terça-feira, 30 de abril de 2019


A linha

A felicidade é uma linha... 
uma voz que corre a linha... 
uma linha que é feita de nós... 
uma nota musical alinhada com o querer... 
a simplicidade é amiga da linha... 
o tempo é parceiro da linha e o amor é o tear...

segunda-feira, 29 de abril de 2019


Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...

Águas                                                                                                                  

O céu prepara a lágrima
um guarda-chuva protege a alma
línguas atropelam a fala
águas rompem calmarias, Marias e broas
água na boca de um céu da boca
numa taça de um vinho um mundo todo
encharcar é o prazer da lágrima
quando namora um lenço

Manhãs                                                                                                                              
         
Abril de uma manhã intensa
extensa foi tua carta
imensa minha saudade
às vezes o que nem fere hoje
amanhã vem e mata

Comeram as reticências
as vírgulas e as broas
beberam a compaixão
limparam as desculpas com Q-boa

e a vida passa
e a vida borda
e as lágrimas lavam as escadarias d´alma




As parceiras

Bebem noites, mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.



Quando a exatidão descobre que a surpresa é fundamental

Baldes de mares teimam em encher dedais
Assim esquecemos os beijos no meio da tarde
Das cartas redigidas a mão

É preciso surpreender
O amor necessita de arrepios e friozinhos na barriga
Amor não tem botão de liga e desliga

Botões que valem de verdade
São os que deliciosamente abrimos para sentir o corpo amado



Motivo

Quando uma corda puxa a noite
O dia vai e se enforca de ciúme.
Quando uma corda puxa o dia
A noite vai e ser enforca de ciúme.
Quando chega a madrugada
A noite e o dia se enforcam com a mesma corda...


Bêbado

Toma café,
toma vergonha,
toma ônibus,
toma banho,
toma jeito,
toma cachaça...

E quando quiseres...
Toma meu coração.





Alimento

Minha boca
gosta do
gosto da
tua...

Em todos os sentidos
Em todos os gemidos

Minha boca
gosta do
gosto da
tua...

Em todos os lugares
Em todos os luares...

Minha boca
gosta do
gosto da
tua...





Impulsos

Aprendi desde cedo a cortar os pulsos,
a morder a língua,
a cheirar o gás...

Aprendi desde cedo que somos avulsos,
que morremos à míngua,
que felizes jamais...

Aprendi desde cedo a brigar com o mundo,
a correr o risco,
a amputar a alma...

Aprendi desde cedo que o pouco é tudo,
a juntar o cisco,
a manter a calma...

Aprendi depois, com o tempo,
que somos gigantes,
e que mais adiante viveremos em paz...

Aprendi depois,
sem querer,
que somos um verdadeiro caso de amor...

Lareiras

O meu corpo veste roupas novas
minha alma rejeita
não acolhe
ela quer o velho cachecol do tempo
que aquece minhas velhas poesias

Inspirações

Toda vez que me permitia
Recorrer ao que não sabia
Brilhava os olhos do acaso
Iluminando meus dias!

Manuel dava bandeira
Para uma musa Cecília
Toda vez que se permitia
Recorrer ao que não sabia!

Que seriam dos anjos de Augusto
E das pessoas de Fernando
Se todas as palavras da boca
Passassem no mundo voando?

Toda vez que me permitia
Recorrer ao que não sabia
Quintana conversava na varanda
Iluminando meus dias!




domingo, 28 de abril de 2019



Coisas de guri
Quando eu era guri, muito guri... em Torres... descobri que o mar no quintal de casa era o mesmo mar do mundo inteiro... a felicidade sempre mora perto... é preciso bater em sua porta e dizer “eu te quero"... Coisas de mar...
Meu coração céu
quer o voo
eu vou daqui abraçar
os ares de 
minha cidade
se não estou lá
estou a sonhar
no céu de Torres 
como sempre sonhei
quando eu era guri
o tempo voa


sexta-feira, 26 de abril de 2019


Chuva, sol, lua e mar

A chuva era uma moça fina.
Cheiro de leite. Flor da idade.
E, com seu jeito de menina, não sabia que no fundo,
poderia ser uma tempestade.

O sol imaginava-se sempre repleto.
Pelo seu brilho não temia nada.
Achava-se o mais belo, o mais completo.
Chorou, quando conheceu a madrugada.

A lua, mulher de olhos ardentes,
emoldurada por estrelas,
procurava entre tantas lentes,
alguém que desejasse realmente tê-la.

