
estação primavera corre pelo outono
a solidão vem de trem
Quirina busca no dicionário o significado exato de razão e cai no chão de tanto rir depois de ler a definição)

Madrugada

Café com madrugadacilada do pensamento, grilos, corujas e relógios na varanda bebendo ventos
A insônia deita no sofá e sonha em ganhar a loto
na tela uma vida inteira
na mesa um controle remoto
A solidão é uma faca de corte que desperta o pão dormido
a esperança é uma manteiga
que passa cada página do nosso livro

Caminhos

Boquiaberto
Bebo
Partidas

Bêbado
De tantas idas
De linhas de mãos não lidas

Um mar deserto
De barcos destino
Um leme na mão de um menino

Perdão

Ninguém saberá da palavra não dita
mas ela continuará
a corroer cada linha que escreves
cada silêncio que ensaias
cada grito que se cala
talvez assim manterás tua verdade forçada
e terás por alguns momentos
a sensação da conquista, da vitória

mas o tempo passará
as marcas no corpo aparecerão
e a palavra que não foi dita
todos saberão

Provas

Quem provará o fato acontecido entre nós dois se duas versões correm pelos canteiros?
Quem provará o doce veneno da paixão ou o amargo remédio da ruptura?
Quem saberá o que é doença ou o que é cura?
Quem saberá o que é carnaval ou o que é fevereiro?


Existir

Sei que habitas o mesmo mundo que eu habito
isso já me faz viver
o dito pelo dito
a lembrança que eu mais preciso

A flor
o encanto lis
no jardim querer
nascer
abrir
povoar sonhos
o encanto por si
por si só
é sempre mais do que feliz

Seria apenas uma flor
se essa flor
não fosse um interminável jardim




saudade

isso
ou
isso
tudo

nada
disso
disse
nada

saudade
sem
juízo

saudade
sem
cep
sem
ter

saudade
sem
perguntas
sem
respostas

Ventos

destoa
vento forte
na canoa
vela acessa
vela que voa
onde está o norte da tua estrela?
solidão
destino à deriva
na imensidão
menino que sonha
menino que chora
onde está o trevo da minha sorte?
que vontade que dá
que saudade que dá
que frase é essa que aparece no mar?
(Quirina balança a cabeça,indica que entende, cita Candeia, diz que fará café e abre um pacote de sonhos velhos)


Retornos

Tu me mandas beijo
Eu te amo
Tu queres o mundo
Eu faço planos

Teu mundo habita tantas bocas
Teu calendário rasga folhinhas
O meu transforma dias em anos

O teu gostar é amplidão
O teu gosto é todo mundo
Eu te mando meu coração,
mas não sei onde anda o teu
Eu te mando horas,
mas não recebo nem um segundo

Panos quentes

Os trilhos de um trem enlouquecido
São panos quentes que colocaram em teu caminho
Que sequestraram o maquinista
Que embebedaram o equilibrista
Que santificaram o golpista
Que tiraram meu nome da lista
Os trilhos desse trem destino namoram agora uma encruzilhada
E não querem filho.

Correio

O correio devolveu a carta
A vida não leu
O destino rompeu a linha
Que nem eu

Nem o selo colou mais
E o amor esqueceu quem remeteu

E a vida devolveu

Por muito menos

Ao menos disse tudo
Quase nada eu diria
Gritos de ficar mudo
Olhares de quem não via

Por muito menos mudei de CEP
Por quase tudo mudei de cor
Por tudo isso mudei de leste
Só não consegui mudar de amor

Nós

Nós para atar
Nós atados
Nós sem par
Cegos por nós
Nós soltos
Despercebidos
Nós lidos
Esquecidos
Nós para juntar
O inconcebível
Acredito ainda
Em nós para sempre

Saberes


De mim quem saberá?
Haverá algum coração que eu poderei dizer o que exatamente quero?
Insegurança é uma dança que nos leva a aprender a dançar

Minha música terá nome?
Quem saberá?
Quem cantará?

O labirinto

Ao labirinto respondeu: - Dane-se
E se pôs a recitar versos desconexos
Que alçavam voos por entre luares intensos

Como se perder fosse o caminho procurado
Como se não houvesse na partida, lenços

Navegar ou negar

Todo o mar é bebido agora
Bêbado navegador
Que na noite alta
Busca intensamente seu amor
E é naufrago da própria paixão

Buscas

Há tanto azul.
Eu sei.
Vou buscar.
Há cantos e terei tempo para cantá-los.
A madrugada me encanta.
Há tanta lua que virá,
que o silêncio de agora
já não mais espanta.

Traduções

Prontamente bebeu num gole só o fim
A garganta desfez o nó.
E milagrosamente reinventou frase.

