sábado, 30 de janeiro de 2021

 

Fomes                                                                                                 

 

Era inevitável a queda

frente ao vazio que se fazia

era café sem bolacha, sem fatia

era fome o que o coração mostrava e dizia

 

Era inevitável o pranto

frente ao exposto

era lição sem cartilha

era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

 

Era inevitável o fim

frente ao penúltimo capítulo que se escrevia

era final feliz sem nenhum par

era romance sem nenhuma poesia

 

A fome comia...

 

 

Um Conto de Sarda


Uma menina com sarda

Brincava atrás da cortina

Desenhava uma fada

A solitária menina

 

Queria que a fada

Num toque de sua varinha

Retirasse do seu rosto a sarda

E ela detrás da cortina

 

A fada não entendendo nada

E achando tão bela a menina

Num toque doce de fada

Desapareceu com a cortina...

 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Da flor da pele


 

A flor da pele

Rosa não deve ser.

Minh ’alma eu mesmo lavo.

A rosa não brigou comigo.

Aliás... eu nem sou o tal cravo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

 Espumas

                                                                                                             

Vejo a tristeza que se espelha.

Ao ver minh‘alma que parte.

Felicidade é um fogo de palha.

Que queima, que provoca, que arde.

 

Mora comigo um hiato que teima em querer provocar.

Um abraço de esquina que não se esquece.

Vez por outra vens feito onda de mar.

Quebra, insinua e desaparece. 

 

 

 

 

Seca

 

Que chuva tamanha que beija a seca,

A minha seca boca.

Chuva que molha as roupas do passado

E dá febre.

Uma febre tamanha que queima a seca,

A minha seca boca.

Uma sensatez louca.

A previsão é que a chuva tamanha não pare,

Então, que encharque.

 


 

Guardar


Um terno de linho branco,

uma colcha de ternura,

um baile em noite clara,

uma lua no Campeche,

quem guarda não perde.

 

 

Frases soltas presas ao tempo

 

A confusão ardia

noites quentes

ventos de calmaria

mormaços de Joanas e Marias

bêbadas madrugadas sem fatias

tempo do presente não tão perfeito

olhares sem garantias

orações sem leitos

saudade tatuada em folhas de samambaias

 

 

                                         

 

 Versos portugueses

 

É meu cansaço que me ergue

no exato momento em que me falta o ar

mesmo que minhas pernas se neguem

meu desejo me faz andar

 

Estanca de repente também meus ais

nenhuma palavra, nenhum gemido, nenhum gosto

minhas dores aportam em meu cais

engulo a seco e disfarço as lágrimas em meu rosto

 

Às vezes para seguir é preciso conviver com a dor

um espinho no pensamento, um punhal preso ao peito

uma luta incessante da escuridão com a cor

como se houvesse pregos em toda cama que deito

 

 

 

 

 

 

 

Colcha de retalhos  

 

Meus amores estão nas entrelinhas de minha poesia

estão cobertos de rimas

estão encobertos por uma poeira fina de nome paixão

juntei tecidos tantos por tantos anos

tecidos suaves, finos, retalhos diversos e seda e chita

costurei uma colcha quente de lembranças

para acalmar meus invernos

 


 

Morde, assopra e cura      

 

Amo sempre como nunca.

Ainda é cedo para amar tarde.

Paixão é mercúrio.

Amor é merthiolate.

 

 

 

 

Nós

 


Nós para atar

Nós atados

Nós sem par

Cegos por nós

Nós soltos

Despercebidos

Nós lidos    

Esquecidos

Nós para juntar

O inconcebível

Acredito

Em nós para sempre

 

 

 

Chás  

                                                                                             

De camomila

de cidreira

de laranjeira

de cadeira

de sumiço

de lareira

eu quero chá

 

Chá com bolinhos de chuva

chuva para molhar a alma

alma para ser do corpo a luva

luva para aquecer a calma

 

As parceiras

 

Bebem noites, mas adoram café da manhã...

Mastigam palavras poeticamente,

e cinicamente arrotam desaforos...

Conversam com anjos.

Passam os finais de semana no inferno.

Compram tapetes na feira livre.

Adoram tapetes voadores e persas...

Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.

Possuem palavras doces,

que transformam em cicatrizes outras palavras...

Mudam a sala a toda hora.

Fazem as malas a todo instante.

Adoram samambaias e cult movies.

