quarta-feira, 9 de maio de 2018


Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra


Luas
           
Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram uma quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele, vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...



Saudalejar

Seu nome saudade
Menina de seios rijos
Pouco ou nada de juízo
Cheiro de leite
Sabor de flor

Seu nome amor
Menino de dentes livres
Brancos que um dia eu tive
Cor de mar
Imensidão de grão

Seu nome paixão
Mulher de lábios fatais
Afã de talvez, clã de jamais
Música de cor
Verbo “saudalejar”
  
Abril II

A linguagem da liberdade
tem uma boca faminta
que engole o mundo e as palavras
e guarda no coração milhões de tintas...
Uma aquarela de vidas,
uma festa profana e ao mesmo tempo tão distinta.
Enamorada pelo encontro
e apaixonada pela partida.
abriu o livro,
abriu a porta,
abriu o tinto seco,
abriu a carta
(Depois de um março com chuvas...abril...)

O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatos escuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem lixos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...

Conversas

Ainda assim, acredito em minha varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e complicamos tudo. Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a "me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo passa rápido
demais e precisamos aproveitá-lo com muito amor, em todos os sentidos. Ainda assim, continuo a passear na praia, a escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com certeza, não.

Sabores e copos trincados

Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a antiga trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra "afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me quebra

A taça é um disfarçar... quando brinda


Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho

quem nunca se sentiu Bentinho?

Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.

Declaração de amor rasgado

Rasgou minhas cartas,
rasgou minhas fotos,
rasgou meus livros,
e, por último,
rasgou as próprias roupas,
e fizemos amor na sala...

Aos quinze anos (Como da vez primeira)

Minha pele faz-se papel
Pergaminhos de poesias à flor dela
Arrepios ao ouvir teu nome
Meus poros feitos sonetos de Florbela
Meu encantamento percorreu tantos anos
Mantido intacto, mantido sereno
Muitas vezes disfarçado de abandono
N´outras esperançoso por um aceno
É este amor que eu canto agora
Amor maior de uma vida inteira
Que incendeia, colore, cora
Como da vez primeira
Não é por acaso que teu nome tem Mar
Pois naveguei sem cansar, pois vivi sem desistir
Minhas velas seguiam por sentir teu ar
Lembrar de ti era uma forma de existir

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