sábado, 31 de março de 2018

A saudade

Saudade é um canto quieto, emocionante, tocado, inquieto
Uma casa sem teto que não deixa o sereno cair
Uma calçada sem lado que beija o jardim
Uma estrela cadente que docemente nunca cai
Um imenso vazio repleto de tudo envolvido
Um tempo surgido por querer sempre querido
Que deixa no canto do quarto um eterno ai

quarta-feira, 28 de março de 2018


Nem mesmo o mar 
poderá te dizer 
por onde andei 
naufragando


Rabiscos

Passeia minha saudade em teus versos... uma sedução de palavras que permeiam todas as tuas cores... teus janeiros intensos e teus agostos de friagens... fumacinha de bocas... linhas na busca de pipas e de tecidos que nos abrigarão do frio... saudade é assim... um cobertor curto... que deixa os pés de fora e o coração no mundo...


Não quero inventar a felicidade, também não passa por minha cabeça escrever um manual de como se faz ou não se faz... tudo aqui, de repente, é tão rápido, é tão curto, é tão depressa... então não se atenha a problemas, veja o que existe no coração e dê voz a ele... simples como bolinho de chuva recheado com banana e com àquele café da vó e uma musiquinha do Lupicínio e do Cartola lá no fundo... A poesia quando estala é franca, não estanca e grita... talvez a felicidade precise de estalos e beijos com gosto de tardes de sextas-feiras... o sol nascerá amanhã ... tenha certeza... confabule com a felicidade todo o dia... dentro de mim mora o que penso ser feliz... e todo dia entendo que o despertar é um riso intenso... Sem nenhum ódio escondido




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domingo, 25 de março de 2018


Acredito que nasce e vive em cada um de nós

a transformação que "esse" mundo precisa.

Amor não precisa de siglas.

sábado, 24 de março de 2018

Quase por quase não querer 
que o espelho enxerga não querendo ver
Num instante presume que o amor é constante, 

noutro beira o acaso
Diz que não quer, que não sente saudade 

e disfarça assim o querer
E quer que o tempo corra, pois meio poço cheio, 

de um ângulo, é raso
(o amor quando não vive, nem se faz... vira "sei lá")

sexta-feira, 23 de março de 2018

Silêncio

O relógio está quebrado
A carta não tem selo nem CEP
A mensagem bebeu a garrafa

terça-feira, 20 de março de 2018

O coração explode... 
um arrepio grita teu nome... 
a esquina foi tatuada com minha sede.... 
e tua ausência me dá fome



segunda-feira, 19 de março de 2018




Lareiras

O meu corpo veste roupas novas
minha alma rejeita
não acolhe
ela quer o velho cachecol do tempo
que aquece minhas velhas poesias




Inspirações

Toda vez que me permitia
Recorrer ao que não sabia
Brilhava os olhos do acaso
Iluminando meus dias!

Manuel dava bandeira
Para uma musa Cecília
Toda vez que se permitia
Recorrer ao que não sabia!

Que seriam dos anjos de Augusto
E das pessoas de Fernando
Se todas as palavras da boca
Passassem no mundo voando?

Toda vez que me permitia
Recorrer ao que não sabia
Quintana conversava na varanda
Iluminando meus dias!


Chuva, sol, lua e mar

A chuva era uma moça fina.
Cheiro de leite. Flor da idade.
E, com seu jeito de menina, não sabia que no fundo,
poderia ser uma tempestade.

O sol imaginava-se sempre repleto.
Pelo seu brilho não temia nada.
Achava-se o mais belo, o mais completo.
Chorou, quando conheceu a madrugada.

A lua, mulher de olhos ardentes,
emoldurada por estrelas,
procurava entre tantas lentes,
alguém que desejasse realmente tê-la.

O mar era um velho pescador,
com tesouros escondidos n’areia...
Diz que nunca conheceu o amor,
vive nas esquinas entre sereias...


Febre

Uma sensação sem cor me atravessa.
Embora não fale, não cala.
Invariavelmente estanca cada passo meu.
Um punhal que fere a própria ferida.
Um jogo onde a dor supostamente venceu,
Sem que a existência se desse por vencida,
Ficando exposto aquilo que o poeta ainda não escreveu...
Assim fica entendido o mágico encanto dessa vida.
A vida é uma longa febre.