São contraditórias,

mas nós amamos suas histórias...

E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

 

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.

São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,

pouco de preencher tudo)

 

São assim as parceiras,

que muitas vezes nem primeiras são...

As parceiras são pele e flor.

Viver sem elas seria cômodo demais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Nas margens do teu rio eu mergulho sem medo. 

Neste momento não tenho frio, 

não tenho dúvida, não tenho segredo

 

Já virei a página sem ter entendido o livro. 

(Meu amigo, amor não é adivinhação)...

 

 

 

O coração explode... 

um arrepio grita teu nome... 

a esquina foi tatuada com minha sede.... 

e tua ausência me dá fome...

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Capitu


Quando conheci Capitu

capitulei

desenganei

 

a confiança é um conto

um Machado afiado

uma colcha de retalhos

com bainhas de linho            

 

quem nunca se sentiu Bentinho?

Luas

 

           

Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.

Alugaram uma quitinete.

Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.

Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.

Ah! Era quarta.

Beijaram-se muito, muito mesmo.

Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.

Juraram amor eterno.

Ele vestiu seu único terno.

E foi tentar, tentar, tentar.

Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...




segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

 Receita

Rosa Santos com Pitadas de Edike Carneiro
A vida meio que é um tempero
Pitadas de páprica e cúrcuma
A vida apimentada e de cheiro bom.
Crua, sacia e tão bem faz.
Antepasto de berinjela, sabor aquarela
Amassada com cebola roxa e alho.
Cortada em fatias e tiras finas, sal marinho;
Um terno de linho para a refeição.
Azeitonas verdes e uvas passas.
Num frio de geladeira,
De um dia para outro muda tudo.
Três folhinhas verdes de manjericão em leque,
Sobre o antepasto na fatia de pão francês,
Nem conte até três...
Coloque num prato branco,
antepasto úmido e com azeite de oliva,
refeição feito uma diva no palco,
O pão e aos poucos outros alimentos se vão e virão outros coloridos, cheirosos e vivos.
Pitadas do tamanho de mares de amor,
Sabor que vem de Rosa,
Jardim de verdes,
Alimentos de poetas, sonhadores e canteiros,
Onde Rosa vive
A imagem pode conter: comida

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Declaração de amor rasgado

 

 

Rasgou minhas cartas,

rasgou minhas fotos,

rasgou meus livros,

e, por último,

rasgou as próprias roupas,

e fizemos amor na sala...

 

Origami

 

 

Dobraduras do tempo.

Harmonia.

Calma.

Concentração.

A vida é assim.

Dobras com cuidado.

Dobras com carinho.

Dobras com cautela.

Dobras com exatidão.

Dobraduras do tempo.

De repente a imagem, o fato, a construção.

Meu coração origami reinventa-se e “se” dobra.

 

 

Do tempo

 

 

O amor é um inferno no céu

Um inverno sem roupas quentes.

Um terno de linho sem noiva.

Luares de noites ardentes,

São mares com ondas constantes.

Nenhuma igual como a de antes.

E tão exato que é de repente,

Alguma coisa passante

 

 

 

 

 

Embarcações

 

         

Vislumbrava a cor daqueles olhos que a tanto não via.

E lia nas entrelinhas da noite escura uma claridade.

Olhos de dor, mas ao mesmo tempo de inundação de mar.

Provocações de bar e recados em guardanapos.

Saudade recém-chegada.

Saudade embarcada.

Saudade distraída.

Caída diante dos olhos sonhados.

Caída deliciosamente sobre o corpo.

Caída intencionalmente no colo querido.

Vislumbrava a cor daqueles olhos,

Para poder estar mais perto daqueles olhos tão amados.

Incendiados por uma solidão incontida.

Detalhada em sonhos que vivi acordado.

Vislumbro tua chegada todos os dias, todas as manhãs.

Quando da tua chegada descreverei realmente o que seja claridade.

E entenderás todo o tamanho das palavras que escrevo agora.

 

Essa chuva

 

 

Acende uma chuva aqui dentro

Vindo de um lustre com uma luz fraca

Uma dor conta pingos

Uma espera que o destino crava

Um “não sei lá” que responde tudo

Uma alma que não se lava

Um grito encharcado e mudo

Um querer quase absurdo

Vontade de te ver

Um amor que me faz ser

Tudo aquilo que eu sempre quis ser

E essa chuva que não passa

 

Guardar

 

  

Um terno de linho branco,

uma colcha de ternura,

um baile em noite clara,

uma lua no Campeche,

quem guarda não perde.

