segunda-feira, 3 de agosto de 2009

* AGOSTO de 2009 - Vida a gosto

Do tamanho do que eu sinto

Tem horas que a vida parece um não ter jeito nunca mais
Nem tem saída, não tem meio termo, não tem palavra
Uma disritmia louca, de boca seca, de paralisia, de bode
A tristeza vem, acumula, toma conta, asfixia, crava
Fura feito punhal, sal na ferida, céu turvo, mão desvalida
Meio do oceano e foram-se os remos, e foram-se as calmarias
As sinais sem finais felizes, os finais sem beijos nem sorrisos
Falta vinho na garrafa, falta teu corpo na cama, falta a chama
Tem horas que a vida não passa, que o tempo não passa, que a paixão não passa
Não tem resposta, não tem quem goste, não tem quem venha
Vem um vazio, tamanho de rio, correnteza e frio
Uma fagulha e o olhar tenso de um facho de lenha
Um calafrio que não me leva a tua silhueta e provoca a solidão
Fim de feira sem maçã para pecar, alimento que faz gostar
Como uma loucura intensa que frequenta e cutuca a pouca sensatez que resta
Como uma sexta-feira em que se entrega toda a esperança que o calendário há de melhorar

Sabores

Na manhã de café sem açúcar
Que sabor o sol terá?
Margarina e insônia no pão
Será que o destino também vai passar?

Dor

Dói
A alma
O corpo
Perde-se a calma
Vê-se o osso
Que trinca
Pede-se um pouso
Que voa,
Que lateja,
Que acompanha cada lágrima
Que nunca me abandona

Despertar

O latido de um cachorro ao longe acorda o mundo
A vontade morde os lábios
O mar invade o muro
E minha esperança com a boca cheia de vinho diz que a felicidade virá
(e hoje eu já me acredito)

Vazios

Do tamanho da sede quando bebi um mar
Um deserto e uma rede vieram me apanhar
Um banho de águas que eu não naveguei
Um céu aberto de asas livres que eu não voei

Um não entender que esclarecia tudo
Um gritar num estalo que me fazia mudo
Uma vontade que eu tinha e não desenhei
Uma vida que não era minha e eu aceitei

E os anos passaram remoendo sonhos
E os sonhos passaram devorando os anos
E eu não vi o que tinha feito da minha vida
Agora acordo sem ter cor alguma para desenhar meu quadro

Mas prossigo a leitura

Dos versos

Sei o que Florbela sentia
Sei das loucuras de Leminski
Sei da solidão da razão de Quintana
E do corpo doido que encantava Drummond

Por isso entendo os uísques de Vinicius
E os fumos entre os dedos da tabacaria de Pessoa
Sei o que minha dor descreve
Pois sei que a poesia
É uma dor que também rima


Navegações

Sou mar e converso
Como se tu foste a embarcação que sonha
Quais serão as águas que banharão teu nexo?
Qual será o porto que abrigará meu sal?
Inundação é uma paixão que molhe os lábios


Limite

Limite é uma linha que se enrosca no destino
E tece colchas e tece cobertas para aliviar o frio do menino acaso
O barulho do mar me faz esquecer o barulho da minha vida


Receita

Amor de a gosto
As vezes vem com pimenta demais,
As vezes falta sal,
As vezes tanto fez,
E as vezes tanto faz,

Não acredito em receita de amor


Queima e vida

Mil vezes morri sem sentir
Que a vida queria me dar uma chance
E cada morte e a cada dor
Eu via uma parte de um mundo queimar
E hoje sei que minhas mortes me fizeram viver e
Quando queimei me iluminei por dentro
E pude ver que eu poderia viver de verdade

Queima e vida II

Toda a solidão do mundo sinto e aprendo a viver com toda a solidão do mundo
E assim quando não existir mais a solidão terei prazer em ficar também só

Meu olhar

Tenho hoje olhares que nunca senti que teria
Um olhar tão meu
Que muitas vezes me dá agonia

Um olhar que é o meu norte
A minha vontade
E a minha alegria

Como vivi tanto tempo sem este olhar?

Distração

Cheguei nem vi
Não dei bola
Nem dei razão
Ela me deu um beijo na boca e disse
Que estava chegando o verão
A vida começara ali
Num beliscão

Gaivota

A gaivota me reconhece
Onde andará ela, suas asas me perguntam
Ela voou... minha amiga gaivota

No Blues

Se afaste
Arrede
Sou reds
Minha paixãoé linguagem
E é vermelha
Mas adoro B.B. King e John Contrane

Os mares

Quase que “um morrer” vi naquele mar que afogava luas
Porque mar, meu amigo, também mata
Por mais maravilhoso que seja seu existir

Era náufrago de “mim”
Vivia “me” procurando
E de tanto nadar contra a correnteza
Acabei “me” achando

A rua

Tem uma rua que era tão minha
Que eu com desejo ladrilhava
Com pedrinhas de brilhantes e com luares
Ela iluminava o que via

Era tinha nexo
E tinha poesia

De repente já não mais andar nela eu podia
A rua não era tão minha assim e eu não sabia


A multidão

O que eu não vi
Toda a multidão viu
O que para mim era completo
A multidão a tempos, dividiu
Tinha rasgos àquele cobertor
E passava o frio


O ornitorrinco

A ausência é um ornitorrinco
Estranho, mas existe

A ausência não avisa que chega e chega

E o ornitorrinco nisso tudo?

Vai pesquisar, Quirina


Todo o tempo do mundo

Todo o tempo do mundo é pouco
Quando todo o tempo do mundo não conta
Porque todo o tempo do mundo só vale quando se quer entender todo o tempo
do mundo como se fosse todo o tempo do mundo sempre pouco
As medidas são invenções dos limites
E todo o tempo do mundo pode ser tudo ou nada


Virá

Dançava uma lua
Despertada por um amor que eu sonhava
E sempre no fim de uma rua
A esperança do querer se aproximava

Sem ver
Sinto que já vi
Porque o sonhar é um jeito de se redescobrir

Navegação

Destoa agora meu mar
De tudo o que outrem pensava
Ser navegação
Sem escutar a bússola
Procurando se perder
Tal qual uma canoa
Procurando se encontrar

Insônia

Viro a rua
Viro a mesa
Viro bicho
Viro copos
Viro xícaras de café
Numa noite já tão acessa

Mergulho

Em meio a um afogamento
Para disfarçar, mergulho
A inundação da minha sede
Um dia secou meus sentimentos
Espero agora novas águas

Consequencia

Já se faz vento
As velas vão para o mar
Fugir é uma correnteza
É hora, pois, de remar

Consequencia II

Já se faz silêncio
Escuta-se somente o vento
Gritar agora é uma vela
Que tem medo do tempo

Reza - (vai virar música)

Tem uma reza
Que preza
A lua posta
No mar
Bruxas e suas danças,
Vassouras e cirandas
Partindo pra navegar

E bem no meio da madrugada
Com flor de laranjeira que vinga
A moça apaixonada
Esquece da sua vida
E olha pro céu e pede
Resposta pra sua mandinga

O amor precisa de reza
O amor precisa de reza
Nunca deixe de rezar


O aparelho

Deveria existir um aparelho que medisse maldade. E que quando chegasse a um ponto que estivesse insuportável ele soasse uma sirene e guardas, treinados exaustivamente, retirassem essa pessoa da convivência das outras. Sei que o leitor deve estar pensando: Onde colocaríamos tanta gente?

Resolvendo esse problema, o aparelho seria um bem para a humanidade.
Por que nunca vi, em tempo algum, tanta gente querendo o mal para os seus semelhantes. Rasteiras, armadilhas, fofocas, pisões, ofensas... enfim, o aparelho ainda não existe, mas sabemos quem são as pessoas que precisariam dele, então, afaste-se delas.

Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra


Andar

Todo o andar que eu não tinha
Todas as palavras que eu guardei
Toda a emoção que era minha
Todo o cantar que eu calei
Agora são a minha vida
Que por amor resgatei


Trechos da dor

I
Há uma dor que eu não sei nem contar.
Que entristece meus movimentos, meu rosto, me adoece por dentro, me faz esquecer o que eu achava que era mais do que tanto e que nunca iria morrer.

II
Quero um amor que me faça sorrir, que tenha tintas de colorir passos, que me provoque acasos e liberdades, que faça “me permitir”, que me deixe voar e tenha voos e que voemos juntos inteiramente.

IIISei que os encaixes estão se aproximando à minha vida, está no ar, não sei explicar e minh’ alma já admite que posso redescobrir a exata sensação de um sentimento que me fazia navegar e que tinha como porto, literalmente porto, a felicidade. Redescobrir pode ser um mudança total, uma cor nova no olhar.


O silêncio

O silêncio é uma lâmina afiada
Horas mortas
Segundos eternos
O vazio ressaltando os tic-tacs

O leite de ontem, talha
A palavra não dita, corta
E o arame
Que prende a razão, desfia
E tem queda por uma navalha e também se dobra


Lavação

Há tanta chuva
Em meus olhos
E a vida, ainda, venta
Mas vou lavar minh’alma
Na tormenta


A “fumacinha”

A chuva fazia arder meu coração
A paixão fervia
O amor virava uma “fumacinha”


O varal

Nuvens carregadas passeavam num céu azul
Roupas da vida no varal e o destino andava nu
Vislumbrava-se naquele momento um grande banho de chuva


O passado

Parece que toda a chuva do mundo
Caiu agora sobre meu corpo
E além das escadarias e das almas
Lavaram também minhas antigas fotografias


A previsão

A previsão do tempo informou ontem a noite
Que no sul choveria...

Aproveitei o bom tempo que ainda havia
E lavei minhas poesias na pia...

Acordaram bem secas...


Tempo

Tempo fechado
Futuro do pretérito
A terceira pessoa do plural
Está em débito
E o pretérito mais que perfeito é ficção
Ou um grande erro de conjugação
Quantas pessoas moram num par?

Canoando

Ando canoando por ai.
Alguns ventos, algumas velas.
Sopros numa imensidão
em que as vezes me perco.

Ando também escrivinhando
nos muros altos que não
me deixam ver o outro lado.
Estou a escalá-los com versos
e cantorias.

Ando, vez por outra, compondo
vinhos em garrafas com mensagens
dos Nicanores que permeiam
nossas páginas de vida.

Enfim... minhas embarcações agora
já me levam por onde eu quero.
O que já é uma vitória, Nicanor.

Adorei a notícia do trio.
Gostaria muito de ver um ensaio, caso eu possa.

Outrossim, preciso dos meus rabiscos que contigo estão.
Estou a selecioná-los... quero um livro agora, também.

Ah... Nicanor, os vinhos secos tintos chilenos desenham minhas noites....

Forte e saudoso há braço



Viagem

Quando viajo me perco
Quando me perco me acho

Diário de Bordo - Primeira Parte
Partida Florianópolis 30.07 23h
Chegada Porto Alegre 31.07 05h15m
Partida Porto Alegre 02.08 16h30m
Chegada Florianópolis 02.08 23h30m
Poesias escritas em Porto Alegre
Ganzo - Casa da Márcia, minha irmã

Viagem para escutar o que já estava escrito...