Manhãs

A linha do meu coração usa um terno pelo avesso
e dança em bailes de lembranças que eu guardava em segredo.


Só pra te olhar

Vou aproveitar a chuva para lavar a alma,
para disfarçar a lágrima,
para limpar o poço...
Vou aproveitar a chuva para lavar o sábado,
para disfarçar a seca,
para limpar "o posso”...
Vou aproveitar a chuva para lavar a terra,
para disfarçar a vodca,
para limpar “o nosso”...
Vou aproveitar a chuva para lavar o quintal,
para disfarçar o mar,
para limpar “o bom moço”...
Vou aproveitar a chuva para lavar as mãos,
para disfarçar o tempo,
para limpar a vidraça...



Desencontros                                                                                                     
                      
Falava-me de luas enquanto eu dormia
ao acordar com um sol intenso
não estavas mais
pelos detalhes sentia tua presença
quebra-cabeças com peças tão iguais


Abril II

A linguagem da liberdade
tem uma boca faminta
que engole o mundo e as palavras
e guarda no coração milhões de tintas...
Uma aquarela de vidas,
uma festa profana e ao mesmo tempo tão distinta.
Enamorada pelo encontro
e apaixonada pela partida.
abriu o livro,
abriu a porta,
abriu o tinto seco,
abriu a carta
(Depois de um março com chuvas...abril...)


Declaração de amor rasgado

Rasgou minhas cartas,
rasgou minhas fotos,
rasgou meus livros,
e, por último,
rasgou as próprias roupas,
e fizemos amor na sala...



Origami

Dobraduras do tempo.
Harmonia.
Calma.
Concentração.
A vida é assim.
Dobras com cuidado.
Dobras com carinho.
Dobras com cautela.
Dobras com exatidão.
Dobraduras do tempo.
De repente a imagem, o fato, a construção.
Meu coração origami reinventa-se e “se” dobra.



Abril

Invariavelmente a certeza devora a ocasião.
Mesmo assim o menino acaso disfarça e deixa a razão.
Talvez o amor seja um fato que precise de uma segunda opinião.
Talvez a dor seja o primeiro ato de uma peça chamada paixão.
Talvez eu nunca tenha amado de um jeito tão sincero.



Caleidoscópio
                           
Tua boca encharcada.
Teu corpo coberto de gemidos bons.
Correntezas que me fazem chegar aos teus poros.
Coro de uma noite silenciosa,
“Gritando-nos por dentro”
Tua imagem me dá fome, sede.
E só tua imagem e corpo para saciar o tudo.
O prazer percorre nossas veias.
Invade minha poesia.
Alucina minhas aldeias.
Tua química brinca com minha alquimia.
Beijo coberto de oitavas intensões.
Gemidos feito canções.
Corpos costurados com linhas.
Gozo nos fazendo voar.
Quero morrer junto ao teu ventre.
Uma lente feito um espelho convexo,
Que transforma o mundo e aumenta meu desejo.
Teu corpo me fala “entre”.
Teu corpo me deixa sem nexo.
Minha língua encharcada navega em tua boca.


Do tempo

O amor é um inferno.
Um inverno sem roupas quentes.
Um terno de linho sem noiva.
Luares de noites ardentes,
São mares com ondas constantes.
Nenhuma igual como a de antes.
E tão exato que é de repente,
Alguma coisa passante


Vontade

A vontade arde
feito seis horas da tarde.
Provoca, incendeia.

A vontade arrepia,
põe fogo na aldeia.
Queima, ilumina.

A vontade lateja
feito pecado na Igreja.
Perdoa, crucifica.

A vontade arquiteta,
jura que é secreta,
mas transparece no olhar .


Viajantes
                      
Parti.
Parte de mim ficou.
E essa é só uma parte da história.
A outra acho que quebrou...
Tudo era tão encantado, como se fosse um reino mágico...
Parti inteiramente em cacos sem quebrar.
Quem haverá de dizer que metade é algo pra juntar?
Verbos apaixonados

O que era visto de repente vem e alucina
Mexe, complica, mistura, confunde, liquidifica, intriga, faz rolo, disfarça, chama briga, aumenta, apaixona, diz que fica, depois não liga

O que já era visto de repente transforma e incendeia
Toma forma, encanta, modifica, duplica, espalha, reinventa, faz colo, diz que vai, depois codifica




Tarde demais para interpretações
                    
O fato é que o agora já é tão tarde.
Que o calendário é apenas uma folha de outono.
E cada dia que passa, arde.
Amor não pode virar abandono.






