sexta-feira, 31 de maio de 2019


Toda a dor
Tem um “que” preciso
E precisar, muitas vezes,
Pode ser não tão exato
Tem a dor que vem para o recomeço
Tem a dor que vem de um beijo, de um abraço
Tem a dor que é somente para saber
Que dor existe, ás vezes, sem querer

Toda a dor
Tem um recado, um toque, uma mensagem
Um banho de água fria, ou uma massagem
Toda a dor
Tem um lado obscuro, um urro, um desprezar
Mas por outro lado a dor faz nascer um cantar
Numa perdida frase, uma cachoeira, uma catarse
Tem a dor que é somente para saber
Que dor existe, ás vezes, sem querer


A tormenta beira minha boca
Um afogamento premeditado
E barquinhos de papel
Numa ladeira louca
Me espiam feito um vagabundo

O naufrágio é quase certo
Mas é tão preciso resistir
Condenam o caminho por ser de todos
E aplaudem tiros para poucos servir

Eu tenho um amor dentro de mim
E guardo bem guardadas suas asas
E sei que se precisar
Tenho os endereços dessas casas

Rasgaram meus escritos
Na tentativa do meu calar
A tormenta beira minha boca
Se for para resistir me deixarei encharcar

terça-feira, 21 de maio de 2019


Conversas

Ainda assim, acredito em minha varanda, em minha rede, em minha poesia... acredito que tudo é simples demais e complicamos tudo. 

Ainda assim, acredito em andar de mãos dadas, em dormir de conchinha e outras posições de encaixes. Ainda assim, sigo a buscar, a "me" perder, a "me" encontrar e, tenham certeza que o tempo passa rápido demais e precisamos aproveitá-lo com muito amor, em todos os sentidos. 

Ainda assim, continuo a passear na praia, a escutar as gaivotas e a todo o momento resgatar o menino que mora dentro de mim. Às vezes me pergunto se estou no mundo certo. A resposta vem rápida: com certeza, não.






Saudade                                                                                              

Já se vão as luas
que demorei tanto para colher
e, com elas, vão-se as conchas
de mares que eu guardei

Já se vão as brumas
que levavam o meu barco
e, com elas, vão-se as colchas
de camas que eu pintei

Já se vão as cartas
que demorei tanto para escrever
e, com elas, vão-se as vidas
que eu vi e delas já não sei



O que se poderá ser terá o querer que se há?

Quem entenderá o olhar
Àquele olhar que estou falando
Um não sei que
Que encaixa incômodo
O enfadar que enfarta o farto amor querido
Que existe num modo econômico
Para não gastar energia e beijo?

Quem entenderá o olhar hidramático
Aquele que vê a marcha passar sem controle
Um não sei que
Que atravessa a faixa
O tentar que sua a testa
A sua testa que beira o tal olhar
E que assim se afasta do calor que assusta?

Quem entenderá o olhar decassílabo
Àquele que nasceu soneto e virou quadrinha
Um não sei que
Que determina que nada saibamos
E que aumenta a transpiração e colore as meninas
De olhos soltos numa clara escuridão?


Contemporâneo
                      
Nosso romance começou num bar.
Eu, tomava seu tempo.
Você, vodca.

Depois fomos num teatro.
Eu assistia a peça.
Você pregava uma.

Fomos num motel.
Eu pedia uísque.
Você trazia o gelo.

(Enquanto eu tomava a iniciativa, você procurava a sua posição)

Você caía na cama.
Eu na vida.

Alguns meses depois, após o primeiro encontro,
encontramo-nos num trem.
Eu teimava que era primavera.
Você parava em qualquer estação.

Anos depois, soube por alguém,
que enquanto eu escutava Caetano,
você saía com Chico, meu melhor amigo.



