Fomes
Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e
dizia
Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível
ilha
Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se
escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia
A fome comia...
Desejo
Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...
Invasão
Nada me invade se não o que realmente
me invade
estou farto de segundas intenções
planejadas
e nas quartas-feiras janto às terceiras
às quartas, às quintas, às sextas...
de intenções já tenho uma semana cheia
O
amor é todo dia sempre
Eu preciso de riscos
Para fazer poesia
Eu preciso de amor
Para buscar boas rimas
Amor para mim é todo dia
Amor para mim é todo flor
Amor para mim é todo cor
Amor para mim é todo alegria
Mesmo que venha a tormenta e afaste o
dia
Mesmo que venha a tormenta e destrua a
flor
Mesmo que venha a tormenta e misture a
cor
Mesmo que venha a tormenta e leve a
alegria
Amor continua definitivamente para mim
Todo dia o dia todo
O
acaso dormiu
Todo o engano que houve foi por um
motivo conhecido
pediram para ler apenas uma página
e eu acabei lendo todo o livro
descobri todas as tramas, todos os
finais
quem ficou com quem e quem não veio
e assim os amantes que gostam tanto de
acasos não verão o filme
(ah... o filme nunca é melhor do que o
livro)
Palavras
Disse-me: esqueça-me
respondi: porque a pressa
a tréplica: há amor mas não há espaço
o término: o encaixe é tão distante
a volta num beijo
dois pontos de vista sem prazo
e um destino que brinca de mergulhar
no liquidificador
Absolutamente
Tem dias que eu sou cantante.
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante.
Beijo de mercúrio em que me arde.
A falta
A
falta
A
exatidão da falta
A
presença da falta
Sem
ata
Sem
data
A
falta
A
instransponível falta
A
marcante falta
Sem
salsa
Sem
valsa
A
falta
A
intragável falta
A
visível falta
Sem
máscaras
Sem
vísceras
A
falta que preenche tudo
Todo
o espaço para a falta
Marcas,
tatuagens e silêncios
Espelhávamos na própria carne quando
pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção
ardente
propúnhamos ser o que não éramos para
resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por
nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos
mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância
das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares,
ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos
mais
ledo engano
depois de algum tempo nos
reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida
Túlio
Piva
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem
lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um
passado tão bom
e ele “nem sei em que
data"... clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me
desculpe
Minha lua de menino sempre foi
pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".
As desculpas
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente
recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus
significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o
que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam
mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o
verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...
Contemporâneo
Nosso
romance começou num bar.
Eu,
tomava seu tempo.
Você,
vodca.
Depois
fomos num teatro.
Eu
assistia a peça.
Você
pregava uma.
Fomos
num motel.
Eu
pedia uísque.
Você
trazia o gelo.
(Enquanto
eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)
Você
caía na cama.
Eu
na vida.
Alguns
meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos
num trem.
Eu
teimava que era primavera.
Você
parava em qualquer estação.
Anos
depois, soube por alguém,
que
enquanto eu escutava Caetano,
você
saía com Chico, meu melhor amigo.
O que se
poderá ser terá o querer que se há?
Quem
entenderá o olhar?
Àquele
olhar que estou falando
Um
não sei que
Que
encaixa incômodo
O
enfadar que enfarta o farto amor querido
Que
existe num modo econômico
Para
não gastar energia e beijo?
Quem
entenderá o olhar hidramático?
Àquele
que vê a marcha passar sem controle
Um
não sei que
Que
atravessa a faixa
O
tentar que sua a testa
A
sua testa que beira o tal olhar
E
que assim se afasta do calor que assusta?
Quem
entenderá o olhar decassílabo?
Àquele
que nasceu soneto e virou quadrinha
Um
não sei que
Que
determina que nada saibamos
E
que aumenta a transpiração e colore as meninas
De
olhos soltos numa clara escuridão?
