Um amanhecer mora na boca quando vem o café...
Sou manhã quando eu quiser...
Meu relógio não adianta, ele não quer...
O hoje faz acordar...
Agora é um tempo que não se pode perder...
Um amanhecer mora na boca quando vem o café...
Sou manhã quando eu quiser...
Meu relógio não adianta, ele não quer...
O hoje faz acordar...
Agora é um tempo que não se pode perder...
Meus olhares chuvosos
De manhãs que nem sei
Sou aquilo que faço
Minha vontade não é de ninguém
E se não sei do fato
Eu digo “não sei”
Meus passos molhados
De tardes que nem sei
Sou aquilo que ardo
Meu arder não é de ninguém
E se não comento o rapto
É por que não entendo da lei
Meus pensamentos encharcados
De noites escuras de insônia
Sou aquilo que sonho
Meus sonhos são asas dos meus amores
E se não alardeio meus desejos
É por que eles também pertencem a alguém
Baldes de mares
teimam em encher dedais
Assim esquecemos os
beijos no meio da tarde
Das cartas redigidas
a mão
É preciso
surpreender
O amor necessita de
arrepios e friozinhos na barriga
Amor não tem botão
de liga e desliga
Botões que valem de
verdade
São os que
deliciosamente abrimos para sentir o corpo amado
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...
Nestes dias tão corroídos
Doidos e doídos
De mitos, de livros não lidos
De homens acuados
De rios poluídos
De mulheres violentadas
Ultrajadas, reprimidas
Num Brasil que mata o pobre
Num Brasil sem arte e sem comida
Nestes dias tão corroídos
Doidos e doídos
De lamas a cobrir mundos
De inundar sonhos perdidos
De sorrisos fuzilados
De famílias dizimadas
Apologia ao bandido
Na sarjeta dormem crianças
Num sistema sem sentido
Nestes dias tão corroídos
Doidos e doídos
De leis a proteger o forte
De bússolas a esconder o norte
De mortes que morrem caladas
De gritos e apelos enterrados
Pelo poder da milícia
Os lixões são pratos feitos
Nas valas 600 mil vidas
Autobiografia