O mar era um velho pescador,
com tesouros escondidos n’areia...
Diz que nunca conheceu o amor,
vive nas esquinas entre sereias...




Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso,
eu seja inocente...


Um conto de sarda

Uma menina com sarda
Brincava atrás da cortina
Desenhava uma fada
A solitária menina

Queria que a fada
Num toque de sua varinha
Retirasse do seu rosto a sarda
E ela detrás da cortina

A fada não entendendo nada
E achando tão bela a menina
Num toque doce de fada
Desapareceu com a cortina...




Fomes                                                                                                 

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia

Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha

Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia

A fome comia...





Todo mundo tem escolha. 

A felicidade pode ser um estalo. 

Como quem dança num papel bolha
O dia tropeça na tarde, 
mas quem cai é a noite.
Naufragar era um ato de provocar a sede
Hoje mares moram em copos
Imensidão é uma questão de tato
A flor da pele 
pode não ser rosa


Cartografia

Engoliu a seco para lavar a alma... Naufragou, logo a seguir respirou e ao levantar a cabeça avistou novas terras... Acabei aprendendo com a cartografia o prazer de me perder, o prazer de desejar sempre a liberdade, seja qual forem os cursos d’água... Vou bem entre minhas loucuras e as fotografias amareladas que ainda guardo. Vejo o futuro com bons olhos e o amor parece que floresce, logo posso colhê-lo... quem saberá... Infinitamente eu me permito parar de vez em quando... Nesse momento, aí eu ando...
Luas

Repartiram os traumas, juntaram as camas, as coxas, as crises.
Alugaram uma quitinete.
Compraram fogão, geladeira e uma garrafa de vinho branco.
Trocaram olhares maliciosos, penduraram um quadro, contaram até quatro.
Ah! Era quarta.
Beijaram-se muito, muito mesmo.
Perderam o ar, os sentidos e uma pulseira que ela ganhou da tia.
Juraram amor eterno.
Ele, vestiu seu único terno.
E foi tentar, tentar, tentar.
Já era quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta de novo...
Capitu

Quando conheci Capitu
capitulei
desenganei
a confiança é um conto
um Machado afiado
uma colcha de retalhos
com bainhas de linho
quem nunca se sentiu Bentinho?

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A Chuva

De repente a cor
A lágrima
Desenho de mar
Na varanda
Molhar
O céu
Entender o varal
A chuva caiu como uma luva
A Música
A coser a noite
A mostrar a paz
A colher a vida
A chuva
E seus sinais



O acaso brinca de rima
          
Cabe-me, por encaixe, o olhar inteiro das bocas do acaso
Afasto-me quando, ao meu encalço, andam apressadas bocas métricas
Mergulho em luas claras e transparentes como se o medo fosse o raso
E não venham me dizer que almas são armadilhas bélicas

Atento aos relatos escuto a inconstante passagem do pensamento até o ato
Transformo-me num silêncio de lápide quando um grito quer ser mais forte do que o fato
Fatias inteiras de um bolo de chocolate do apartamento ao lado invadem pratos de uma favela
E, não venham me dizer, que corações sejam sempre as melhores janelas

Cabe-me a leveza da escrita para deixar dito o que tanto me aflige e alucina meu entender
Levado muitas vezes pelo interminável duelo daquilo do que se mais quer,
com a razão burra de que não se precisa querer

Lanço-me aos poucos, aproveitando-me de noites escuras,
para escrever poesias em muros que rodeiam almas tão vazias
E não me venham dizer que estou só, louco e o que entendo por felicidade sejam páginas de crônicas fictícias e fugidias...






terça-feira, 23 de abril de 2019


As parceiras

Bebem noites, mas adoram café da manhã...
Mastigam palavras poeticamente,
e cinicamente arrotam desaforos...
Conversam com anjos.
Passam os finais de semana no inferno.
Compram tapetes na feira livre.
Adoram tapetes voadores e persas...
Riem com cumplicidade e choram do mesmo modo.
Possuem palavras doces,
que transformam em cicatrizes outras palavras...
Mudam a sala a toda hora.
Fazem as malas a todo instante.
Adoram samambaias e cult movies.
São contraditórias,
mas nós amamos suas histórias...
E por paixão e risco nos entrelaçamos a elas...

(As parceiras não tem nexo. Nem sexo devem ter.
São línguas, do hiato ao plural. Muito de transbordar nada,
pouco de preencher tudo)

São assim as parceiras,
que muitas vezes nem primeiras são...
As parceiras são pele e flor.
Viver sem elas seria cômodo demais.