Saudade
Já
se vão as luas
que
demorei tanto para colher
e,
com elas, vão-se as conchas
de
mares que eu guardei
Já
se vão as brumas
que
levavam o meu barco
e,
com elas, vão-se as colchas
de
camas que eu pintei
Já
se vão as cartas
que
demorei tanto para escrever
e,
com elas, vão-se asvidas
que
eu vi e delas já não sei
Conversas
Ainda assim, acredito em minha
varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e
complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de
conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a
"me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo
passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com
muito amor, em todos os sentidos. Ainda assim, continuo a passear na praia, a
escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de
mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com
certeza, não.
Manhãs
Abril
de uma manhã intensa
extensa
foi tua carta
imensa
minha saudade
às
vezes o que nem fere hoje
amanhã
vem e mata
Comeram
as reticências
as
vírgulas e as broas
beberam
a compaixão
limparam
a desculpas com Q-boa
e
a vida passa
e
a vida borda
e
as lágrimas lavam as escadarias d´alma
Águas
O
céu prepara a lágrima
um
guarda-chuva protege a alma
línguas
atropelam a fala
águas
rompem calmarias, Marias e broas
água
na boca vindo de um céu da boca
numa
taça de um vinho um mundo todo
encharcar
é o prazer da lágrima
quando
namora um lenço
As
parceiras
Bebem noites,mas adoram café da
manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do
mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras
palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos
a elas...
(As parceiras não tem nexo. Nem sexo
devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito
de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)
São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.
Sabores
e copos trincados
Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de
mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra
"afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me
quebra
A taça é um disfarçar... quando brinda
Verbos
Há dias que nem me vejo
Passo sem ver meu querer
Um café da manhã sem gosto nem desejo
Uma sensação de quase morrer
Noutros dias vejo tudo diferente
Entendo quase morrer como estalar
Vejo uma vontade latente
Uma maravilhosa sensação de tentar
No parque de diversão do destino
As gangorras estão cheias...
Invasão
Nada me invade se não o que realmente
me invade
estou farto de segundas intenções
planejadas
e nas quartas-feiras janto às terceiras
às quartas, às quintas, às sextas...
de intenções já tenho uma semana cheia
O
amor é todo dia sempre
Eu preciso de riscos
Para fazer poesia
Eu preciso de amor
Para buscar boas rimas
Amor para mim é todo dia
Amor para mim é todo flor
Amor para mim é todo cor
Amor para mim é todo alegria
Mesmo que venha a tormenta e afaste o
dia
Mesmo que venha a tormenta e destrua a
flor
Mesmo que venha a tormenta e misture a
cor
Mesmo que venha a tormenta e leve a
alegria
Amor continua definitivamente para mim
Todo dia o dia todo
O
acaso dormiu
Todo o engano que houve foi por um
motivo conhecido
pediram para ler apenas uma página
e eu acabei lendo todo o livro
descobri todas as tramas, todos os
finais
quem ficou com quem e quem não veio
e assim os amantes que gostam tanto de
acasos não verão o filme
(ah... o filme nunca é melhor do que o
livro)
Palavras
Disse-me: esqueça-me
respondi: porque a pressa
a tréplica: há amor mas não há espaço
o término: o encaixe é tão distante
a volta num beijo
dois pontos de vista sem prazo
e um destino que brinca de mergulhar
no liquidificador
Absolutamente
Tem dias que eu sou cantante.
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante.
Beijo de mercúrio em que me arde.
A falta
A
falta
A
exatidão da falta
A
presença da falta
Sem
ata
Sem
data
A
falta
A
instransponível falta
A
marcante falta
Sem
salsa
Sem
valsa
A
falta
A
intragável falta
A
visível falta
Sem
máscaras
Sem
vísceras
A
falta que preenche tudo
Todo
o espaço para a falta
Desencontros
Um conto de sarda
Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina
Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina
A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...
Fomes
Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e
dizia
Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível
ilha
Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se
escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia
A fome comia...
