sexta-feira, 8 de maio de 2009

* ABRIL DE 2008

Pratos 10 de Abril

Alimento-me hoje de hiatos bem passados
cozidos de uma forma arquitetônica
escuto Cazuza "estão rolando os dados..."
e os fatos tornam o jogo imprevisível

limpa-se a vidraça para que se possa ver a vida
mas continua-se dentro da prisão
do vidro sujo que o olhar vê

alimento-me de vez em quando de emoção
e essa fome que me faz amar

Intuição 10 de Abril

um beijo não resolve tudo
o não beijar é mudo
mas, muitas vezes, fala um mundo

o nada é uma questão de espaço apenas

Esconderijo Qui, 10 de Abr

existe uma noite escondida no meio da rua manhã
o paraíso está minguante
de tanta lua maçã

Panos quentes Qui, 10 de Abr

foi na primeira curva
o corpo entrou em pane
rasgou panos
foi aos prantos
e num desengano afã
beijou ardentemente
o que já fora abandono
colocou depois panos quentes
soprou a ferida
água boricada, pomada e bandeide
e um livro de Cecília e uma música de Cartola
ardia muito tudo àquilo
foi na primeira curva
não deu tempo de nada
guarda até hoje uma cicatriz
dentro de um livro
ao lado de uma rosa seca

Confusões 11 de abril

olhares beiram mares
lágrimas confundem águas
mágoas inundam praias
a solidão navega às cegas
ignorando tantos luares
a hora é quase certa
o tempo é quase fuso
minha certeza naufraga
o exato é tão confuso

Quando 11 de abril

quando é um lugar de encontro
quando é um lugar de nunca mais
quando também pode ser abandono
pode ser daqui a pouco, daqui a um ano
quando pode ser despertar
quando pode ser sono
quando pode ser o começo da guerra
quando pode ser o desenho da paz
quando pode ser equilíbrio
quando pode ser escorregão
quando é um lugar de encontro
quando pode ser solidão
quando pode ser um copo cheio
quando pode ser uma taça quebrada
quando pode ter recheio
quando pode ter nada

Saudades 15 de Abril

já se vão as luas
que demorei tanto para colher
e com elas vão-se as conchas
de mares que eu guardei

já se vão as brumas
que levavam o meu barco
e com elas vão-se as colchas
de camas que eu pintei

já se vão as cartas
que demorei tanto para escrever
e com elas vão-se uma vida
que eu não vi e dela já não sei

Manhãs 15 de Abril

abril de uma manhã intensa
extensa foi tua carta
imensa minha saudade
as vezes o que nem fere hoje
amanhã vem e mata

comeram as reticências
as vírgulas e as broas
beberam a compaixão
limparam a desculpas com Q-boa

e a vida passa
e a vida borda

e a vida lava as escadarias d´alma

0 x 0 15 de abril

Não tem calor
nem frio
nem tempestade
nem mormaço
não tem amor
nem rio
nem claridade
nem aço
não tem valor
nem cio
nem caridade
nem palhaço
não tem sabor
nem calafrio
nem saudade
nem bagaço
não tem vapor
nem estio
nem cidade
nem sonho e nem faço

Quadrinha de uma manhã de abril fechada 15 de abril

o botão fechado
não vi teu corpo
não vi a vida
nem o sopro

Sentidos 16 de abril

a bússola apaixonou-se pelo sul
colocou seu destino à sorte
pintou o sete
retirou os "nove fora"
e assim ninguém poderia insistir com o norte

nem Dolores beijou o tão triste
nem Quirina chorou o corte

a direção é um estalo

Medidas 16 de abril

o que eu nunca vi me desespera
me faz pensar no que eu queria ser
pois mais forte do que o já
é o meu querer

sempre há tempo
para gritar
para ficar mudo

sempre há tempo
para entender o nada
sempre há tempo
para tudo

Perdas e Danos 16 de abril

sou eu que falo de perda na hora do ter
sou eu que falo em navegar na hora do parar

teus olhos com ondas tão fortes me fazem naufragar

respirar é uma forma de não conter a vontade
sufocar é não deixar sorrir a vontade

(verbos são tempos - sujeitos são ventos)

Olhares 16 de abril

teu olhar possui luzes vermelhas
e me diz: - pare

não consigo depois do teu olhar, andar

se eu fosse uma única onda
escolheria sempre teu mar

se for para levar a vida sem tua luz
escolheria naufragar

Sem pista 18 de abril

Nada pode codificar o bilhete que em deixaram na rede:
O destino teias tece.

