Tanto quanto se sente
Ofegante o de repente
Que chega tão frio e não se sente
Que preenche o não ser ausente
Pois é tão rio
E ao mesmo tempo mar corrente
Que de tão sincero, mente
Teu olhar navega instigantemente
O que era toda vida
Vira instante num triste canto
E o que nascera triz
E nada se esperava
Alucina, explode, encharca, vira tanto
Ana II
Em olhos de mar
Longe e tão perto
Lábios para sonhar
Fica o olhar
Como fosse imã
Teu corpo me faz viajar
Sinto que
Pelo andar do vento
Lá se foi minha calmaria
Mas ganhei tempo
Ana III
Vejo velas novas
No mesmo mar
Tudo novo na mesma vida
Desejo à queimar retas
Curvas para celebrar paixões
Que de repente deixou de ser secreta
Redescobri assim meu coração
Agora
Agora
Destoa do agora
Depois entoa
Àquela música
Quebra
Dilacera
Sofre
Aprende
Encara
Fortalece o agora
Como se o minuto
Fosse a eternidade
E tua boca o paraíso
Ana
O lençol é bêbado
O anzol é bêbado
O farol é bêbado
O carrossel é bêbado
O acolchoado é são
O caniço é são
O mar é são
O cavalo é são
A alma sã e o corpo não?
A vida sã e a morte não?
Mas teu corpo aquece tudo
Sara tudo
E recupera meu sorriso num beijo
Lobos
Vila Lobos transformou o trem em luares caipiras
E hoje eu viro lobo para beijar a lua
E escutar tuas eternas liras
A música nos ensina a fazer melhor o amor
A dor
Vale-me a dor
Quando a dor
Faz o olhar
Mais claro
Admito o arder
Quando o querer
Me faz “tardiar” o erro
O livro não lido
É o prazer não consumido
Num quase não querer acontecido
E o amor assim é quase
A cor
A minha cor não tem a cor tua
Já teve a tua cor a minha cor
Já chamei amor o que era só loucura
O teu beijo já foi a minha cura
E a lua que era nova e nua
Nascem esquecendo a dor
Éramos torpor
Antes de sermos ternura
Isso preenchia o cedo
E fazia esquecer o temor
Estávamos a um beijo de tudo
Tanto
Um rastro deixa no quarto
E dorme a tristeza sem par
Pois corpos se prendem no ato
Independente do próximo minuto
E dorme a tristeza de luto
Pois corpos se atrelam a felicidade
Um canto de mar resgata o barco
Águas de olhos de quem foi náufrago
Pousam asas beijando a embarcação
Pois corpos renascem na lua e na compreensão
Teu olhar
Faz o meu dia bem feliz
Sem teu olhar não faço poesia
Teu olhar me faz um eterno aprendiz
Teu rosto
Sorriso que diz amor
“Lumiar” de jóia rara
E ao mesmo tempo simples
Por isso nasceu flor
O corpo
Lateja o corpo com o cair da chuva
Aumenta a sede mesmo com tantas águas
Existe a mágoa
Existe o frio
Sabemos onde está a luva
Mas não mais a queremos
Barcos à deriva
Sempre em desafio
E uma faca se insinua
Mesmo sem mostrar o fio
Lateja o corpo
Explode a alma
O caminho torto
É bem mais confiável
(frases soltas num liquidificador)
Fuga
Sou fuga porque não claro
Das trevas que nunca fui
A lua que faz ranger os dentes
Em nuances que racham as lentes
De uma paixão ardente
Que transpõem o nexo
Por um triz eterno
Que só quem ama, sente
Que só quem vive, sabe da dor
Primeiro dia do final também é o primeiro dia do reinício
Manhã
Com sol
Com chuva
Imã
De retas
De curvas
Vã e complexa
Completa e clã
Meia noite e meio dia
Num mesmo tempo
Calmaria e vento
E assim se fez
Tudo assim
Diferente
A eternidade
E o de repente
Como se tudo começasse agora
E nada pudesse me deter
Querer
Algumas vezes
O querer
Quando não quer
Disfarça, usa máscara
Vira camaleão
Outras vezes
Transforma o amor
Vira retalhos
Vira solidão
Corpo quente provoca um temporal
Atemporal foi minha paixão
Que agora
Tem data de fim
A lentidão da minha compreensão
Pelo menos preparou o jardim
Uma flor que mora longe
Ainda me faz sorrir
Regar é um verbo de ligação
Esquecimento
Não haveria mais motivo
Nem hora
Não haverá
Mais tempo
Nem compreensão
Apaguei teus sinais de tudo
Tirei a fotografia do criado mudo
E meu amor
Deixou de ter nome
Que venha a surpresa de um olhar primeiro
Que eu ainda não conheço
Misturas
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui
Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esse voos
Foi porque não entendeu meu coração
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
Se errei foi com muita convicção
Paixão.
Lance para não esquecer.
Sangue. Veias. União.
Tesourinha, Figueroa, Mateus, Falcão.
Foi Campeão invicto quando nasceu.
79 ano da coroação.
Rubro por todos os cantos, todos os risos, todos os prantos.
Linha de ataque para a emoção.
Rubro de emocionar e nasceu com a pele rubra,
E assim nasceu meu irmão.
Na poltrona o passado colorido
O futuro gravado ontem
Roteiro novo de um livro “tantas vezes lido”
Entre a carruagem e o andar
Todo o andar desse mundo
Agora é teu andar
Andar de ilha e de porto
Andar de rio e de mar
Andar de alma e de corpo
Guaíba e Conceição
Praça XV e Redenção
E se a vida assim quiser
Varanda e rede
Areias no pé
E um amor de uma vida inteira
Para contar
Entre a carruagem e o andar
Entre o mar e à beira
Até o riso que se foi, voltou
Vem de ti em brumas intensas
Incendiando aldeias da primeira emoção
Vem de ti todo o meu pranto
Até o pranto que se foi, ficou
Vem de ti em lumes incandescentes
Iluminando palavras não ditas inteiramente
Vem de ti todo o meu querer
Até o querer que se foi, tatuou
Vem de ti em hiatos latejantes
Recriando o amor em minha compreensão
Só assim preencho tua falta
Com minha saudade e minha solidão
Como um punhal que a mim corta
Busco encontrar meu coração
Duas quadrinhas de nunca e de sempre
Beira o triz
Beira o tão
A flor de lis
Já foi botão
Beira o par
Beira a solidão
A estrela do mar
Já foi constelação
Quadrinha da paixão confusa
A intensidade apaixonou-se por um interruptor
Levou um choque e achou que era amor
Dualidades
Quando fui exato perdi a noção
Quando fui livre me prendi em tua mão
E quando me disseram que era tarde
Aprendi que o tão cedo depende da compreensão
O amor é um risco
Curvas apaixonadas
Sem direção
Poeminha
À noite antes de dormir escrevo solidão no espelho com o creme de barbear
para quando acordar amanhã não esquecer que existe tatuado nos reflexos um verão
que mistura-se aos invernos, aos outono, as primaveras
de um querer independente de estação
Poeminha para Paloma Brum
Cantiga de flor
Abelha fazendo zum
Mel e sal, mar e sol
Retrato de Paloma Brum
Madalena e olhos de voo
A vida fazendo zoom
A flor tatuada em versos
Na pele de Paloma Brum