sábado, 30 de março de 2019


Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...



Marcas, tatuagens e silêncios

Espelhávamos na própria carne o sentimento quando pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção ardente
propúnhamos ser o que não éramos para resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares, ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos mais
ledo engano
depois de algum tempo nos reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida

sexta-feira, 29 de março de 2019

As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...
O acaso brinca de rima

Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatos escuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem pratos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...

Solidão

É tarde
a noite arde
é pressa
a lua cresce
é madrugada
a nuvem passa
é frio
o conhaque aquece
e um estopim encharcado de gasolina
brinca à beira de uma fogueira


Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
O que errei foi com muita convicção


Línguas

Eu já nem sei o que meu querer quer me dizer
Talvez esteja mais confuso do que eu
Talvez não entenda que para esquecer
É preciso explicar o que aconteceu

Ao passo que os quereres têm “quês”
E que eles não falam uma mesma língua
O teu querer fala por sinais
E o meu fala somente português

Preciso assim que reflitas e sintas
Que a vida precisa tanto de bem querer
E que o amor pode nascer
Na invenção de uma outra língua







A tecelã




Existe uma fada na noite
Que tece mantas para os dias frios
Cachecóis de linhas tênues
Boas casas, qualificados fios
Bordados de amor latente
Frisos finos e corações enormes
Beijos de mares, namoros de rios
Enquanto depois de tanto trabalho
A fada sonha e desperta a cor do tanto
Os sonhos da fada colorem
Todos os sonhos que dormem
Num mágico e doce encanto
Que nossos corpos tais encantadas conchas
A coser as tais apaixonadas linhas
Eternizem almas, cochilem de conchinha
Aquecidas pelo amor, eterno manto

Admito, senti o golpe

Que dor é essa que carrego, que me arrasta, que dói tanto...
Eu não sei que dor é essa, mas sei como ela age.
Sei que como me apunhala, me faz corte, me põe amarras.

Minha luta me deu cicatrizes, e meu corpo sente, como nunca sentiu, as marcas que minha resistência gerou.

Minha escrita, que sempre foi e é uma paixão de vida, também trouxe essa dor. Sempre escrevi o que quis e sentia e sempre segurei com firmeza as retaliações, sempre resisiti e vejo agora minhas forças sucumbirem...

O que me faz acreditar que essa dor irá passar são palavras da minha família, dos amigos fiéis e de minha amada companheira...

Sei que não estou só nesse momento, talvez precise de mais palavras amigas para me reerguer... por que o que vejo nas telas, nas manchetes e nas redes do ódio dilacera e me faz calar. E eu não posso me render a tantas provocações e retaliações. Desculpe o desabafo, mas a energia que paira no mundo, principalmente no Brasil, desenha essa dor. 

Sou obrigado a admitir: “Senti o golpe”.
Como diz minha irmã, talvez eu precise de “há braços’. Nada como uma noite de sono, amanhã amanheço mais forte.

quinta-feira, 28 de março de 2019


O Brasil virou feito barco... e os naufragos aplaudem... e comemoram as mortes... 
Que triste, que nuvem escura cobre nossos sóis. Reajamos.


Um terno de linho branco,
uma colcha de ternura,
um baile em noite clara,
uma lua no Campeche,
quem guarda não perde.

Felicidade é um picolé lá na Guarita... 
pra entender é preciso entender 
de picolés e de Guaritas...

domingo, 24 de março de 2019


Dizeres

O amor deve regar à flor da pele
Por que o que arrepia, cutuca, aproxima
É uma cachaça, uma ambrosia
Um sentimento que dá gosto, alegria
Que provoca o querer, alquimia
Que remexe, bole, mistura
Que dói, que deixa a face rubra, que cura

sábado, 23 de março de 2019


Apertos

Que o simples vença o tão confuso.
Que seja importante me faltar um parafuso
para que eu possa enlouquecer em mim.


Eu ando a querer ser inteiro
Mas resvalo na inquietude
Eu ando em cacos...


Silêncio

O relógio está quebrado
A carta não tem selo nem CEP
A mensagem bebeu a garrafa



Assim

Que desatino de vida, que maçaroca doida e doída, que vai assim, feito punhal, a desbravar o meu peito. Esse peso nas costas, essa luta para defender o que é de direito.
Que o amor seja a costura, chuleio de colchas que nos abrigarão de noites frias, um canto de tanto tempo a trilhar nossos momentos, essa luta de fazer o que precisa ser feito.
Procure o abraço antes do grito, procure o amigo antes do medo, entenda que como está esse mundo, só o mar do entendimento te fará navegar, essa luta para mostrar que as velas precisam de mar.
Sem medidas

Não cabe em mim tudo o que sinto
Não diz tudo o resultado final dessa conta
Não vê tudo o exato e sua poderosa sonda
Faltam tamanhos para explicar o tanto

