segunda-feira, 3 de agosto de 2009

* AGOSTO de 2009 - Vida a gosto

Do tamanho do que eu sinto

Tem horas que a vida parece um não ter jeito nunca mais
Nem tem saída, não tem meio termo, não tem palavra
Uma disritmia louca, de boca seca, de paralisia, de bode
A tristeza vem, acumula, toma conta, asfixia, crava
Fura feito punhal, sal na ferida, céu turvo, mão desvalida
Meio do oceano e foram-se os remos, e foram-se as calmarias
As sinais sem finais felizes, os finais sem beijos nem sorrisos
Falta vinho na garrafa, falta teu corpo na cama, falta a chama
Tem horas que a vida não passa, que o tempo não passa, que a paixão não passa
Não tem resposta, não tem quem goste, não tem quem venha
Vem um vazio, tamanho de rio, correnteza e frio
Uma fagulha e o olhar tenso de um facho de lenha
Um calafrio que não me leva a tua silhueta e provoca a solidão
Fim de feira sem maçã para pecar, alimento que faz gostar
Como uma loucura intensa que frequenta e cutuca a pouca sensatez que resta
Como uma sexta-feira em que se entrega toda a esperança que o calendário há de melhorar

Sabores

Na manhã de café sem açúcar
Que sabor o sol terá?
Margarina e insônia no pão
Será que o destino também vai passar?

Dor

Dói
A alma
O corpo
Perde-se a calma
Vê-se o osso
Que trinca
Pede-se um pouso
Que voa,
Que lateja,
Que acompanha cada lágrima
Que nunca me abandona

Despertar

O latido de um cachorro ao longe acorda o mundo
A vontade morde os lábios
O mar invade o muro
E minha esperança com a boca cheia de vinho diz que a felicidade virá
(e hoje eu já me acredito)

Vazios

Do tamanho da sede quando bebi um mar
Um deserto e uma rede vieram me apanhar
Um banho de águas que eu não naveguei
Um céu aberto de asas livres que eu não voei

Um não entender que esclarecia tudo
Um gritar num estalo que me fazia mudo
Uma vontade que eu tinha e não desenhei
Uma vida que não era minha e eu aceitei

E os anos passaram remoendo sonhos
E os sonhos passaram devorando os anos
E eu não vi o que tinha feito da minha vida
Agora acordo sem ter cor alguma para desenhar meu quadro

Mas prossigo a leitura

Dos versos

Sei o que Florbela sentia
Sei das loucuras de Leminski
Sei da solidão da razão de Quintana
E do corpo doido que encantava Drummond

Por isso entendo os uísques de Vinicius
E os fumos entre os dedos da tabacaria de Pessoa
Sei o que minha dor descreve
Pois sei que a poesia
É uma dor que também rima


Navegações

Sou mar e converso
Como se tu foste a embarcação que sonha
Quais serão as águas que banharão teu nexo?
Qual será o porto que abrigará meu sal?
Inundação é uma paixão que molhe os lábios


Limite

Limite é uma linha que se enrosca no destino
E tece colchas e tece cobertas para aliviar o frio do menino acaso
O barulho do mar me faz esquecer o barulho da minha vida


Receita

Amor de a gosto
As vezes vem com pimenta demais,
As vezes falta sal,
As vezes tanto fez,
E as vezes tanto faz,

Não acredito em receita de amor


Queima e vida

Mil vezes morri sem sentir
Que a vida queria me dar uma chance
E cada morte e a cada dor
Eu via uma parte de um mundo queimar
E hoje sei que minhas mortes me fizeram viver e
Quando queimei me iluminei por dentro
E pude ver que eu poderia viver de verdade

Queima e vida II

Toda a solidão do mundo sinto e aprendo a viver com toda a solidão do mundo
E assim quando não existir mais a solidão terei prazer em ficar também só

Meu olhar

Tenho hoje olhares que nunca senti que teria
Um olhar tão meu
Que muitas vezes me dá agonia

Um olhar que é o meu norte
A minha vontade
E a minha alegria

Como vivi tanto tempo sem este olhar?

