quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O menino

Nada agora pode causar surpresa
a não ser aquele velho menino
que entende que seu "carrinho de lomba"
o levará para qualquer lugar...


O Quando

"Quando" era um menino sozinho...
apaixonado pela Menina dos Olhos
mas "Quando" sempre esperava o tempo exato
e o tempo exato nunca chegava.
ah... até quando, Quando, até quando...



Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
O que errei foi com muita convicção




Essa chuva

Acende uma chuva aqui dentro
Vindo de um lustre com uma luz fraca
Uma dor conta pingos
Uma espera que o destino crava
Um “não sei lá” que responde tudo
Uma alma que não se lava
Um grito encharcado e mudo
Um querer quase absurdo
Vontade de te ver
Um amor que me faz ser
Tudo aquilo que eu sempre quis ser
E essa chuva que não passa


Solidão

É tarde
a noite arde
é pressa
a lua cresce
é madrugada
a nuvem passa
é frio
o conhaque aquece
e um estopim encharcado de gasolina
brinca à beira de uma fogueira



Guardar         

Um terno de linho branco,
uma colcha de ternura,
um baile em noite clara,
uma lua no Campeche,
quem guarda não perde.



Confusões

Olhares beiram mares
lágrimas confundem águas
mágoas inundam praias
a solidão navega às cegas
ignorando tantos luares
a hora é quase certa
o tempo é quase fuso
minha certeza naufraga
o exato é tão confuso



Hiatos de Março  
              
A saudade é um mar
onde levo minha embarcação
e de tanto remar
em busca de algo ou de alguém
aprendi a conversar com a solidão

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019



Aparências II ( Olhares)

Uma gota corajosamente rega o mundo
Uma inundação mora num chão árido
Uma lágrima delicadamente provoca um riso
Uma gargalhada se esconde num rosto triste

Sejamos inteiros para dizer que somos pedaços
Que somos também nossos nós
Dias são abraços
Dias são laços
Dias são sós
E por tantos emaranhados
Sejamos amados
Pelo que somos
E que se deguste a vida em gomos
Para que nossa sede não seja em vão
Que o que fique da gente
Seja luz em algum lugar e que ilumine
A imensidão e também o grão e o luar
Os gatos

As almas deles conversam com a minha
Trazem boas novas e trazem boas visitas e energias
O barulho do vento são boas companhias
E os passos das pessoas que não vejo me abraçam
Descobri que os gatos são instrumentos de pessoas inesquecíveis
Escuto seus miados e me emociono
Eles dormem tanto por que passam os dias a emanar bons acordes
E cansam... mas acordam logo depois com brilhos e eu caminho por essas luminosidades



Colcha de retalhos  

Meus amores estão nas entrelinhas de minha poesia
estão cobertos de rimas
estão encobertos por uma poeira fina de nome paixão
juntei tecidos tantos por tantos anos
tecidos suaves, finos, retalhos diversos e seda e chita
costurei uma colcha quente de lembranças
para acalmar meus invernos




sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Quadrinha do querer e da liberdade

Deixe aberta a janela do destino
Para a vida não ficar, assim, tão tonta
E quando, por encanto, tocar o sino
Deixe o amor, em liberdade, tomar conta

Para Leminski

Tudo que é correto demais
Desalinha o mundo, a reta
Um trem fora dos trilhos
Vê coisas que não veria
Se estivesse sempre nos trilhos

Para Leminski II

A verdadeira entrega é feita de coisas escondidas
E fugidias
Assim, a entrega torna-se verdadeiramente transparente
A contradição do dia e da noite inventou o fim de tarde

Para Leminski III

A chuva bate na porta
Assim, o náufrago aporta

Para Leminski IV


O mar adormece num segundo
No outro acorda o mundo

Para Leminski V

No café da noite
Uma frase rasga o silêncio
Abro um pacote de bolacha e adormeço
Me contaram o final e eu não lembro nem do começo

Para Leminski VI

Não ter o que lembrar é sofrer muito mais do que ter lembranças
Às vezes a guerra nos faz querer e lutar pela paz

Para Leminski VII

Longe
Esqueci o celular na agência
Quieto
Sem alguém para falar
O mar canta
A noite cai
Como vou acordar amanhã sem despertador?
Preciso me levantar agora

Para Leminski VIII

O que intriga é o interruptor que me atiça
E depois não liga

Escuridão é um elo
Tua foto com o rosto vermelho
Virou um sonho amarelo escondido num livro
Converso com o espelho
E não me entendo

Para Leminski IX

O esquecimento é uma linha que mora longe
Mas rompe perto
Seca

Que chuva tamanha que beija a seca,
A minha seca boca.
Chuva que molha as roupas do passado
E dá febre.
Uma febre tamanha que queima a seca,
A minha seca boca.
Uma sensatez louca.
A previsão é que a chuva tamanha não pare,
Então, que encharque.

