terça-feira, 26 de maio de 2020


Sobre envelhecimento: O tempo

O tempo sempre me foi um aliado
O tempo esclarece
O tempo descobre a verdade
O tempo simplifica as coisas

O tempo de estar perdido
Também é um achado
O tempo me deu rugas
E elas são minha vida desenhada

O tempo sempre me foi uma lição
Foi meu guia e meu professor
O tempo disse: escuta teu coração
Pois nele também mora tua razão

O tempo de provocar o tempo
É um vento que mora em minh’alma
Àquela pandorga da infância
Que lá de cima me dava calma

Mas o tempo também é cerol
Que deixa a pandorga solta no ar
Se for tua a sonhada pandorga
Tenha certeza que um dia ela irá voltar

Mas o tempo também voa
É preciso buscar a claridade
Ser coerente nos atos
E não deixar para amanhã a vontade

O tempo sempre me foi um aliado
E de bom grado aprendi a entendê-lo
Fiz dele um manto para me proteger
Até hoje guardo com carinho cada novelo

Por isso quando me perguntam
Quem é esse tal de tempo
Respondo com um sorriso aberto
Ele é um menino sincero, mas muito amigo do vento

segunda-feira, 25 de maio de 2020


Só pra te olhar

Vou aproveitar a chuva para lavar a alma,
para disfarçar a lágrima,
para limpar o poço...
Vou aproveitar a chuva para lavar o sábado,
para disfarçar a seca,
para limpar "o posso”...
Vou aproveitar a chuva para lavar a terra,
para disfarçar a vodca,
para limpar “o nosso”...
Vou aproveitar a chuva para lavar o quintal,
para disfarçar o mar,
para limpar “o bom moço”...
Vou aproveitar a chuva para lavar as mãos,
para disfarçar o tempo,
para limpar a vidraça...



Verbos apaixonados

O que era visto de repente vem e alucina
Mexe, complica, mistura, confunde, liquidifica, intriga, faz rolo, disfarça, chama briga, aumenta, apaixona, diz que fica, depois não liga

O que já era visto de repente transforma e incendeia
Toma forma, encanta, modifica, duplica, espalha, reinventa, faz colo, diz que vai, depois codifica


Coisas de guri

Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater em sua porta e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...



O amor

O amor deve fazer sorrir.
Arreganhar os dentes.
Dar gargalhadas.
Chorar de tanto rir.
O amor deve ser assim.

Um sorriso no rosto.
Um amor no coração.
E não venham me falar.
Que amor precisa de decoração.

O amor vive em si.
O amor é por si só.
O amor não quer dó.
O amor quer só ser.


Embarcações
          
Vislumbrava a cor daqueles olhos que a tanto não via.
E lia nas entrelinhas da noite escura uma claridade.
Olhos de dor, mas ao mesmo tempo de inundação de mar.
Provocações de bar e recados em guardanapos.
Saudade recém-chegada.
Saudade embarcada.
Saudade distraída.
Caída diante dos olhos sonhados.
Caída deliciosamente sobre o corpo.
Caída intencionalmente no colo querido.
Vislumbrava a cor daqueles olhos,
Para poder estar mais perto daqueles olhos tão amados.
Incendiados por uma solidão incontida.
Detalhada em sonhos que vivi acordado.
Vislumbro tua chegada todos os dias, todas as manhãs.
Quando da tua chegada descreverei realmente o que seja claridade.
E entenderás todo o tamanho das palavras que escrevo agora.


Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.

Autobiografia
Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui
Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração
Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada

O que errei foi com muita convicção
Visto roupas de arco-íris
Meus retalhos de tantas cores
Já fizeram tantas colchas
A me abrigar do frio
Não me venham definir minhas cores

Nem meus amores, nem minhas flores
Sou tempestade, sou mar, sou calmaria, sou rio
Visto as roupas de Jorge
E ninguém desenhará minhas telas

Sou aquarela

sexta-feira, 22 de maio de 2020



Uma dança de uma infância feliz
A saudade boa que não nos ilude
A conversa na calçada, a brincadeira na pracinha
E àquele mágico jogo com as bolinhas de gude



terça-feira, 19 de maio de 2020

Amélie me diz do teu destino, 
Betty Blue traduza teus delírios... 
Vou tomar um capuccino no Bagdah Café 
e já volto. 
Todo mundo tem na manga um Coringa. 
Eu acredito nas Cartas para Julieta. 
Passa um filme em minha cabeça.





