quarta-feira, 4 de novembro de 2009

NOVEMBRO de 2009 - Pequenas histórias que você imaginou escrever e que de repente aconteceu


Tanto quanto se sente

Ofegante o de repente

Que chega tão frio e não se sente

Que preenche o não ser ausente

Pois é tão rio

E ao mesmo tempo mar corrente

Que de tão sincero, mente

Teu olhar navega instigantemente

O que era toda vida

Vira instante num triste canto

E o que nascera triz

E nada se esperava

Alucina, explode, encharca, vira tanto


Ana II

Mistério de menina

Em olhos de mar

Longe e tão perto

Lábios para sonhar

Fica o olhar

Como fosse imã

Teu corpo me faz viajar

Sinto que

Pelo andar do vento

Lá se foi minha calmaria

Mas ganhei tempo


Ana III

Vejo velas novas

No mesmo mar

Tudo novo na mesma vida

Desejo à queimar retas

Curvas para celebrar paixões

Que de repente deixou de ser secreta

Redescobri assim meu coração


Agora

Agora

Destoa do agora

Depois entoa

Àquela música

Quebra

Dilacera

Sofre

Aprende

Encara

Fortalece o agora

Como se o minuto

Fosse a eternidade

E tua boca o paraíso


Ana

O lençol é bêbado

O anzol é bêbado

O farol é bêbado

O carrossel é bêbado

O acolchoado é são

O caniço é são

O mar é são

O cavalo é são

A alma sã e o corpo não?

A vida sã e a morte não?

Mas teu corpo aquece tudo

Sara tudo

E recupera meu sorriso num beijo


Lobos

Vila Lobos transformou o trem em luares caipiras

E hoje eu viro lobo para beijar a lua

E escutar tuas eternas liras

A música nos ensina a fazer melhor o amor


A dor

Vale-me a dor

Quando a dor

Faz o olhar

Mais claro

Admito o arder

Quando o querer

Me faz “tardiar” o erro

O livro não lido

É o prazer não consumido

Num quase não querer acontecido

E o amor assim é quase


A cor

A minha cor não tem a cor tua

Já teve a tua cor a minha cor

Já chamei amor o que era só loucura

O teu beijo já foi a minha cura

E a lua que era nova e nua

Nascem esquecendo a dor

Éramos torpor

Antes de sermos ternura

Isso preenchia o cedo

E fazia esquecer o temor

Estávamos a um beijo de tudo


Tanto

Atiça a lua o tanto

Um rastro deixa no quarto

E dorme a tristeza sem par

Pois corpos se prendem no ato

Inventa-se assim a eternidade

Independente do próximo minuto

E dorme a tristeza de luto

Pois corpos se atrelam a felicidade

Um canto de mar resgata o barco

Águas de olhos de quem foi náufrago

Pousam asas beijando a embarcação

Pois corpos renascem na lua e na compreensão


Teu olhar

Teu olhar de tantos dias

Faz o meu dia bem feliz

Sem teu olhar não faço poesia

Teu olhar me faz um eterno aprendiz


Teu rosto

Teu rosto é lua tão clara

Sorriso que diz amor

“Lumiar” de jóia rara

E ao mesmo tempo simples

Por isso nasceu flor


O corpo

Lateja o corpo com o cair da chuva

Aumenta a sede mesmo com tantas águas

Existe a mágoa

Existe o frio

Sabemos onde está a luva

Mas não mais a queremos

Barcos à deriva

Sempre em desafio

E uma faca se insinua

Mesmo sem mostrar o fio

Lateja o corpo

Explode a alma

O caminho torto

É bem mais confiável

(frases soltas num liquidificador)