Os rasgos de um corpo feito Porto. (ou a primeira crônica de muitas que serão escritas em Porto Alegre)

A minha segunda preocupação quando da viagem à Porto Alegre era se eu “gostaria” de Porto Alegre. E gostei imensamente. A primeira preocupação que incomodava todos os sentidos era se Porto Alegre “gostaria” de mim.

Andei por suas ruas, vi seus sorrisos, vi seu sol e sua chuva e principalmente uma fala que vinha das pessoas e era toda a linguagem que eu entendia. No final da manhã de domingo Porto Alegre disse-me que também gostou do que via e ouvia. Fez a ponte e por Redenção recuperei ruas dos meus sonhos e “talvez do meu repouso”, já diria Quintana.

Os rasgos das palavras provocaram intenções que há muito tempo ardiam, que passeavam em minhas veias, que de todas as maneiras possíveis tentavam fazer meu corpo e minh’alma despertarem.

Aqui pude ver e sentir a força real desses rasgos e o que eles poderiam fazer por mim. Porto Alegre teve paciência e calma comigo, me abraçou quando devia, me cutucou quando viu todo “o precisar” latejar feito ferida aberta. Algo mágico aconteceu. Talvez realmente a Ilha precisasse de um Porto, talvez as asas que possuía uma vida inteira quisessem esse pouso.

O “Alegre” do “Porto” faz sentido agora. A distância desapareceu. As cores de que me falavam, as boas bocas, é claro, estavam ali e acolá e me levavam por suas ruas.

Tenho endereço aqui, posso morar, me hospedar, posso me permitir, posso sonhar, tantas águas e um só Porto de braços abertos, de um cais que me fez sorrir, como há muito não sorria.

Por que não vim antes? Mas tudo tem a hora certa, a viagem correta, a melhor hora do beijo é a hora que as paredes enormes e grandes e brancas e infinitas encontram uma caneta para riscar, desenhar, percorrer, amar – feito as paredes do Museu Iberê Camargo, feito o café que tomei às margens do Guaíba e que por incrível que pareça tomou mais conta de mim.

Preparem os passaportes gurias... Quirina, Dolores – Porto Alegre é demais.

Os naufrágios

Os naufrágios do nosso destino
Nasceram meninos
Com sonhos tantos
E embalaram risos
E entoaram cantos
E deixaram felizes tantos corpos
E se encontraram tempos depois
Nos Portos d’alma

O tempo dirá

O tempo dirá ou poderá dizer
que o tempo passou e passou também o meu querer

Redenção

E meu amor estava ali
Ao sentar em teu parque
Vi toda a magia que havia
Mas amor é camaleão
E hoje a Hercílio Luz não tem caminhos para a Redenção

É amor

Tenha certeza
Nada poderá ser assim
Senão quando é tudo
Conversas iguais as nossas
Mesmo sendo “camaleonas”
São realmente as donas e as escritas
do nosso destino
É guardar para ler daqui algum tempo


Frases e rasgos I

Usava alvejante na alma
E ninguém via a tristeza contida

Frases e rasgos II

O calendário de outono
são folhas sem dono

Frases e rasgos III

Pela maçã do teu rosto
eu esqueceria qualquer paraíso

Frases e rasgos IV

Minhas limitações eu coloquei agora
no frasco das inverdades

Andanças

Andei pela manhã nas ruas que Mario ainda anda
Nas ruas que meu amor passa
No Porto que eu sonhava e agora vivo

Na mesma manhã que a impossibilidade
Transformou-se em beijo
E por tanto desejo a conversa ganhou corpo
E o sentimento, alma


Trechos

Andei por Porto Alegre como quem come algodão doce e se lambuza...

Porto Alegre me alegrou muito.
Entendi porque é Porto e fiquei alegre
como tal.

Arrepio não quer dizer frio.
Porto Alegre tem algo que emociona, esquenta e encanta.
E mora no ar.

Estou necessariamente surpreso aqui não estou preso


Coisas de marinheiro


Se o amor mora no Porto...
Banhe-se

Estou em casa, sensações de sempre num lugar que vi tão pouco


Trechos

As esquinas desse Porto têm gosto de cais


Mudança

A ilha sabia que precisava de um Porto.
O que era postal virou retrato.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

* JULHO de 2009 - Minhas viagens à Noruega e às Ilhas Gregas, sem passaporte, em pleno inverno de Florianópolis, Torres e Porto Alegre.

...

Ar

Boca de tanto mar
Louca de tanto amar
Rouca por silenciar
Água para lavar:

as almas
as calmas
as palmas

Luas de todas as cores
Luas para curar as dores
Luas enfeitando as flores
Água para lavar:

os jardins
os confins
os fins

A linha

Toda a linha rompe
para alinhar cacos e
descobrir fatos
embaixo do tapete
toda a linha tem sede
quando o deserto se rompe
quando o grande amor "é longe"
quando a pergunta mais exata "é quando"

Sentimento

Ontem dormi sonhando,
era teu beijo na madrugada,
suave e ao mesmo tempo intenso,
lembrança de bons ventos...

Música nova : Téo Carneiro - Edike Carneiro -

Calor de Inverno

D C9
Sutilmente diga
G/B
Que a calefação pifou
E me abrace
G
Nem disfarce

D C9
Pois minha temperatura
G/B
Está de olho na tua
G
E agora... sua

A segunda pessoa do singular
Está nua
Na lareira dois corpos
Brincam de queimar
E uma nuvem feito neve
Em G
Nos aproxima

Em G

D C9
Agora não adianta
Diga tanto
G/B
Que eu sou teu canto
G
Não fale “destino”
D C9 G/B
Vem esquentar teu corpo na noite fria
G D
E tem um porto que arde na ilha
C9 G/B G
D C9 G/B G
Que alucina
D


DECLAMADO (faz parte da música)


O inverno permite nós
E tudo pode ser agora
Encantadoramente
As lágrimas e as respostas
Surgem como vinhos
E tua face rosada
É a cor exata da armadilha


Do reinício

E veio a primavera e o verão juntos em pleno inverno.

Depois de algumas palmadas, o renascimento.

Leia agora o capítulo um.

A eternidade

A eternidade não precisa de fala, é um vento que beija, uma água que banha, uma lembrança que age, um coração que ama... Há braços de vinhos com Cartola e Noel.

Um frio

Tinha n’alma um frio
Que gelava cada ato
E cada palavra
Um arrepio de medo
Um gelo e um segredo
Que não deixavam o sonho virar fato

O amor precisa ficar bem
O amor precisa fazer sorrir

Procuro um mundo, um corpo
para me esquentar, para ferver a minha vida

O que Chico já tinha escrito

Beijo feito tatuagem
Nessa viagem
Nessa história de amor
O que era paixão
Virou miragem
Nesse deserto
Nesse teatro
O que era encantamento
Virou sede
Virou fome
E nossas bocas já não tinham
nenhum alimento

Beijo feito tatuagem
Agora só para recordar
E eu não sonho mais
com o que não tem jeito

Um coração aberto,
ferido,
tantas lágrimas
em pouco mar

Guardar

Preciso demonstrar para mostrar o querer que tenho e não se vê
Parece simples, ingênuo, fácil
Parece um simples toque, uma palavra na hora certa, um estalo

Preciso contar que quero abraços, beijos e conversas fiadas pela madrugada, regadas a vinho e risos

Preciso nesse exato momento uma amiga amante ardente e humorada

Definitivamente me vejo sincero

E não vou guardar mais palavra nenhuma, nem calar minhas vontades, com receio que meu rosto fique rubro.

A falta

A mão que feriu sem motivo
Agora quer acalentar
Escuto um uivo
Em meio a belas palavras e carinhos sem cor

Decididamente teu ato é desespero de perda
O que tinhas inteiramente agora nem vês
Nem linhas, nem voz

Prossigo
Preciso começar a viver
Meus quarenta e tantos anos me dão ainda um tempo

Preciso de beijos sinceros
Parcerias e banhos de mar
Mar e violão

A simplicidade beija a felicidade e se completa


Notícias

Fiquei sabendo do que eu queria saber pela tua boca por um fulano amigo do beltrano conhecido do cicrano e ali rompeu a última linha que nos ligava

Arrebentada pela falta de consideração e assim me vi liberto de um acorrentamento imposto por situações que eu não quis

(Podes ser agora muito feliz, clama Quirina e o olhar atento de Dolores me faz abrir um largo sorriso).

Romper

O sol rompe
O sol some
O sol alimenta
O sol é fome

Quebras

Feche a porta sem bater
Deixe a chave embaixo do tapete
Nossa vida já está lá

Partimos sem nos conhecer
Corríamos sem chegar
Nunca fomos um par
Nunca ficamos sem ar

Nem tantas fotos temos

Sobre o mar

Tinhas em mim um barco que te protegia dos perigos do mar e assim conhecias somente o que há de bom em navegar e viajavas feliz

Errei sim em não te ensinar a nadar, em não te falar dos naufrágio

Para amar é preciso navegar sob qualquer tempo


Nada trazia melhor minha distância do que o teu olhar longe


Quem nos via junto não nos enxergava
A invisibilidade do outro fazia parte do cotidiano

Não me venha agora falar de “morrer de amor” e que “não te vês sem mim”
Vazio

O que mais dói em nosso fim
É não ter o que contar
Nunca passamos nada juntos

Das cartas

O que se fazer depois de ler a primeira vez uma carta de “fim”?

Ler a mão e suas linhas?

Ler as entrelinhas de suas frases?

Ler a música que não havia?

Ler o que nunca fora traçado?

Ler somente o que continha?

Ou deixá-la no meio do livro, para ser encontrada, bem mais tarde, amarelada e assim sentir saudade sem mágoa?

Do precisar

Quero um amor novo
Sem vícios ou com todos eles em parceria
Sem artimanhas ou com elas no café da manhã
Sem segredos maus, só com segredos bons

Quero um amor sem passado ou com ele
livre e claro
Sem desmaios ou só com desmaios de emoção

Quero quem eu nunca vi
Para olhar o futuro com paixão

Das mentiras

Teu olhar dizendo o que sempre disse e tua fala dizendo “e cuida”

Alguma coisa não combinava
Talvez já estejamos em outros mundos

(minha mágoa não é não tê-la, minha mágoa é um dia pensar que ative)

Um tronco no meio de uma inundação vira barco...


Contramão

Não há ninguém
Não tenho ninguém
E meu querer busca
E o teu querer não vem


Um frio

Tinha n’alma um frio
Que gelava cada ato
E cada palavra
Um arrepio de medo
Um gelo e um segredo
Que não deixavam o sonho virar fato

O amor precisa ficar bem
O amor precisa fazer sorrir

Procuro um mundo, um corpo
para me esquentar, para ferver a minha vida


O que Chico já tinha escrito

Beijo feito tatuagem
Nessa viagem
Nessa história de amor
O que era paixão
Virou miragem
Nesse deserto
Nesse teatro
O que era encantamento
Virou sede
Virou fome
E nossas bocas já não tinham
nenhum alimento

Beijo feito tatuagem
Agora só para recordar
E eu não sonho mais
com o que não tem jeito

Um coração aberto,
ferido,
tantas lágrimas
em pouco mar

Guardar

Preciso demonstrar para mostrar o querer que tenho e não se vê
Parece simples, ingênuo, fácil
Parece um simples toque, uma palavra na hora certa, um estalo

Preciso contar que quero abraços, beijos e conversas fiadas pela madrugada, regadas a vinho e risos

Preciso nesse exato momento uma amiga amante ardente e humorada

Definitivamente me vejo sincero

E não vou guardar mais palavra nenhuma, nem calar minhas vontades, com receio que meu rosto fique rubro.