Acordei hoje a jogar no campinho do Jorge Lacerda. 
Um sorriso se abriu. Um sol, um gol, lembranças encantadas. Lá no "Coleginho" éramos gigantes.

segunda-feira, 18 de maio de 2020


Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei

a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho   

quem nunca se sentiu Bentinho?




Luas
           
Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram uma quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...


As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do compreender e do gostar...



O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatos escuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Farelos de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem pratos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer,
com a razão burra de que não se precisa querer

Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras,
para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...






Ganham dinheiro com respiradores
Ganham com todas as dores
Ganham dinheiro com máscaras e álcool gel
Ganham vendendo terrenos no céu
Ganham dinheiro aumentando a pobreza
Ganham explorando a tristeza

Contamos, desesperados, corpos
E os corpos se aproximam da nossa cidade,
da nossa rua, da nossa casa
Talvez já estejamos mortos




domingo, 17 de maio de 2020


Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente... 

Nada é tão longe quando o amor é perto.
E perto pode ser de longe, não existe distância quando há sinceridade no sentimento, o caminho mágico precisa ser regado, e temos que entender o andar do tempo... para amar e ser amado.


sexta-feira, 15 de maio de 2020

Sobre Felicidade

Guardei por muitos anos pedaços de tecidos, livros lidos e palavras dos amigos. Hoje tenho uma colcha a me abrigar do frio, tenho memórias e lições que aprendi em tantas páginas e que guardei na memória, conversas com meus amigos a falar de lealdade, justiça e amor. Se não juntei dinheiro, juntei momentos, coisas e sentimentos que regam minha vida e isso me faz muito feliz e isso me faz sorrir. Bom Dia... E na hora de dormir escute bem os acordes.

terça-feira, 12 de maio de 2020


Esperança

Uma dor que não cessa, dia a dia, dor a dor, um rasgo dilacera
Falta ar e antes disso faltou amor e atenção
Falta mar e antes disso faltou cor e embarcação
Falta solidariedade e antes disso faltou abraço e primavera
Que dor é essa que não passa
Falta pão, mas é o ódio quem nos assa
Uma dor que não cessa
A tristeza invade como se tomasse posse
O chão e os corações áridos
Que chova e vente
e que leve essas nuvens e pessoas pesadas para bem longe

segunda-feira, 11 de maio de 2020


Absolutamente

Tem dias que eu sou cantante.
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante.
Beijo de mercúrio em quem me arde.





Um Conto de Sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...





Verbos  

Há dias que nem me vejo
Passo sem ver meu querer
Um café da manhã sem gosto nem desejo
Uma sensação de quase morrer

Noutros dias vejo tudo diferente
Entendo quase morrer como estalar
Vejo uma vontade latente
Uma maravilhosa sensação de tentar

No parque de diversão do destino
As gangorras estão cheias...

Sabores e copos trincados

Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a antiga trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra "afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me quebra

A taça é um disfarçar... quando brinda





Aparências II ( Olhares)

Uma gota corajosamente rega o mundo
Uma inundação mora num chão árido
Uma lágrima delicadamente provoca um riso
Uma gargalhada se esconde num rosto triste


Eu quero gente pimenta, gente com sal
A vida insossa faz mal.

Cresci numa linda cidade chamada Torres e comia goiaba e outras tantas frutas no pé
Jogava taco em frente de casa e andava de carrinho de lomba final de tarde
Hoje vejo que todo mundo vê todo mundo pelo computador e celular

Queria tanto reencontrar o meu lugar
Mas Torres já não é mais a mesma, nem as goiabas, nem o jogo de taco, nem o carrinho de lomba
Restam sombras, sombras diferentes
Por que nem o sol é o mesmo
Precisamos resgatar o simples, senão não teremos histórias para contar
Ardia a manhã
Bem lembro
Meu coração inverno

Sonhava em ver setembro
O sol ficava diferente
As flores provocavam sorrisos
Nunca esquecerei as cores das primaveras de Torres
É uma tela que guardo aqui dentro
Feito um mar
Nada agora pode causar surpresa
a não ser àquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"

o levará para qualquer lugar...
Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater em sua porta e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...

sexta-feira, 8 de maio de 2020



Você tem fome de quê?

