quinta-feira, 27 de março de 2014

Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...


Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...

  
Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,

eu seja inocente... 
Química

O amor pode pegar segunda época em química,
só não pode perder o ano por ela...
Outras matérias são importantes: a matemática, a física,
a arte, a geografia (ah... a geografia), o português...
entender a língua... e a história... como disse alguém especial, química sem história não teríamos o que contar.
Então, se precisarmos de lições de química, façamos...
Enfim... No fim das contas, sobram os sorrisos... e amor tem tudo a ver com sorrir...

Copos  
           
Um copo d´água beira também a inundação
é preciso entender os mares, as marés e os ventos
e saber diferenciar cada embarcação
a água que mata a sede também é lágrima em outro momento
quem haverá de entender rios apaixonados por correntezas?

Morde, assopra e cura      

Amo sempre como nunca.
Ainda é cedo para amar tarde.
Paixão é mercúrio.
Amor é mertiolate.








Queimas                                                                                                             

És um toque de quero mais
num sol intenso
que diz "não quero" querendo

as manhãs tomam formas de copos
e bebem minhas poucas palavras

em braile acho tua nuca e a beijo


O acaso

O acaso me protegeu todo esse tempo
Bem em alguns casos
Muito mal na maioria
Mas sei que ele é meu amigo
Pois escreveu lindas histórias
E sempre me contava todas
E me avisa quando o “tudo” não podia ser interpretado
O acaso me fez café na insônia,
O acaso me fez dormir na festa,
O acaso me fez dormir na insônia,
O acaso me fez café na festa












Colcha de retalhos  

Meus amores estão nas entrelinhas de minha poesia
estão cobertos de rimas
estão encobertos por uma poeira fina de nome paixão
juntei tecidos tantos por tantos anos
tecidos suaves, finos, retalhos diversos e seda e chita
costurei uma colcha quente de lembranças
para acalmar meus invernos

Versos portugueses

É meu cansaço que me ergue
no exato momento em que me falta o ar
mesmo que minhas pernas se neguem
meu desejo me faz andar

Estanca de repente também meus ais
nenhuma palavra, nenhum gemido, nenhum gosto
minhas dores aportam em meu cais
engulo a seco e disfarço as lágrimas em meu rosto

Às vezes para seguir é preciso conviver com a dor
um espinho no pensamento, um punhal preso ao peito
uma luta incessante da escuridão com a cor
como se houvesse pregos em toda cama que deito






Há tempos

Há tempos
navegar era um ato de remos e lágrimas
Águas que rolavam de rostos
entre ondas que quebravam em gritos
em calmarias que encaminhavam barcos

Há tempos
naufragar era um ato de provocar a sede
Hoje mares moram em copos
Imensidão é uma questão de tato

Frases soltas presas ao tempo        
                                              
A confusão ardia
noites quentes
ventos de calmaria
mormaços de Joanas e Marias
bêbadas madrugadas sem fatias
tempo do presente não tão perfeito
olhares sem garantias
orações sem leitos
saudade tatuada em folhas de samambaias



Hiatos de Março                  
              
A saudade é um mar
onde levo minha embarcação
e de tanto remar
aprendi a conversar com a solidão

Confusões

Olhares beiram mares
lágrimas confundem águas
mágoas inundam praias
a solidão navega às cegas
ignorando tantos luares
a hora é quase certa
o tempo é quase fuso
minha certeza naufraga
o exato é tão confuso

Guardar         

Um terno de linho branco,
uma colcha de ternura,
um baile em noite clara,
uma lua no Campeche,
quem guarda não perde.






Solidão

É tarde
a noite arde
é pressa
a lua cresce
é madrugada
a nuvem passa
é frio
o conhaque aquece
e um estopim brinca à beira de uma fogueira

Essa chuva

Acende uma chuva aqui dentro
Vindo de um lustre com uma luz fraca
Uma dor conta pingos
Uma espera que o destino crava
Um “não sei lá” que responde tudo
Uma alma que não se lava
Um grito encharcado e mudo
Um querer quase absurdo
Vontade de te ver
Um amor que me faz ser
Tudo aquilo que eu sempre quis ser
E essa chuva que não passa


Retratos
          
Visto a roupa que eu dizia que não vestiria
Um risco absurdo e surdo que surta
Que não me escuta, que me afasta da luta
Àquele desabafo insensato e lógico vira poesia
E a menina normalista com certeza é filha da dita

Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
Se errei foi com muita convicção








O corpo

Lateja o corpo com o cair da chuva
Aumenta a sede mesmo com tantas águas
Existe a mágoa
Existe o frio
Sabemos onde está a luva
Mas não mais a queremos
Barcos à deriva
Sempre em desafio
E uma faca se insinua
Mesmo sem mostrar o fio
Lateja o corpo
Explode a alma
O caminho torto
É bem mais confiável