A falta

A mão que feriu sem motivo
Agora quer acalentar
Escuto um uivo
Em meio a belas palavras e carinhos sem cor

Decididamente teu ato é desespero de perda
O que tinhas inteiramente agora nem vês
Nem linhas, nem voz

Prossigo
Preciso começar a viver
Meus quarenta e tantos anos me dão ainda um tempo

Preciso de beijos sinceros
Parcerias e banhos de mar
Mar e violão

A simplicidade beija a felicidade e se completa


Notícias

Fiquei sabendo do que eu queria saber pela tua boca por um fulano amigo do beltrano conhecido do cicrano e ali rompeu a última linha que nos ligava

Arrebentada pela falta de consideração e assim me vi liberto de um acorrentamento imposto por situações que eu não quis

(Podes ser agora muito feliz, clama Quirina e o olhar atento de Dolores me faz abrir um largo sorriso).


Romper

O sol rompe
O sol some
O sol alimenta
O sol é fome

Quebras

Feche a porta sem bater
Deixe a chave embaixo do tapete
Nossa vida já está lá

Partimos sem nos conhecer
Corríamos sem chegar
Nunca fomos um par
Nunca ficamos sem ar

Nem tantas fotos temos

O "X"

O valor do X pude ver que é relativo, tem a ver com a língua portuguesa também, o valor do X passa pelo sujeito e seus predicados... e o tempo é um pretérito as vezes não tão perfeito ou mais do que perfeito assim...é a segunda pessoa do plural precisa de toques e palavras.

Tuas palavras na minha vida
(Uma pequena crônica para dizer o quanto me fascinas)

Tem uma flor no meio da noite
Perfume, encantamento, convicção
Convido-a para um jantar a luz de velas,
Aquarelas,
Convido-a para dançar, luares e janelas
Noites de tatuagens e banhos e nudez
Como a vida fosse uma eterna aventura,
Uma moldura com um desenho erótico
E uma música de Candeia
Flertar com inteligência e alquimia
Tuas palavras
Fontes de inspiração da minha poesia

Modos

Ao meu entender era entardecer
E o amor ficava assim tão tarde

Um corpo sem paixão à morrer
E o outro corpo à arder

E a vida assim só arde

Pois, já fomos dois em algum lugar


Do olhar

Teu olhar sem linho
não é terno,
nem faz ninho.


Da viagem

Ando sem norte,
mas fim de amor
não é morte.
Depois da dor.
Boa sorte.


Da disputa e do jogo da palavra

Fora do jogo.
Out.
Black out.
Eu digo – amante.
Mais adiante é um lugar que jamais chegará.


Da tecnologia

Noite fechada.
Só vejo luar numa mensagem de celular
e é crescente.


Do ultimato

No último minuto da última hora
Tua face cora e diz sim

Mas agora não existe mais nada,
Nem vaso,
Nem flor,
Muito menos, jardim.


Do alimento

O que morre agora sabe
O que há de ter vida depois.

Não afirma que um mais um é dois,
o destino não nega,
apenas agrega o acaso ao feijão com arroz.


Da flor

Vez por outra
Vou ao Distrito Federal
Só para fazer luar para uma flor
que nasce agora no planalto.

Sei, é uma viagem minha, mas tal flor
sempre foi meu salto.
Da inércia a vida.
Do sonho ao ato.
(Quirina, não te darei explicações).


Da lâmpada

No semáforo
Uma proparoxítona
Toma conta do trafego


Do amor

O valor do x
nesse exato momento
foge do já.

O amor assim chama o destino
de xará.

Entender é um beijo.


Da complicação

é notório o aleatório
escolhe o óbvio nas incertezas

o acaso também beija a certeza
e o nunca mais, casa.

Da rima

Um pingo de chuva
Molha a luva
E bingo
A rima pode ser um disfarce

Da cor

A foto amarela
O sorriso tão claro
A vida azul
Num amor tão verde
Ah... ganhei de presente uma aquarela.
Muito obrigado, Quirina.

Amor de imensidão

Muita luz no teu dia...
Muito porto no teu mar...
Muito amor na poesia...
Muita estrela no teu ar...

Muita presença na ausência
Muita certeza na imensidão
Muita flor no pensamento
Muito existir no coração


Outono

O tempo tem longos braços,
vão-se as folhas dos calendários e caem feito outono,
mas de repente voltam e abraçam de novo...



Recebi este email de minha irmã, a Márcia, e compartilho minha felicidade com todos vocês.

Motivo...‏
De: Marcia Alves Carneiro (marciacarneiro17@hotmail.com)
Enviada: terça-feira, 7 de julho de 2009 10:00:49
Para: edike_rs@hotmail.com

Não há muitas palavras... É lindo demais. Uma declaração mesmo.
Parece que ali, tu consegue lavar tudo, nos pingos da chuva.
Tua poesia pisa em calçadas molhadas e conta os escorregões e a garra que se tem que ter pra levantar.
Os dias nublam sim, mas peraí... essa é a forma.
Ali tu desejava o sol tb, e deixava claro sob qualquer tempo, que merecia amar mais.
Fez a feira em qualquer dia da semana, queimou feito a quarta-feira de cinzas, se juntou, se recompôs sempre, olhou, viu, e a vontade de continuar e a certeza do sutil e o quase covarde medo sumiram... nada te derrubou. Pelo contrário. Tudo te manteve e esse amor te fazia renascer cada vez que teu chão sumia. Sutil a maneira de tudo. Só um poeta pra fazer a gente visitar e ter idéia. Fez não doer mais a dor que tinha. Amar não pode ser doloroso mesmo.
Acho que são sinais.

Tô ctgo sempre. E acho que tudo vale à pena, qdo é verdadeiro e imenso na tua alma!!!! E é.

Te amo. Perdão se não consigo "o sobre". Mas quando fico assim, de cara com tanto, as palavras brincam, se escondem de mim...me espiam e dão risada da minha cara... Mas como conto com a tua leitura e olhar de poeta...arrisco...
Bj amado.
Até.
Márcia Carneiro.



Beijos

Beijo feito pão
Beijo feito água
Beijo que deságua
E alimenta o coração

Beijo feito grão
Beijo feito café
Beijo que lê
As entrelinhas do coração

Beijo feito mar
Beijo feito rio
Beijo que desafia
Meu coração em desafio

Beijo que me prende
Beijo sem pressa e sem tempo
Beijo que assim rende
Outros beijos, outros alimentos


Viagens

Preparo já meu roteiro
Pois a certeza da viagem é segura
Já sei quem vai comigo
Já sei dos meus sorrisos e gozos
Já conheço o que fazes em mim
Minha viagem começa agora
Para nunca mais ter fim



Pirlimpimpim

Não tem fim
Não tem fim
Não tem fim

O que dura tanto é encanto
O que dura tanto é caminhar
Paixão que compõe um canto
E que nos faz rir
Amor para não tem fim
Nuvens e Amores

Nuvens de chuva
Nuvens de sol
Frio e nudez
Calor e luva



Minha lua

Uma semana sem lua
Uma semana sem rota
Embarcações perdidas
Corações à deriva

Afogamentos de mágoas
Lemes, remos e lágrimas

Quarta-feira tem lua cheia
Adormeço e sonho com ela
Quando desperto vejo a lua
Suspirar e voar pela janela

terça-feira, 2 de junho de 2009

* JUNHO DE 2009 - Motivo

A verdade sobre embarcações,
mensagens em garrafas, gaivotas,
portos, ilhas e outras navegações


Navegar

"Deixa" meu amor de porto navegar enquanto tem ar
nas velas...



Alma de Artista


Alma tem cor
Um dedal abraça o mar
Navegas assim

Tudo que é feito com paixão
Vira imensidão
Colhe-se pétalas
e o artista faz o jardim


Provocações

O quanto
Permite
O tanto
O quando
Provoca
O “ando”

O querer
Permite
O ter
O ser
Provoca
O “ver”

O tempo
Não apaga
Um encanto


Àquele olhar


Qual foi àquele olhar de Quirina
Quase um punhal
Uma lança em brasa
Direcionado para a minha boca
Que acabara de dizer:
- Desisti.

Entendo Quirina
Há tempo para tudo
Mas também o tempo se esvai

Um novo tempo começa,
Mesmo com o teu olhar queimando minha decisão


Constatação

O luar é um cachecol
Com o qual eu protejo teu pescoço
Dos meus beijos roubados

Constatação II

Com o cachecol eu me controlo
E fujo do teu olhar
Pois tua boca tem imã

Constatação III

Mesmo com tudo isso
Não consigo controlar meu querer
Os invernos são breves aqui
Mas meus amores, não

Constatação IV

Permito o amor
“estarei sempre ao seu lado”
Porque ele é vivo, mesmo na distância,
por mais contraditório que isso seja

O amor assim fica possível


Do amor

Eu quero muito quando penso em ti.
Eu quero muito contigo, o tanto,
mas se não quereres o meu muito,
mesmo assim quero viver em tua vida,
Ser teu confidente, amigo e amante.
Porque amor é acima de tudo “ter por perto”
quem se ama. É manter a chama do tempo.
A renúncia muitas vezes faz com que a conquista aconteça.
Por isso meu amor aparece em diversas formas, em versos, em frases do dia a dia e se não quereres ouvir que te amo, tenha certeza sempre do meu colo. Quando mais os anos passam mais o verdadeiro amor fica claro, vira flor.
E a nossa verdade aparece no cansaço, na falta de esperança, no naufrágio.
O que não foi esquecido será lido no livro de soneto escrito por corações verdadeiros.


Silêncio

Teu esquecimento
aquece meu silêncio e
minhas palavras ficam ao vento.
Com o frio são sinais de sumiço
os ais que trago no peito,
procuro teu cais e não o vejo,
deixo a embarcação abraçar
a solidão.
Bebo vinho e desenho com ele a pousada,
que um dia foi o retrato fiel do paraíso,
e um mar sem juízo nos banhou de querer.
Agora navego em silêncio.
Guardo uma velha carta amarelada pelo tempo,
para não perder teu endereço.


Todos os ventos

O que tem agora sentido,
eu não tinha antes noção,
e àquele livro não lido
tinha na última página uma anotação,
que falava de uma flor enluarada,
que nasceu no jardim e beijou as linhas
do tempo e da mão
E uma frase encantada que dizia:
A distância não existe quando existe
qualquer tipo de paixão.


Uma moça de Brasília

Existe uma moça em Brasília
que chamo agora de Mônica,
como fosse eu o Eduardo.

Ela navega em Paranoá.
Eu mergulho na Conceição.
Escutamos Candeia final de tarde.
Cada qual no seu lugar.

