quarta-feira, 13 de maio de 2009

* Crônica - Encontros e Desencontros

Linda. Morena. Trinta e poucos anos. Olhar quente. Boca carnuda e pernas bem torneadas, muito bem torneadas, eu diria. A mulher parecia estar a algumas horas no local, olhava o relógio, ajeitava o decote e a saia, mexia no cabelo. Em u a mão uma carta, amassada, na outra, um lenço branco. Estava ali naquela esquina, em meio a umamultidão e misteriosamente sozinha. Era uma mulher que chamava a atenção. Alguns homens que ali passavam fixavam nela o olhar e acabavam por esbarrar em que estava em direção contrária. Chegava a ser engraçado. Ela, mesmo que simpática, passava a impressão que nada chamaria a sua atenção. Nada nem ninguém. Permitia somente um leve movimento do rosto, como quem ensaiasse um sorriso, mas desistia de mostrá-lo no minuto seguinte. Nuvens escuras começavam a tomar conta do céu. Guarda-chuvas brotavam de todo o lugar, capas de chuvas eram vendidas no meio das ruas, marquises serviam de abrigos e um casal sem se importar com a chuva beijava-se no meio do calçadão. O movimento diferente que a chuva provocara fez com que os olhares fossem direcionados para vários locais e a mulher pode ter um pouco mais de privacidade. Ela continua no mesmo local, seus cabelos já encharcados não mostravam mais o belo penteado, que com certeza demorou muito para fazer. Com o lenço ela tratou de proteger a carta, envolvendo-a delicadamente. A noite já começava a dar sinais de sua presença e a chuva aumentava ainda mais. As ruas já estavam quase vazias. Muitos carros e suas buzinas faziam a trilha sonora do momento. A mulher ali, parada. Olhar cada vez mais sério.Ouve-se um chamado. Um homem gritava como quem procurasse uma pessoa. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. A mulher ouviu o grito. Olhou para todos os lados, não via ninguém. Procurou. Saiu da esquina, foi até a rua detrás, entrou em uma livraria, em um café. O chamado estava cada vez mais próximo. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. Ela nervosa. Procurava desesperadamente a voz. A carta já havia sido levada pela chuva, o lenço molhado já não guardava mais nada. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. Um policial que passava por ali. E que já acompanhava o movimento daquela linda mulher, abordou-a e perguntou: - A senhora precisa de alguma coisa? Ela respondeu: - Procuro alguém. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. O policial escutando esse chamado, pergunta a mulher. - Qual o seu nome? - Porque o senhor quer saber? Disse ela. - É Vera Regina? - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. O homem que gritava por Vera Regina entrou no café e se postou a frente daquela linda mulher. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. A mulher num gesto rápido, beijou àquele homem, beijos de longos minutos. O policial feliz pelo encontro, saiu sorrateiramente. As pessoas do café começaram a aplaudir, emocionadas por tanto amor e carinho. Ao final do beijo, a mulher olha ardentemente e fixamente o homem e pergunta: - Meu nome é Denise e o seu? Ele começa a rir, rir muito, muito e convida-a para um café e logo depois saem dali e nunca mais os vi.

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