sábado, 26 de outubro de 2019

Amores

Quirina escuta o andar de Dolores.
Quirina inquieta escuta o andar de Dolores.
Quirina pergunta a Dolores.
- João deixou recado, Dolores ?
Dolores, com a face rosada e com um beijo marcado no pescoço, responde.
- Que João ? Ah, o João... Esteve aqui. Muito rápido... e deixou um recado...
- Mas tinha que ser no teu pescoço, Dolores ?

(Tomaram café juntas anos depois, e riram muito, por muitos anos...)
Já virei a página sem ter entendido o livro. 
(Meu amigo, amor não é adivinhação)...

A flor da pele pode não ser rosa.
O que intriga não é a briga do mar com a areia.
O que me intriga é a estrela,
que depois de conhecer o cais virou sereia...
Quadrinha do querer e da liberdade



Deixe aberta a janela do destino

Para a vida não ficar, assim, tão tonta

E quando, por encanto, tocar o sino

Deixe o amor, em liberdade, tomar conta

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Pano para manga também aquece

Costuram linhas, fazem chuleios, em panos quentes
Incandescentes tecidos, agasalhos de inverno forte
Linhas apaixonadas por encantadas pandorgas
Ventos inteiros a levar velas em busca do sonhado norte
Linhas de horizontes coloridos, linhas verticais a subir sem medo
Encontros de linhas, trens do nosso destino a desenhar caminhos
Navegações sem bússola a desvendar todos os segredos
Cobertores que em noites de frio não nos deixam sozinhos
Um conto de sarda


Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina


Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina


A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Um segredo de gaveta e de mar

Dentro de minhas gavetas, onde guardo meus sorrisos, mora um punhado de conchas
Prefiro o riso
Encaro riscos pelo riso
A solidão não me faz sorrir
Nem faz sentido
E o relógio corre amarrado
Em cordas sem nós
Abraçado em tics, em tacs
Ampulhetas enterradas
na própria areia

domingo, 20 de outubro de 2019

Volumes

Eu rio muito contigo... chego a ser mar..
Carta de uma bruxa

Guardo numa caixa
Numa caixa de música
Uma carta de uma bruxa
Falando de amor e de medo
Disse que era segredo
Para guardar no coração
Um dia mostrar para o Engenho
E fazer dela canção

Arde o tempo
Sopra o vento
Vela aberta na Conceição

Arde o tempo
Sopra o vento
Amor é ave de arribação


Eu tinha mais cabelos e menos peso
Eu tinha mais vontade e menos paciência
Eu tinha mais audácia e menos controle
Eu tinha mais sonhos e menos realidade
Mas o que tive e tenho foi verdade
Com mais ou menos intensidade
O que trago junto a minha certeza
É que sempre busquei a felicidade
E o leme é meu
Se não fiz tudo certo
Eu fiz de coração

quinta-feira, 17 de outubro de 2019



Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.
Só pra te olhar
Vou aproveitar a chuva para lavar a alma,
para disfarçar a lágrima,
para limpar o poço...
Vou aproveitar a chuva para lavar o sábado,
para disfarçar a seca,
para limpar "o posso”...
Vou aproveitar a chuva para lavar a terra,
para disfarçar a vodca,
para limpar “o nosso”...
Vou aproveitar a chuva para lavar o quintal,
para disfarçar o mar,
para limpar “o bom moço”...
Vou aproveitar a chuva para lavar as mãos,
para disfarçar o tempo,
para limpar a vidraça...
Águas e afogamentos

Um mar inteiro em céus de bocas
Palavras a navegar soltas
Remos a remexer mágoas
Vem teu beijo
E teu beijo me salva
Minha alma está assim a permear o mar que tenho dentro de mim
Vivo cada segundo e cada segundo é uma conquista
Não faço planos, não faço barulhos, não faço listas
Percorro prantos e cantos quase sem motivos ou por tantos
Uma solidão inquietante entrega-me
Arde um vento que ao mesmo tempo que leva me traz


Nunca usei atalhos... a pressa não me encantava
Demorei para fazer quase tudo e quando fiz, fiz por que eu amava
Esqueça as bulas e as fórmulas
Esqueça a cartilha e a agonia de ter somente
Beije sem tempo e em qualquer lugar
Sujeito indeterminado é o que não soube amar
Nunca fui sujeito oculto e isso também dói demais
Perdas também são palavras
Que não foram ditas
Tem gente a apostar no ódio e tem gente que pelo amor faz a luta... 
sem ternura e sem arte não se anda... 
não se muda...
Decididamente e de certo
Pandorgas necessitam de mãos e de quem as guie
Decididamente e de certo
Mãos nescessitam de sonhos e de linhas
Entenda, pois, dois é uma equação singular de tantos graus e degraus, 

mas não use luvas quando quiseres mostrar claridade
Precisamos curar a alma.
Para que o coração possa sorrir
Enxergar de verdade.
Que o ódio faz ferir.
É em cada um de nós
Que mora o resistir.
Que floresçamos...
Tem dias que eu sou cantante. 
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante. 
Beijo de mercúrio em quem me arde.
Minh’alma dói
Não imaginava que alma poderia ter tanta dor
Por anos achei que alma segurava todas as dores do coração
Ledo engano
Não se pode usar mertiolate n’alma
Nem se pode dar anestesia nela
Minh’alma dói...
Rasgos
Peito aberto
Lanhado
E não me venham com esparadrapo...
A vela costura e borda
E singra mares
Assim como quem
corta um retalho
Um terno de bom feitio e de boas lembranças
Faz com que naveguemos
E que tenhamos boas vestes para nossa alma
Cuide bem de suas linhas
Têm dias que vento é beijo
Têm dias que vento é distância
Têm dias que vento é “vou”
Têm dias que vento é “vem”
Têm dias que vento
só me faz buscar o ar