A lua cheia nos aproxima.
Corais nas alcatéias da vida e do sal.
Um tesouro, um sorriso, uma mina.
Segunda pessoa do plural.

Ela solta a voz e entra em cena.
Pede colo e ganha o coração.
Tens dias que vira Madalena.
Noutros dias é só paixão.

Existe uma moça em Brasília
Eu me viro Léo,
Porque o nome dela virou Bia.

Minha poesia quando fala dela,
encanta-se a cada linha.
E lá no fundo ela sabe, que jamais, qualquer que seja o lugar, estará sozinha.


Desejos e princípios

A participação do pretérito não poderá implicar no futuro, que ainda poderá ser mais do que perfeito.
A borracha arrisca retocar o passado, mas não poderá apagar o sujeito.
Enfim, o melhor presente ainda haverá de vir e quem saberá quais pessoas que deverão agir para fazê-lo.
A segunda pessoa já não me é tão singular.
Procuro a segunda pessoa do plural para me fazer feliz.


Turbulência

De viés
De olhos voltados para dentro
Beijo de calmaria
Em pleno epicentro


Trecho de carta
Saudade imensa de ti...Tens meu colo sempre...Como já disse te tatuei aqui dentro, onde meu colo voa e te busca sempre...E abismos foram feitos para que tentemos voar sempre... fica meu cais para tua embarcação braços e aportarás em meu colo quando quiseres... linda e doce e inesquecível amiga flor de paixão


Descobrimentos

Existe um andar que eu não tinha no meu olhar
Que agora achei e a tênue linha que havia
Rompeu em luares que um dia desenhei

Ao entender o que teria encontrado
Pus a interpretar meu coração
E como meu coração razão não tinha
Chamei meu desatino, paixão


Colheitas

Ao dizer silêncio
Respondi a quem gritava
Que para me ferir entoava lágrimas
Em desertos onde nada brotava

Ao precisar labirintos
Que descobriam longos caminhos
Me perdi para encontrar o luar
Que jamais me deixara sozinho

Ao negar meu sentimento
Preservei minha verdade
Que fora semente ao vento
Pois sabia que um dia, colheria felicidade


Manhãs

Passava mar no pão saudade
Para alimentar o destino

Colheres de mel
Para adoçar a rotina

A lembrança despertava
Em cada xícara de café

Como se cada fatia de beijo
Fosse o meu céu


Medidas

O querer é um barco
Que navega em alto mar
Quando é pouco navega livre
Quando é tanto deverá naufragar


Cartografia

Fecho os olhos. Sentimento em braile.
Muita luz na semana, muita paz a cada momento e uma embarcação pra chegar à ilha quando quiseres. Tem uma ilha que parece uma lua e que desenha sorrisos quando uma Flor caminha pela praia. A ilha tem muita saudade também.


Perto (quando a ficha cai)

O amor não tem CEP
Mas o amor é certo
O amor pode existir
Mas só acontece perto

Sobre o tempo

Tenho certeza do amor
Porque ele sobreviveu
A tantas coisas e fatos
E ainda vive de possibilidades inteiras
De arrepios intensos
De cartas, de mensagens
De sentimento
E agora
Quando nos vemos tão perto
Ele sorri aliviado

O que será não sei
A flor da pele está
E fazê-la crescer
Faz parte do tentar

Resposta

O meu andar
Por incrível que pareça
Acalma com teu vento
Parece que o tempo
Tece redes que nos embala
A inconstância para quando estás junto a mim
E toda a chuva que cai vira mar
E assim navego
Em busca da tua boca
Pois minha sede de viver sempre termina nela
Porque através dela conheci realmente o querer

De vez em quando para sempre

O amor não pode ser de vez em quando
O amor não pode ser quando der tempo
O amor não pode ser somente no tanto
O amor não pode ser um único momento

O amor pode ser uma degustação, eterna
O amor pode ser uma exatidão, louca
O amor pode ser uma inundação, terna
O meu amor vive a sonhar com tua boca

Silêncios

Todo o entender
muitas vezes silencia
quando o próprio querer
não admite entendimentos

O que ontem o coração não via
aparece sem ressentimentos
e mostra de forma tão clara
a realidade de um sentimento

Às vezes não precisamos entender
nem procurar definição
pois qual é a palavra mais verdadeira
se não àquela que vem do coração?

Procuras

Fotografia preto e branco dentro de um livro antigo
uma rosa seca na página 1
uma folha dobrada para não esquecê-la
bem me quer, mal me quer - sem querer
quebra o silêncio da lembrança
num céu agora sem estrela
que vive de sonhos e de esperança
para reviver a fotografia em preto e branco
e colorir a vida e assim tê-la

Quadrinha
de uma segunda-feira de frio e de expectativa


Minha boca solta ares de frio
Mensagens em código do meu coração
Peito aberto na luta contra o estio
Uma sede que navega em minha embarcação

quinta-feira, 14 de maio de 2009

* MAIO DE 2009 - Rosa dos Ventos...

Rosa dos Ventos,
Flor da Pele,
e outras Primaveras
em pleno Outono



Escrevo

Tenho escrito muito.
Reorganizando escritos, sonhos e emoções...
Tenho andado muito na praia, adoro praia nesse friozinho.
Ontem a noite "me dei" uma garrafa de tinto seco chileno e me deliciei escutando Noel e Cartola.
A fase é de viração, de nuances, de avessos, de redescobrimentos...
De ajustes, de reajustes, de vincos, de liberdades.
Dentro de mim finalmente sorrisos e, prazeres que agora me permito...

Morena de endoidecer

Uma morena de endoidecer
feito a música de Djavan
dança na areia ao luar
um mar de sonhos e de cores

Uma morena de endoidecer
dança flamenca e Paco de Lucia
inspira minha poesia
e me faz querer

Uma morena de endoidecer
que acompanhou toda minha vida
uma história tão bem escrita
mas eu preciso escrever

Quando

Quando é um lugar onde se sonha muito
não tem cep
nem mapa
nem roteiro
Quando é uma questão de confiança
que faz o desejo crescer
que provoca a felicidade
e faz a verdade aparecer
Quando é uma data precisa
mas para isso é preciso querer

Desentendimentos

Tudo o que a mim foi dito
entendi como verdade
talvez essa prática
tenha me deixado estático

Engoli alimentos
fechando as narinas
pisei em espinhos
e jamais gritei

Escutei palavras
que me feriam demais
e absorvi cada linha
que me prendia

(Quirina sabe de toda a história e diz baixinho,
me confortando: - Já passou, já passou,já passou).

Tantas cores que nunca vi,
agora desenham minha felicidade.

Rabiscos de fim de maio

Teu corpo traduz minha felicidade
morada que escolhi para viver
e sei que um dia vou morar para sempre
e acordar feliz cada manhã

"Dia desses"

"dia desses"
média de café
pão e
manteiga

pensei que tudo
seria diferente
"dia desses"

a distância arde
faz a manhã
correr para a tarde
faz a tarde anoitecer

mas sei que agora
o calendário é meu
o relógio está em meu pulso
e dei de presente ao meu destino: asas

"dia desses"
acordei
diferente
e vi tudo mais perto

O acaso

O acaso é uma linha
que namora o que eu sonho
com o que eu sinto
que não tem duração exata
alquimia, tesão, instinto
olhos de arrepiar
taças de vinho tinto

O acaso não tem lugar marcado
para em qualquer estação
diz que vem e não chega
vem na contramão
beija e não aparece mais
diz te amo e logo diz jamais
olhos de navegar
independente de onde está o cais

Meu querer

Meu querer aponta
meu querer não se via
meu querer era uma faz de conta
no meio de uma folia

Meu querer encanta
meu querer não sorria
meu querer toma café, almoça e janta
alimento de minha alegria

Meu querer entende
tudo o que não entendia
meu querer agora sente
o que só meu coração via

Rabiscos de um livro a ser escrito

Disse-me, secamente.
- Não haverá lugar algum em que possas andar sem que me vejas em teu caminho.
E continuou, depois de olhar para o céu por alguns segundos .
- Enquanto floria, enquanto dava frutos, enquanto fui alimento e água, eu servia.
E juntou forças que até então não tinha, tomou ar e finalizou.
- Agora que devido ao cansaço não consigo andar, que não produzo alimento e água, não sou primavera, nem um outono abençoado me deixas só. E teu riso rompe meu peito, como uma nuvem escura que dilacera o bom tempo, um soneto de Florbela feito punhal. Cada palavra tua soa como uma navalha afiada... e meus sonhos são cortados sem dó.

Eu não tinha esse rosto triste - essa frase de Cecília me resume.
Preciso de minha alegria que perdeu-se.
Saiu do meu coração um dia e nem mandou avisar se foi com alguém e para onde foi.
Dolores diz que a alegria mora em mim ainda e que há, aos poucos, de despertar.
Meus olhos, nesse exato momento, quando fecham não sonham, simplesmente se escondem, fogem.

Nada mais poderia colar àquele copo de água.
Um copo que já serviu de morada para mares e rios.
Nada mais poderia colar àquele corpo.
Um corpo que já serviu demorada para um amor tanto.
Um coração trincado não possibilita nem um gole
e a água que preencheu um dia o copo e o corpo nunca mais será a mesma.
Sede também, em alguns casos, é alimento.

A lágrima não encharca somente o lenço, ela produz a água que enche copos e corpos.
Bebi tua boca num sonho ontem a noite.

Partes

Uma imensidão trinca
o coração e a alma viram partes
e não mais se encaixam
os cacos são varridos para debaixo do tapete
e cortam

uma imensidão trinca
a palavra e o pensamento viram partes
e não mais se encaixam
os cacos são varridos para debaixo do tapete
e cortam

Recado pra Bia

Saudade.
Que saudade.
Existe um violão que nunca deixou de tocar.Ele toca bem n' alma."Naquela mesa tá faltando ela, e a saudade dela tá doendo em mim"
Bia, toca Canteiros.
Bia tinha asas longas e passeava entre nuvens e acordes e olhares.
Beijo Bia. Deu uma saudade de tomar vinho contigo na Lagoa e jogar general na pizzaria.
Estou por aqui, rabiscando, desenhando, enfrentando
- "eles são muitos mas não sabem voar", Bia.
Valeu todas as lições, valeu a amizade, valeu tudo.
Um dia nos veremos, prepare os dados e o vinho Bia. Sei que não esqueceste, é tinto seco.