Desejo
Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...
Tarde
Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate
Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso
O destino assopra
Os riscos e os ciscos
Deve-se
ter tino quando se decide correr riscos,
depois do
vinho juras de amor são endereços comuns,
ainda
preciso ver a poesia na rotina, na retina
para
acreditar em beijo no coração a vida inteira...
Saudalejar
Seu
nome saudade
Menina
de seios rijos
Pouco
ou nada de juízo
Cheiro
de leite
Sabor
de flor
Seu
nome amor
Menino
de dentes livres
Brancos
que um dia eu tive
Cor
de mar
Imensidão
de grão
Seu
nome paixão
Mulher
de lábios fatais
Afã
de talvez, clã de jamais
Música
de cor
Verbo
“saudalejar”
O acaso brinca
de rima
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro
das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço,
andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e
transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são
armadilhas bélicas
Atento aos relatosescuto a inconstante
passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide
quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de
chocolate do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações
sejam sempre as melhores janelas
Cabe-me a leveza da escrita para
deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável
duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa
querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me
de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só,
louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e
fugidias...
Marcas,
tatuagens e silêncios
Espelhávamos na própria carne quando
pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção
ardente
propúnhamos ser o que não éramos para
resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por
nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos
mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância
das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares,
ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos
mais
ledo engano
depois de algum tempo nos
reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida
Túlio
Piva
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem
lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um
passado tão bom
e ele “nem sei em que
data"... clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me
desculpe
Minha lua de menino sempre foi
pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".
As desculpas
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente
recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus
significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o
que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam
mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o
verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...
Contemporâneo
Nosso
romance começou num bar.
Eu,
tomava seu tempo.
Você,
vodca.
Depois
fomos num teatro.
Eu
assistia a peça.
Você
pregava uma.
Fomos
num motel.
Eu
pedia uísque.
Você
trazia o gelo.
(Enquanto
eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)
Você
caía na cama.
Eu
na vida.
Alguns
meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos
num trem.
Eu
teimava que era primavera.
Você
parava em qualquer estação.
Anos
depois, soube por alguém,
que
enquanto eu escutava Caetano,
você
saía com Chico, meu melhor amigo.
O que se
poderá ser terá o querer que se há?
Quem
entenderá o olhar?
Àquele
olhar que estou falando
Um
não sei que
Que
encaixa incômodo
O
enfadar que enfarta o farto amor querido
Que
existe num modo econômico
Para
não gastar energia e beijo?
Quem
entenderá o olhar hidramático?
Àquele
que vê a marcha passar sem controle
Um
não sei que
Que
atravessa a faixa
O
tentar que sua a testa
A
sua testa que beira o tal olhar
E
que assim se afasta do calor que assusta?
Quem
entenderá o olhar decassílabo?
Àquele
que nasceu soneto e virou quadrinha
Um
não sei que
Que
determina que nada saibamos
E
que aumenta a transpiração e colore as meninas
De
olhos soltos numa clara escuridão?
Saudade
Já
se vão as luas
que
demorei tanto para colher
e,
com elas, vão-se as conchas
de
mares que eu guardei
Já
se vão as brumas
que
levavam o meu barco
e,
com elas, vão-se as colchas
de
camas que eu pintei
Já
se vão as cartas
que
demorei tanto para escrever
e,
com elas, vão-se asvidas
que
eu vi e delas já não sei
Conversas
Ainda assim, acredito em minha
varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e
complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de
conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a
"me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo
passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com
muito amor, em todos os sentidos. Ainda assim, continuo a passear na praia, a
escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de
mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com
certeza, não.
