segunda-feira, 29 de junho de 2020



Origami

Dobraduras do tempo.
Harmonia.
Calma.
Concentração.
A vida é assim.
Dobras com cuidado.
Dobras com carinho.
Dobras com cautela.
Dobras com exatidão.
Dobraduras do tempo.
De repente a imagem, o fato, a construção.
Meu coração origami reinventa-se e “se” dobra.


Caleidoscópio
                           
Tua boca encharcada.
Teu corpo coberto de gemidos bons.
Correntezas que me fazem chegar aos teus poros.
Coro de uma noite silenciosa,
“Gritando-nos por dentro”
Tua imagem me dá fome, sede.
E só tua imagem e corpo para saciar o tudo.
O prazer percorre nossas veias.
Invade minha poesia.
Alucina minhas aldeias.
Tua química brinca com minha alquimia.
Beijo coberto de oitavas intensões.
Gemidos feito canções.
Corpos costurados com linhas.
Gozo nos fazendo voar.
Quero morrer junto ao teu ventre.
Uma lente feito um espelho convexo,
Que transforma o mundo e aumenta meu desejo.
Teu corpo me fala “entre”.
Teu corpo me deixa sem nexo.
Minha língua encharcada navega em tua boca.



Triângulo

Um dia vieram três,
Certos que seriam dois,
Para formar um.

E quando viram que eram três,
Choraram como milhões,
Que procuram um par.

Sem saber o que fazer com um,
E sem saber quem seria o terceiro,
Resolveram procurar um quarto.

E viveram felizes para sempre,
Os três...


Do tempo

O amor é um inferno no céu
Um inverno sem roupas quentes.
Um terno de linho sem noiva.
Luares de noites ardentes,
São mares com ondas constantes.
Nenhuma igual como a de antes.
E tão exato que é de repente,
Alguma coisa passante

domingo, 21 de junho de 2020


Canção das Idas                                

Em algum lugar eu fiquei
Sem saber eu parti
Desgovernei sem querer
Por quais motivos eu nem sei
Só sei que aprendi

Num dia a gente se vai
N´outro chora para voltar
São fases que a gente passa
Tem noites que a lua vem
N´outras ela quer descansar

Trago tristezas e lições
Enveredei entre labirintos
Mas aqui dentro eu sinto
Que apesar dos perdidos
Nos achados eu sobrevivi


sábado, 20 de junho de 2020

Todo mundo tem escolha
A felicidade pode ser um estalo
Como quem dança num papel bolha
Capitu
Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei
a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho
quem nunca se sentiu Bentinho?
Luas
Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram uma quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...

Cartografia
Engoliu a seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...
Fomes
Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia
Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha
Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia
A fome comia...

quinta-feira, 4 de junho de 2020


Quando a exatidão descobre que a surpresa é fundamental

Baldes de mares teimam em encher dedais
Assim esquecemos os beijos no meio da tarde
Das cartas redigidas a mão

É preciso surpreender
O amor necessita de arrepios e friozinhos na barriga
Amor não tem botão de liga e desliga

Botões que valem de verdade
São os que deliciosamente abrimos para sentir o corpo amado




Lareiras

O meu corpo veste roupas novas,
minha alma rejeita.
não acolhe.
ela quer o velho cachecol do tempo
que aquece minhas velhas poesias.

Inspirações

Toda vez que me permitia
Recorrer ao que não sabia
Brilhava os olhos do acaso
Iluminando meus dias!

Manuel dava bandeira
Para uma musa Cecília
Toda vez que se permitia
Recorrer ao que não sabia!

Que seriam dos anjos de Augusto
E das pessoas de Fernando
Se todas as palavras da boca
Passassem no mundo voando?

Toda vez que me permitia
Recorrer ao que não sabia
Quintana conversava na varanda
Iluminando meus dias!












Febre

Uma sensação sem cor me atravessa.
Embora não fale, não cala.
Invariavelmente estanca cada passo meu.
Um punhal que fere a própria ferida.
Um jogo onde a dor supostamente venceu,
Sem que a existência se desse por vencida,
Ficando exposto aquilo que o poeta ainda não escreveu...
Assim fica entendido o mágico encanto dessa vida.
A vida é uma longa febre.


Aprendiz
          
Chegou um minuto atrasado.
Chegou meio assim, de lado,
desculpando-se pela vida,
pelos maus tratos...
Contou sem ninguém perguntar,
todos os seus atos,
todos os seus erros,
seus amores
e sua solidão...
Chegou um minuto atrasado...
Quando perguntaram o seu nome, disse baixinho:
- Meu nome é coração.

(depois, fechou-se num canto,
e, como por encanto, disse adeus e virou paixão...).





Origami

Dobraduras do tempo.
Harmonia.
Calma.
Concentração.
A vida é assim.
Dobras com cuidado.
Dobras com carinho.
Dobras com cautela.
Dobras com exatidão.
Dobraduras do tempo.
De repente a imagem, o fato, a construção.
Meu coração origami reinventa-se e “se” dobra.


Do tempo

O amor é um inferno no céu
Um inverno sem roupas quentes.
Um terno de linho sem noiva.
Luares de noites ardentes,
São mares com ondas constantes.
Nenhuma igual como a de antes.
E tão exato que é de repente,
Alguma coisa passante





Vontade

A vontade arde
feito seis horas da tarde.
Provoca, incendeia.

A vontade arrepia,
põe fogo na aldeia.
Queima, ilumina.

A vontade lateja
feito pecado na Igreja.
Perdoa, crucifica.

A vontade arquiteta,
jura que é secreta,
mas transparece no olhar .


A tecelã

Existe uma fada na noite
Que tece mantas para os dias frios
Cachecóis de linhas tênues
Boas casas, qualificados fios
Bordados de amor latente
Frisos finos e corações enormes
Beijos de mares, namoros de rios
Enquanto depois de tanto trabalho
A fada sonha e desperta a cor do tanto
Os sonhos da fada colorem
Todos os sonhos que dormem
Num mágico e doce encanto
Que nossos corpos tais encantadas conchas
A coser as tais apaixonadas linhas
Eternizem almas, cochilem de conchinha
Aquecidas pelo amor, eterno manto



Línguas

Eu já nem sei o que meu querer quer me dizer
Talvez esteja mais confuso do que eu
Talvez não entenda que para esquecer
É preciso explicar o que aconteceu

Ao passo que os quereres têm “quês”
E que eles não falam uma mesma língua
O teu querer fala por sinais
E o meu fala somente português

Preciso assim que reflitas e sintas
Que a vida precisa tanto de bem querer
E que o amor pode nascer
Na invenção de uma outra língua



Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
O que errei foi com muita convicção



Confusões

Olhares beiram mares
lágrimas confundem águas
mágoas inundam praias
a solidão navega às cegas
ignorando tantos luares
a hora é quase certa
o tempo é quase fuso
minha certeza naufraga
o exato é tão confuso