LIQUIDIFICADOR
Àquele que estudava cartografia
E via seus mapas jogados num
liquidificador
Beirava abismos inteiros, e cafés
amargos para acordar a poesia
Insônia de mares, pernoites em estradas,
olheiras sem cor
Entenda que a sobriedade dos dias passa
pela noite e por um bom vinho
Bêbado é o destino, mas é preciso... E
ser preciso medida não há
Se todo mundo diz que é preciso ir, por
favor, não vá
Multidão é a melhor maneira de se sentir
sozinho
Olhos verdes de um gato que percorre em
riscos nossa noite
O que sangra, muitas vezes, mora longe
do açoite
E se a vida nos coloca a frente de um
liquidificador
Deixe-se misturar, o sumo que resiste e
colore é o amor
Os pincéis correm por papéis brancos que
a vida escolhe
Os desenhos são linhas da nossa alma
Às vezes uma tela demora uma vida,
depois se colhe
O tempo é contado por folhas de
calendário e por doses homéricas de calma
O que quero em todos os sentidos mora
sempre na paz
Não quero o que me faz perder tempo e
não poder te beijar ainda mais
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