Prazer, meu nome é Dike

Quem eu nunca tive me deixa triste quando se doa
Rio caudaloso,
Inconstante,
Que se apaixonou pela canoa

Quem nunca me fez falta
Deixa minha tristeza,
Como uma lua cheia alta,
Luar querubim,
Inconstante,
Que se apaixonou por um tempo ruim

Nada me preenche
Se não quando
“existe” uma “presença” tua

Pois a tua rua é que eu quero ladrilhar

Quem eu nunca tive agora
Eu tive sem a cor que precisava

A confusão eterna do existir

Amor de porto

Meu coração marinheiro
Encanta-se com um amor de porto
Navega por uma ilha distante
A procura de uma alma para meu corpo

Ausência

Um frio bom de outono
Descreve minh’alma e
Uma calma que nunca tive

Embora a ausência arda
Não me vejo triste
Pois sei que a felicidade não tarda
Quando a claridade habita nossa vontade

Dos sentimentos

Absolutamente
Completamente

Confuso

Amor é u’a manhã aqui
Amor é u’a manhã no Japão

Meu coração é fuso

Absolutamente
Completamente

Amor é um rosto colado
Paixão é rosto corado

Absolutamente
Completamente

Confuso

Sentimento tem lados
O que se vê por fora
O que se imagina por dentro

O acaso

O acaso me protegeu todo esse tempo
Bem em alguns casos
Muito mal na maioria
Mas sei que ele é meu amigo
Pois escreveu lindas histórias
E sempre me contava todas
E me avisa quando o “tudo” não podia ser interpretado
O acaso me fez café na insônia,
O acaso me fez dormir na festa,
O acaso me fez dormir na insônia,
O acaso me fez café na festa

Partir

Deixarei, além de uma história sem muitos versos, luares que acreditei e que povoaram todos os meus sonhos.

Se agora “o primeiro dia do resto da minha vida” se desenha no calendário, as lembranças desse “tanto tempo” será um vento que balançará uma rede, suavemente, no futuro

Além de tudo e além de mim
Muitas partes quebrarão,
Ou por fragilidade ou por nunca terem existido

Deixo um livro pronto
Deixo também um livro não lido
Pois tenho, pela minha felicidade, reescrever a minha história

Entendimento

O silêncio é uma voz poderosa. Entendi.
Tua delicadeza me fez demorar um pouco, o entendimento.

Sei que não foi por querer todo o teu não querer.
Sei que não foi tua vontade o desejo de não ter.

O coração é assim.

O silêncio me diz.
Não precisa dizer nada.

Amy

Conjugue
O verbo amor
Não julgue
Todas as pessoas
É singular teu jeito
Mas o amor é plural

Não tem mais pele
E arrepios sem pele
É somente medo

Escuto Amy
A canção dilacera a emoção
A dor faz parte
Dessa encantadora arte
Chamada vida

Escuto Amy
E quase me basta

Não há

Não há mais tempo no teu relógio
Não há mais dias em teu calendário

Nem os recados
Respondes
Nem os pecados
Relembras

Não há mais química
É uma questão de matemática
Não há concordância verbal
Na geografia corporal
A peça de humor, agora, é dramática

Não há jeito
Não há tempo
Nem vento há

A hora é d
O dia é h

Chuvas

Pouso em olhares de chuva
lágrimas intensas que molham a boca,
que faz transbordar a mágoa,
que corre pelo rosto já sem cor
numa dança que descreve um arco,
como um barco que navega a dor
pouso em noites de frio, dessas que aproximam o mar e o frio,
que faz navegar a solidão,
que chora a chuva que cai,
numa dança que descreve o pecado,
como um recado que na correnteza vai.

Viagem

Viajo com minha caneta
porque só assim posso chegar a minha casa
meus recados em varandas que desconheço
são meus mapas de viagem

Assim escrevo meus andares...

O sonho agora é um porto perto demais
Não há como não navegar

Estações

Um silêncio que calava noites
que calava sonhos
que calava esquinas

nenhuma voz havia
nenhuma linha prendia

a resposta não vinha
o silêncio era só dela
a saudade era só minha

quem eu tanto esperava
já estava em outra estação

um beijo inverno
à procura de uma boca verão

Tantos

Nada poderia desfazer imediatamente
tantos enganos
tantas perdas
tantas frases feitas
tantos olhares sem cor

pedaços
de uma taça
colados

beijos
vazavam do canto
de uma boca

de uma boca que já não me dizia nada
e que nada me traria,
mas estava tatuada em minh'alma
como se todos os enganos, perdas, frases feitas e olhares sem cor
fossem formas de lembranças

Medo

O medo pode conviver com a conquista
o medo pode conviver com o querer
o medo pode ser um anúncio de revista
que mostra a beleza de um anoitecer
o medo faz parte da ida
o medo faz parte do céu
o medo pode ser um mar
que navega num barco de papel
o medo pode ser impulso

A rua

a cor da minha rua não era a que eu pensava que tinha
talvez por isso que agora não reconheço nem minha casa
pois tudo o que eu pensava que era tão meu não existia
nem a roupa do meu destino, que eu usei por tantos anos, era minha

recomeçar
buscar cores
entender minha rua

e assim; buscar o mundo, o meu mundo

A porta

a porta está fechada
bata
a porta continua fechada
abra
a porta continua fechada
cadabra
a porta continua fechada
exploda
a porta continua fechada
esqueça

não desista fácil de qualquer porta
mas também não perca muito tempo com portas

por isso é importante investir em janelas

(Se alguém perguntar se existe nexo nisso, bata - comenta Dolores, debruçada numa janela).

O coração

Ele foi alimentado muitos anos com o alimento errado
Viveu só e calado
Magro e sem cor
Assim, não pode conhecer o que ela sabia ser amor

Um dia provou de verdade um alimento de gosto bom
e o amor viciou o menino
que até engordou

veio depois um estio, as plantações secaram
e voltou a perder peso
mas saiu ileso do processo emocional - alimentar

agora ela sabe amar
e provar
e comer
e "se" alimentar

(Às vezes come demais, entrega Quirina...)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

* Crônica de um amor imperfeitamente eterno

Um grande amor só se pode perder uma vez - para que ele fique na lembrança como algo infinitamente bom...
Perder um grande amor por uma segunda vez é perder o encanto e o sonho que todo um grande amor envolve.
Então, o desejo de ver de novo um grande amor esbarra no medo de perdê-lo novamente.
Como uma grande viagem em que o coração embala a vontade, que é tanta, e ao mesmo tempo afasta do pensamento, a presença, ele percorre nossos dias.
Um grande amor só se deve perder uma vez...
Um grande amor! do tempo que amor tinha verbo e o sujeito sempre era feliz, não deve se perder no tempo nem deve tentar resgatar segundos.
Os amores nunca serão antigos. Grandes amores não possuem datas, pois quem data não ama.
Assim deixe um grande amor tomar todo o espaço conquistado, pois todo o amor possui o seu canto e ele com certeza será uma saudosa música quando quiseres embalar boas recordações na varanda de casa.
Um grande amor só se deve perder uma vez... para que ele seja sempre nosso. Um grande amor deve ser guardado aonde a cor e o perfume dele sejam preservados... Um grande amor é como um bom vinho que deve ser degustado com prazer e entendimento... Os grandes amores não se perdem uma segunda vez, eles serão sempre amores a primeira e única vista...
Um grande amor sempre tem lugar em nossa cama, pode sentar sempre a nossa mesa e falar de nossas poesias, nossos encontros e desencontros... Um grande amor faz parte da nossa vida mesmo que não queiramos, mesmo que não mais o tenhamos ao nosso lado.
Ele está guardado a sete chaves em nosso coração. Um grande amor é inviolável.
Um grande amor tem nome embora muitas vezes não queiramos mais pronunciá-lo.
Um grande amor só se pode perder uma vez... para preservá-lo, encantá-lo e possuí-lo como quem bebe água... Um grande amor nasce e renasce sempre simples e assim deve viver em nossa alma.
Tudo que escrevi só muda se um grande amor for realmente o grande amor... Daí esqueça tudo e vá a luta...
Para se viver um grande amor, já dizia Vinícius, primeiro é preciso sagrar-se cavaleiro, ter a mulher por inteiro, para viver um grande amor...

* Crônica - Encontros e Desencontros

Linda. Morena. Trinta e poucos anos. Olhar quente. Boca carnuda e pernas bem torneadas, muito bem torneadas, eu diria. A mulher parecia estar a algumas horas no local, olhava o relógio, ajeitava o decote e a saia, mexia no cabelo. Em u a mão uma carta, amassada, na outra, um lenço branco. Estava ali naquela esquina, em meio a umamultidão e misteriosamente sozinha. Era uma mulher que chamava a atenção. Alguns homens que ali passavam fixavam nela o olhar e acabavam por esbarrar em que estava em direção contrária. Chegava a ser engraçado. Ela, mesmo que simpática, passava a impressão que nada chamaria a sua atenção. Nada nem ninguém. Permitia somente um leve movimento do rosto, como quem ensaiasse um sorriso, mas desistia de mostrá-lo no minuto seguinte. Nuvens escuras começavam a tomar conta do céu. Guarda-chuvas brotavam de todo o lugar, capas de chuvas eram vendidas no meio das ruas, marquises serviam de abrigos e um casal sem se importar com a chuva beijava-se no meio do calçadão. O movimento diferente que a chuva provocara fez com que os olhares fossem direcionados para vários locais e a mulher pode ter um pouco mais de privacidade. Ela continua no mesmo local, seus cabelos já encharcados não mostravam mais o belo penteado, que com certeza demorou muito para fazer. Com o lenço ela tratou de proteger a carta, envolvendo-a delicadamente. A noite já começava a dar sinais de sua presença e a chuva aumentava ainda mais. As ruas já estavam quase vazias. Muitos carros e suas buzinas faziam a trilha sonora do momento. A mulher ali, parada. Olhar cada vez mais sério.Ouve-se um chamado. Um homem gritava como quem procurasse uma pessoa. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. A mulher ouviu o grito. Olhou para todos os lados, não via ninguém. Procurou. Saiu da esquina, foi até a rua detrás, entrou em uma livraria, em um café. O chamado estava cada vez mais próximo. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. Ela nervosa. Procurava desesperadamente a voz. A carta já havia sido levada pela chuva, o lenço molhado já não guardava mais nada. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. Um policial que passava por ali. E que já acompanhava o movimento daquela linda mulher, abordou-a e perguntou: - A senhora precisa de alguma coisa? Ela respondeu: - Procuro alguém. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. O policial escutando esse chamado, pergunta a mulher. - Qual o seu nome? - Porque o senhor quer saber? Disse ela. - É Vera Regina? - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. O homem que gritava por Vera Regina entrou no café e se postou a frente daquela linda mulher. - Vera Regina. Vera Regina. Vera Regina. A mulher num gesto rápido, beijou àquele homem, beijos de longos minutos. O policial feliz pelo encontro, saiu sorrateiramente. As pessoas do café começaram a aplaudir, emocionadas por tanto amor e carinho. Ao final do beijo, a mulher olha ardentemente e fixamente o homem e pergunta: - Meu nome é Denise e o seu? Ele começa a rir, rir muito, muito e convida-a para um café e logo depois saem dali e nunca mais os vi.

* Crônica - Bergamotas

Tempo nublado, sem chuva, mas choroso. As linhas do quando lavam almas, desenham nuvens e encantadoramente rasgam os comentários com a previsão do tempo. Enfim, detrás da nuvem um sol e uma lua beijam-se. Vi uma cena linda, ontem, no centro de Floripa, perto do Terminal, quase na conselheiro Mafra. Um menino de uns dez, onze anos no máximo vendia bergamotas. Simpático, atento e envolvente. Ele chamava os fregueses assim: "Bergamotas doces, para a gente ter um dia doce, bons frutos para um dia doce".

