Uma história de verdade
Bergamotas.
Tempo nublado, sem chuva, mas choroso. As linhas do quando lavam almas, desenham nuvens e encantadoramente rasgam comentários embalados com a previsão do tempo. Enfim, detrás da nuvem um sol e uma lua beijam-se.
Vi uma cena linda, ontem, no centro de Floripa, perto do Terminal, quase na Conselheiro Mafra. Um menino de uns dez, onze anos no máximo vendia bergamotas. Simpático, atento e envolvente. Ele chamava os fregueses assim: “Bergamotas doces, para a gente ter um dia doce, bons frutos para um dia doce”.
Era isso ou quase isso, o importante é o conceito, diriam meus colegas publicitários. Vendia muito o guri. E além de vender passava alegria a quem ali passava. Eis que surge uma senhora, humilde, roupas velhas, mas bem vestida, entendes isso, leitor? Claro que sim. Ela aproximou-se do vendedor de bergamotas e perguntou: “É doce essa bergamota?”. Ela não tinha dinheiro, era visível isso.
O guri com olhos de bondade e gestos harmônicos, entre o sorriso e a compaixão, olhou bem nos olhos da senhora e respondeu: “Prove”. Ela, já com os olhos marejados, falou baixinho: “Eu não tenho dinheiro”. Ele fez que não escutou. Ela descascou a fruta. Ele continuava a vender as bergamotas.
Ela comprovou toda a doçura da fruta e do momento. Ele colocou mais quatro bergamotas num saquinho e deu nas mãos dela. Ela sorriu e saiu “devagarzinho” com um sorriso que encobria todo o seu rosto. Ele sorria ainda mais.
E continuou a vender as bergamotas: “Bergamotas doces, para a gente ter um dia doce, bons frutos para um dia doce”.
É preciso olhar a vida com olhos doces. Quem viu a cena que eu vi, com toda a certeza do mundo ganhou o dia e aprendeu muito com àquele guri.
“Olha a bergamota” – mas olhe de verdade.
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