sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mais histórias de Quirina e Dolores

Resposta
                     
Fico esperando uma maneira de explicar um sim...
Abro a mente, o livro e uma lata de tônica.
Onde estará o gim?
Enfim, a febre é alta, mas não é crônica.
Dolores riu muito quando leu estes rabiscos. Aproveitou, e com um sorriso maroto no rosto, disse: - Fui eu...
- Eu o quê, Dolores?
- Fui eu quem pegou emprestado o gim, respondeu-me, já um tanto “alegrinha”...
Mas o teu sim eu não sei quem levou...concluiu).

O amor é um tesouro
                   
O amor é um tesouro.
Deve, por ser precioso, ser escondido?
(Quirina lê rapidamente, arregala os olhos, “pensa alto”...
- Tesouro? Escondido? Precioso?
Vira-se pra mim e diz, secamente:
- Pode começar a responder a pergunta. Agora. Já.
Aproveitei um descuido dela e pulei a janela.
- Que perguntinha marota eu fui inventar...

Um silêncio que grita

Qual meu norte, Dolores, qual meu norte ?
Dolores diz ... “Minha bússola toma café comigo e já não faz mais sentido”.

Sopa de letrinhas
                    
Ah... tem dias que todos os dias são dias “D”,
e nem sempre na hora “H” colocam os pingos nos “IS”.
Todo mundo corre atrás do “X” da questão.
Outros buscam o ponto “G”.
Ah... troca-se uma letra e muda-se tudo.
Troca-se uma letra e muda-se o mundo.
Mala, sala, cala, fala, rala, bala...
Ah... Queria a receita,
queria a letra,
queria o mapa,
queria a dica,
queria ao menos uma pista.

Ah... Quirina lê tudo com atenção, como sempre faz, enche a colher e comenta:
- É sopa, mas não é sopa este mundo.

(Vai entender os riscos e os sabores dessa vida...).

  
O chá das cinco

Filmes em preto e branco não se deve colorir
São belos assim.
Deve-se ler o romance inteiro, e não começar pelo fim...
Queijos e vinhos devem ser degustados com calma,
sem tempo, sem telefone, sem campainha.
Ao escutar uma música, abra os ouvidos,
mas não se esqueça de abrir também a alma...

(Cleomar leu com o olhar de anjo de que tem, olhou Quirina e disse:
- “O entardecer pertence aos que amam os dias e as noites”.
Quirina, encantada, sorriu e trouxe duas xícaras de chá de maçã).

Quintana e a solidão                                                                         
                     
Quintana tomou chá comigo na Páscoa.
Trouxe biscoitos e um papel de chocolate com um escrito seu.
Tomamos chá, sumimos por instantes e mostrei um escrito meu.
Num ninho próximo um coelho cochilava, sem a mínima noção do tempo.
Quintana sorriu, despediu-se e aconselhou colocar rum no chá...

  
Todo o tempo do mundo num só instante de dor

O tempo cura tudo, Quirina ?
Depende o tempo, responde Quirina, olhando pra uma manhã linda e clara.
O que cura mesmo é uma tempestade bem forte.
Só assim nascem manhãs iguais a esta.
Ah, Quirina... tens tempo... tens tempo...

Interiores

Dolores foi à farmácia para comprar tranquilidade.
Tomou comprimidos bem fortes para ver todas as cores.
(Quirina, indignada, num só grito resume:
Que adianta pintar a fachada, sem colorir os interiores?).

Das interpretações

Quirina comprou um sonho num domingo de sol e de creme...
E tudo parecia suficientemente completo...


A solidão de Quirina
          
Quirina e seu vinho tinto.
Seco, como a vida, ela insiste em dizer.
Mas não são goles tristes, esclarece.
São devaneios que a solidão tece,
embalada pela cadeira do tempo,
como se a felicidade estivesse contida em uma taça,
que fora quebrada pelo vento...

A solidão de Dolores

Dolores e seu vinho branco.
Suave, como a vida, ela insiste em dizer.
Mas não são goles suaves, esclarece.
São modos de entender algum desgosto,
que procuram esconder o que a solidão tece,
como se a tristeza estivesse contida em uma taça,
servida em uma manhã fria de agosto...


Crônicas de um mundo bem contemporâneo           

Ensaiou uma crônica
deixou um bilhete
pediu gim
implorou uma tônica
ensaiou a bula
escondeu a receita
Quirina é louca
mas aproveita
o sol acorda
a lua deita
a vida é simples
e se ajeita

Pequena canção de um céu da boca estrelada depois de um dia de sol

Abriu a carta, a janela e uma garrafa de vinho branco seco.
Abriu o coração, a caixa de fotos e até a flor do vaso abriu.
(Quirina que passava por ali, abriu um longo sorriso e a noite em que se encontraram ainda não terminou...).
  
O vestido de Quirina (coisas corriqueiras)   
         
Quirina comprou vestido novo, vermelho, bem curto, rendado, de alças, rodado
Quirina foi à padaria e Dolores não a reconheceu.
Dias depois Quirina contou o fato e Dolores respondeu: "Pensei que ‘fosse’ um bolo"...
Quirina arremessou um vaso de flores em Dolores.
Hoje já fizeram as pazes.
E o vestido em questão virou um porta gás - comenta Dolores, com um riso maroto.

Quirina 40 graus                                                                                

Ferve,
Arde,
Queima,
Provoca.

Água na boca,
Água na bica,
Água no beco,
Água na barca.

Quirina bebe todo o mar,
Quirina bebe o verão,
Quirina bebe de canudinho
toda a inundação.

- Larga esse termômetro, Quirina... Nada poderá te medir...

Dizeres

O amor deve regar à flor da pele
Por que o que arrepia, cutuca, aproxima
É uma cachaça, uma ambrosia
Um sentimento que dá gosto, alegria
Que provoca o querer, alquimia
Que remexe, bole, mistura
Que dói, que deixa a face rubra, que cura

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