Manhãs
Abril
de uma manhã intensa
extensa
foi tua carta
imensa
minha saudade
às
vezes o que nem fere hoje
amanhã
vem e mata
Comeram
as reticências
as
vírgulas e as broas
beberam
a compaixão
limparam
a desculpas com Q-boa
e
a vida passa
e
a vida borda
e
as lágrimas lavam as escadarias d´alma
Águas
O
céu prepara a lágrima
um
guarda-chuva protege a alma
línguas
atropelam a fala
águas
rompem calmarias, Marias e broas
água
na boca vindo de um céu da boca
numa
taça de um vinho um mundo todo
encharcar
é o prazer da lágrima
quando
namora um lenço
As
parceiras
Bebem noites,mas adoram café da
manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do
mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras
palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos
a elas...
(As parceiras não tem nexo. Nem sexo
devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito
de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)
São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.
Sabores
e copos trincados
Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de
mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra
"afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me
quebra
A taça é um disfarçar... quando brinda
Verbos
Há dias que nem me vejo
Passo sem ver meu querer
Um café da manhã sem gosto nem desejo
Uma sensação de quase morrer
Noutros dias vejo tudo diferente
Entendo quase morrer como estalar
Vejo uma vontade latente
Uma maravilhosa sensação de tentar
No parque de diversão do destino
As gangorras estão cheias...
Invasão
Nada me invade se não o que realmente
me invade
estou farto de segundas intenções
planejadas
e nas quartas-feiras janto às terceiras
às quartas, às quintas, às sextas...
de intenções já tenho uma semana cheia
O
amor é todo dia sempre
Eu preciso de riscos
Para fazer poesia
Eu preciso de amor
Para buscar boas rimas
Amor para mim é todo dia
Amor para mim é todo flor
Amor para mim é todo cor
Amor para mim é todo alegria
Mesmo que venha a tormenta e afaste o
dia
Mesmo que venha a tormenta e destrua a
flor
Mesmo que venha a tormenta e misture a
cor
Mesmo que venha a tormenta e leve a
alegria
Amor continua definitivamente para mim
Todo dia o dia todo
O
acaso dormiu
Todo o engano que houve foi por um
motivo conhecido
pediram para ler apenas uma página
e eu acabei lendo todo o livro
descobri todas as tramas, todos os
finais
quem ficou com quem e quem não veio
e assim os amantes que gostam tanto de
acasos não verão o filme
(ah... o filme nunca é melhor do que o
livro)
Palavras
Disse-me: esqueça-me
respondi: porque a pressa
a tréplica: há amor mas não há espaço
o término: o encaixe é tão distante
a volta num beijo
dois pontos de vista sem prazo
e um destino que brinca de mergulhar
no liquidificador
Absolutamente
Tem dias que eu sou cantante.
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante.
Beijo de mercúrio em que me arde.
A falta
A
falta
A
exatidão da falta
A
presença da falta
Sem
ata
Sem
data
A
falta
A
instransponível falta
A
marcante falta
Sem
salsa
Sem
valsa
A
falta
A
intragável falta
A
visível falta
Sem
máscaras
Sem
vísceras
A
falta que preenche tudo
Todo
o espaço para a falta
Desencontros
A
paciência era uma jovem educada senhora
Na
mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome Acaso
O
tempo passou, passou a hora
E
ela de tanto acenar cansou seu braço
A
paciência era uma jovem educada senhora
Na
mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome Acaso
O
tempo passou, passou a hora
E
ela de tanto acenar cansou seu braço
A
paciência era uma jovem educada senhora
Na
mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome Acaso
O
tempo passou, passou a hora
E
ela de tanto acenar cansou seu braço
A
falta
A
instransponível falta
A
marcante falta
Sem
salsa
Sem
valsa
A
falta
A
intragável falta
A
visível falta
Sem
máscaras
Sem
vísceras
A
falta que preenche tudo
Todo
o espaço para a falta
Desencontros
A
paciência era uma jovem educada senhora
Na
mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome Acaso
O
tempo passou, passou a hora
E
ela de tanto acenar cansou seu braço
Nenhum comentário:
Postar um comentário