Bilhetes em paredes são garrafas jogadas ao mar
Na porta um dia eu li:
“Eu te amo”
E o remetente não assinou

(Ceps do coração são assassinados constantemente...)

A luva 18 de abril

Uma chuva beira à luva
Proteger é uma lágrima
Meu destino sempre foi um lenço
Pronto para disfarçar tudo que se diz água

Assim corri a vida
Em costuras que nem senti
Fazia dos retalhos, um sorriso
Uma história de um livro que não li

A chuva beira à luva
Existe um frio aqui

Dolores deixou um bilhete 18 de abril

Estou mais ou menos
Mais para menos
Mas nem somei

Comi um papo dormido
Misturei com minha insônia
Chá de sumiço é café pequeno

A coxinha de galinha que comi me fez mal
E ainda insistem em me oferecer fanta uva

Se eu aparecer morta divulgue esse bilhete
Nos classificados de Zero-Hora
Ao lado daqueles convites, daquelas moças que fazem tudo...
Muito obrigada.

- Por nada, grita Quirina, com um sorriso no rosto.

Sabores e copos trincados 18 de abril

Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra "afogar"???
Falta uma peça nessa cabeça que me quebra

A taça é um disfarçar... quando brinda

Donas e danos 18 de abril

Não sou eu de ninguém
Como sou de todo mundo
Eu te amo é um risco
Correr riscos pode causar danos

Ninguém haverá de ter alguém
Pois ter de verdade
É não entender o querer para sempre
E sim guardá-lo no exato momento do preencher

Ser de alguém ou ter alguém como conquista
É matar o amor sem querer

Sem medidas 18 de abril

Há um porto num dedal de mar e de esperança
Há um corpo a espera do outro
À beira de um cais

Há um sopro numa boca da noite sem dentes
A balbuciar "jamais"

O amor muitas vezes é um barco à deriva

(Onde está meu colete salva-vidas – grita a desesperada Quirina)

Verbos 18 de abril

Há dias que nem me vejo
Passo sem ver meu querer
Um café da manhã sem gosto nem desejo
Uma sensação de quase morrer

Noutros dias vejo tudo diferente
Entendo quase morrer como estalar
Vejo uma vontade latente
Uma maravilhosa sensação de tentar

No parque de diversão do destino
As gangorras estão cheias...

Falta 18 de abril

a saudade
é uma canção
que embala
minhas noites

a ausência
é um verso triste
que escrevo
a espera de uma rima

o vazio
é uma frase
que não se completa

assino com esperança
minhas canções
meus versos
minhas frases

sei que meu amanhã terá teu perfume

Silêncio 18 de abril

o relógio está quebrado
a carta não tem selo nem cep
a mensagem bebeu a garrafa

Quirina 18 de abril

que delícia de risada
que preenche toda a casa
tem um que de aquarela
que beija o mar, o céu, a terra
e faz voar mesmo quem não tem asas
é um beijo escondido
nos sonhos de uma lembrança
riscos para correr e desenhar o acaso
um dito e feito e colorido
desenhado no coração
tatuado no pensamento
molhado pela emoção
que delícia de risada
que mistura lenço, lágrima e poesia
por isso tão desejada
feito um enigma resolvido

Cafés 23 de abril

mais um café
mais um café
três da tarde
tão tarde
mais um café
para não dormir
às três da manhã
para molhar a boca
ver corujão
conversar com os grilos
convidar o bicho papão
mais um café
mais um café
gosto de agosto em abril
mais um café
não quero dormir
quero sonhar acordado
mais um café
mais um café
garrafa térmica com mensagem dentro
num mar dentro de casa
mais um café
mais um café
para lavar a alma
para molhar a broa

Pergunta 24 de abril

Perguntaram-me se o caminho que eu andava tinha a minha cor
ah... quem pode ter as cores que sonhou todo o tempo sem descolorir?
coloquei minhas cores no destino do vento... e vou colorindo vidas até sem querer...

O anjo 24 de abril

dentro do exato mora um anjo torto
sem corpo e que mantém a minha calma
um anjo com a cor do encanto e com
nobreza de alma... e que me traz de vez
uma fada, que tem olhos de certeza
num mar de nome acaso...