Depois foi até a dispensa.
Pegou uma garrafa de mar.
E bebeu num gole só.

Por fim,
Lavou a alma com a última lágrima que havia
E, depois de muito tempo, sorriu.

Faltava o beijo,
que o tempo se encarregaria de traduzir.

Amor

Há precisos segundos passou pelo meu mundo
Como se não tivesse jeito
Nem pudesse ser preciso

Recomeçou à esmo um novo tempo
E por “saber-me” bem mais do que eu
Abocanhou em si mesmo a pouca esperança que ainda possuía

E assim novamente nasceu

Procura

Eu vejo papéis amassados que seriam desabafos profundos
Paixões profanas de outros mundos
Mexem com os corações amados

Quero agora um só beijo
Um beijo de uma mulher que goste de sonetos
Independente qual seja o nome dela

Melhor assim

Não há jeito
Então
Façamos silêncio
Ou gritamos mais?

Sei lá.

Tua voz não me diz o que me dizia

Se teu nome fosse Maria, ou Berta, ou Beatriz
Eu diria: tanto faz

O que eu quero tem o teu jeito, mas será que és tu?

Melhor assim II

Eu não tenho jeito
Que jeito eu teria
Bateu sempre mais forte o meu peito
Do que a minha teoria

Jeito por quê?
Por que se deve ter jeito?

O jeito esquematizado ou o jeito desconexo?

Qualquer que seja o jeito
Que seja bem feito.

Nem sei

Já não sei mais de mim o que outrora foi minha verdade
nada agora me completa, nem me fascina, nem ao menos me provoca já não sei mais se meu querer tem a ver com meu lamento
nada mais me devora, nem me ilumina, nem me faz esperar a horas
ou agora ,talvez, uma pessoa mais próxima do que eu sempre quis ser
a felicidade deverá demorar um pouco, mas virá
meu sumiço vem em saquinhos feito chálogo apareço mais inteiro e serei primeiro feliz comigo
só depois entenderei de vez às dores que o caminho me impõe

Desatinos

O destino desatina joga a embarcação em alto mar
engole o tempo
engasga com vento
muitas vezes nem quer andar
tuas linhas riscam a folha branca
minha vida quer desenhar
tuas linhas jogam as tintas sobre um manto
como se quisessem colorir o beijo
o destino desatina o mar para ser bebido
o mar para naufragar
o mar para ser servido com pitadas generosas de "tentar"
o destino desatina muitas vezes só para nos "acordar"

A música

Eu acredito numa música que sempre me acompanhou
Com acordes ritmados do coração
E quando a vida bate sem ritmo
Ela nasce do meu desejo de escutá-la

Uma música que minha mãe e pai cantarolavam
E ainda cantarolam

Isso é o que importa
Que abre a porta e deixa
A felicidade entrar

Meu coração quer cantar
E busca
E sonha
Com outro coração que ainda acredite em harmonia

Pertinente

Disse-me assim: teu amor é pertinente
Para ser pertinente precisa estar relacionado ou harmonizado com alguém e assim se for pertinente realmente, a parte relacionada deve contar com algum elo, encaixe ou razão

Se disseres que meu amor é pertinente
Escutarei, vens

Então, muito cuidado com as palavras
Muito cuidado com seus significados
Pertinente é meu desejo quando falo do meu amor
O teu sentimento é pertinente a alguém
que não sou eu... ou serei eu?

Minha confusão é pertinente

Quadrinha de um abril sonolento esperando as manhãs de maio

Quando vi que meu olhar desenhava um outono
Vi folhas mortas e poesias antigas com tanta sede
Despertei assim de um longo e preciso sono
Reguei cores, recuperei sóis, vi de novo campos verdes

Teatro

De forma alguma
Eu disse: corta
Nem ousei dizer que
“Inês é morta”
Muito menos disse: não acredito
Quando gritaram bis

No meio da peça eu já sabia
Que desse jeito não poderia ser feliz
Decorastes bem os textos
Os rabiscos e as poesias

Agora no final da peça
O destino deu um salto
Mostrou todas as máscaras
Que viviam nos teus palcos

A forma

A forma pode ser deformada por um toque, palavra, ação
O amor deforma quando não há verdade
O amor precisa também de razão
E conhecê-las é uma forma de bem amar

(Quirina ouve com atenção e comenta baixinho no ouvido de Dolores: “e eu passei a vida inteira dizendo que o amor tem razões que a própria razão desconhece”. Dolores balança a cabeça e diz: Àquele meu último amor tinha razão. Quirina responde: Com esses versos acho que perdi minha razão. E sozinhas, ligam a tv e assistem a "Grande família").

O fim

interruptores moram n’alma

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