Sem medidas

Plural é mais de um
O amor então é plural
Nem se pode dizer que são dois
Metade é um "tanto impreciso"
Feijão, farinha, arroz


O amor e seus fusos-horários

A lua na sacada
Cai num copo de vinho
A noite é uma cilada
E também é um ninho
O significado de prender
Depende do estado de querer
Ou não querer estar sozinho

A felicidade é uma medida inexata
Entre o amor e a pessoa sonhada
Numa linha traçada sem data
De um calendário que move o coração
E vem um amor em hora errada
E transforma a pessoa amada
Numa chuva breve de verão

A chuva

A chuva limpa e também leva/a chuva é luva e lava/minha boca encharca com o café/minhas asas moram longe dos meus pés/a chuva brinca de passar a limpo/tudo nesta hora foge dos sentidos/o silêncio e o querer viram nuvens carregadas/e é preciso esperar outra chuva para entender e aliviar a tempestade...






Línguas

Eu já nem sei o que meu querer quer me dizer
Talvez esteja mais confuso do que eu
Talvez não entenda que para esquecer
É preciso explicar o que aconteceu

Ao passo que os quereres têm “quês”
E que eles não falam uma mesma língua
O teu querer fala por sinais
E o meu fala somente português

Preciso assim que reflitas e sintas
Que a vida precisa tanto de bem querer
E que o amor pode nascer
Na invenção de uma outra língua

Tudo ao seu tempo                                                                                          

O que estava tão longe se vê à beira
um toque agora desenha o encaixe
com peças de um quebra-cabeça
guardado pelo tempo
um relógio quebrado não retarda hora alguma
tudo ao seu tempo
e o amor não é cúmplice do meteorologista






Aparentemente o querer transparece

Quase por quase não querer que o espelho enxerga não querendo ver
Num instante presume que o amor é constante, noutro beira o acaso
Diz que não quer, que não sente saudade e disfarça assim o querer
E quer que o tempo corra, pois meio poço cheio de um ângulo é raso

Imensidão pode encher parcialmente um dedal
Um vazio pode preencher totalmente o tanto
O vento muitas vezes não quer falar com o varal
E bem no canto do canto mora um canto

Aparentemente o querer transparece II

O amor não deverá impor nem precisará se puder ser o que será
Uma questão de jeito numa imensidão que ele chama de incontido
Num tanto que às vezes parece pouco, mas inteiramente fará
Entenda minha declaração tal um livro misterioso não lido

Nasceu a flor mais linda num jardim indefinido
Mas mesmo assim a beleza existe e se faz presente
O entendimento mesmo não lido faz do livro
Tudo o que o coração diz preciso

O entender vai de encontro ao inexplicável
Seria exato se o encontro se propusesse a não se conter
O silêncio nas entrelinhas grita inteiro em descompasso:
Que uma grande paixão pode sem querer desaparecer






Canção de Betty Blue

Quando tudo estava a se perder
E o caminhar acenava em não voltar
Quando o desejo mentia para o querer
E o querer queria se enganar
Quando o riso não fazia tanta falta
E o abraçar desprendia-se do corpo
Quando a febre da paixão não era mais alta
E da paixão não se sentia nem um sopro

Quando o olhar dentro dos olhos mudava os sentidos
E o mais que tanto não enchia os nossos mundos
E a cena do beijo realmente era encenação
Viu-se distante todo o amor que se havia vivido
Não havia mais palavras nem gestos, só olhos fundos
A dor veio, tal uma lança cruel e cega, e levou meucoração

...

Mora um mar em teus olhos e eu me banho...
Feito o ar

Medida desmedida
Contida, sentida, amada
Muitas vezes, recriada
Por faltar fazer sentido
E ao mesmo tempo precisa
Inteira feito um vento
Que abala e direciona
Medida que não se clona
Um ciclone feito do desejo
Do teu beijo
Que nunca me abandona
És um soneto que não se conta
Que se guarda e que se vive
Que jamais me deixa triste
Por que amar deve resultar sorrisos
Somente teu olhar agora me faz sentido
Por que escolher um amor
É escolher o ser querido
Independente do triz
Da medida desmedida
O importante é que nasça da escolha
E de uma alma feliz




Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.

Espumas
                                                                                                             
Vejo a tristeza que se espelha.
Ao ver minh‘alma que parte.
Felicidade é um fogo de palha.
Que queima, que provoca, que arde.

Mora um hiato que teima em provocar.
Um abraço de esquina que não se esquece.
Vez por outra vens feito onda de mar.
Quebra, insinua e desaparece.