Não cabe no que diz incomensurável
O todo que mora aqui dentro
Nem é possível determinar a intensidade
Que provoca a felicidade que explode em mim

Até a compreensão precisa e intensa tem seus limites
A tua presença no mundo me basta para não ser triste
O que chamam de tudo é apenas uma parte do que cabe em mim
Que tamanho mais do que o imenso terá este amor que sinto por ti?
A saudade

Saudade é um canto quieto, emocionante, tocado, inquieto
Uma casa sem teto que não deixa o sereno cair
Uma calçada sem lado que beija o jardim
Uma estrela cadente que docemente nunca cai
Um imenso vazio repleto de tudo envolvido
Um tempo surgido por querer sempre querido
Que deixa no canto do quarto um eterno ai
Rabiscos

Precisamos nos perder mais.
Os dias de tempestade e a falta de bússola, na maioria das vezes, nos ensinam caminhos, não que eles sejam os melhores caminhos, mas precisamos passar por eles para aprender. E aprender não é acertar tudo, ou não errar, muito pelo contrário. Envolva-se com os detalhes, com o simples, gotas são também partes do oceano.
Vamos nos perder para nos achar e se mesmo assim continuarmos perdidos vamos tentar. O ódio virou jeito de viver, e o que dá jeito para tudo é amar.
Minhas palavras, tantas vezes, não conseguem chegar onde quero e não tenho certeza que são compreendidas. Sigo a tentar, e me despedaçar, a me juntar, a me reerguer... assim procuro dentro de minhas loucuras a coerência utópica de querer se achar...
Amigo, precisamos nos perder mais.

sexta-feira, 22 de março de 2019

Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...

Passageiros

Que solidão é essa?
O tempo passou e veio a incompreensão
Será que o que era para ser feito já o foi?
Será que o espaço que eu tinha já não tenho
ou não cabe mais nada nele?
Será que meus nós foram desfeitos
ou de tão apertados já não se mexem?




quinta-feira, 21 de março de 2019


Também

Perdas também são palavras
Que não foram ditas ou escritas


Visto roupas de arco-íris
Meus retalhos de tantas cores
Já fizeram tantas colchas
A me abrigar do frio
Não me venham definir minhas cores
Nem meus amores, nem minhas flores
Sou tempestade, sou mar, sou calmaria, sou rio
Visto as roupas de Jorge
E ninguém desenhará minhas telas
Sou aquarela



Num canto dos classificados 
mora um cantor cheio de letras.

terça-feira, 19 de março de 2019


O tempo é um senhor 
muito distinto...
Às vezes tinto, chileno e seco.

Cada qual com cada seu...
Quem de amor nunca morreu?
Quem por amor nunca bebeu?

Na hora do beijo deu branco
Num olhar assim tão tinto

(Marcia e Edike Carneiro)

segunda-feira, 18 de março de 2019


O medo é um rasgo que nos impuseram, junto a ele vieram vendas e vieram algemas e vieram mordaças. Não ter medo do medo é a esperança de dias melhores. O que nos faz pulsar, muitas vezes, também, faz doer e é preciso se entregar quando queremos, de verdade, ver. Quem vive com medo deixa a vida somente passar. Existe em meu olhar uma pressa, uma coisa que bole, arde e agita. Sinto que estamos num intermeio de eras, de difícil compreensão. Um passar a limpo de ideias, de ideais e sobretudo uma luta árdua entre ficar preso a coisas que não acreditamos e ser livre apesar de tudo. E apesar de tudo é preciso não ter medo.





Munição para dias de ódio: 

Amor, união, educação, respeito, 
luta e coragem. 

É preciso entender bem cada uma dessas palavras.

sábado, 16 de março de 2019

Instrumentos de paz e transformação para mim é violino, sax, violão.
Não acredito em fuzil, 22, 38 e canhão.
Usamos instrumentos diferentes 
Por favor não quero estar perto de quem acha que tiro é educação

Mais que nada é tudo quando fizemos tudo que podemos
Um gesto, um detalhe, um abraço
Valorize o esforço e a boa vontade de quem faz por e com amor
Um sorriso é tudo