As desculpas

Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo...
Nunca entendi tantos dedos,
já que eu sabia do que se tratava...
Vez por outra deixavam somente recados,
avisavam que não mais voltariam
e, logo depois, voltavam...
E com elas chegavam outras palavras,
que eu não entendia muito bem seus significados...
Mas até aquele momento,
as desculpas não se importavam com o que eu poderia ter achado...
Algumas chegavam bêbadas,
outras chegavam sem avisar,
e outras tantas  não sabiam nem o que falar...
Nunca me preocupei em entendê-las,
mas entendia o que elas queriam mostrar,
assim ficava mais fácil conjugar o verbo desculpar...
E assim foi quando eu perdi meu par...
Depois vieram as desculpas,
que usavam luvas e falavam baixo,
que me ensinaram de um jeito especial
a verdadeira face do gostar...


Túlio Piva  
               
Quando a lua do destino decidiu viajar
malas na sala, recados no mar
Assim veio um menino sem passagem, sem lugar
que também queria o céu...
Escreveu, ao lembrar do tanto, de um passado tão bom
e ele “nem sei em que data"...  clareou a viagem
Quem nunca ouviu Túlio Piva que me desculpe
Minha lua de menino sempre foi pendurada no céu
“feito um pandeiro de prata".

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Vida

A vida não é lenta
Fecha-se os olhos
Trinta
De repente cinquenta
É preciso coragem
Para entender
Toda a paisagem
Toda a passagem
É preciso entendimento
Amor é alimento
É preciso entender as calmarias
E respeitar também as forças do vento
A vida, pois, é breve
E breve também é muito tempo
Aproveite cada momento
Como fosse uma lição, um ensinamento
(Vigiai tuas ações,
encoraje teus receios
por que na verdade
somos passageiros
e é preciso viajar sem medo)
Sabores e copos trincados

Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a antiga trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra "afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me quebra
A taça é um disfarçar... quando brinda...
Cartografia

Engoliu a seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...
Luas

Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram uma quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele, vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...
Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei
a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho
quem nunca se sentiu Bentinho?

Marcas, tatuagens e silêncios

Espelhávamos na própria carne o sentimento quando pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção ardente
propúnhamos ser o que não éramos para resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares, ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos mais
ledo engano
depois de algum tempo nos reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida


O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatos escuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Farelos de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem pratos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer,
com a razão burra de que não se precisa querer

Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras,
para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...




Saudalejar

Seu nome saudade
Menina de seios rijos
Pouco ou nada de juízo
Cheiro de leite
Sabor de flor

Seu nome amor
Menino de dentes livres
Brancos que um dia eu tive
Cor de mar
Imensidão de grão

Seu nome paixão
Mulher de lábios fatais
Afã de talvez, clã de jamais
Música de cor
Verbo “saudalejar”



Os riscos e os ciscos

Deve-se ter tino quando se decide correr riscos,
depois do vinho juras de amor são endereços comuns,
ainda preciso ver a poesia na rotina, na retina
para acreditar em beijo no coração a vida inteira...



Tarde

Lá fora é tarde
Aqui dentro na sala
A vida arde
Desenho a tela
Com mertiolate

Cicatrizes contam histórias
Esparadrapos vestem as feridas
Quando tudo parece morrer
Aparece teu sorriso

O destino assopra


Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...


Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...






Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...


domingo, 19 de maio de 2019


De namoros, de liberdades, de enfrentamentos

a esperança namora
e um dia casará com
a liberdade
quem ama enfrenta o medo
quem ama enfrenta a mentira
acreditemos,
a felicidade está bem perto



Guarda meu grito
Ele é teu
Confiei meu grito a ti
Por que amo-te
E quero que saibas de tudo
até as palavras que digo quando fico mudo

Amor é tudo isso
com ou sem conversas
sempre com versos
que moram nas entrelinhas


Inquietante
Quem procura
O abandono
Intrigante
Que poderá ser cura
Alucinante
Que poderá ser sono

É importante compreender
A solidão

As linhas que são inquietas
Também são as linhas que procuram a direção

Sou pandorga sem outorga
Meio prostituta dos ventos
Entendam o que eu digo
Não me façam remendos
Não me julguem
Sejamos nos sentimentos, atentos