Fuga

Sou fuga porque não claro

Das trevas que nunca fui

A lua que faz ranger os dentes

Em nuances que racham as lentes

De uma paixão ardente

Que transpõem o nexo

Por um triz eterno

Que só quem ama, sente

Que só quem vive, sabe da dor


Primeiro dia do final também é o primeiro dia do reinício

Manhã

Com sol

Com chuva

Imã

De retas

De curvas

Vã e complexa

Completa e clã

Meia noite e meio dia

Num mesmo tempo

Calmaria e vento

E assim se fez

Tudo assim

Diferente

A eternidade

E o de repente

Como se tudo começasse agora

E nada pudesse me deter


Querer

Algumas vezes

O querer

Quando não quer

Disfarça, usa máscara

Vira camaleão

Outras vezes

Transforma o amor

Vira retalhos

Vira solidão


Atemporal

Corpo quente provoca um temporal

Atemporal foi minha paixão

Que agora

Tem data de fim

A lentidão da minha compreensão

Pelo menos preparou o jardim

Uma flor que mora longe

Ainda me faz sorrir

Regar é um verbo de ligação


Esquecimento

Esqueci de vez

Não haveria mais motivo

Nem hora

Não haverá

Mais tempo

Nem compreensão

Apaguei teus sinais de tudo

Tirei a fotografia do criado mudo

E meu amor

Deixou de ter nome

Que venha a surpresa de um olhar primeiro

Que eu ainda não conheço


Misturas

Tinha um gosto de mar no café e ela trouxe a cachaça e a mistura tomou conta da noite e a insônia provocou a tara da poesia e quase sem querer bebi o tanto e as vírgulas e um engov que me olhava atravessado na manhã seguinte


Autobiografia

Não é meu choro que chora

É a minha vida que agora sorri

Quis partir, quis ir embora

Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente

Se voei demais foi por intenção

E quem não entendeu esse voos

Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz

Porque aprendi que a vida é emoção

Não troco abraço de amigo por nada

Não troco beijo da mulher amada

Se errei foi com muita convicção


Rubro (Para Mateus)

Cor do coração.

Paixão.

Lance para não esquecer.

Sangue. Veias. União.

Tesourinha, Figueroa, Mateus, Falcão.

Foi Campeão invicto quando nasceu.

79 ano da coroação.

Rubro por todos os cantos, todos os risos, todos os prantos.

Linha de ataque para a emoção.

Rubro de emocionar e nasceu com a pele rubra,

E assim nasceu meu irmão.


Para Florbela

O presente em preto e branco

Na poltrona o passado colorido

O futuro gravado ontem

Roteiro novo de um livro “tantas vezes lido”


Entre a carruagem e o andar

Todo o andar desse mundo

Agora é teu andar

Andar de ilha e de porto

Andar de rio e de mar

Andar de alma e de corpo

Guaíba e Conceição

Praça XV e Redenção

E se a vida assim quiser

Varanda e rede

Areias no pé

E um amor de uma vida inteira

Para contar

Entre a carruagem e o andar

Entre o mar e à beira


Por ti

Vem de ti todo o meu riso

Até o riso que se foi, voltou

Vem de ti em brumas intensas

Incendiando aldeias da primeira emoção

Vem de ti todo o meu pranto

Até o pranto que se foi, ficou

Vem de ti em lumes incandescentes

Iluminando palavras não ditas inteiramente

Vem de ti todo o meu querer

Até o querer que se foi, tatuou

Vem de ti em hiatos latejantes

Recriando o amor em minha compreensão

Só assim preencho tua falta

Com minha saudade e minha solidão

Como um punhal que a mim corta

Busco encontrar meu coração


Duas quadrinhas de nunca e de sempre

Beira o triz

Beira o tão

A flor de lis

Já foi botão

Beira o par

Beira a solidão

A estrela do mar

Já foi constelação


Quadrinha da paixão confusa

A intensidade apaixonou-se por um interruptor

Levou um choque e achou que era amor


Dualidades

Quando fui exato perdi a noção

Quando fui livre me prendi em tua mão

E quando me disseram que era tarde

Aprendi que o tão cedo depende da compreensão

O amor é um risco

Curvas apaixonadas

Sem direção


Poeminha

À noite antes de dormir escrevo solidão no espelho com o creme de barbear

para quando acordar amanhã não esquecer que existe tatuado nos reflexos um verão

que mistura-se aos invernos, aos outono, as primaveras

de um querer independente de estação


Poeminha para Paloma Brum

Cantiga de flor

Abelha fazendo zum

Mel e sal, mar e sol

Retrato de Paloma Brum

Madalena e olhos de voo

A vida fazendo zoom

A flor tatuada em versos

Na pele de Paloma Brum