Era isso ou quase isso, o importante é o conceito, diriam meus colegas publicitários. Vendia muito o guri. E além de vender passava alegria a quem ali passava. Eis que surge uma senhora, humilde, roupas velas, mas bem vestida, entendes isso, leitor? Claro que sim. Ela aproximou-se do vendedor de bergamotas e perguntou: "É doce essa bergamota?". Ela não tinha dinheiro, era visível isso.

O guri com olhos de bondade e gestos harmônicos, entre o sorriso e a compaixão, olhou bem nos olhos da senhora e respondeu: "Prove". Ela, já os olhos marejados, falou baixinho: "Eu não tenho dinheiro". Ele fez que não escutou. Ela descascou a fruta. Ele continua a vender as bergamotas.

Ela comprovou toda a doçura da fruta e do momento. Ele colocou mais quatro bergamotas num saquinho e deu na s mãos dela. Ela sorriu e saiu "devagarzinho, com um sorriso que encobria todo o seu rosto". Ele sorria ainda mais. E continuou a vender as bergamotas: "Bergamotas doces, para a gente ter um dia doce, bons frutos para um dia doce". É preciso olhar a vida com olhos doces. Quem viu a cena que eu vi com toda a certeza do mundo ganhou o dia e aprendeu muito com àquele guri. "Olha a
bergamota" – mas olhe de verdade.

terça-feira, 12 de maio de 2009

* MARÇO E ABRIL DE 2009 - Considerações

Considerações quase certas
de olhares quase abertos
que quase encontraram a paixão


jardins, casas, luares, e declarações de amor e suas trocas de endereços

Linhas, limites e cascas de bananas

Às vezes eu caio de quina
Ao escorregar no destino
Uma casca de banana
Entre o homem e o menino

Um crime a ser cometido
Uma arma a esconder
Um enigma a ser lido
Uma vida a entender

Os teus diálogos são contraditórios
Os meus também
Os avessos e os contrários
São imãs no coração de quem?

Quais são tuas pretensões e aonde aportarão?
Entender nossas emoções de agora, pois muitas outras virão...

E se...

Não havia vento, mas se houvesse nem folhas haveria para balançar
Não demonstrava medo, e se tivesse não teria ninguém que o acalmasse
Não havia tempo, e se houvesse não haveria razões para ganhar
Não havia sentimento, e se houvesse não haveria maneira de perdoar

Pergunta

Que lua maior é essa que deslumbra as meninas dos teus olhos,
senão àquela viagem que habitava nossas taças de vinho seco tinto no momento exato do olhar direto das nossas almas?

Para onde foi o nosso olhar, em que frase ele se perdeu, em que fase a lua se perdeu, que mar é esse que eu não conheço?

Uma caneca de café debruçada na varanda acena tristemente para a madrugada e se entrega à insônia.

Cartas

Detalhadamente separou as cartas,
as de amor para um lado de dentro do coração
as de rompimentos para outro lado de fora da razão
as de saudade colocou no fundo da gaveta, onde mora a solidão
e ficou com apenas uma carta na mão:
era uma dama de vermelho que conheceu na noite anterior

Preciso

Para encantar-te tenho que encantar a mim
se não sou inteiro do cerne que venho
como haverei de encantar quem tanto me ama
e precisa do meu bem querer?

O amor precisa de constatação
o amor precisa dizer "que orgulho tenho pelo ser amado"
o amor precisa de admiração

amor sem tudo isso é imprecisão
e não preenche

Metades e linhas e esquecimentos

Sigamos...Meio Fênix, meio Chaplin, meio Chico Buarque, meio Florbela Espanca.
A gente se agiganta quando precisa e quer.
Meio calmaria, meio furacão, meio alquimia, meio razão
A gente se encanta quando precisa e quer.
Meio copo vazio, meio copo cheio

Disfarces

luares pernoitando nas tardes
para disfarçar a solidão
minhas noites em pedaços
cacos embaixo dos tapetes
beijos esquecidos no portão
tua voz vem e faz arder minha pele
tua palavra vem e faz arder meu coração

o tempo é tão tarde
como a frase pronta que não foi dita

Preciso II

navegar é um caminho
que nasce pelas veias do coração
navega pela pele, pelas ondas do corpo

é preciso entender cartografia
é preciso entender de adivinhação
é preciso entender de alma e rotina
é preciso entender de calmaria e de inquietação

amar é um caminho
que navega por toda a emoção
quando termina , por favor, não culpe
a embarcação

é preciso entender filosofia
é preciso entender de distração
é preciso entender de humor e tragédia
é preciso entender de lágrimas e de imensidão

Rapto

tentei o rapto
esqueci de falar com a raptada
colocaram água no vinho
preparam uma cilada
ela disse que me amava
tudo por debaixo dos panos
arquitetei o sequestro
decorei todo o meu plano

dolores bem que avisou
falou de valores e resgate
falou que distância mata
eu disse: então que mate

o amor foi devolvido e nada se pagou por ele

será que era de verdade amor
ou era apenas um sonho
de um poeta sequestrador?

Querer

toda a distância finda quando o querer é todo tempo
mesmo que ainda a imagem desapareça, a voz não grite
a eternidade é palco de qualquer instante, qualquer momento
e todo o dia é alegre, porque tu existes, e me ensinou a não ser triste
e a entender todos os caminhos das velas e dos ventos

As conversas

Os poetas nasceram para conversar... com a solidão.
Nasceram para viver... sozinhos.
No caminho que mistura sentimento com agonia, com razão e com razão imprecisa e
com sentimento vão

E é assim que eles partem
E é assim que eles trincam
E é assim que eles amam
E é assim que eles voltam
E é assim que eles vão

Impossibilidades

Tuas posições imprevisíveis
Tornam meus beijos impossíveis
E o nexo que de nós emana
É um avesso previsível

Minhas intenções beiram o simples
Tuas segundas intenções confundem o claro
Teu álibi é confuso e nos levam ao anti horário
E nosso beijo fica com gosto de contrário

Amor tamanho

Intensidade é uma força sem precisão
Nasce sem planos, sem direção

Só depois que chega pode-se saber que caminho seguirá
E que volume terá e principalmente se será...

Sumiço e outros chás


Avento a possibilidade de sumir
No sentido de aparecer para teus olhos sumidos
Pois sei que quando trinco, parto
“Me” olhas com um olhar de preencher e de encaixar

Quem de nós não trinca
Quem de nós não parte
Quem de nós não brinca
Ao dizer que a vida é arte?

(Dolores acha a frase linda, cutuca Quirina que cochilava e se põe a cantarolar "eu sei que vou te amar").

Final de verão

Todo o calor que vem agora desse verão final de tarde
Arde em minh'alma e cora
Toda a minha claridade

No por do sol nasce uma paixão e invade a minha boca com imã
Lábios colados aos teus
Amor não deveria ser sina

Do amor enlouquecido e menino

Bebo o rum do meu destino
Enlouqueço ao te beber
Fui um amor menino
Que esqueceu de crescer

Perdas

Quando eu perder o que sinto agora
Hei de encontrar o que eu sinto agora

A concordância é bêbada
O nexo é contraditório
E o acaso vai embora
E volta e colhe e beija e começa tudo de novo
Sem hora

Viagens

Viajar quando se quer
Desejo de encontrar
Disfarçar o querer
Quando a vontade chegar

Amor é um calo antigo
Precisa de dor e história
Paixão é um momento preciso
Maria, a moça da praça, a moça da praia

Verdades que doem

Visto a roupa que eu dizia que não vestiria
Um risco absurdo e surdo que surta
Que não me escuta, que me afasta da luta
Àquele desabafo insensato e lógico vira poesia
E a menina normalista com certeza é filha da dita

A queda

a queda vem muito antes da dor
o naufragar começa longe do mar
a solidão vem antes de acabar o amor
a saudade nasce antes do silêncio chamar

A queda

a queda se dá
muitos antes
da dor
o naufragar
nasce muito longe
do mar
a solidão vem
antes de acabar
o amor
a saudade nasce
do silêncio
chamar

Primeiro de Abril

Primeiro fechou bem a gaveta
até seu amor sair
depois abriu
tirou dela uma carta amarelada
e sozinha sorriu
chamou Dolores
e disse em alto e bom som:
Primeiro de Abril

Dominó

Teria a lua a senha do luar para poder barganhar paixões
E essas paixões teriam tempo para entender todas as fases que a lua tem?O luar sem a vontade da lua saberia dizer por que vem
E teria o tempo paciência para esperar o desvendar da senha também?

Recomeços

Desperta a pétala intacta saciada pelos teus sais
Aporta na data exata sonhada pelo meu cais
e o destino recorta papéis e refaz nossos barcos

Invenção

Teu olhar sei agora que foi uma louca invenção
criada para tentar um mundo desenhado por tua boca
e as palavras disfarçavam o erro e ignoravam o coração
inventaste um amor e não avisasse ninguéma
estação primavera corre pelo outono
a solidão vem de trem
Quirina busca no dicionário o significado exato de razão e cai no chão de tanto rir depois de ler a definição)

Madrugada

Café com madrugadacilada do pensamento, grilos, corujas e relógios na varanda bebendo ventos
A insônia deita no sofá e sonha em ganhar a loto
na tela uma vida inteira
na mesa um controle remoto
A solidão é uma faca de corte que desperta o pão dormido
a esperança é uma manteiga
que passa cada página do nosso livro

Caminhos

Boquiaberto
Bebo
Partidas

Bêbado
De tantas idas
De linhas de mãos não lidas

Um mar deserto
De barcos destino
Um leme na mão de um menino

Perdão

Ninguém saberá da palavra não dita
mas ela continuará
a corroer cada linha que escreves
cada silêncio que ensaias
cada grito que se cala
talvez assim manterás tua verdade forçada
e terás por alguns momentos
a sensação da conquista, da vitória

mas o tempo passará
as marcas no corpo aparecerão
e a palavra que não foi dita
todos saberão

Provas

Quem provará o fato acontecido entre nós dois se duas versões correm pelos canteiros?
Quem provará o doce veneno da paixão ou o amargo remédio da ruptura?
Quem saberá o que é doença ou o que é cura?
Quem saberá o que é carnaval ou o que é fevereiro?


Existir

Sei que habitas o mesmo mundo que eu habito
isso já me faz viver
o dito pelo dito
a lembrança que eu mais preciso

A flor
o encanto lis
no jardim querer
nascer
abrir
povoar sonhos
o encanto por si
por si só
é sempre mais do que feliz

Seria apenas uma flor
se essa flor
não fosse um interminável jardim




saudade

isso
ou
isso
tudo

nada
disso
disse
nada

saudade
sem
juízo

saudade
sem
cep
sem
ter

saudade
sem
perguntas
sem
respostas

Ventos

destoa
vento forte
na canoa
vela acessa
vela que voa
onde está o norte da tua estrela?
solidão
destino à deriva
na imensidão
menino que sonha
menino que chora
onde está o trevo da minha sorte?
que vontade que dá
que saudade que dá
que frase é essa que aparece no mar?
(Quirina balança a cabeça,indica que entende, cita Candeia, diz que fará café e abre um pacote de sonhos velhos)


Retornos

Tu me mandas beijo
Eu te amo
Tu queres o mundo
Eu faço planos

Teu mundo habita tantas bocas
Teu calendário rasga folhinhas
O meu transforma dias em anos

O teu gostar é amplidão
O teu gosto é todo mundo
Eu te mando meu coração,
mas não sei onde anda o teu
Eu te mando horas,
mas não recebo nem um segundo

Panos quentes

Os trilhos de um trem enlouquecido
São panos quentes que colocaram em teu caminho
Que sequestraram o maquinista
Que embebedaram o equilibrista
Que santificaram o golpista
Que tiraram meu nome da lista
Os trilhos desse trem destino namoram agora uma encruzilhada
E não querem filho.