Vida

A vida não é lenta
Fecha-se os olhos
Trinta
De repente cinquenta
É preciso coragem
Para entender
Toda a paisagem
Toda a passagem
É preciso entendimento
Amor é alimento
É preciso entender as calmarias
E respeitar também as forças do vento
A vida, pois, é breve
E breve também é muito tempo
Aproveite cada momento
Como fosse uma lição, um ensinamento
(Vigiai tuas ações,
encoraje teus receios
por que na verdade
somos passageiros
e é preciso viajar sem medo)


O vendedor de algodão doce

Lá se vão as nuvens,
E eu aqui embaixo, redesenho...
Passa agora um vendedor de algodão doce e me traduz.
É... o amor tem muito mais que claros segredos...
Sabores e copos trincados

Refaça a taça sem trincar
Ou sem olhar a antiga trinca
O vinho bebido antes tinha gosto de mar
Eu quero beber o mundo de canudinho
Mas o tempo poderá esperar?
Quem haverá de me explicar a palavra "afogar"?
Falta uma peça nessa cabeça que me quebra
A taça é um disfarçar... quando brinda...


Nosso maior tesouro era nossa alegria. 
Viramos um Brasil triste, sem justiça, sem sorriso, sem poesia. 

Que nuvem é essa que nos roubou a imensidão?

sexta-feira, 19 de abril de 2019




Essas minhas linhas tão tortas...
Trens à deriva
Barcos sem trilhos
Mas há nisso tudo
Uma coerência impar
Sempre decidi com muito amor
Nem sempre foi a escolha foi a mais feliz
Mas entre o certo e o triz
Mora o tentar...
Que seria da vida sem o tentar...?
Que seria do amor sem o tentar...?
Decididamente esse mundo me cutuca
E o que seria da vida sem cutucos?
Entenda o que eu digo
O que falta na vida é simplicidade
O momento é de muita dor
Todos têm escolha
E o papel bolha
Tem som...
Não procure soluções no outro
Teu coração tem respostas que nem sabes...

quinta-feira, 18 de abril de 2019



A linha

A felicidade é uma linha...
uma voz que corre a linha...
uma linha que é feita de nós... 
Uma nota musical alinhada com o querer...
a simplicidade é amiga da linha...
o tempo é parceiro da linha e o amor é o tear...
Febre

Uma sensação sem cor me atravessa.
Embora não fale, não cala.
Invariavelmente estanca cada passo meu.
Um punhal que fere a própria ferida.
Um jogo onde a dor supostamente venceu,
Sem que a existência se desse por vencida,
Ficando exposto aquilo que o poeta ainda não escreveu...
Assim fica entendido o mágico encanto dessa vida.
A vida é uma longa febre.

Do tempo

O amor é um inferno no céu
Um inverno sem roupas quentes.
Um terno de linho sem noiva.
Luares de noites ardentes,
São mares com ondas constantes.
Nenhuma igual como a de antes.
E tão exato que é de repente,
Alguma coisa passante



segunda-feira, 15 de abril de 2019

Talvez Sempre , o Acaso

Sempre é uma chuva que não cai sempre
molha aos poucos e desaparece sem aviso
Sempre é um caminho que não está no mapa
e anda aos poucos e desaparece na estrada
Sempre é um menino de nome Acaso
que beija sempre a menina de nome Talvez


sábado, 13 de abril de 2019


Lembranças

Bem cedinho o galo canta
Café na varanda
Pão de milho

Chimia de banana
Família reunida
Beijo de filho

Cheiro de terra molhada
Leite no tarro
Verdura na porta

Um vidro de ambrosia
Presente da vizinha
Que ajudava na horta

Tudo era tão simples
Eram parte da família
Os amigos da escola

O churrasco de domingo
A maionese da mãe
E os discos na eletrola

Bateu saudade
Dos tempos de guri
A felicidade
Bateu em mim

Tantas lembranças
Que tomam meu coração
Um carrinho de lomba
E um mar de paixão



Visto roupas de arco-íris
Meus retalhos de tantas cores
Já fizeram tantas colchas

A me abrigar do frio
Não me venham definir minhas cores

Nem meus amores, nem minhas flores
Sou tempestade, sou mar, sou calmaria, sou rio

Visto as roupas de Jorge
E ninguém desenhará minhas telas

Sou aquarela
Calam a música, 
Calam a poesia, 
Fecham os livros,
Fecham as portas da livraria
Liberam armas
Liberam ódio
Liberam tiros
Adeus Democracia