Distração

Cheguei nem vi
Não dei bola
Nem dei razão
Ela me deu um beijo na boca e disse
Que estava chegando o verão
A vida começara ali
Num beliscão

Gaivota

A gaivota me reconhece
Onde andará ela, suas asas me perguntam
Ela voou... minha amiga gaivota

No Blues

Se afaste
Arrede
Sou reds
Minha paixãoé linguagem
E é vermelha
Mas adoro B.B. King e John Contrane

Os mares

Quase que “um morrer” vi naquele mar que afogava luas
Porque mar, meu amigo, também mata
Por mais maravilhoso que seja seu existir

Era náufrago de “mim”
Vivia “me” procurando
E de tanto nadar contra a correnteza
Acabei “me” achando

A rua

Tem uma rua que era tão minha
Que eu com desejo ladrilhava
Com pedrinhas de brilhantes e com luares
Ela iluminava o que via

Era tinha nexo
E tinha poesia

De repente já não mais andar nela eu podia
A rua não era tão minha assim e eu não sabia


A multidão

O que eu não vi
Toda a multidão viu
O que para mim era completo
A multidão a tempos, dividiu
Tinha rasgos àquele cobertor
E passava o frio


O ornitorrinco

A ausência é um ornitorrinco
Estranho, mas existe

A ausência não avisa que chega e chega

E o ornitorrinco nisso tudo?

Vai pesquisar, Quirina


Todo o tempo do mundo

Todo o tempo do mundo é pouco
Quando todo o tempo do mundo não conta
Porque todo o tempo do mundo só vale quando se quer entender todo o tempo
do mundo como se fosse todo o tempo do mundo sempre pouco
As medidas são invenções dos limites
E todo o tempo do mundo pode ser tudo ou nada


Virá

Dançava uma lua
Despertada por um amor que eu sonhava
E sempre no fim de uma rua
A esperança do querer se aproximava

Sem ver
Sinto que já vi
Porque o sonhar é um jeito de se redescobrir

Navegação

Destoa agora meu mar
De tudo o que outrem pensava
Ser navegação
Sem escutar a bússola
Procurando se perder
Tal qual uma canoa
Procurando se encontrar

Insônia

Viro a rua
Viro a mesa
Viro bicho
Viro copos
Viro xícaras de café
Numa noite já tão acessa

Mergulho

Em meio a um afogamento
Para disfarçar, mergulho
A inundação da minha sede
Um dia secou meus sentimentos
Espero agora novas águas

Consequencia

Já se faz vento
As velas vão para o mar
Fugir é uma correnteza
É hora, pois, de remar

Consequencia II

Já se faz silêncio
Escuta-se somente o vento
Gritar agora é uma vela
Que tem medo do tempo

Reza - (vai virar música)

Tem uma reza
Que preza
A lua posta
No mar
Bruxas e suas danças,
Vassouras e cirandas
Partindo pra navegar

E bem no meio da madrugada
Com flor de laranjeira que vinga
A moça apaixonada
Esquece da sua vida
E olha pro céu e pede
Resposta pra sua mandinga

O amor precisa de reza
O amor precisa de reza
Nunca deixe de rezar


O aparelho

Deveria existir um aparelho que medisse maldade. E que quando chegasse a um ponto que estivesse insuportável ele soasse uma sirene e guardas, treinados exaustivamente, retirassem essa pessoa da convivência das outras. Sei que o leitor deve estar pensando: Onde colocaríamos tanta gente?

Resolvendo esse problema, o aparelho seria um bem para a humanidade.
Por que nunca vi, em tempo algum, tanta gente querendo o mal para os seus semelhantes. Rasteiras, armadilhas, fofocas, pisões, ofensas... enfim, o aparelho ainda não existe, mas sabemos quem são as pessoas que precisariam dele, então, afaste-se delas.

Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra


Andar

Todo o andar que eu não tinha
Todas as palavras que eu guardei
Toda a emoção que era minha
Todo o cantar que eu calei
Agora são a minha vida
Que por amor resgatei


Trechos da dor

I
Há uma dor que eu não sei nem contar.
Que entristece meus movimentos, meu rosto, me adoece por dentro, me faz esquecer o que eu achava que era mais do que tanto e que nunca iria morrer.

II
Quero um amor que me faça sorrir, que tenha tintas de colorir passos, que me provoque acasos e liberdades, que faça “me permitir”, que me deixe voar e tenha voos e que voemos juntos inteiramente.

IIISei que os encaixes estão se aproximando à minha vida, está no ar, não sei explicar e minh’ alma já admite que posso redescobrir a exata sensação de um sentimento que me fazia navegar e que tinha como porto, literalmente porto, a felicidade. Redescobrir pode ser um mudança total, uma cor nova no olhar.


O silêncio

O silêncio é uma lâmina afiada
Horas mortas
Segundos eternos
O vazio ressaltando os tic-tacs

O leite de ontem, talha
A palavra não dita, corta
E o arame
Que prende a razão, desfia
E tem queda por uma navalha e também se dobra


Lavação

Há tanta chuva
Em meus olhos
E a vida, ainda, venta
Mas vou lavar minh’alma
Na tormenta


A “fumacinha”

A chuva fazia arder meu coração
A paixão fervia
O amor virava uma “fumacinha”


O varal

Nuvens carregadas passeavam num céu azul
Roupas da vida no varal e o destino andava nu
Vislumbrava-se naquele momento um grande banho de chuva


O passado

Parece que toda a chuva do mundo
Caiu agora sobre meu corpo
E além das escadarias e das almas
Lavaram também minhas antigas fotografias


A previsão

A previsão do tempo informou ontem a noite
Que no sul choveria...

Aproveitei o bom tempo que ainda havia
E lavei minhas poesias na pia...

Acordaram bem secas...


Tempo

Tempo fechado
Futuro do pretérito
A terceira pessoa do plural
Está em débito
E o pretérito mais que perfeito é ficção
Ou um grande erro de conjugação
Quantas pessoas moram num par?

Canoando

Ando canoando por ai.
Alguns ventos, algumas velas.
Sopros numa imensidão
em que as vezes me perco.

Ando também escrivinhando
nos muros altos que não
me deixam ver o outro lado.
Estou a escalá-los com versos
e cantorias.

Ando, vez por outra, compondo
vinhos em garrafas com mensagens
dos Nicanores que permeiam
nossas páginas de vida.

Enfim... minhas embarcações agora
já me levam por onde eu quero.
O que já é uma vitória, Nicanor.

Adorei a notícia do trio.
Gostaria muito de ver um ensaio, caso eu possa.

Outrossim, preciso dos meus rabiscos que contigo estão.
Estou a selecioná-los... quero um livro agora, também.

Ah... Nicanor, os vinhos secos tintos chilenos desenham minhas noites....

Forte e saudoso há braço



Viagem

Quando viajo me perco
Quando me perco me acho

Diário de Bordo - Primeira Parte
Partida Florianópolis 30.07 23h
Chegada Porto Alegre 31.07 05h15m
Partida Porto Alegre 02.08 16h30m
Chegada Florianópolis 02.08 23h30m
Poesias escritas em Porto Alegre
Ganzo - Casa da Márcia, minha irmã

Viagem para escutar o que já estava escrito...

Os rasgos de um corpo feito Porto. (ou a primeira crônica de muitas que serão escritas em Porto Alegre)

A minha segunda preocupação quando da viagem à Porto Alegre era se eu “gostaria” de Porto Alegre. E gostei imensamente. A primeira preocupação que incomodava todos os sentidos era se Porto Alegre “gostaria” de mim.

Andei por suas ruas, vi seus sorrisos, vi seu sol e sua chuva e principalmente uma fala que vinha das pessoas e era toda a linguagem que eu entendia. No final da manhã de domingo Porto Alegre disse-me que também gostou do que via e ouvia. Fez a ponte e por Redenção recuperei ruas dos meus sonhos e “talvez do meu repouso”, já diria Quintana.