Correio

O correio devolveu a carta
A vida não leu
O destino rompeu a linha
Que nem eu

Nem o selo colou mais
E o amor esqueceu quem remeteu

E a vida devolveu

Por muito menos

Ao menos disse tudo
Quase nada eu diria
Gritos de ficar mudo
Olhares de quem não via

Por muito menos mudei de CEP
Por quase tudo mudei de cor
Por tudo isso mudei de leste
Só não consegui mudar de amor

Nós

Nós para atar
Nós atados
Nós sem par
Cegos por nós
Nós soltos
Despercebidos
Nós lidos
Esquecidos
Nós para juntar
O inconcebível
Acredito ainda
Em nós para sempre

Saberes


De mim quem saberá?
Haverá algum coração que eu poderei dizer o que exatamente quero?
Insegurança é uma dança que nos leva a aprender a dançar

Minha música terá nome?
Quem saberá?
Quem cantará?

O labirinto

Ao labirinto respondeu: - Dane-se
E se pôs a recitar versos desconexos
Que alçavam voos por entre luares intensos

Como se perder fosse o caminho procurado
Como se não houvesse na partida, lenços

Navegar ou negar

Todo o mar é bebido agora
Bêbado navegador
Que na noite alta
Busca intensamente seu amor
E é naufrago da própria paixão

Buscas

Há tanto azul.
Eu sei.
Vou buscar.
Há cantos e terei tempo para cantá-los.
A madrugada me encanta.
Há tanta lua que virá,
que o silêncio de agora
já não mais espanta.

Traduções

Prontamente bebeu num gole só o fim
A garganta desfez o nó.
E milagrosamente reinventou frase.

Depois foi até a dispensa.
Pegou uma garrafa de mar.
E bebeu num gole só.

Por fim,
Lavou a alma com a última lágrima que havia
E, depois de muito tempo, sorriu.

Faltava o beijo,
que o tempo se encarregaria de traduzir.

Amor

Há precisos segundos passou pelo meu mundo
Como se não tivesse jeito
Nem pudesse ser preciso

Recomeçou à esmo um novo tempo
E por “saber-me” bem mais do que eu
Abocanhou em si mesmo a pouca esperança que ainda possuía

E assim novamente nasceu

Procura

Eu vejo papéis amassados que seriam desabafos profundos
Paixões profanas de outros mundos
Mexem com os corações amados

Quero agora um só beijo
Um beijo de uma mulher que goste de sonetos
Independente qual seja o nome dela

Melhor assim

Não há jeito
Então
Façamos silêncio
Ou gritamos mais?

Sei lá.

Tua voz não me diz o que me dizia

Se teu nome fosse Maria, ou Berta, ou Beatriz
Eu diria: tanto faz

O que eu quero tem o teu jeito, mas será que és tu?

Melhor assim II

Eu não tenho jeito
Que jeito eu teria
Bateu sempre mais forte o meu peito
Do que a minha teoria

Jeito por quê?
Por que se deve ter jeito?

O jeito esquematizado ou o jeito desconexo?

Qualquer que seja o jeito
Que seja bem feito.

Nem sei

Já não sei mais de mim o que outrora foi minha verdade
nada agora me completa, nem me fascina, nem ao menos me provoca já não sei mais se meu querer tem a ver com meu lamento
nada mais me devora, nem me ilumina, nem me faz esperar a horas
ou agora ,talvez, uma pessoa mais próxima do que eu sempre quis ser
a felicidade deverá demorar um pouco, mas virá
meu sumiço vem em saquinhos feito chálogo apareço mais inteiro e serei primeiro feliz comigo
só depois entenderei de vez às dores que o caminho me impõe

Desatinos

O destino desatina joga a embarcação em alto mar
engole o tempo
engasga com vento
muitas vezes nem quer andar
tuas linhas riscam a folha branca
minha vida quer desenhar
tuas linhas jogam as tintas sobre um manto
como se quisessem colorir o beijo
o destino desatina o mar para ser bebido
o mar para naufragar
o mar para ser servido com pitadas generosas de "tentar"
o destino desatina muitas vezes só para nos "acordar"

A música

Eu acredito numa música que sempre me acompanhou
Com acordes ritmados do coração
E quando a vida bate sem ritmo
Ela nasce do meu desejo de escutá-la

Uma música que minha mãe e pai cantarolavam
E ainda cantarolam

Isso é o que importa
Que abre a porta e deixa
A felicidade entrar

Meu coração quer cantar
E busca
E sonha
Com outro coração que ainda acredite em harmonia

Pertinente

Disse-me assim: teu amor é pertinente
Para ser pertinente precisa estar relacionado ou harmonizado com alguém e assim se for pertinente realmente, a parte relacionada deve contar com algum elo, encaixe ou razão

Se disseres que meu amor é pertinente
Escutarei, vens

Então, muito cuidado com as palavras
Muito cuidado com seus significados
Pertinente é meu desejo quando falo do meu amor
O teu sentimento é pertinente a alguém
que não sou eu... ou serei eu?

Minha confusão é pertinente

Quadrinha de um abril sonolento esperando as manhãs de maio

Quando vi que meu olhar desenhava um outono
Vi folhas mortas e poesias antigas com tanta sede
Despertei assim de um longo e preciso sono
Reguei cores, recuperei sóis, vi de novo campos verdes

Teatro

De forma alguma
Eu disse: corta
Nem ousei dizer que
“Inês é morta”
Muito menos disse: não acredito
Quando gritaram bis

No meio da peça eu já sabia
Que desse jeito não poderia ser feliz
Decorastes bem os textos
Os rabiscos e as poesias

Agora no final da peça
O destino deu um salto
Mostrou todas as máscaras
Que viviam nos teus palcos

A forma

A forma pode ser deformada por um toque, palavra, ação
O amor deforma quando não há verdade
O amor precisa também de razão
E conhecê-las é uma forma de bem amar

(Quirina ouve com atenção e comenta baixinho no ouvido de Dolores: “e eu passei a vida inteira dizendo que o amor tem razões que a própria razão desconhece”. Dolores balança a cabeça e diz: Àquele meu último amor tinha razão. Quirina responde: Com esses versos acho que perdi minha razão. E sozinhas, ligam a tv e assistem a "Grande família").

O fim

interruptores moram n’alma

* JANEIRO E FEVEREIRO DE 2009 - Diário de Casablanca

Diário de Casablanca
Entre Torres, Campeche e Canto da Lagoa
Poesias de Janeiro e Fevereiro de 2009



De uma hora para outra

De uma hora para outra o avesso virou fato
Uma outra realidade onde o destino deu na vida um trato
A realidade perdeu a hora, o tic, o tac e a confiabilidade
Numa mistura de toques perdemos também a neutralidade
Mas ao contrário do que parece o céu ficou muito mais claro
O que era difícil de encontrar de repente já não era mais o raro
Sempre fui acompanhado pelo perfume da felicidade
Apenas havia perdido o faro

Comprometimento e pluralidade

Há um silêncio na linhaque costura minha voz
uma rede de retalhos
agulhas e tantos atalhos
uma rede que balança,
que desanda
e que é feita inteiramente de "nós"

Prevalecimento

Contudo, ao ver a noite fechada
cantou por toda a madrugada.
Esperava que assim o beijo fosse a chave de tudo,
mas se esqueceu do segredo.

E partiram, copos e corpos celestes,
em uma noite que até hoje não mais abriu.

Par perfeito

O par não é preciso
Não tem um único jeito
Rotular “par perfeito”
Pensar assim não é direito

Diga-me
O que é um par perfeito?

Mas não esqueça menina
Dos momentos mais do que perfeitos
Luz de velas, vinho tinto seco, música
Carinhos intensos e sem ter fim

Tatuagens no coração descolorem
O destino usa raio laser

Mas não esqueça menina
Dos momentos mais do que perfeitos
Banho de mar na madrugada,
Lua cheia cobrindo o mar,
Sede de vida, fome de amor
Bergman, Wilander, Kurosawa

Diga-me
O que é um par perfeito?
Não faça esse jeito de triste
Sabes linda menina
Par perfeito não existe


Entendimento

Todo o entendimento necessita de tormento, de vento, de transformação todo o entendimento necessita de lamento, de tempo, de interpretação todo o entendimento necessita de perdas, de tristezas, de inquietação

Entender é um barco que parte e precisa conhecer todos os segredos do mar. Demora um pouco esse navegar, mas depois... águas claras, como se fossem espelhos da felicidade.

Sobre o amor

Ao ver o mar mergulho e sempre mergulharei.
Como ter sede de mar e não naufragar algumas vezes?

Verbos e vírgulas

O que nos prende, preenche?
o que nos entende, estende?
o que nos confunde, ilude?
o que nos permite, persiste?

A linha que separa o "sempre feliz"
do "cada dia mais triste"
é tênue... vive e morre num beijo...

Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho

quem nunca se sentiu Bentinho?

Considerações

A lua cantarola
e eu finjo que não a escuto
o luar sabe da minha tristeza
e usa luto


Considerações II

Havia um sentimento que não fazia muito sentido
um dito não dito
um verniz no beijo, no amor
e em outros bens perecíveis


Considerações III

Que lua inteira que trinca?
que taça inteira que brinda?
que lua inteira que brinda?
que taça inteira que trinca?
que lua taça é essa que nos bebe
e que nos corta?


Canto


Quando me separo vou para o Canto
quando me desgarro vou para o Canto
Meu lugar comum é um tanto sozinho

Perde-se os mapas, as bulas, ganha-se olheiras
minhas chuvas caem intensamente em tuas plantações
e não queres colher

Depois vem a seca
e tuas lágrimas não renderão frutos

Quando "me" separo
"me" junto

Anestesia

Tua cor não anda nada bem
teu senso prático "non sense" é aquém
tua companhia infalível não vem
teu não sei é sim
teu gelo esquenta
tua marcha é lenta
tua certeza nem tenta

um hiato
um espasmo
um lapso
um traço

uma anestesia na noite que arde


As linhas

as linhas desenham imensamente os detalhes dos nós
o destino aperta
a vida aperta
a verdade aperta
as linhas amarram fortemente os detalhes de um amor
o destino aperta
a verdade aperta
a vida aperta

prender é uma forma de perder as linhas
prender é uma forma de afastar as pessoas
prender é uma forma de não ter

deixe as linhas livres
dê linha
deixe-se voar e deixe voar

só assim entenderemos o que seja "nós"


Ensaios

Pensou uma vez, pensou duas, pensou três
ensaiou no jardim o beijo
decorou as palavras e o olhar
intensamente abriu um sorriso que não tinha

E a moça não veio ao seu encontro
não mandou recado, nem ligou,
nem sinais de fumaça,nem garrafas com mensagens,
nem ventos, nem gritos, nem desculpas esfarrapadas

Deixou um beijo perdido no jardim
As palavras decoradas jogou para debaixo do tapete
O sorriso que nunca teve deixou no banco da praça
(e a moça tão conhecida minha disse-me em tom de desabafo:
nenhum jardim pode ser transformado sem desejo...)