Frases soltas presas ao tempo

 

    

                                           

A confusão ardia

noites quentes

ventos de calmaria

mormaços de Joanas e Marias

bêbadas madrugadas sem fatias

tempo do presente não tão perfeito

olhares sem garantias

orações sem leitos

saudade tatuada em folhas de samambaias

 

 

 

Colcha de retalhos

 

 

Meus amores estão nas entrelinhas de minha poesia

estão cobertos de rimas

estão encobertos por uma poeira fina de nome paixão

juntei tecidos tantos por tantos anos

tecidos suaves, finos, retalhos diversos e seda e chita

costurei uma colcha quente de lembranças

para acalmar meus invernos

 

 

Nós

 

Nós para atar

Nós atados

Nós sem par

Cegos por nós

Nós soltos

Despercebidos

Nós lidos                                                                              

Esquecidos

Nós para juntar

O inconcebível

Acredito

Em nós para sempre

 

 

 

Capitu

 

Quando conheci Capitu

capitulei

desenganei

 

a confiança é um conto

um Machado afiado

uma colcha de retalhos

com bainhas de linho            

 

quem nunca se sentiu Bentinho?

 

 

Luas

           

Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.

Alugaram uma quitinete.

Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.

Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.

Ah! Era quarta.

Beijaram-se muito, muito mesmo.

Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.

Juraram amor eterno.

Ele vestiu seu único terno.

E foi tentar, tentar, tentar.

Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...

 Cartografia

Engoliu a seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...

 

Desencontros

 

A Paciência era uma jovem educada senhora

Na mocidade se apaixonou loucamente por um jovem de nome Acaso

O tempo passou, passou a hora

E ela de tanto acenar cansou seu braço

 

 

 

Absolutamente

 

Tem dias que eu sou cantante.

N’outros o silêncio bate.

E na forma mais errante.

Beijo de mercúrio em quem me arde.

 

 

Águas

 

O céu prepara a lágrima.
Um guarda-chuva protege a alma e
línguas atropelam a fala.
Águas rompem calmarias, Marias e broas.
Água na boca de um céu de uma boca febril.
Numa taça de vinho um mundo todo.
Encharcar é o prazer da lágrima,
quando namora um lenço.






terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Preciso

 


Todo o céu esconde uma chuva

E chuva cai para limpar o céu

E linhas erguem sonhadoras pandorgas

E dobras desenham barquinhos de papel

 

É preciso de água para lavar a alma

E não ter mágoa para limpar o cobertor

É preciso de coragem para manter a calma

E não ter medo para entender o amor

 

Toda a chuva esconde um céu

E o céu cai para limpar a chuva

E sonhadoras pandorgas sonham com linhas

E barquinhos de papel desenham dobras

 

A verdade não necessita de luvas

Cafés

 

Caixinhas

 

Temos o medo guardado em caixinhas no quarto.

num quarto de hora,

num quarto de hotel,

num quarto de nunca mais,

num quarto de pão...

Temos o medo guardado em caixinhas no quarto...

 

Enganos

 

Mudou a cor do casaco para enganar o frio.

Colocou num copo toda a água suja do rio.

(embaixo do tapete mora um segredo que todo mundo sabe).

 

De pele

 

Enquanto eu era a seca, tu tentavas ser a dança da chuva.

 

Estio

 

Lá no meio do deserto mora uma única gota d’água...

Filha de uma chuva rara e de um poeta sereno.

É lá que os sonhadores matam a sede.

 

 

 Nossas ausências são ruas extensas de nossos silêncios,

rios caudalosos, mares revoltos que se acalmam com beijos.
Proximidade é a linha que costura o sentimento.
Compreensão, sutileza e leitura de momentos fazem parte deste coser...
É preciso surpreender a tristeza e não deixá-la tomar espaço.
É preciso um gole de luar, perfume de terra molhada, um riso no meio da tarde...
As ausências ardem...

 As emoções chorando

minha alma quase quarando
tal roupa no varal de casa
deixa o sol
deixa o sol
invadir minha asa

 

Nada agora pode causar surpresa

a não ser àquele velho menino

que entende que seu "carrinho de lomba"

o levará para qualquer lugar...