Os rasgos das palavras provocaram intenções que há muito tempo ardiam, que passeavam em minhas veias, que de todas as maneiras possíveis tentavam fazer meu corpo e minh’alma despertarem.

Aqui pude ver e sentir a força real desses rasgos e o que eles poderiam fazer por mim. Porto Alegre teve paciência e calma comigo, me abraçou quando devia, me cutucou quando viu todo “o precisar” latejar feito ferida aberta. Algo mágico aconteceu. Talvez realmente a Ilha precisasse de um Porto, talvez as asas que possuía uma vida inteira quisessem esse pouso.

O “Alegre” do “Porto” faz sentido agora. A distância desapareceu. As cores de que me falavam, as boas bocas, é claro, estavam ali e acolá e me levavam por suas ruas.

Tenho endereço aqui, posso morar, me hospedar, posso me permitir, posso sonhar, tantas águas e um só Porto de braços abertos, de um cais que me fez sorrir, como há muito não sorria.

Por que não vim antes? Mas tudo tem a hora certa, a viagem correta, a melhor hora do beijo é a hora que as paredes enormes e grandes e brancas e infinitas encontram uma caneta para riscar, desenhar, percorrer, amar – feito as paredes do Museu Iberê Camargo, feito o café que tomei às margens do Guaíba e que por incrível que pareça tomou mais conta de mim.

Preparem os passaportes gurias... Quirina, Dolores – Porto Alegre é demais.

Os naufrágios

Os naufrágios do nosso destino
Nasceram meninos
Com sonhos tantos
E embalaram risos
E entoaram cantos
E deixaram felizes tantos corpos
E se encontraram tempos depois
Nos Portos d’alma

O tempo dirá

O tempo dirá ou poderá dizer
que o tempo passou e passou também o meu querer

Redenção

E meu amor estava ali
Ao sentar em teu parque
Vi toda a magia que havia
Mas amor é camaleão
E hoje a Hercílio Luz não tem caminhos para a Redenção

É amor

Tenha certeza
Nada poderá ser assim
Senão quando é tudo
Conversas iguais as nossas
Mesmo sendo “camaleonas”
São realmente as donas e as escritas
do nosso destino
É guardar para ler daqui algum tempo


Frases e rasgos I

Usava alvejante na alma
E ninguém via a tristeza contida

Frases e rasgos II

O calendário de outono
são folhas sem dono

Frases e rasgos III

Pela maçã do teu rosto
eu esqueceria qualquer paraíso

Frases e rasgos IV

Minhas limitações eu coloquei agora
no frasco das inverdades

Andanças

Andei pela manhã nas ruas que Mario ainda anda
Nas ruas que meu amor passa
No Porto que eu sonhava e agora vivo

Na mesma manhã que a impossibilidade
Transformou-se em beijo
E por tanto desejo a conversa ganhou corpo
E o sentimento, alma


Trechos

Andei por Porto Alegre como quem come algodão doce e se lambuza...

Porto Alegre me alegrou muito.
Entendi porque é Porto e fiquei alegre
como tal.

Arrepio não quer dizer frio.
Porto Alegre tem algo que emociona, esquenta e encanta.
E mora no ar.

Estou necessariamente surpreso aqui não estou preso


Coisas de marinheiro


Se o amor mora no Porto...
Banhe-se

Estou em casa, sensações de sempre num lugar que vi tão pouco


Trechos

As esquinas desse Porto têm gosto de cais


Mudança

A ilha sabia que precisava de um Porto.
O que era postal virou retrato.

Um comentário:

  1. Aqui tem teu jeito nas ruas, nos nomes que se localizam, que se perdem, que se acham... Não demora pra voltar!!!! Como tu diz...agora aqui o Porto chove,aproveita e chora. Tu não tá aqui né !!! Beijão nessa alma linda!!!

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