sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Resolvi calar
Para ver até aonde ia nosso silêncio
E ele foi muito longe,
Longe assim de não se ver mais
Tal embarcação de velas
Deixei somente a vontade do vento me levar
E devagarzinho fui me afastando da praia
E lá onde o mar é alto
Decidi gritar
A ali já não havia mais ninguém a me ouvir
A garganta cansou, o eco vou ficando baixinho
E neste momento totalmente sozinho

Abracei o silêncio e pude assim retornar
Carta de uma bruxa

Guardo numa caixa
Numa caixa de música
Uma carta de uma bruxa
Falando de amor e de medo
Disse que era segredo
Para guardar no coração
Um dia mostrar para o Engenho
E fazer dela canção

Arde o tempo
Sopra o vento
Vela aberta na Conceição

Arde o tempo
Sopra o vento
Amor é ave de arribação

Do tempo

O amor é um inferno
Um inverno sem roupas quentes
Um terno de linho sem noiva
Luares de noites ardentes
São mares com ondas constantes
Nenhuma igual como a de antes
E tão exato que é de repente
Alguma coisa passante
SAUDADE

Saudade é um tempo tanto feito de fatias de imensidão
Uma música de Marisa Monte, uma taça de vinho e outra taça de solidão

Saudade é querer estar toda a hora, todo o dia
Fatias de poesias no Café Coração
Um filme de Fellini, uma música de Buarque
e de quebra sonetos colados no portão 

Um segredo de gaveta e de mar

Dentro de minhas gavetas, onde guardo meus sorrisos, mora um punhado de conchas

Rabiscando por aí

Ela intica e o sol fica mais claro,
dá vontade de tomar banho de chuva,
cada dia fica raro,
cada palavra que vem dela encaixa feito luva...
que barbaridade,
que feitiço,
rsrsrrsrsrrsrsrs...
Sinais

Diante do céu ainda claro
Margeou seu olhar no infinito
E desenhou o simples com o lápis do raro
Na moldura exata de um livro não lido
O que faz bem deve ser sempre procurado
E a felicidade é muito mais do que um achado
É um caminhar constante por todo o mundo
Mesmo que o lugar comum não seja o tudo

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...

Caixinhas

Temos o medo guardado em caixinhas no quarto.
num quarto de hora,
num quarto de hotel,
num quarto de nunca mais,
num quarto de pão...
Temos o medo guardado em caixinhas no quarto...

Enganos

Mudou a cor do casaco para enganar o frio.
Colocou num copo toda a água suja do rio.
(embaixo do tapete mora um segredo que todo mundo sabe).

De pele

Enquanto eu era a seca, tu eras a dança da chuva.

Estio

Lá no meio do deserto mora uma única gota d’água...
Filha de uma chuva rara e de um poeta sereno.

É lá que os sonhadores matam a sede.
As parceiras

Bebem noites,mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.
Conversas

Ainda assim, acredito em minha varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a "me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com muito amor, em todos os sentidos. Ainda assim, continuo a passear na praia, a escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com certeza, não.

As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...

O acaso brinca de rima
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas
Atento aos relatosescuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas
Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...
Um arrepio feito uma letra de Chico, um querer ardente como um soneto de Florbela, um arranjo de Paco de Lucia, um filme de Bergman, uma tela de Picasso, uma sinfonia de Beethoven... Que cante Cartola, Noel e Lupi... Que Quintana declame na sacada, que se desenhe os sonhos de Kurosawa... e esse arrepio que invade quando te beijo..
Saudalejar

Seu nome saudade
Menina de seios rijos
Pouco ou nada de juízo
Cheiro de leite
Sabor de flor

Seu nome amor
Menino de dentes livres
Brancos que um dia eu tive
Cor de mar
Imensidão de grão

Seu nome paixão
Mulher de lábios fatais
Afã de talvez, clã de jamais
Música de cor

Verbo “saudalejar”
Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra

O amor é um menino levado
De repente está aqui, de repente está em Marte
Mas quando ele é verdadeiro
Ele é inteiro em qualquer parte
Ai sim, ele só faz arte
Túlio Piva (dedicado a Edike Noé Carneiro)
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um passado tão bom
e ele “nem sei em que data"... clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me desculpe
Minha lua de menino sempre foi pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".
Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente... 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...

A Dona Paciência

A paciência era uma jovem e educada senhora

Na mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome Acaso
O tempo passou, passou a hora
E ela de tanto acenar cansou seu braço
Bêbado

Toma café,
toma vergonha,
toma ônibus,
toma banho,
toma jeito,
toma cachaça...
E quando quiseres...
Toma meu coração. 

Motivo

Quando uma corda puxa a noite
O dia vai e se enforca de ciúme.
Quando uma corda puxa o dia
A noite vai e ser enforca de ciúme.
Quando chega a madrugada
A noite e o dia se enforcam com a mesma corda

Contemporâneo

Nosso romance começou num bar.
Eu, tomava seu tempo.
Você, vodca.

Depois fomos num teatro.
Eu, assistia a peça.
Você, pregava uma.

Fomos num motel.
Eu, pedia uísque.
Você, vinha com gelo.

(Enquanto eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)

Você caía na cama.
Eu, na vida.

Alguns meses depois, após o primeiro encontro,
nos encontramos num trem.
Eu, dizia que era primavera.
Você, parava em qualquer estação.

Anos depois, soube por alguém,
que enquanto eu escutava Caetano,
você saía com Chico, meu melhor amigo.

Cartografia

Engoliu à seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...

Essa chuva

Acende uma chuva aqui dentro
Vindo de um lustre com uma luz fraca
Uma dor conta pingos
Uma espera que o destino crava
Um “não sei lá” que responde tudo
Uma alma que não se lava
Um grito encharcado e mudo
Um querer quase absurdo
Vontade de te ver
Um amor que me faz ser
Tudo àquilo que eu sempre quis ser
E essa chuva que não passa
Nem mesmo o mar poderá te dizer por onde andei naufragando.

...

Enfim, fica tatuado um beijo no teu coração, pra te sentires beijada sempre...

...

Lembrança é a ferrugem pelo arame da saudade...

...

Agora meu mundo estava mais próximo, não sei “próximo do que nem de onde”, mas, com certeza, estava mais próximo de algum lugar.

Lugar é um grande pássaro que adora viajar, em bandos, em bares, em mares...

...

Acordei ontem ao lado de três reticências...

...

Não me venhas falar de falta de espaço, no mesmo momento em que olhas para o céu...

...

Quem inventou o frio não te conhecia...

...

O que o mar tem pra contar, ele canta.
O olhar mexe com o corpo, arrepia a alma, aquece o mais do que o tanto...
A cor do tato desenha o corpo, redescobre a alma, expõe o mais do que o tanto...
A boca umedece o corpo, acalenta a alma, deseja o mais do que o tanto...
O amor é a refeição do olhar, do corpo, da alma e do mais do que o tanto...

...

A alma tem em sua face um luar... claridade, quase uma febre, que nos acende por dentro... o amor tem alma, muito mais do que corpo, o amor é querer estar junto mesmo na distância, o amor sempre aquece nosso rosto, feito um sopro

...

O coração explode... um arrepio grita teu nome... a esquina foi tatuada com minha sede.... e tua ausência me dá fome

...

Intensamente foi a forma que descobri para desenhar palavras
Os interruptores d’alma são toques que aceleram o sentimento
Toda essa energia vale se puder mover o coração
O resto é vento...

...

Tudo pode ser uma questão de dizer nada.

...

Já virei a página sem ter entendido o livro.
(Meu amigo, amor não é adivinhação)...