Levas

O andar que leva o tempo
Na leva que o tempo escolhe
Da semente que leva o vento
Até a esperança que a gente colhe

Na fé que alimenta o passo
Na luta que forja o momento
No querer que traduz o abraço
No tentar que descreve o tempo

O tempo quem escreve é o jeito



Descanso

Muitas vezes essa vida me dá sono, me faz cochilar
Deitar
Dormir
Sem pensar em voltar
A vida faz o corpo cansar

Num momento o caminho é o sonho
N’outro o sono, e n’outro, acordar
E em mais um outro momento
O que precisamos é só um descanso
Como quem cochila na Sessão da Tarde



O que dói mais
O que queremos e não temos
Ou o que temos e não queremos
Ou o que queremos e temos
Mas não vivemos?




Do verbo "voo"

A solidão na multidão
Arde
Fere
Palpita
Doida e doída
Tatua
A solidão na multidão
A solidão “acompanhado”
Invade
Atenta
Dita
Um enigma
Uma compreensão incompreendida
Um nexo
Um exagero
Contra fluxo
Contramão
Contracorrente
A solidão “acompanhado”
O que é de fora, o que é de lado?
A vida é arte
A solidão faz parte
Mesmo “acompanhado”
É preciso degustar o vazio
Para que entendamos
Que imensidão
Precisa de um “eu voo”


terça-feira, 7 de maio de 2019



Nosso maior tesouro era nossa alegria. 
Viramos um Brasil triste, sem justiça, sem sorriso, sem poesia. 
Que nuvem é essa que nos roubou a imensidão?

Rabisco

Não quero inventar a felicidade, também não passa por minha cabeça escrever um manual de como se faz ou não se faz... tudo aqui, de repente, é tão rápido, é tão curto, é tão depressa... então não priorize os problemas, veja o que existe no coração e dê voz a ele... simples como bolinho de chuva recheado com banana e com àquele café da vó e uma musiquinha do Lupicínio e do Cartola lá no fundo... A poesia quando estala é franca, não estanca e ela grita... talvez a felicidade precise de estalos e beijos com gosto de tardes de sextas-feiras... o sol nascerá amanhã ... tenha certeza... confabule com a felicidade todo o dia... dentro de mim mora o que penso ser feliz e estou atrás disso... e todo dia entendo que o despertar é um riso intenso... sem nenhum ódio escondido...


Rabiscos

Passeia minha saudade em teus versos... uma sedução de palavras que permeiam todas as tuas cores... teus janeiros intensos e teus agostos de friagens... fumacinha de bocas... linhas na busca de pipas e de tecidos que nos abrigarão do frio... saudade é assim... um cobertor curto... que deixa os pés de fora e o coração no mundo...


Rabiscos

Precisamos nos perder mais.
Os dias de tempestade e a falta de bússola, na maioria das vezes, nos ensinam caminhos, não que eles sejam os melhores caminhos, mas precisamos passar por eles para aprender. E aprender não é acertar tudo, ou não errar, muito pelo contrário. Envolva-se com os detalhes, com o simples, gotas são também partes do oceano.
Vamos nos perder para nos achar e se mesmo assim continuarmos perdidos vamos tentar. O ódio virou jeito de viver, e o que dá jeito para tudo é amar.
Minhas palavras, tantas vezes, não conseguem chegar onde quero e não tenho certeza que são compreendidas. Sigo a tentar, e me despedaçar, a me juntar, a me reerguer... assim procuro dentro de minhas loucuras a coerência utópica de querer se achar...
Amigo, precisamos nos perder mais.



O tempo é um senhor 
muito distinto...
Às vezes chileno, seco e tinto

Cada qual com cada seu...
Quem de amor nunca morreu?
Quem por amor nunca bebeu?


(mc-erac)

Apertos

Que o simples vença o tão confuso.
Que seja importante me faltar um parafuso
para que eu possa enlouquecer em mim.



Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso, eu seja
inocente...