O menino

Nada agora pode causar surpresa
a não ser aquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"
o levará para qualquer lugar...

Perto (quando a ficha cai)

O amor não tem CEP.
Mas o amor é certo.
O amor pode existir.
Mas só acontece por perto.



Coisas de guri

Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater em sua porta e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...

A lua asa de sonho no céu cor do querer nas entrelinhas sem vírgula sem ponto sem métrica algumas palavras soltas formando um mar um reino um planeta a lua mágica dizendo tanto fazendo canto a lua assim feito chuva molhada invadindo o corpo luar certos momentos não precisam de entendimento eles só são precisos o acontecer é um luar que nos cabe todas as fases da lua tem um mar escondido sem vírgulas



...

Os medos são retalhos de uma vida.
Colchas em formas de frio.
Recados na varanda.
Correnteza de rio.


O amor

O amor deve fazer sorrir.
Arreganhar os dentes.
Dar gargalhadas.
Chorar de tanto rir.
O amor deve ser assim.

Um sorriso no rosto.
Um amor no coração.
E não venham me falar.
Que amor precisa de decoração.

O amor vive em si.
O amor é por si só.
O amor não quer dó.
O amor quer só ser.



domingo, 18 de março de 2018



Cartografia

Engoliu a seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...





O acaso dormiu

Todo o engano que houve foi por um motivo conhecido
pediram para ler apenas uma página
e eu acabei lendo todo o livro
descobri todas as tramas, todos os finais
quem ficou com quem e quem não veio
e assim os amantes que gostam tanto de acasos não verão o filme
(ah... o filme nunca é melhor do que o livro)

Palavras

Disse-me: esqueça-me
respondi: porque a pressa
a tréplica: há amor mas não há espaço
o término: o encaixe é tão distante
a volta num beijo
dois pontos de vista sem prazo
e um destino que brinca de mergulhar no liquidificador

Absolutamente

Tem dias que eu sou cantante.
N’outros o silêncio bate.
E na forma mais errante.
Beijo de mercúrio em que me arde.



As parceiras

Bebem noites, mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.


O que se poderá ser terá o querer que se há?

Quem entenderá o olhar?
Àquele olhar que estou falando
Um não sei que
Que encaixa incômodo
O enfadar que enfarta o farto amor querido
Que existe num modo econômico
Para não gastar energia e beijo?

Quem entenderá o olhar hidramático?
Aquele que vê a marcha passar sem controle
Um não sei que
Que atravessa a faixa
O tentar que sua a testa
A sua testa que beira o tal olhar
E que assim se afasta do calor que assusta?

Quem entenderá o olhar decassílabo?
Àquele que nasceu soneto e virou quadrinha
Um não sei que
Que determina que nada saibamos
E que aumenta a transpiração e colore as meninas
De olhos soltos numa clara escuridão?




Contemporâneo
                      
Nosso romance começou num bar.
Eu, tomava seu tempo.
Você, vodca.

Depois fomos num teatro.
Eu assistia a peça.
Você pregava uma.

Fomos num motel.
Eu pedia uísque.
Você trazia o gelo.

(Enquanto eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)

Você caía na cama.
Eu na vida.

Alguns meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos num trem.
Eu teimava que era primavera.
Você parava em qualquer estação.

Anos depois, soube por alguém,
que enquanto eu escutava Caetano,
você saía com Chico, meu melhor amigo.




As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...






Fomes                                                                                              

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...






Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra



Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...


O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatos escuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem pratos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer, com a razão burra de que não se precisa querer
Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras, para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...




quarta-feira, 14 de março de 2018


Faltas
          
Lá vai Quirina buscar sede num copo.
Lá vai Quirina buscar fome num prato.
Lá vai Quirina buscar amor numa esquina.
Lá vai Quirina buscar paz num rapto.

(Lá vai Quirina buscar o mundo num dedal)...