Um dia contarei o segundo capítulo dessa história de primaveras, de
estações, e de um maquinista sem trilho...)

Contra

Há um "contrasenso" entre o que é de direito e o teu beijo de lado
abstrato foi teu sentimento
avesso do que possa ser leito
ninguém age assim com o ser amado
há um "contrasenso"
há um "contragosto"
há um ano inteiro nos dias avessos de agosto
há um "contrasenso"
há uma "contra paixão"
se minh'alma balança
meu corpo fica tenso
todo o encantamento
prevê a definição exata de senso


Casa

Casa para perfumar
Casa para descansar
Casa para ter casa para ter casa para ter
Casa para desfrutar
Casa para sorrir
Casa para viver
Casa para ter casa para ter casa para ter
Casa para cantar
Casa para plantar
Casa para criar
Casa para ter casa para ter casa para ter

Sem lugar não há

Era só o que faltava não preenche o amanhã

Era só o que faltava não preenche o amanhã
Era só o que faltava faz mais perder do que ganhar
Era só o que faltava não preenche o vazio da dor
Era só o que faltava faz lembrar do porque
E faltava tão pouco
Dizes isso só agora "era só o que faltava"

Florentino Ariza

O cíclico é lírico
Empírico,
Ardente e bíblico

Preciso e casual
Luau,
Sol escaldante

Florentino Ariza,
Campeche, Moinhos de Vento
Ou Ibiza

Viver intensamente o momento,
Entender o lamento,
Gaivotagens e ventos
O lado bom é um todo bom que virá
O que será? Não sei

Florentino Ariza,
Com todo o prazer e
nuances da personagem vida...

Entre a cólera e o paraíso


Presença

Quando não se vê a alma descansa,
Quando se vê a alma cala...
Quem haverá de gritar esse silêncio que se lança?

Quase sem nexo

Eu não amo um só ninguém
Eu amo todo mundo
Eu amo um só alguém
Quando o sentimento é assim profundo

Paixão, águas caudalosas
Sem ar o amor vai para o fundo
Sem mar a paixão não navega
Não quero a calmaria
Zombando do meu absurdo

Ponderações

Poderia a lua agora viajar até o meu quintal
beber vinho em minha taça e deixar o luar em minha cama
Poderia também a lembrança levantar a cortina da minha sala
e deixar o sol entrar por minhas veias e amanhecer sem medo

Depois de tantos sonhos ela deixou um recado no varal
Pois depois de cinco ou seis Brahmas
Arrumou o cabelo, lavou o rosto, ajeitou a mala
E lua crescente aos poucos desvendou o seu segredo

Tem fases de alta voltagem
Tem fases de choque
Para acordar a imagem
antes que a vida a troque


Se

o tinto seco, a música, o mar
esquecemos pois o chá de sumiço
para "se" encontrar é preciso "se" perder
existem momentos que é muito melhor ruir
para "se" conhecer todas as partes
quebrar é uma forma de crescimento
o vento pode afastar ou aproximar
tão perto pode ser marte
tão distante pode ser a nossa sala
temos as tintas e os pincéis
façamos felicidade com eles
façamos arte

Ainda

há ainda tanto
que haverá o gosto do chá
todas as manhãs, quiçá...

tuas palavras ainda
se fazem canto
todas as tardes,

há ainda muito
que inunda, explode, preenche
e quando da falta, arde

tuas palavras ainda
dizem tanto
que todos os silêncios
aprenderam a declamar

Trincas

meu olhar
vê muito mais
mesmo trincado
percebe agora
toda a insensatez
do fictício toque
roteirizado
mesmo calado
meu entendimento
é escutado
vivia a sonhar
com o melhor presente
atrelado a um passado
que jamais me fez sorrir

trincar é uma forma real de contato
entre a alma e o coração

Querer

Meu querer agora é o meu querer
minha sede é minha
minha fome é minha
meu limite tem a cor da minha linha e voa

Minha vontade agora depende dos meus sonhos
minha casa é minha
minha asa é minha
meu buscar tem no amor minha trilha e voa

Rabiscos Tortos

tuas linhas tão tortas
adoro de ver assim
as pessoas viram compotas
quando desenham só retas
adoro também tuas curvas
e a tua voz flamenca
os teus nós encantam as linhas
e as tuas estradas não seguem as setas

dispensas a bússola
beijas o acaso, o vento e assim ficas
sempre na direção do teu desejo
e o teu beijo por crescer assim
é o beijo mais verdadeiro
cresce no mar, na lua, no jardim

tuas linhas tão tortas
me ensinaram a amar sem precisar de nexo

tuas linhas tão tortas
me ensinaram a navegar sem precisar de mapas

eu também adoro teu jeito torto
assim minha ilha também entorta
e eu conheço melhor o teu porto

meu coração me diz para não desistir


Vida

"há con tece"
teias que guardam
um mundo

Uma tarde ensolarada

Estou a ajeitar a vida, diria Pessoa.
E estou muito contente com isso.
Encantar-te faz parte da minha poesia.
O efeito da tua presença provoca-me sorrisos e desejos.
E amanhã sempre será um verso novo a escrever...


Um dia desses

Um dia desses
uma varanda
sem tempo
sem compromisso
sem pressa
a vida ao vento

Estás tatuada em meu coração
Nos falamos mesmo no silêncio
Existirá música melhor?

Quem sabe

Quem sabe um dia me "cure"desse amor meio sem jeito
dessa paixão "Florentino Ariza"enquanto isso
meus desejos me levam
e eu canto

As mortes

Não sei morrer inteiro
infinito é uma dor distante
mas diante do espelho
já fui agosto em janeiro
sonho constantemente contigo
de vestido vermelho
abrindo teu coração

Choramos tanto
morremos várias vezes no verão
voltamos em primaveras inesquecíveis
e nos perdemos

Não sei agora morrer inteiro
Ter a constante companhia do relógio marcando cada gesto meu

Sei que preciso de um olhar diferente
como se uma janela lateral me chamasse
como quem escutasse Beto Guedes de manhã no café

Que paisagem é essa que muda de cor ante um vento forte
senão a miragem do que inventamos como dor?

A vida é uma eterna primavera Cecília...
Podar é o ato primeiro do florescer...


Despistes

Despistou a lua nova
que já havia
num claro andar
de luas já tão antigas

juntou as provas
e toda a alquimia
pois previa
um transbordar

engoliu à seco o mar
e se pôs a chamar de felicidade
cada onda, cada olhar
que já havia
"tanto tempo"

e viu assim
seu coração navegar em águas que conhecia
(muitas vezes recriar é a forma exata do amor constante)

Simplesmente


Toda manhã perto da lua
estendo minha mão
misturo minha sede ao mar
como uma prece

Ao molhar minh'alma e meus pés
provoco por querer
uma sensação de paz e agradecimento
e vem o vento
e bate em meu rosto dizendo: - Aproveita
e docemente balança o tempo
e deixa-me de frente para a minha felicidade

Lições

Tua teoria perde-se quando se fala de vida
de que adianta tuas frases prontas
se não sabes o motivo de tuas feridas?


Embarcação

Todo o mar espera uma embarcação que provoque nele a vontade do navegar.
Às vezes passa a vida inteira esperando-a.
Talvez por isso é que me deixo naufragar, algumas vezes já estive tão perto da minha embarcação, mas por inquietação do corpo, ela foi para alto-mar.

Exato Momento

Prontamente percorreu o longo caminho que separa o beijo da indecisão.
Não tinha mais nada para perder.
Muito menos para perdoar ou ser perdoado.
Ali começava finalmente a sua vida.

Oportunidades

Esse olhar descompassado
que brinca com meu olhar
já foi um olhar apaixonado
mas eu não sabia mais amar

Hoje quando esse olhar chega
desarma toda minha defesa
minha alma exposta ao toque
meu coração aberto sobre a mesa

(Quirina chora emocionada, e abre logo uma cerveja...
vira um, dois, três copos e diz, quase aos gritos: - Ao menos tenta.).

A mulher

A mulher da minha vida é o olhar do meu amor
o verdadeiro amor quase esquecido
o que ainda lembra da flor
e daquele primeiro soneto lido

nem todas as mulheres são assim
mas muitas eu conheci
os meus versos são cantigas
porque belas mulheres eu li

Lua Inteira

Nunca vi uma lua tão inteira
igual àquela da minha varanda encantada
resisti, até acreditar que eu não sonhava
pois era de fato desenhada

Tintas que a vida me deu
Telas que eu sempre busquei
O sonho que era tão meu
e meu destino gritou: - Achei

Fico agora a buscar a imagem
e meu pensamento voa, e meu pensamento dança
Olhos abertos a decifrar o céu
e busco a lua inteira em minha lembrança

Tudo ao mesmo tempo


Cíclico e permanente
esquecido e constante
a vida inteira e de repente
silencioso e cantante
não preciso de nexo
para dizer que meu amor
é verdadeiro

Cantiga

Querer é uma palavra engraçada,
chama de cíclico o que é permanente,
é de distância o que é namorada....

palavras de jeito nenhum,
palavras de todo o jeito,
acordo pensando em ti,
e levo o pensamento quando deito.

Quem sabe


quando me tornei "quem sabe"
pude conquistar muito mais
a dúvida provoca a aproximação
a certeza dói demais

quando me tornei "quem sabe"
fui visto por quem nunca me viu
o que é muito inteiro parte
o que fica é o que partiu

O andar

tenho um andar que sei que me levará ao caminho que preparo a tantas luas
tenho um andar que sei que me levará à casa dos meus sonhos e dos meus quereres

esse andar "me" segue
esse andar "me" chama
esse andar "me" busca
esse andar "me" ama

preciso acordar
preciso entender o movimento que faz meu coração
preciso navegar
preciso encontrar nesse andar minha embarcação

Vazio

teu calar movimenta um vento
que carrega minha resposta
e nesse silêncio gritante
desperto e parto

saberei sumir
para que apareça depois

o encanto que une também quebra

talvez isso explique um amor
que termina de repente

vazio as vezes preenche
multidão as vezes é solidão

por isso teu calar
responde meu afastamento

Pequena Canção de Final de Fevereiro


Corpo cansado
Alma surrada
Olhos vermelhos
Pernas doloridas

Que março traga o corpo amado
Que março traga a alma lavada
Que março traga meus olhos inteiros
Que março traga minhas pernas descansadas

A Colombina que nunca tive me chama de Pierrô

Março é mais transparente

- Quirina venha cá.
- Feche a conta já.
- Agora, agora.
- Agora.
- Deixa eu dar o último gole.
- Que gole foi esse Quirina?
- Bebi o mar, bebi fevereiro... Tenho sede de acasos.
- É bem isso, Quirina, mas engarrafe as águas de março, por garantia.