Chicos 24 de abril

Roda Chico
Roda vida
roda moinho
roda canção

O Chico na vida
O moinho do Chico
A canção do moinho
Da vida à canção

Dolores encanta-se com CD
vê tv e rabisca um soneto

no coreto da lembrança...
a banda toca...

Endereço 24 de abril

minh´alma convalesce
toma remédio - envelhece
busca à esmo a ternura
minh´alma espera a cura
quer lembrar do nome
quer lembrar do cep
e ninguém minh´alma procura

Meios e afins 24 de abril

no meio da minha vida
nasceu uma paixão tão inteira
saudade daquela boca

boca da noite em luas e mares
como fosse o primeiro beijo
uma página derradeira de um livro
que eu tanto li

terra para brotar linhas
são infladas por lenhas
e por viver entre tantas fogueiras
aprendi a queimar

no meio da minha vida uma teima
que aduba meu chão
enquanto meu coração queima
todo o dia explode uma paixão
feito uma lua nova
que clareia minha noite solitária

Versos de saudade 24 de abril

em teu coração qualquer que seja o tempo permaneço
pois teu perfume é o ar que me cativa
tudo o que vem de ti faz parte do meu desejo
a tristeza ao nos ver se esquiva

espero esse mesmo tempo fazer a nossa hora
quiçá tal hora venha rápida, quem dera
que a felicidade corra e se faça agora
para que eu possa viver eternamente tua primavera

Soneto para Camila 24 de abril

Um olhar se faz encanto e ilumina manhãs
como um sol de primavera solto ao vento
onde paraísos desenham maças
é assim que nasce a inspiração e o pensamento

ao te ver encanta-me tua alegria
todas as manhãs o dia espera teu lume
e quando o jardim pede um beijo teu
é desse beijo que nasce o perfume

traduzo com teu nome o que seja felicidade
e quando me pedem sinônimos falo claridade
falo de vida e de toda a sua significação

cada gesto teu é uma ternura que toma o mundo
um beijo que o destino fez tão profundo
um sol intenso que toma conta de cada estação

Quadrinha de verbos quase perfeitos 25 de abril

nuances de querer em olhos cheios de mar
se afogar é nascer quero em tuas águas despertar
e rimas tão sinceras não carecem de julgamentos literários
(Quirina abre um sorriso é diz: Amor é dor...)
é isso Quirina, é bem isso...

Quadrinha de navegares 25 de abril

meu navegar sempre foi tão preciso
como rimar Cecília com Pessoa
o meu jeito de calmaria faz meu destino
buscar tua canoa

Incoerência 25 de abril

o que me faz incoerente é o mundo
o mundo é incoerente
e a incoerência penso eu são atalhos felizes para o acaso
estou farto de palavras e gestos coerentes

ninguém vê
ninguém ama
quase ninguém sente

viva a incoerência precisa

Explosões derradeiras 25 de abril

tudo agora é nenhum lugar
água que passa
pela ponte
não voltará
frase antiga que li em algum lugar
explicam o não falar quando grito

não necessariamente peço que voltes
há um grito preso no não voltar

preencher é um risco de pólvora no ar

quem haverá de riscar um fósforo???

Saberes 25 de abril

ninguém me sabe de verdade
ninguém sabe de verdade alguém
nem as horas, nem os senhores, nem as senhoras

somos um pouco do que nos fizeram
e muito do que gostaríamos de ser

nunca foi contado para ninguém

o tempo do verbo é uma corda estendida

as vezes sem elasticidade alguma...

Tristeza 25 de abril

meu peito dói
há um nó em meu peito
não durmo
não sonho
meu rio dorme sem leito

águas de correntezas
e eu não quero ficar
me entrego a elas

não tenho cep
nem tatuagem com nome algum

quem haverá de me encontrar?