O ódio não morre de fome
por que o homem dá o que ele come.
Não alimente o ódio.
Ele cresce e te engole.
As pessoas a alimentar o ódio
e o amor a morrer a míngua.

quarta-feira, 6 de maio de 2020


Febre

Uma sensação sem cor me atravessa.
Embora não fale, não cala.
Invariavelmente estanca cada passo meu.
Um punhal que fere a própria ferida.
Um jogo onde a dor supostamente venceu,
Sem que a existência se desse por vencida,
Ficando exposto aquilo que o poeta ainda não escreveu...
Assim fica entendido o mágico encanto dessa vida.
A vida é uma longa febre.

Declaração de amor rasgado

Rasgou minhas cartas,
rasgou minhas fotos,
rasgou meus livros,
e, por último,
rasgou as próprias roupas,
e fizemos amor na sala...


Abril II

A linguagem da liberdade
tem uma boca faminta
que engole o mundo e as palavras
e guarda no coração milhões de tintas...
Uma aquarela de vidas,
uma festa profana e ao mesmo tempo tão distinta.
Enamorada pelo encontro
e apaixonada pela partida.
abriu o livro,
abriu a porta,
abriu o tinto seco,
abriu a carta
(Depois de um março com chuvas...abril...)





Origami

Dobraduras do tempo.
Harmonia.
Calma.
Concentração.
A vida é assim.
Dobras com cuidado.
Dobras com carinho.
Dobras com cautela.
Dobras com exatidão.
Dobraduras do tempo.
De repente a imagem, o fato, a construção.
Meu coração origami reinventa-se 
“se” dobra.


Triângulo

Um dia vieram três,
Certos que seriam dois,
Para formar um.

E quando viram que eram três,
Choraram como milhões,
Que procuram um par.

Sem saber o que fazer com um,
E sem saber quem seria o terceiro,
Resolveram procurar um quarto.

E viveram felizes para sempre,
Os três...


Do tempo

O amor é um inferno no céu
Um inverno sem roupas quentes.
Um terno de linho sem noiva.
Luares de noites ardentes,
São mares com ondas constantes.
Nenhuma igual como a de antes.
E tão exato que é de repente,
Alguma coisa passante


Eu quero gente pimenta, 
gente com sal.
A vida insossa faz mal.


terça-feira, 5 de maio de 2020


Vida

A vida não é lenta
Fecha-se os olhos
Trinta
De repente cinquenta
É preciso coragem
Para entender
Toda a paisagem
Toda a passagem
É preciso entendimento
Amor é alimento
É preciso entender as calmarias
E respeitar também as forças do vento
A vida, pois, é breve
E breve também é muito tempo
Aproveite cada momento
Como fosse uma lição, um ensinamento

(Vigiai tuas ações,
encoraje teus receios
por que na verdade
somos passageiros
e é preciso viajar sem medo)




Alerta

Antes de dormir
escute bem os acordes




Rabiscos

Passeia minha saudade em teus versos... uma sedução de palavras que permeiam todas as tuas cores... teus janeiros intensos e teus agostos de friagens... fumacinha de bocas... linhas na busca de pipas e de tecidos que nos abrigarão do frio... saudade é assim... um cobertor curto... que deixa os pés de fora e o coração no mundo...


Rabiscos

Precisamos nos perder mais.

Os dias de tempestade e a falta de bússola, na maioria das vezes, nos ensinam caminhos, não que eles sejam os melhores caminhos, mas precisamos passar por eles para aprender. E aprender não é acertar tudo, ou não errar, muito pelo contrário. 

Envolva-se com os detalhes, com o simples, gotas são também partes do oceano.

Vamos nos perder para nos achar e se mesmo assim continuarmos perdidos vamos tentar. O ódio virou jeito de viver, e o que dá jeito para tudo é amar.

Minhas palavras, tantas vezes, não conseguem chegar onde quero e não tenho certeza que são compreendidas. 

Sigo a tentar, e me despedaçar, a me juntar, a me reerguer... assim procuro dentro de minhas loucuras a coerência utópica de querer se achar...
Amigo, precisamos nos perder mais.




O tempo é um senhor 
muito distinto...
Às vezes chileno, seco e tinto

Cada qual com cada seu...
Quem de amor nunca morreu?
Quem por amor nunca bebeu?