Eu tinha mais cabelos e menos peso
Eu tinha mais vontade e menos paciência
Eu tinha menos controle e mais audácia
Eu tinha mais sonhos e menos realidade
Mas o que tive e tenho foi verdade
Com mais ou menos intensidade
O que trago junto a minha certeza
É que sempre busquei a felicidade
E o leme é meu
Se não fiz tudo certo
Eu fiz de coração


Passageiros

Que solidão é essa?
O tempo passou e veio a incompreensão
Será que o que era para ser feito já o foi?
Será que o espaço que eu tinha já não tenho
ou não cabe mais nada nele?
Será que meus nós foram desfeitos
ou de tão apertados já não se mexem?
O que me faz sonhar
é o que me acorda
Garoa também é lágrima
Molha e até encharca
É preciso entender das águas
Para falar de navegações, de voos e de dores
A vela costura e borda
E singra mares
Assim como quem corta um retalho
Um terno de bom feitio e de boas lembranças
Faz com que naveguemos
E que tenhamos boas vestes para nossa alma
Cuide bem de suas linhas

O tanto quanto é tenso
O momento imenso dura um segundo
E parece que tece o mundo
Um lenço entra em cena e acena
Um ranço que mora escondido
Dentro de um livro que nunca fora lido
Desbota pela falta do beijo sentido
Uma frase sem aviso que surta
Inunda um silêncio que “me” habita

Autobiografia

Não é meu choro que chora
É a minha vida que agora sorri
Quis partir, quis ir embora
Mas o meu agora sempre foi aqui

Minh’alma é clara e transparente
Se voei demais foi por intenção
E quem não entendeu esses voos
Foi porque não entendeu meu coração

Sempre fui muito feliz
Porque aprendi que a vida é emoção
Não troco abraço de amigo por nada
Não troco beijo da mulher amada
O que errei foi com muita convicção
Mergulho

às margens do teu rio eu mergulho sem medo

neste momento

não tenho frio

não tenho dúvida

não tenho segredo
O coração explode... 

um arrepio grita teu nome...

 
a esquina foi tatuada com minha sede.... 


e tua ausência me dá fome...
Desejo

Se não posso sentir
mais do que tu me permites
ainda assim sigo sentindo
tudo aquilo que não sentes
e, quando feres os meus olhos
com teus limites,
correm em minhas veias
desejos repentes
Ao contrário do que vês,
não sou tão pura,
pois minha boca
solta uma mulher ardente
enquanto crês que me tens,
sou vã procura
embora aches que sou completa,
vejo-me doente...
Ao passo que vives encanto,
sou tortura
e, quando vivo em brasa,
és decente
O que faço por amor
chamo loucura
Talvez, por isso, eu seja
inocente...
Marcas, tatuagens e silêncios

Espelhávamos na própria carne quando pressentíamos a dor
e tudo era uma coisa só e tudo era só
chamávamos segredo o que era intenção ardente
propúnhamos ser o que não éramos para resistir à vida
vez por outra éramos apunhalados por nossos medos
quebrávamos bússolas, rasgávamos mapas, sujávamos lentes
havíamos atingido toda a inconstância das coisas tidas como certas
e velas abertas singravam mares, bares, ares e alhos e bugalhos
entendíamos que assim resistiríamos mais
ledo engano
depois de algum tempo nos reencontramos e não falamos nada
mas havia em nossos olhares uma dor
que por não ter sentido algum
marcaria toda a nossa vida
tece fios do luar
com novelos celestiais
por cobertores sonhados
aquece o que faz cantar
protege o que traz a paz
e o beijo voa até o corpo amado
Pano para manga também aquece

Costuram linhas, fazem chuleios, em panos quentes
Incandescentes tecidos, agasalhos de inverno forte
Linhas apaixonadas por encantadas pandorgas
Ventos inteiros a levar velas em busca do sonhado norte
Linhas de horizontes coloridos, linhas verticais a subir sem medo
Encontros de linhas, trens do nosso destino a desenhar caminhos
Navegações sem bússola a desvendar todos os segredos
Cobertores que em noites de frio não nos deixam sozinhos

Aparências II

Uma gota corajosamente rega o mundo
Uma inundação mora num chão árido
Uma lágrima delicadamente provoca um riso
Uma gargalhada se esconde num rosto triste



Tudo é possível, 
disse a estrela do mar

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019


Ai esse olhar que tu sempre pega
Olhar de esfrega, de calor, de paixão
Olhar que come, que fome
Ai esse olhar que me entrega

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019


Dor

Que Dor é essa que não para
Que soluça
Que não sara
Que dor é essa que vem da terra, do fogo, da água e do ar
Que dor é essa que não cessa
Que sufoca
Que flagela

E que dor maior ainda
É saber quem causa essa dor e essas feridas
É da gente semelhante
O próprio ser humano insensível e repugnante
E que se diz tão inteligente

Cortam árvores,
Envenenam águas,
Poluem o ar e a terra,
Investem nas guerras.

