Crônicas de um mundo bem contemporâneo
Ensaiou uma crônica
deixou um bilhete
pediu gim
implorou uma tônica
ensaiou a bula
escondeu a receita
Quirina é louca
mas, aproveita
o sol acorda
a lua deita
a vida é simples
e se ajeita
Crônicas de um mundo bem contemporâneo
Ensaiou uma crônica
deixou um bilhete
pediu gim
implorou uma tônica
ensaiou a bula
escondeu a receita
Quirina é louca
mas, aproveita
o sol acorda
a lua deita
a vida é simples
e se ajeita
És meu sol
Nesses tempos sem paz
Aguaceiros de agostos
Janeiros de inundações
Meu coração feito ilha
Naufrágios e temporais
Assim perdido busco achados
Meus olhos não alcançam o que vejo
Mantenho as portas fechadas
Contento-me com frestas
Não confio em bússolas e mapas
Meu silêncio sonha com teu beijo
Ele lê muito Florbela
E Florbela é deliciosamente louca
Ela se atira da janela
E tem certeza que a altura é pouca
Difícil entender ele
Muito mais entender ela
Poucos conhecem a Florbela
Quase ninguém me conhece
Faço poesia porque ela me alimenta
A palavra desde guri me “atenta”
As águas que eu prazerosamente navego
São sinceras, as vezes sem sentido, não nego
Rasgos
Rasgos são tão precisos
Rasgos são tão intensos
Rasgos cortam por fora
Rasgos cortam por dentro
Rasgos a fazer a peça do tecido
Rasgos são livros não lidos
Rasgos são colchas de retalhos
Rasgos são cobertores adormecidos
Incêndios
06.01.2025
Campeche
Minhas
meninas cansadas
Por
pouco dormir
Cantigas
de rodas
Minhas
olheiras profundas
Por
pouco dormir
Lembranças
acessas
Meus
olhares tão longe
Por
pouco dormir
Sonhos
despertos
Meus
incêndios
Por
pouco dormir
A
clarear minh’alma
Breve
canção do que me conforta
Campeche,
3 de janeiro de 2025
Meus incêndios disfarçam meus terrenos
áridos
Cantorias na madrugada me despertam
Nem sei se sou noite todo dia
Ou se meus dias escurecem sem avisos
Aquém do que me arde moram centelhas
em minh’alma
Mantenho meus medos, meus desesperos e
minha calma
Assim sigo aos pedaços tão inteiro
Breve
canção do que me conforta II
Campeche,
3 de janeiro de 2025
Meus desconfortos são agostos a beirar
trinta graus
São tintas e tantas cores a desenhar
invernos
Calafrios e queimações no mesmo
drinque
Assim como vender a roupa nova no “brique”
Assim como calar a fala num único
grito
Mantenho meus segredos, meus calos e
minha esperança
Assim sigo a guardar lembranças
Breve
canção do que me conforta III
Campeche,
3 de janeiro de 2025
Minhas despedidas são breves hiatos em
frases soltas
Cartas a mão leves escritas em
momentos únicos
Destinatários que escondem o CEP
Que não querem ser encontrados e de
repente aparecem
O que sei de mim muitas vezes nem me
interessa
Mantenho minhas fugas, minhas rugas e
meus sentimentos
Assim quando vem a calmaria eu me
encho de vento