Acredite
Eu vejo beijos sinceros e choro
Não me enquadro direito nesse mundo
Acho que morrerei cedo
Mas não posso esperar tanto
Juro não tenho mais medo
Pois tantas vidas vivi e viverei
Vivi tantos reinos
Rainhas, princesas, plebeias 
Nunca quis ser rei
Fui e entendi o caminho da felicidade
Linhas e novelos de simplicidade
Colchas e cobertores de muito amor
Tive sorte de ter pais encantados
Destes de contos de fada 
Pude com muita vontade e trabalho
Sobreviver com minha escrita
Bendita escrita
Tenho amigos que me abraçam
E eles me confortam e estão sempre comigo
Não são muitos, mas são o bastante
Sofro muito para provar que é o simples que quero
Há um silêncio em mim que grita
E mesmo que tenha errado muito, fui sincero
Em vez de inventar o que seria alegria
Fui ser aprendiz
E aos poucos fui entender o que era ser feliz
Eu choro muito porque aprendi a perceber
Este verbo de ligação que ninguém lê
Tudo é muito rápido, meu amigo
Para que sempre ter que olhar o lado ruim
Procure a luz, aquela do fim do túnel
E acredite ela sempre está bem aqui
Não queira ser o dono de toda a verdade
Seja apenas o dono da felicidade, da tua felicidade



sexta-feira, 15 de março de 2019

A ARMA DESALMA
A ALMA DESARMA
SIMPLES ASSIM...

Feitio

As linhas que beiram os cobertores 
sabem e já moraram no frio
por isso cosem com atenção
atentam bem aos pontos
julgam ser alma tudo que seja coração
nas noites de muito frio
o que vale mais é a lembrança do feitio



quinta-feira, 14 de março de 2019


Lareiras

O meu corpo veste roupas novas
minha alma rejeita
não acolhe
ela quer o velho cachecol do tempo
que aquece minhas velhas poesias



Chuva, sol, lua e mar

A chuva era uma moça fina.
Cheiro de leite. Flor da idade.
E, com seu jeito de menina, não sabia que no fundo,
poderia ser uma tempestade.

O sol imaginava-se sempre repleto.
Pelo seu brilho não temia nada.
Achava-se o mais belo, o mais completo.
Chorou, quando conheceu a madrugada.

A lua, mulher de olhos ardentes,
emoldurada por estrelas,
procurava entre tantas lentes,
alguém que desejasse realmente tê-la.

O mar era um velho pescador,
com tesouros escondidos n’areia...
Diz que nunca conheceu o amor,
vive nas esquinas entre sereias...



Um verso de pé quebrado

Um verso de pé quebrado deixa recados no gesso.
Ninguém passa nesse mundo,
falando de amor e saindo ileso...

Um verso de pé quebrado demora um pouco mais para chegar.
Mas rima luares com ondas e mares,
e canta como quem se encanta em cantar...

Febre

Uma sensação sem cor me atravessa.
Embora não fale, não cala.
Invariavelmente estanca cada passo meu.
Um punhal que fere a própria ferida.
Um jogo onde a dor supostamente venceu,
Sem que a existência se desse por vencida,
Ficando exposto aquilo que o poeta ainda não escreveu...
Assim fica entendido o mágico encanto dessa vida.
A vida é uma longa febre.




domingo, 10 de março de 2019


Rabiscos

Passeia minha saudade em teus versos... uma sedução de palavras que permeiam todas as tuas cores... teus janeiros intensos e teus agostos de friagens... fumacinha de bocas... linhas na busca de pipas e de tecidos que nos abrigarão do frio... saudade é assim... um cobertor curto... que deixa os pés de fora e o coração no mundo...



sábado, 9 de março de 2019




O TEMPO É HOJE
DIGA MAIS
EU TE AMO
EU TE GOSTO
EU TE ADMIRO
TU ME FAZ BEM
MUITO OBRIGADO
QUE MARAVILHOSO TE VER
BEIJE MAIS
ABRACE MAIS
SINTA MAIS
O TEMPO É HOJE
O AMANHA É HOJE
E DEPOIS E DEPOIS
É HOJE, É HOJE
POIS O DE REPENTE É FEROZ









terça-feira, 5 de março de 2019


Um andar de tanto tempo

Eu tenho um andar de tanto tempo, de tempos que eu vivi, dos tempos que eu sonhei,
Dos tempos que nem senti...
Eu tenho o cantar de tanto tempo, de tempos que eu morri, dos tempos que eu passei,
Dos tempos que nem pedi...
Eu tenho as cicatrizes de tanto tempo, de tempos de tantas marcas, dos tempos de tantos riscos, que me machucavam a pele...
Eu tenho os beijos de tanto tempo, de tempos que eu amei, dos tempos que eu chorei,
Dos tempos de tantos sorrisos, que encantavam meus passos...
Eu tenho na memória tantos tempos, cantos que eu procurei, letra e música, coração e voz, de tempos que eu cantei...
O tempo é um menino, destino de horas e de cores, lugares de esperança e amores, de fins e de rancores...
O tempo é instrumento de procura, instrumento de recuperação, é agua, é pão, alimento que traz candura,
Dê ao tempo o tempo teu, com carinho, com atenção, dê ao tempo a compreensão, o afeto e a ternura... pois ele, com certeza, meu amigo, bem tratado, com cuidado, é a real cura... para qualquer tempo ou situação.