Tarde
Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate
Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso
O destino assopra
Luas
Repartiram
os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram
uma quitinete.
Compraram
fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram
olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah!
Era quarta.
Beijaram-se
muito, muito mesmo.
Perderam
o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram
amor eterno.
Ele,
vestiu seu único terno.
E
foi tentar, tentar, tentar.
Já
era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...
Saudalejar
Seu
nome saudade
Menina
de seios rijos
Pouco
ou nada de juízo
Cheiro
de leite
Sabor
de flor
Seu
nome amor
Menino
de dentes livres
Brancos
que um dia eu tive
Cor
de mar
Imensidão
de grão
Seu
nome paixão
Mulher
de lábios fatais
Afã
de talvez, clã de jamais
Música
de cor
Verbo
“saudalejar”
Abril II
A
linguagem da liberdade
tem
uma boca faminta
que
engole o mundo e as palavras
e
guarda no coração milhões de tintas...
Uma
aquarela de vidas,
uma
festa profana e ao mesmo tempo tão distinta.
Enamorada
pelo encontro
e
apaixonada pela partida.
abriu
o livro,
abriu
a porta,
abriu
o tinto seco,
abriu
a carta
(Depois
de um março com chuvas...abril...)
O acaso brinca
de rima
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro
das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam
apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes
como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são
armadilhas bélicas
Atento aos relatos escuto a inconstante
passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide
quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate
do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações
sejam sempre as melhores janelas
Cabe-me a leveza da escrita para deixar
dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável
duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa
querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de
noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só,
louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e
fugidias...
Conversas
Ainda assim, acredito em minha varanda,
em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e
complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de
conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a
"me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo
passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com
muito amor, em todos os sentidos. Ainda assim, continuo a passear na praia, a
escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de
mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com
certeza, não.
Sabores
e copos trincados
Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a antiga trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra
"afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me
quebra
A taça é um disfarçar... quando brinda
Capitu
Quando
conheci Capitu
capitulei
desenganei
a
confiança é um conto
um
Machado afiado
uma
colcha de retalhos
com
bainhas de linho
quem
nunca se sentiu Bentinho?
Seca
Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não
pare,
Então, que encharque.
Declaração de
amor rasgado
Rasgou
minhas cartas,
rasgou
minhas fotos,
rasgou
meus livros,
e,
por último,
rasgou
as próprias roupas,
e
fizemos amor na sala...
Aos quinze anos (Como da vez primeira)
Minha
pele faz-se papel
Pergaminhos de poesias à flor dela
Arrepios ao ouvir teu nome
Meus poros feitos sonetos de Florbela
Pergaminhos de poesias à flor dela
Arrepios ao ouvir teu nome
Meus poros feitos sonetos de Florbela
Meu
encantamento percorreu tantos anos
Mantido intacto, mantido sereno
Muitas vezes disfarçado de abandono
N´outras esperançoso por um aceno
Mantido intacto, mantido sereno
Muitas vezes disfarçado de abandono
N´outras esperançoso por um aceno
É este amor
que eu canto agora
Amor maior de uma vida inteira
Que incendeia, colore, cora
Como da vez primeira
Amor maior de uma vida inteira
Que incendeia, colore, cora
Como da vez primeira
Não é por
acaso que teu nome tem Mar
Pois naveguei sem cansar, pois vivi sem desistir
Minhas velas seguiam por sentir teu ar
Lembrar de ti era uma forma de existir
Pois naveguei sem cansar, pois vivi sem desistir
Minhas velas seguiam por sentir teu ar
Lembrar de ti era uma forma de existir
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