Nossas luas 25 de abril

se a lua vem inteira
clara e tão cantante
nova tão passageira
e de repente
um quarto de hora
numa sala assim minguante
vem como um beijo que se sente
num céu de um sonho bom
e faz o amor ser crescente

o entender costura a vida com uma teia
como se a paixão fosse uma única sereia
que mora numa maré assim tão cheia

vivo em fases
atalho são choques

Medidas 25 de abril

sou eu que não vou seguir o rumo
da estrada curta que já não me leva
o tão pouco é um atalho que escurece minhas vistas
e que traduz a falta
quero um bis do muito mais


Simples feito uma equação do terceiro grau 25 de abril

sou um viajar sem tempo
não uso bússola
não tenho espaço para preencher
o que quero me faz correr
o que não quero me fala em ganhar
nada
exatamente nada encaixa agora
super-bonder não cola relacionamentos
e ainda esconde as digitais

Um único toque 25 de abril

o que fica agora
é a lembrança de um único toque
que fazia o corpo beirar o coração
que fazia o arrepio mover a alma
que fazia o perdão romper a culpa
que fazia a razão esquecer o medo

um único toque
um beijo que nunca mais foi dado

Cochilo 28 de abril

meu abandono tem sono
e acorda em teus braços
quase sempre

Quase 28 de abril

Quase é uma medida exata
um beijo de café que sonha com a nata

ah... o que prende muito diz nada
desata

Invasão
28 de abril

Nada me invade se não o que realmente me invade
estou farto de segundas intenções planejadas
e nas quartas-feiras janto às terceiras
às quartas, ás quintas, às sextas...
de intenções já tenho uma semana cheia

Buscas 28 de abril

Busca-me em luas latentes
pois nelas sopram os ventos incandescentes
àqueles onde o amor queima

resta-me agora
o sopro para tentar aumentar a chama

(a chama deita no destino
mas não faça dele a tua cama)

O amor 28 de abril

o amor mesmo que não cante vive intenso
é como o mar
mesmo, muitas vezes, tão quieto
não deixa de ser imenso

Paradoxo 28 de abril

são interessantes as poesias que escrevo nos ônibus
são passageiras
são definitivas
beiram a cicatriz e a tatuagem

Solidão 28 de abril

o andar que me passa
tem o silêncio do teu caminho
não te vejo
não sei mais o que quero
não sei o quer dizer "sozinho"
solidão é um copo d'água
morrer de cedo é opção

As do coração 29 de abril

são viagens não programadas
sem guias
nem mapas
sem meias-palavras
sem nenhum aviso
nem recados
sem comentários doces
nem dicas de hospedagem
de repente
partimos
assim
sem destino
e por paixão

Marcas 30 de abril

algumas palavras marcam o corpo a ferro e fogo
acompanham todos os nossos passos por toda a nossa vida
ferem mais do que facas, do que pistolas, do que punhais
quando cortam seus ferimentos não cicatrizam
ficam abertos, viram desertos na sede intensa
e ecoam em vales, em silêncios
mesmo quando não queremos relembrá-las

tenha cuidado com as palavras
elas afastam o que é para sempre
elas queimam a natureza que nos cobre

e a palavra por mais nobre que seja
quando falada em tempo errado
explode

Chá de sumiço 30 de abril

Quirina sumiu sem deixar pistas
sem deixar recados
sem deixar riscos
Quirina partiu sem deixar palavras
sem deixar motivos
sem deixar marcas

café com broa para ver o madrugadão
manhãs claras para ver o portão
entardeceres leves para ver o coração
e chá de sumiço para esquecer as dores

Quirina sumiu
As vezes é preciso sumir para se fazer aparecer

(Acho que vi Quirina num anúncio de acompanhantes
nos classificados de domingo. Ela sempre disse que seria matéria de jornal, ri Quirina enquanto usa o jornal para acender a lareira)

O nunca mais 30 de abril

o nunca mais floresce de tempo em tempo
aflora lumes onde havia plena escuridão
vem com olhos de voltar, vem com bons ventos
o nunca mais quanto é amado beira a exatidão

dizer nunca mais é um grande risco
pois a qualquer momento ele vira eternidade
lágrimas nos olhos pode ser apenas um cisco
ou pode ser uma lágrima revestida de saudade

Temperaturas 30 de abril

nenhum toque
mãos gélidas
em taças de café
muito quentes
nenhum toque
blusas de lã
em janeiros
de lembranças boas
nenhum toque
cobertores encobrindo
as verdadeiras cores da noite

febre
delírio e sofreguidão
termômetros e bússolas
minha direção arde

febre
afã e dor
nortes e cortes sem querer
minha hora exata é sempre tarde
e queima

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