E essa gente que faz tudo isso
Depois, na maior tranquilidade,
Vai lá e acende uma vela


Quirina e Dolores
(Duas mulheres que acompanharam e acompanham minhas poesias e, que agora eu conto um pouquinho sobre elas) – Um dia serão protagonistas de um livro, quiçá).

Amores
Quirina escuta o andar de Dolores.
Quirina inquieta escuta o andar de Dolores.
Quirina boquiaberta escuta uma frase de Dolores.
- João deixou recado, Quirina?
Quirina, com a face rosada e, com um beijo marcado no pescoço, responde:
- Que João? Ah, o João... Esteve aqui. Muito rápido... e deixou um recado...
- Mas tinha que ser no teu pescoço, Quirina?
(Tomaram café juntas anos depois, e riram muito, por muitos anos...)

Sopa de letrinhas
Ah... tem dias que todos os dias são dias “D”,
e nem sempre na hora “H” colocam os pingos nos “IS”.
Todo mundo corre atrás do “X” da questão.
Outros buscam o ponto “G”.
Ah... troca-se uma letra e muda-se tudo.
Troca-se uma letra e muda-se o mundo.
Mala, sala, cala, fala, rala, bala...
Ah... Queria a receita,
queria a letra,
queria o mapa,
queria a dica,
queria ao menos uma pista.
Ah... Quirina lê tudo com atenção, como sempre faz, enche a colher e comenta:
- É sopa, mas não é sopa este mundo.
(Vai entender os riscos e os sabores dessa vida...).
Fomes

Era inevitável a queda
frente ao vazio que se fazia
era café sem bolacha, sem fatia
era fome o que o coração mostrava e dizia
Era inevitável o pranto
frente ao exposto
era lição sem cartilha
era um mar imenso sem nenhuma possível ilha
Era inevitável o fim
frente ao penúltimo capítulo que se escrevia
era final feliz sem nenhum par
era romance sem nenhuma poesia
A fome comia...
Molhes

Em Torres, rio e mar se abraçam  "saldocemente"

domingo, 10 de fevereiro de 2019

O mar tem "saldade"
e cada grão de areia 
me lembra Torres


Quirina e Dolores
(Duas mulheres que acompanharam e acompanham minhas poesias e, que agora eu conto um pouquinho sobre elas) – Um dia serão protagonistas de um livro, quiçá).




Amores
Quirina escuta o andar de Dolores.
Quirina inquieta escuta o andar de Dolores.
Quirina boquiaberta escuta uma frase de Dolores.
- João deixou recado, Quirina?
Quirina, com a face rosada e, com um beijo marcado no pescoço, responde:
- Que João? Ah, o João... Esteve aqui. Muito rápido... e deixou um recado...
- Mas tinha que ser no teu pescoço, Quirina?
(Tomaram café juntas anos depois, e riram muito, por muitos anos...)



Sopa de letrinhas
Ah... tem dias que todos os dias são dias “D”,
e nem sempre na hora “H” colocam os pingos nos “IS”.
Todo mundo corre atrás do “X” da questão.
Outros buscam o ponto “G”.
Ah... troca-se uma letra e muda-se tudo.
Troca-se uma letra e muda-se o mundo.
Mala, sala, cala, fala, rala, bala...
Ah... Queria a receita,
queria a letra,
queria o mapa,
queria a dica,
queria ao menos uma pista.
Ah... Quirina lê tudo com atenção, como sempre faz, enche a colher e comenta:
- É sopa, mas não é sopa este mundo.
(Vai entender os riscos e os sabores dessa vida...).

sábado, 9 de fevereiro de 2019


A felicidade é uma linha... uma voz que corre a linha... uma linha que é feita de nós... Uma nota musical alinhada com o querer... a simplicidade é amiga da linha... o tempo é parceiro da linha e o amor é o tear...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019


Das tripas coração III

Coloque a frente de tudo
Seu amor próprio
Caso necessites fazer das tripas coração
Faça sem medo
Compreenda a dor
Abrace a compreensão
E esqueça a opinião dos outros




Das tripas coração II

Sou longe demais
Quando arde o perto

Sou errado demais
Quando forçam o certo

Sou sul demais
Quando exigem o norte

Sou cicatriz
Quando enaltecem o corte



Das tripas coração

Punhal, assim atravesso meus dias
Entre rasgos e riscos
Bem assim, nessa mesma e dolorida desordem
É a vida, alguém diz

Meu corpo arde
Sem fazer alarde
Em qualquer estação
é cedo demais para ser tarde

O amor
Das lidas
Das tripas
Ele se faz coração




Escolha

solidão
pode ser
escolha
de cada um
solidão
pode ser
não se ter
escolha
solidão
é uma palavra
onde o vento
beija a espuma
enquanto isso
sentimentos
andam de gangorra
num parquinho
da esquina

e a escolha é minha


domingo, 3 de fevereiro de 2019

Lareiras
O meu corpo veste roupas novas
minha alma rejeita, não acolhe
ela quer o velho cachecol do tempo
que aquece minhas velhas poesias