Embarcações
          
Vislumbrava a cor daqueles olhos que há tanto não via.
E lia nas entrelinhas da noite escura uma claridade.
Olhos de dor, mas ao mesmo tempo de inundação de mar.
Provocações de bar e recados em guardanapos.
Saudade recém-chegada.
Saudade embarcada.
Saudade distraída.
Caída diante dos olhos sonhados.
Caída deliciosamente sobre o corpo.
Caída intencionalmente no colo querido.
Vislumbrava a cor daqueles olhos,
Para poder estar mais perto daqueles olhos tão amados.
Incendiados por uma solidão incontida.
Detalhada em sonhos que vivi acordado.
Vislumbro tua chegada todos os dias, todas as manhãs.
Quando da tua chegada descreverei realmente o que seja claridade.
E entenderás todo o tamanho das palavras que escrevo agora.

O Quando                                                            

"Quando" era um menino sozinho...
apaixonado pela menina dos olhos
mas "Quando" sempre esperava o tempo exato
e o tempo exato nunca chegava.
ah... até quando, Quando, até quando...












O amor

O amor deve fazer sorrir.
Arreganhar os dentes.
Dar gargalhadas.
Chorar de tanto rir.
O amor deve ser assim.

Um sorriso no rosto.
Um amor no coração.
E não venham me falar.
Que amor precisa de decoração.

O amor vive em si.
O amor é por si só.
O amor não quer dó.
O amor quer só ser.

...

Os medos são retalhos de uma vida.
Colchas em formas de frio.
Recados na varanda.
Correnteza de rio.





Coisas de guri

Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater na porta dela e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...

A lua asa de sonho no céu cor do querer nas estrelinhas nas entrelinhas sem vírgula sem ponto sem métrica algumas palavras soltas formando um mar um reino um planeta a lua mágica dizendo tanto fazendo canto a lua assim feito chuva molhada invadindo o corpo luar certos momentos não precisam de entendimento eles só são precisos o acontecer é um luar que nos cabe todas as fases da lua tem um mar escondido sem vírgulas

Perto (quando a ficha cai)

O amor não tem CEP.
Mas o amor é certo.
O amor pode existir.
Mas só acontece perto.

O menino

Nada agora pode causar surpresa
a não ser àquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"
o levará para qualquer lugar...







Quase

É a medida exata do meu amor.
Do meu amor de toda uma vida.

Minh’alma nasceu com o amor tanto.
Desesperadamente tanto e mais.

Minha vida viveu do amor quase.
Encantadoramente quase e tanto.

Não que isso não me fizesse.
Amar muito e tanto e mais.

Mas por achar que no final das contas,
todas as contas não contariam todas as medidas.

Deixei as histórias dos meus amores mais suaves.
Assim, entre as gavetas, escondidos entre os rabiscos, moram os meus “quases”.

Distância

De novo não estás aqui.
Eu faço de tudo para que mesmo assim estejas.
Loucura da não presença que acompanha,
que me almoça, e me janta, que dorme aqui.






Verbos apaixonados

O que era visto de repente vem e alucina
Mexe, complica, mistura, confunde, liquidifica, intriga, faz rolo, disfarça, chama briga, aumenta, apaixona, diz que fica, depois não liga

O que já era visto de repente transforma e incendeia
Toma forma, encanta, modifica, duplica, espalha, reinventa, faz colo, diz que vai, depois codifica

Viajantes
                      
Parti.
Parte de mim ficou.
E essa é só uma parte da história.
A outra acho que quebrou...
Tudo era tão encantado, como se fosse um reino mágico...
Parti inteiramente em cacos sem quebrar.
Quem haverá de dizer que metade é algo pra juntar?

Tarde demais para interpretações
                    
O fato é que o agora já é tão tarde.
Que o calendário é apenas uma folha de outono.
E cada dia que passa, arde.
Amor não pode virar abandono.






Vias de fato

Tuas palavras invadem meu silêncio e minha casa
Provocam meus gestos e desenham minhas poesias
Perco-me na estranha sensação de não estar no comando do barco
Julgo que perdi minha bússola, meu mapa e, minhas asas
O fato que teu sorriso é de fato minhas reais vias
E falar de amor sem falar teu nome faz o amor vago

Nossa história é história de final feliz e todo mundo sabe
Pois existe uma varanda esperando nosso beijo
O destino atiça, provoca e sempre nos coloca perto
E o sentimento por ser mais do que o tanto não cabe
No significado mais amplo do que seja querer e desejo
Um dia, eu sei, daremos bem certo

Cumplicidade

Quero voar por entre o sol dos teus olhos e a chuva dos teus ais,
Para entender de todo tuas águas, teus risos,
Para colorir de todo o teu cais...
Quero voar por entre a lua nova da tua vida e o mar de ondas da tua indecisão,
Para entender de todo teus sonhos, tuas partidas,
Para colorir de todo tua volta...e teu coração.

...
Amor tem que fazer rir... Abrir um sorriso como quem abre a cortina e vê o sol...